quinta-feira, 31 de outubro de 2019

O Monstro do Espaço (The Quatermass Xperiment) 1955

No interior de Inglaterra um foguetão cai numa quinta e o professor Bernard Quatermass e o inspector da Scotland Yard Lomax chegam ao local para investigar. O foguetão foi lançado pelo professor Quatermass e levava com ele três astronautas, no entanto apenas um é encontrado no foguetão. O astronauta é transportado para uma clinica privada para ficar sob observação, perante os protestos da sua esposa. Mas o astronauta não veio sozinho do espaço, e em breve as coisas irão complicar-se...
O drama televisivo de Nigel Kneale "The Quatermass Experiment", uma série de ficção ciêntifica, tornou-se num fenómeno de audiências quando foi para o ar na BBC durante o Verão de 1953. Dois anos depois, a Hammer Film Productions estava a atravessar um momento delicado na sua história, e precisava de alguma coisa que pudesse dar a volta monetariamente, e alguém sugeriu a adaptação para o grande ecrã para esta série de Nigel Kneale. Houve quem dissesse que este era o momento do tudo ou nada, mas se isso é realmente verdade ou não, não sabemos, mas não há dúvida que explorar o território do terror e da ficção cientifica era, naquele momento, a última cartada para alguém que estava a ficar sem ideias. Com um orçamento de apenas 45 mil libras e um actor de Hollywood com a cotação em baixo, a Hammer acabou por fazer uma boa aposta.
O realizador escolhido para a tarefa foi Val Guest, que em conjunto com Richard H. Landau escreveu o argumento. De um modo geral Guest e Landau fizeram um trabalho competente ao reduzir uma narrativa televisiva de 150 minutos para uma versão cinematográfica de 82 minutos. Por causa de obrigações contratuais com a BBC Kneale não pode contribuir para o tratamento do filme, e no final chegou mesmo a expressar a sua insatisfação com a obra de Val Guest. A sua principal objecção era a escolha do americano Brian Donlevy para protagonista, um actor que tinha feito carreira a interpretar vilões e personagens pesadas por ser um actor forte, mas o que Kneale não parecia perceber era a abordagem diferente do material, e a necessidade de um actor com uma fisicalidade tão absurda. 
O resultado final seria um sucesso estrondoso, e isso acabaria por trazer um novo folego para a produtora britânica, e abrir-lhe as portas para a entrada num território que ainda era inexplorado. A partir daqui, nada seria igual. 

Link
Imdb

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Hammer Studios - o Terror Vive Para Sempre

Para qualquer cinéfilo mais atento, a palavra "Hammer" é sinónima de Horror. Mas enquanto a Hammer se tornou mundialmente famosa com as novas versões de Drácula e Frankenstein no final dos anos 50, colocando Peter Cushing e Christopher Lee nos respectivos papéis equivalentes a Boris Karloff e Bela Lugosi, já a produtora tinha muitos filmes produzidos anteriormente. Desta forma a Hammer teve uma sólida formação com a qual seguiu novos interesses descobertos nos filmes de terror sérios, incluindo equipas de trabalhadores regulares e especialistas em métodos económicos de produção.
A partir de certa altura, em meados da década de setenta, os filmes de terror da Hammer receberam uma nova avaliação crítica, e ficou aparente que eles representavam uma espécie de história secreta do cinema britânico, ao lado de coisas tão respeitáveis como os filmes britânicos de Alfred Hitchcock, as comédias da Ealing, ou os dramas do novo cinema britânico. A sua influência noutros cineastas é praticamente incalculável, tanto no próprio país como no exterior, com os americanos "movie brats", por exemplo, a serem grandes fãs. 
O culto continua forte até aos dias de hoje, e há mais de cem filmes que foram realizados no período de ouro da Hammer, que compreende o espaço de tempo entre o final dos anos 50 até meados dos anos 70.
Nesta introdução não me vou aprofundar muito sobre o que é a Hammer, melhor do que as minhas palavras são as imagens, e por isso convido-vos a assistirem a dois magníficos documentários sobre a Hammer, e a seguirem o ciclo pelos dois livros que postarei aqui também:

"Flesh and Blood: the Hammer Heritage of Horror (1994): é um dos melhores documentários sobre a produtora, e podem encontrar aqui a sua história narrada pelas suas figuras mais importantes. 
Descarregar aqui.

Hammer Horror - A Fan Guide (2008) - tal como o próprio nome indica, temos aqui a história da Hammer visto pelos olhos de um fã.
Descarregar aqui.

Livros:
The House of Horrors: The Story of Hammer Films Link
A History of Horrors: The Rise and Fall of the House of Hammer Link


Os filmes seguem-se a partir de amanhã. Serão mais de 30 filmes a serem mostrados por ordem cronológica. Até já.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

The Great Chase (The Great Chase) 1962

Uma grande compilação das maiores acrobacias, perseguições, quedas e sequências perigosas dos primeiros anos do cinema, muito antes do duplo se tornar uma profissão real, com feitos cada vez mais impressionantes a serem conquistados. Este filme é um documentário e inclui sequências de artistas bem conhecidos do período do cinema mudo.
Com narração de Frank Gallop, destacam-se imagens de obras como "The General" (1927), com Buster Keaton, "The Perils of Pauline" (1914) com Pearl White, "The Mark of Zorro" (1920), com Douglas Fairbanks, o pioneirismo de Edison em "The Great Train Robbery" (1903), o último filme de William S. Hart, "Tumbleweeds" (1925), e o incomparável "Way Down East" (1920) de D.W. Griffith. A banda sonora inclui músicas de Larry Adler na harmónica, e alguns efeitos sonoros que aumentam bastante a acção no ecrã.
São 81 minutos de acção e empolgação sem parar, e mada de enredos aborrecidos. A produção está a cargo de Harvey Cort.
Uma pequena pérola do cinema dos anos sessenta com a qual terminamos este ciclo dedicado ao catálogo Janus Films. Muito obrigado ao Rafael Lima pela participação.
Legendas em inglês.

Link
Imdb

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A Balada do Soldado (Ballada o soldate) 1959

O ano é de 1942. As forças soviéticas estão a recuar dos exércitos nazis. O último sobrevivente de um pelotão, o jovem de 19 anos Alyocha (Vladimir Ivashov) foge de uma divisão blindada alemã. Graças tanto á sorte como á coragem ou habilidade, o soldado desesperado e sozinho consegue destruir dois tanques. A sua conduta no campo de batalha faz dele um herói, mas em vez de uma medalha ele pede o raro privilégio de licença o tempo suficiente para visitar a mãe e consertar o telhado de casa. A aldeia natal fica a um dia de distância em tempo de paz, mas durante o caos de guerra a viagem será mais longa. O seu general recompensa-o com seis dias - dois para chegar lá, dois para visitar e dois para voltar. Durante a viagem, conhece uma série de pessoas diferentes a quem se oferece para ajudar no que for preciso, acabando por conseguir estar com a mãe apenas alguns minutos, o tempo apenas para uma breve troca de palavras e um abraço. E Alyosha volta a partir para a frente de batalha... para não mais regressar. 
O drama de guerra pacifista da Segunda Guerra Mundial pelo argumentista/realizador Grigori Chukhrai, foi o primeiro filme russo a ser um sucesso nos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Ganhou o Prémio Especial do Júri no Festival de Cannes em 1960 e o de melhor filme no Festival de Cinema de San Francisco. É um filme humanista, a preto e branco e lírico, que transmite uma mensagem anti-guerra universal que é facilmente compreensível. É contada através dos olhos de um camponês, honesto e decente, que é condecorado como um herói. É conhecido pelas suas descrições detalhadas da vida russa de todos os dias. Chukhrai vem da ala conservadora de cineastas russos, e oferece um belo exemplo do artesanato estilístico e consegue manter o melodrama até ao fim.

Link
Imdb

domingo, 27 de outubro de 2019

Na próxima semana:



Hammer Studios - o Terror Vive Para Sempre

Mais de 30 filmes
Documentários
Livros

A partir da próxima quarta-feira no M2TM

sábado, 26 de outubro de 2019

Ricardo III (Richard III) 1955

As habilidades militares de Richard ajudaram a colocar o seu irmão mais velho, Edward, no trono de Inglaterra. Mas os ciúmes e o ressentimento fazem com que Richard procure o trono para si, e para isso ele concede um plano longo e cuidadosamente calculado, usando o engano, a manipulação e o assassinato para atingir os seus objectivos. Esta trama longa tem consequências tumultuosas, tanto para ele como para o próprio país.
Laurence Olivier, um dos actores mais consagrados de Inglaterra, realizou cinco filmes ao longo de toda a sua carreira, três deles adaptações de William Shakespeare. Em 1944 adaptou "Henrique V", em 1948 "Hamlet", e agora seria a vez de "Richard III". "Richard III" era o filme mais ousado desta trilogia, quando falávamos de Richard III falávamos da crueldade absoluta, e de um homem sem escrúpulos, e Olivier pegou no texto original de Shakespeare, alterando apenas alguns diálogos aqui ou ali. 
Com o uso de cenários simples, um excelente Technicolor, e uma adaptação inteligente de Colley Cibber, cortanto nas palavas até deixar só o essencial. Olivier, como realizador, enfatiza a natureza do mal como sendo cómico. A produção é impecável, dissipando os rumores de que uma adaptação desta obra seria muito dficil de fazer. A interpretação de Olivier tornou-se essencial para o sucesso do filme, e não esquecer o resto do elenco com uma série de talentos do cinema britânico da altura: Cedric Hardwick, Ralph Richardson, John Gielgud, Mary Kerridge, Claire Bloom, entre muitos outros. 

Loucura em Veneza (Summertime) 1955

Jane Hudson (Katherine Hepburn) é uma secretária de meia-idade, natural de Akron, no Ohio, que está a passar as férias do verão, finalmente desfrutando do seu sonho de visitar Veneza, em Itália.  Considerando-se uma "mulher independente, ela considera-se feliz a explorar a cidade sozinha, mergulhando na cultura local, e filmando tudo com uma câmara portátil. No hotel conhece um casal americano, mas depressa descobre que apesar de todo o cenário deslumbrante e pessoas amigáveis, tudo pode ser ilusório quando se vê sozinha. No entanto, tudo muda quando ela chama a atenção de um comerciante local chamado Renato De Rossi (Rossano Brazzi), iniciando com ele um romance de férias. 
A interpretação de Katherine Hepburn alcança um resultado bastante conseguido, porque o personagem de Jane é uma mulher presa em contradições. Está animada e confiante, e ao mesmo tempo bastante aborrecida. Veste-se com elegância, mas leva uma garrafa de bourbon para o hotel e acaba por se envolver com um homem casado. Tudo se resume a uma coisa: a solidão, e apesar de estar cercada de pessoas e até fazer alguns amigos temporários pelo caminho ela assonada pela solidão e a falta de amor na sua vida, o que acaba por manchar a ideia das férias perfeitas que tinha na sua mente.
Talvez a verdadeira estrela do filme seja a própria cidade de Veneza. Filmado interinamente em exteriores e num espectacular Technicolor, David Lean, o realizador, filma do amanhecer ao entardecer, e durante a noite, com estrelas cintilantes no céu. Para uma cidade tão lutada e quase claustrofóbica, Lean consegue encontrar os amplos espaços abertos e filmá-los de todos os ângulos, desde o nível do canal à torre mais alta da igreja. Foi o primeiro filme que Lean filmou totalmente em exteriores fora do país, e preparava-se para começar a sua série de grandes êxitos comerciais.

Link
Imdb

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

A Importância de se Chamar Ernesto (The Importance of Being Earnest) 1952

Quando Algernon (Michael Denison) descobre que Ernesto (Michael Redgrave) criou um irmão fictício para todas as oportunidades em que ele precise de um motivo para escapar da vida monótona do campo, apresenta-se como o irmão, causando um confusão cada vez maior.
A última e mais popular das comédias sociais de Oscar Wilde, a peça "The Importance of Being Earnest" estreou no Teatro de St. James no dia dos namorados de 1895. No entanto, a sua exibição inicial foi interrompida depois de Wilde ter sido acusado de imoral, sendo denunciado por um dos seus conhecidos da altura, o então Secretário do Interior (e mais tarde primeiro ministro) Herbert Asquith. Ironicamente,  e numa reviravolta bizarra, seria o filho deste, Anthony Asquith, que faria a primeira versão para o cinema.
A produção de Anthony Asquith para o cinema derivou em grande parte do material apresentado das primeiras vezes nos teatros. Asquith fez 10 filmes em colaboração com o dramaturgo Terence Rattigan, bem como três derivados de peças de George Bernard Shaw, mas ao adaptar a peça de Wilde, Asquith ousadamente resolveu enfatizar as origens dos palcos. 
Feito em grande parte pela insistência de Michael Denison (que interpreta Algernon), o filme também apresentava a estreia de Dorothy Tutin, e uma das interpretações pouco frequentes de Edith Evans (apenas a sexta desde a sua estreia nos cinemas em 1915) num papel que ela já tinha feito algumas vezes nos palcos, a primeira vez em 1939.  
Asquith fez apenas cinco filmes a cores em toda a sua carreira, e este seria o seu primeiro. Evitando a ousadia característica e a elegância dos primeiros Technicolor, ele reserva as cores mais exageradas para as roupas de Lady Bracknell (Evans). Ela entra no filme usando um vestido côr de púrpura vívido e um chapéu que parece ser feito de penas de pavão, pouco antes de pronunciar a linha imortal de Wilde: "Levante-se, senhor, dessa postura semi-reclinada".

Link
Imdb

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Oito Vidas por Um Título (Kind Hearts and Coronets) 1949

É uma jóia finamente polida de inteligência literária com uma visão sátirica e impiedosa do privilégio da vida, o conflito de classes, e a moral Edwardiana, "Kind Hearts and Coronets" desmente o título(original) aparentemente gentil, concentrando-se num jovem determinado a matar no seu caminho para o ducado onde ele sente é a sua primogenitura. Feito nos anos negros depois da Segunda Guerra Mundial, "Kind Hearts and Coronets" rompeu com o tom mais quente e suave da maioria dos filmes produzidos nos famosos Ealing Studios, com uma visão barbaramente abatida da natureza humana.
A mãe de Louis Mazzini (Dennis Price, que representa a essência da urbanidade refinada com uma mente assustadoramente sociopata) é banida da sua herança familiar régia por causa do grave pecado de se casar por amor, e não pela riqueza e posição. Isto deixa Louis sem a pretensão da sua herança familiar. Preso num trabalho sem perspectivas e rejeitado pela sua antiga namorada Sibella (Joan Greenwood) por um bronco implacável com mais potencial financeiro (John Penrose), Louis decide matar pelo seu caminho, até eliminar os oito membros da família d'Ascoyne que se interpõem entre ele e o ducado.
Numa façanha de mestre, o incomparável Alec Guinness foi escolhido para interpretar todos os oito membros da família d'Ascoyne, que variam desde um padre a um almirante ridiculamente orgulhoso, passando por um playboy e até mesmo uma feminista agitadora. Guinness, embora não apareça em cena por muito tempo com cada personagem, ainda consegue dotar cada uma deles com bastantes traços e personalidades únicas para torná-los instantaneamente memoráveis. Guinness já tinha deixado a sua marca há vários anos em duas adaptações de clássicos de Charles Dickens por David Lean, Oliver Twist e Grandes Esperanças, e "Kind Hearts and Coronets" não deixa qualquer dúvida sobre a sua versatilidade única. 
No entanto, apesar de Guinness ser tão grande, não domina completamente "Kind Hearts and Coronets", um filme cuja leve crueldade se torna no seu traço mais duradouro. O realizador Robert Hamer consegue minar toda a moral e os valores convencionais, de tal forma que, nunca se sente que o próprio filme seja tão depravado como realmente é. "Kind Hearts and Coronets" é mais frequentemente descrito como uma comédia de humor negro, mas não é cómica, no sentido usual da palavra, mesmo para os refinados padrões britânicos. Na realidade, "Kind Hearts and Coronets" é, provavelmente, o melhor filme já criado para ilustrar a teoria de Alfred Hitchcock, em que o público deve se identificar com qualquer personagem na tela, não importa o quão vil ela seja. Louis Mezzini é o retrato de um malandro muito amoral, não só nas suas atividades assassinas, mas também no tratamento de todos ao seu redor como uma série de peões para serem manipulados para alcançar o seu próprio fim.

Link
Imdb

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

O Ídolo Caído (The Fallen Idol) 1948

Philippe, filho de um diplomata e bom amigo de Baines, o mordomo, fica confuso com as complexidades e evasões da vida adulta. Tenta guardar segredos, mas acaba por os contar, mente para proteger os amigos mesmo sabendo que deveria dizer a verdade. Resolve não ouvir mais os adultos quando Baines é acusado de assassinar a sua esposa e ninguém ouvir as suas informações vitais.
"The Fallen Idol" é uma história de mal-entendidos vistos através dos olhos de uma criança. Uma amizade improvável entre o solitário filho de um embaixador, interpretado pelo jovem Bobby Henrey, um actor não profissional que só seria visto em mais outro filme, e o mordomo da embaixada, interpretado por Ralph Richardson, um actor já mais experiente.
"The Fallen Idol" seria a primeira de três colaborações entre Carol Reed e Graham Greene, e era baseado num dos contros de Greene chamado "The Basement Room". Ao adaptar a sua história para o cinema Greene alterou a ênfase do filme. Enquanto que na história original a criança testemunhou um crime mas tentou proteger o amigo, no filme o público sabe que o que aconteceu foi um acidente, mas o jovem interpreta mal.
"The Fallen Idol" é ofuscado pela colaboração seguinte entre Reed e Greene, "The Third Man", que veria a luz do dia no ano seguinte, e de certa forma é um filme precursor desse, principalmente em termos visuais. Muitos dos famosos ângulos utilizados em "The Third Man", já encontraram similaridades aqui, e o ambiente que caracteriza mesmo os trabalhos mais sombrios do realizador, também está já aqui presente. 
Conseguiu duas nomeações para os Óscares: realização e argumento. 

Link
Imdb 

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Foi Uma Mulher Que O Perdeu (Le jour se lève) 1939

Um homem é baleado atrás de uma porta fechada. Ele tropeça pelo apartamento, e cai pelas escadas abaixo , passando pela única testemunha, um homem cego. A policia está confusa, e acredita que o atirador se trancou no quarto. Ninguém sabe quem é o morto, muito menos porque o vizinho supostamente atirou nele. O único que tem todas as respostas está atrás de uma porta fechada, e sem falar. 
Esta é a sequência de abertura, e a configuração básica para "Le Jour se Lève", um "thriller" tenso de Marcel Carné de 1939. O atirador é interpretado pelo formidável Jean Gabin, um dos actores mais naturalistas e credíveis da história do cinema. A sua presença é como a de Bogart, e precursora de  Depardieu, mas na verdade ele é apenas Gabin, um actor único. Perfeitamente credível como um herói da classe trabalhadora, e o tipo de personalidade que poderia despertar o nosso interesse agarrado à solidão do seu quarto. É isso mesmo que acontece em "Le Jour se Lève", embora a sua noite escura da alma esteja carregada de memórias e arrependimento. 
A coisa porque este filme é mais conhecido, é pela sua forma única de contar histórias. É um dos primeiros filmes que apresenta uma história, principalmente, contada em flashbacks, variando continuamente entre o passado e o presente. Esta técnica de contar histórias foi, pouco tempo depois, tornada mais famosa em "Citizen Kane", de Orson Welles.  Também é conhecido por ter quatro directores de fotografia diferentes, e as sombras e a sua aparência visual desempenham um papel importante no filme.
Legendas em inglês. 

Link
Imdb

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Pigmaleão (Pygmalion) 1938

Henry Higgins é um professor de fonética que, junto com o seu amigo, o Coronel Pickering, resolvem transformar Eliza Doolitle, uma florista de rua inculta e sem o mínimo de educação exigido pela sociedade, numa grande dama, no espaço de três meses. No entanto, eles descobrem o que é envolverem-se com um ser humano com ideias próprias.
Dirigido por Anthony Asquith,  e interpretado por Leslie Howard, esta versão cinematográfica da peça de George Bernard Shaw, que mais tarde foi transformado num filme mais conhecido e vencedor de um Óscar de Melhor Filme chamado "My Fair Lady" (com Rex Harrison e Audrey Hepburn) apresenta Howard no papel do muito confiante Henry Higgins, e Wendy Hiller no papel de vendedora de flores da rua. W.P. Lipscomb, Cecil Lewis e Ian Dalrymple e Shaw estiveram entre os nomes que contribuíram para os que escreveram o argumento e os diálogos, com o qual ganhariam o único Óscar do filme. Tanto Howard como Hiller receberam nomeações nas suas categorias de actor e actriz.
"Pigmaleão" tinha sido produzido pela primeira vez para os palcos de Londres em 1914. Shaw tinha visto  Hiller em palco em duas peças suas e recomendou-a para esta adapatação cinematográfica. Viria a ser a primeira tentativa do produtor húngaro Gabriel Pascal em colocar Shaw no grande ecrã. Voltaria a repetí-lo em 1941, com "Major Barbara", em 1945 com "César e Cleopatra" e 1952 com "Andrócles e o Leão". George Bernard Shaw nunca foi muito relutante em adapatar as suas peças para o grande ecrã, mas Pascal acabava sempre por convence-lo graças ao seu charme.
Tal como todas as adaptações que tinha tido para o teatro, a versão cinematográfica também foi um êxito monstruoso. Uma curiosidade, David Lean foi o autor da montagem, então com apenas 30 anos de idade.

Link
Imdb

sábado, 19 de outubro de 2019

Pépé le Moko (Pépé le Moko) 1937

A Casbah de Argel nos anos 30: uma rede inextricável de ruelas, casas de jogos clandestinas e traficantes. Pépe le Moko (Jean Gabin), um gangster de origem metropolitana reina nessa área, gozando com os policias. Para capturá-lo, seria preciso que ele saísse do seu reduto, inacessível às autoridades. É o que tenta fazer o astuto inspector Slimane.
"Pépé le Moko" é o filme que fez do actor francês Jean Gabin uma estrela. Longe de ser o seu primeiro papel, ele já tinha entrado em cerca de duas dezenas de filmes anteriormente, e não era um actor convencionalmente bonito que se colocasse como protagonista de um filme, mas era um actor que transmitia confiança e autoridade, mesmo quando o víamos preso numa trama fatalista condenado a morrer. André Bazin definiu-o como o "herói trágico do cinema contemporâneo", e foi de facto este filme que ajudou a definir a sua persona.
Na altura o filme foi descrito como "realismo poético", um termo usado para filmes de realizadores como Jean Renoir ou Marcel Carné, que usavam cenários realistas que foram evocativamente estilizados para melhorar o clima e a atmosfera. Nesse sentido, o realizador Julien Duvivier usou o próprio Casbah para filmar as fatalidades do filme. O Casbah era um bairro construído numa colina e composto por ruas estreitas e sinuosas, becos sem saída e uma variedade multiétnica super lotada por pessoas de todo o mundo, um labirinto misterioso onde poucos de fora podiam penetrar, e por isso era um esconderijo perfeito para o nosso esquivo protagonista.
Curiosamente, Duvivier era muitas vezes descrito como um realizador pouco talentoso, um realizador que se apropriava de qualquer estilo que se adaptasse às suas necessidades, sem uma voz autoral verdadeira. No entanto, quem vê "Pépé le Moko" reconhecerá imediatamente a amplitude das suas habilidades, sendo ele capaz de coreografar momentos de intenso desejo emocional, bem como momentos de flagrante violência. 
Apesar de grande aclamação mundial o público americano ficou largos anos sem o ver, porque o realizador John Cromwell o refez um ano depois como "Algiers", que apesar de um bom elenco (Charles Boyer foi nomeado para o Óscar como protagonista), ficou muito aquém do filme de Duvivier, nem mesmo com algumas cenas a serem copiadas integralmente. 

Link 
Imdb

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Quem Programa Sou Eu: Catálogo Janus Films, por Rafael Lima

Chegamos ao sexto capítulo da rubrica "Quem Programa Sou Eu", e desta vez o convidado vem do Brasil. O Rafael Lima é já um velho conhecido dos Thousand Movies, tendo participado uma vez na outra rubrica, chamada "5x5", ainda no tempo do My One Thousand Movies.
Desta vez, o Rafael trouxe-nos uma ideia muito interessante, que originou este ciclo, com filmes escolhidos por si. Vamos ler as suas palavras:

"O catálogo Janus Films faz parte da vida de muitos cinéfilos pelo mundo. Filmes como "A Grande Ilusão" de Renoir, "Rashomon" de Kurosawa, "Morangos Silvestres" de Bergman, "A Estrada da Vida" de Fellini, "Viridiana" de Buñuel e "A Aventura" de Antonioni estão presentes em seu arsenal fílmico, a título de exemplos. O meu intuito com este novo ciclo é apresentar-lhes os filmes que são lembrados num grau menor, porém não menos importantes que os citados anteriormente. Espero possam acompanhar com entusiasmo, assim como eu também farei!" - Rafael Lima


Certamente que muitas pérolas sairão daqui. Não acham?
Quem quiser participar numa próxima rubrica toca a enviar mail para myonethousandmovies@gmail.com


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Filed of Dogs (Onirica) 2014

Desolado pela perda da sua amada num acidente de carro, o poeta Adam desiste do seu trabalho como professor de literatura para trabalhar num supermercado. No entanto, tudo que ele quer é dormir e fugir da realidade dolorosa. No meio de visões apocalípticas, influenciadas pelas trágicas notícias dos jornais, que incluem a queda do avião presidencial da Polónia, o seu único consolo nestes tempos difíceis é a leitura da Divina Comédia. Entre tanta turbulência, a obra-prima de Dante poderia trazer de volta algum sentido para a vida do poeta.
Realizado por Lech Majewski, um poeta e pintor polaco que já vem a trabalhar no cinema desde o início dos anos 80, em obras como "Basquiat" (1996), onde foi o argumentista e era para ter sido o realizador. Tem vindo a trabalhar no género fantástico já várias vezes, embora o seu trabalho não seja conhecido. Este seria o terceiro filme de uma trilogia feita a partir de obras de arte, depois de "The Garden of Earthly Delights" (2004) e "The Mill and the Cross" (2011).
Para este filme, Majewski inspirou-se nos eventos de 2010 na Polónia, que incluíram um Inverno pesado devido ás cinzas que atingiram a maior parte do país, por causa da erupção de um vulcão islandês, seguido pelo acidente da força aérea polaca que matou a maior parte do parlamento do país. A sua resposta foi pensar como um poeta medieval poderia entender as coisas em termos de destruição apocalíptica.

Link
Imdb

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

The Legend of Kasper Hauser (La Leggenda di Kaspar Hauser) 2012

Filme livremente inspirado no caso de uma criança abandonada, envolta em mistério, que foi encontrada na praça Unschlittplatz em Nuremberga, na Alemanha do século XIX (1828), com uma carta endereçada a um homem da cidade, explicando parte de sua história, um pequeno livro de orações, entre outros itens, que indicavam que ele provavelmente pertencia a uma família nobre.
 Nesta readaptação da história, estamos na Sardenha, numa data não especificada. Perto da praia, um corpo flutua. Ele é um príncipe herdeiro que misteriosamente desapareceu quando era criança. Quis o destino que ele reaparecesse, mas apesar de o corpo reagir, a sua mente parece estar vazia. Apenas cinco pessoas vivem nesta ilha semi-deserta: a duquesa, que é a lider da ilha, um seu serviçal, o homem obscuro que é amante da nobre, a vidente e o xerife. Mas a sua chegada vai quebrar a rotina da pequena comunidade, e cedo Hauser vai perceber quem são os seus amigos (o xerife e a vidente) e os inimigos (o homem obscuro e a duquesa). Infelizmente, a sua permanência no local não será longa.
"Attenzione! Attenzione! Afastem-se!" diz o Xerife, interpretado por Vincent Gallo, que é uma caricatura hiperbolizada de um western Spaghetti, enquanto acelera a sua moto por uma multidão imaginária. 
Maravilhosamente filmado num preto e branco luminoso "La Leggenda di Kaspar Hauser", do italiano Davide Manuli está repleto de imagens memoráveis e momentos de humor surreal, e embora conte no seu elenco com um nome de peso, como o de Gallo, é um filme inacessível demais para o grande público, mas bastante apropriado para o público dos festivais. 
Não faltam discos voadores, e música techno ao som de Vitalic, na banda sonora. 

Link
Imdb
 

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Sound of My Voice (Sound of My Voice) 2011

Tal como "Another Earth", "Sound of My Voice" também tem algumas particularidades: é igualmente escrito e interpretado por Brit Marling, claramente uma estrela em ascensão. "Sound of My Voice" também é um filme intrigante, intenso, de baixo orçamento, que mistura a ficção científica de baixo orçamento, neste caso o mistério. Os dois personagens principais são Peter Aitken (Christopher Denham) e Lorna Michaelson (Nicole Vicius), que se encarregaram de investigar e desmascarar um culto super secreto do sul da Califórnia, cujos membros se reúnem no porão de uma casa suburbana e ouvem os ensinamentos de Maggie (Brit Marling), uma jovem de 24 anos que afirma vir do futuro, do ano 2054.
Será Maggie uma verdadeira viajante do tempo que sabe de uma guerra cívil eminente, ou será uma trapaceira a enganar os ingénuos e impressionáveis? Peter, que trabalha como professor substituto durante o dia, e se imagina um intrépido jornalista investigador durante a noite, acredita na segunda hipótese, e infiltram-se no grupo para expor Maggie. Lorna, que recentemente deixou uma vida de drogas e devassidão em Hollywood, envolve-se mais por dedicação ao namorado, do que vontade em descobrir a verdade.
Longa metragem de estreia de Zal Batmanglij, que co-escreveu o argumento com Marling, e Rachel Morrison como directora de fotografia, veterana nos documentários e trabalhos para televisão, aproveitando ao máximo o seu escasso orçamento com cenários limitados, transformando espaços comuns como cozinhas, caves e garagens em portais quase sobrenaturais graças à iluminação e aos enquadramentos com a câmara. 
A interpretação de Marling é muito convincente, uma mistura de fragilidade física e dominação psicológica. Maggie é uma presença espectral, e desde início percebemos que ela tanto pode ser a salvadora como apenas mais uma vigarista. Fala numa voz baixa, e olha para o seu pequeno grupo de seguidores com um sorriso beatífico que por vezes é fascinante e profundamente assustador.

Link
Imdb  

domingo, 13 de outubro de 2019

Outra Terra (Another Earth) 2011

O título do filme de Mike Cahill, "Another Earth", refere-se literalmente a um novo planeta exactamente como o nosso, que de repente aparece na extremidade do sistema solar, e se aproxima cada vez mais, ano após ano, até dominar o céu. Em outro nível, no entanto, o título alude ao desejo humano da capacidade de voltar atrás e refazer algum momento no tempo que alterou irrevogavelmente a nossa existência. Para a protagonista do filme, Rodha (Brit Marling) 17 anos e muito talentosa, esse momento esse momento ocorre na mesma noite em que a segunda Terra é descoberta, quando ela está envolvida num acidente de carro que destrói a sua vida, e a de John Burroughs (William Maphoter), um músico e compositor. 
O terreno emocional do filme é renderizado com habilidade, e os visuais são uma mistura, com Cahill (que foi o seu próprio director de fotografia) a voltar-se a para a estética verité enigmática, com um trabalho de câmara trémulo cheio de zooms rápidos. A única longa metragem de Cahill até então, tinha sido o documentário de 2004 pouco visto "Boxers and Ballerinas" que co-realizou com Marling, mostra-se bastante hábil a transmitir uma surpreendente profundidade com visuais minimalistas que se adaptam ás origens independentes do realizador. O filme também é bastante ajudado pela banda sonora assombrosa do grupo Fall on Your Sword, cuja mistura de electrónica e orquestrações tradicionais funciona lindamente com o cruzamento do filme entre a ficção cientifica e o chamber drama.
Ganhou dois prémios importantes no festival de Sundance, enquanto que Brit Marling venceu o prémio de Melhor Actriz em Sitges, com o filme a ter ainda destaque em inúmeros festivais, como Deauville, Locarno, San Diego, entre outros.

sábado, 12 de outubro de 2019

Alois Nebel (Alois Nebel) 2011

No final dos anos 80, Alois Nebel trabalha como despachante na pequena estação ferroviária de Bílý Potok, uma pequena localidade na fronteira entre a Polónia e a Checoslováquia. Ele é um homem solitário que prefere as tabelas de horários dos comboios às pessoas, e que encontra tranquilidade na solidão da estação – excepto pelo nevoeiro que invade o lugar. Quando isso ocorre, ele entra em estado alucinatório e vê os comboios dos últimos cem anos passarem pela estação, trazendo fantasmas do sombrio passado da Europa Central. Alois não consegue livrar-se desses pesadelos e acaba internado num sanatório. Lá ele conhece o Mudo, um homem que foi preso pela polícia depois de cruzar a fronteira e carrega consigo uma antiga foto. Ninguém sabe por que ele veio para Bílý Potok ou o que ele procura, mas é o seu passado que impulsiona Alois na sua jornada. 
De acordo com o realizador, o checo Tomás Lunák, ao adaptar esta novela gráfica para o grande ecrã, a  sua principal inspiração foi "Sin City". mas enquanto isto poderia soar a um apelo ao público da moda, "Alois Nébel" não poderia ter sido mais diferente, um exemplo sinistro da desconfiança entre os europeus orientais na queda do comunismo, e um homem apanhado no meio desta situação, sendo uma personagem marginalizada. 
Naturalmente, com uma tradução tão específica de um lugar e um tempo, ajuda se o público estiver familiarizado com a política e a agitação checa, porque o realizador recusa-se a dar-nos os factos que estão por trás de tanta agitação. Um óptimo filme de animação.

Link
Imdb

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Beyond the Black Rainbow (Beyond the Black Rainbow) 2010

"Estreado em 2010 “Beyond The Black Rainbow” (passou por alguns festivais na Europa e teve a sua estreia no Tribeca Film Festival nos EUA) é um sci fi paradoxal: retro e ao mesmo tempo futurista, uma espécie de “futuro do passado”. Grande parte da narrativa passa-se num “futurista” ano de 1983 e numa estranha e opressiva clínica onde um estranho homem realiza estranhas experiências com uma jovem.
A narrativa procura desvendar os mistérios do Instituto Arboria onde uma bela jovem chamada Elena (Eva Allan) com poderes psíquicos é mantida prisioneira por um cientista chamado Barry Nyle (Michael Rogers) envolvido numa complexa experiência psicológica. Nyle tem um objetivo místico-espiritual: a busca da “paz interior” através de uma delirante e alucinógena jornada em estilo LSD controlada por uma sinistra tecnologia à base de drogas.
O filme é a estreia do realizador e argumentista Panos Cosmatos (filho de George P. Cosmatos, realizador de filmes na década de 1980 como “Rambo: First Blood”, “Stallone Cobra” e “Tombstone”), onde cuidadosamente reproduz a atmosfera futurista de Kubrick em “2001” com salas e corredores sinistramente brancos e assépticos, o design clean e geométrico de clássicos futuristas como “THX 1138” e referência aos enigmas metafísicos dos filmes sci fi do russo Tarkovsky (“Solaris” e “Stalker”). Isso sem falar nas referências do lado de terror do filme: Cronenberg, Argento e John Carpenter. 
O filme é intrigante tanto na forma como no conteúdo: é um filme do gênero sci fi,no entanto não é ambientado nem no futuro e nem no passado, mas numa espécie de “futuro do passado”. Parece que estamos a ver imagens de como seria imaginado a década de 1980 a partir do ponto de vista dos anos 60."
Texto de Cinegnose

Link
Imdb

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Outono/Inverno

Já vamos pelo Outono fora, em mais um ano de Thousand Movies, e está na altura de fazer um resumo do que por aí vem:

Quem Programa Sou Eu
Logo depois do actual ciclo, vem aí mais um convidado especial, a programar o seu próprio ciclo. O próximo chega-nos do Brasil, e não posso levantar o véu, mas garanto que vai ser muito bom.

Hammer Studio - o Terror Vive Para Sempre
Já é da praxe fazer por aqui um ciclo de terror pela altura do Halloween, e este ano cabe-nos à famosa produtora Hammer. Será um ciclo bem recheado, com cerca de 30 filmes, entre os maiores sucessos e algumas pérolas menos conhecidas. Começa perto do final do mês.

Straub and Huillet - O Cinema é uma Arma
Este ciclo também será bem recheado, com muitas obras desta dupla de realizadores. Terá a colaboração do professor Jorge Saraiva, um já habitual colaborador do M2TM, que neste momento está a escrever os textos. Como devem imaginar, não é fácil escrever sobre eles, por isso este ciclo está dependente, ou será depois da Hammer, ou será um ou dois ciclos depois.

Outros ciclos ainda sem ordem definida, mas dos quais já tenho os filmes:
- Weimar Cinema
- Ida Lupino
- Noir Nórdico
- Cinema Espanhol no Tempo de Franco

Pelo meio podem ainda aparecer outros ciclos, pensados entretanto.
Como sabem também, em vez de darem sugestões, podem fazer uma coisa muito melhor. Podem programar os vossos próprios ciclos, e participar na rubrica "Quem Programa Sou Eu". Já vamos para a sexta edição, e penso que os resultados até agora têm sido muito bons.
Podem escolher 10 filmes sobre um tema específico, ou, simplesmente, 10 filmes da vossa preferência. Terão de ser filmes que ainda não tenham passado no blog, claro.
Se quiserem participar mandem um mail para myonethousandmovies@gmail.com, e falaremos. Neste momento só tenho mais um convidado programado, por isso, se quiserem participar, sejam rápidos.

Até já.


1 (1) 2009

Uma livraria famosa pelas suas raras obras é misteriosa e completamente cheia de cópias de um livro intitulado "1", que parece não ter um editor, ou autor. O estranho almanaque descreve o que acontece a toda a humanidade no espaço de um minuto. Uma investigação policial começa, e a equipa da livraria é colocada em isolamento pelo Bureau for Paranormal Research (RDI Reality Defense Institute). À medida que a investigação avança a situação torna-se mais complexa e o livro mais conhecido, suscitando inúmeras controvérsias (políticas, científicas, religiosas e artísticas). Atormentado por dúvidas, o nosso protagonista tem de enfrentar os factos: a realidade só existe na imaginação dos indivíduos.
Uma das adaptações cinematográficas menos conhecidas da obra de Stanislaw Lem, o famoso escritor polaco de ficção científica, chega-nos da Hungria, pela mão do realizador Pater Sparrow, baseado em "One Human Minute", uma colecção de três ensaios apócrifos com a peça-título escrita na forma de uma crítica de um livro imaginário de dados estatísticos, uma compilação de tudo o que acontece com a vida humana no espaço de 60 segundos. 
O tema central do filme é o homem. Paradoxalmente limitado pelo seu intelecto, e impotente quando confrontado com casos estranhos, como o surgimento repentino de um estranho almanaque numa livraria de elite.  É mais um filme do género fantástico que nos chega do leste da Europa, com pouca visibilidade no Ocidente, mas com um punhado de prémios em festivais pelo mundo fora, incluíndo o Fantasporto.
Legendas em Inglês.

Link
Imdb

La Antena (La Antena) 2007

Era uma vez uma cidade sem voz. Alguém retirou a voz de todos os seus habitantes. Muitos anos se passaram e ninguém parece incomodado pelo silêncio.
Em "la Antena", explora a sua distopia muda de conto de fadas usando todas as estilizações expressionistas monocromáticas do cinema da era silenciosa, não que a "cidade sem voz" esteja completamente quieta, pois enquanto que raramente ouvimos uma voz humana, há barulho, há música e até, nos momentos de suposto silêncio, ouve-se claramente o som das bobines do filme a passarem, como se o que estávamos a ver realmente estivesse a ser mostrado por um velho projector.
E claro, como a citação seguinte sugere, há o texto: "Eles roubaram-nos a voz, mas ainda temos as palavras", como é citado por um personagem. E assim os cidadãos conseguem comunicar-se, lendo os lábios, notas, sinais, correio, e até as legendas uns dos outros (que neste filme têm uma fisicalidade que os torna disponíveis tanto para o espectador como para os outros personagens).
"La Antena" é realizado pelo argentino Esteban Sapir, com um orçamento minúsculo, e desde a sua estreia no início de 2007, foi exibido em inúmeros festivais de cinema fantástico, e não só. A Portugal chegaria ao Motelx de 2008.

Link
Imdb

terça-feira, 8 de outubro de 2019

A Dog's Dream (To oneiro tou skylou) 2005

A história de uma noite mágica em Antenas. Um homem tem um sonho que diz respeito a um estranho assalto. Quando volta para casa descobre que todos os seus pertences foram roubados de forma igualmente estranha. Chama a polícia, e um policia experiente tenta resolver o caso com métodos pouco ortodoxos, mas à medida que a noite se arrasta. o mistério, gradualmente, parece arrastar-se por toda a cidade. Estranhos incidentes levam os nossos heróis a um mundo estranho que parece escaparar da realidade...
Apropriadamente descrito como uma "mistura intrigante de filme policial, realismo mágico e odisseia lynchiana, "To Oneiro tou Skylou" é uma fantasia urbana que leva os espectadores num passeio invulgar por Antenas, representada por um labirinto de muitos becos sem saída.
O realizador Angelos Frantzis, na sua segunda obra, e o seu co-argumentista Spiros Krimbalis dão um novo significado à expressão "reviravolta do destino" e apoiam-se na lógica dos sonhos, pois os seus personagens estranhamente interligados tentam tentam controlar os mecanismos do subconsciente.
É considerado dos raros filmes de ficção ciêntifica gregos, mas o seu argumento circula mais por um mundo de fantasia, embora o seu orçamento tenha sido minúsculo, e não suficiente para grandes efeitos visuais.
Legendas em inglês.

Link
Imdb

O ciclo deste Halloween



Hammer Studio - O Terror Vive Para Sempre
Final de Outubro 2019

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Nuit Noire (Nuit Noir) 2005

Num mundo dominado pela escuridão eterna, um entomologista abandona os seus fantasmas para abraçar o desconhecido. Óscar é um conservador do Museu de Ciências Naturais, e passa a maior parte dos dias cercados por insectos. Quando Óscar não anda de volta dos seus espécimes na sua casa ou local de trabalho, podemos encontra-lo frequentemente no consultório do psiquiatra a reflectir sobre os seus traumas de infância. Um dia, quando volta para casa do trabalho, encontra uma mulher africana do museu deitada na sua cama.
Depois de várias curtas metragens muito intrigantes, o realizador belga Olivier Smolders avançou finalmente para a sua primeira longa, e única até agora. Smolders é um realizador muito peculiar na sua forma de descrever o mundo, e é visto como um David Lynch belga. 
Em "Nuit Noir" Smolders é obcecado por aspectos que foram completamente invertidos: Óscar que cria e sacrifica insectos raros para a colecção de um museu, vive num mundo sombrio, perpetuamente envolto em escuridão por causa de um eclipse solar que ocasionalmente inverte e banha o seu mundo com uma luz dolorosamente brilhante. O tempo não tem sentido, e não há uma narrativa real que nos dê um sinal sobre quais são os aspectos da vida de Óscar que são actuais. 
Visualmente, "Nuit Noir" é impecável, com cenários soberbamente projectados, um design inteligente e um imaginário muito estranho e inventivo. Há muito simbolismo escondido nas imagens, algum muito directo (muitas fotos de insectos) e outro um pouco difícil de detectar, por isso é um filme que exige muita atenção.

Link
Imdb

Brasil: problemas com o Mega

Recebi algum feedback para ultrapassar os problemas que estão a ter com o mega.

- Primeira, e parece-me a mais fácil, é utilizarem o programa jdownloader. Podem tirá-lo daqui.
É muito simples, basta instalar e depois selecionar os links do mega, que automaticamente passam para este programa.

- Segunda solução, leiam aqui.

- terceira opção é usarem o navegador Opera, que tem um VPN gratuito. Leiam aqui.


Se tiverem mais alguma dúvida, digam alguma coisa.
O My Two Thousand Movies segue dentro de momentos.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Filmes no Mega

Sei que algumas pessoas no Brasil estão a ter problemas em tirar filmes do mega. Estou a tentar arranjar uma solução, mas enquanto não encontro, e se quiserem os filmes, contactem-me para o mail myonethousandmovies@gmail.com.

Obrigado.

Hotel (Hotel) 2004

Irene começa um trabalho novo como recepcionista de um famoso hotel nas montanhas. Depressa descobre que a sua antecessora desapareceu em circunstâncias misteriosas, e que o seu destino está cada vez mais entrelaçado com o da outra mulher, com o hotel e a sua equipa a desempenharem um papel muito estranho. Irene é então confrontada com uma ameaça da qual tenta desesperadamente escapar...
The Bates Motel em "Psycho" (1960), de Alfred Hitchcock, o "Overlook Hotel em "Shining" (1980), de Stanley Kubrick, o Pine-Wood Motel em "Vacancy" (2007), de Nimrod Antal, são todos exemplos dos perigos inesperados que estão para além do balcão do check-in cinematográfico, enquanto David Lynch, sem dúvida o grande mestre a subverter os cenários aparentemente mais comuns, aparecia como produtor executivo da estranha série televisiva "Hotel Room", que foi abruptamente cancelada depois de apenas três episódios. Assim como os hotéis devem acomodar as necessidades dos seus hóspedes, e oferecer conforto e relaxamento, os realizadores pegaram no macabro para distorcer o objectivo pretendido e transformá-lo em armadilhas para tormento físico e psicológico, dos quais os protagonistas centrais podem não conseguir fazer o check-out.  "Hotel" de Jessica Hausner é uma adição estranhamente atmosférica a este subgénero, que brinca com a consciência do público com os truques fílmicos a partir dos seus frames de abertura. 
Segunda obra da realizadora e argumentista austríaca Jessica Hausner, depois de uma estreia bem interessante em 2009 com "Lovely Rita", com ambos os filmes a estrearem em diferentes anos em Cannes, ambos na secção "Un Certain Regard". Algures entre o universo de Lynch e "Shining", Hausner cria um exercício de suspense que brinca com os nossos mendos nos espaços comuns, e apesar de ambíguo, nunca entra no território dos efeitos especiais ou dos monstros de borracha. 

Link
Imdb

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Aparelho Voador a Baixa Altitude (Aparelho Voador a Baixa Altitude) 2002

Num futuro próximo, o mundo não é muito diferente do que é hoje, com uma excepção... Há muito poucas pessoas. E nenhuma criança. A raça humana está a caminho da extinção. Por alguma razão as mulheres já não engravidam. As poucas que o conseguem só geram seres mutantes que são imediatamente eliminados pelas autoridades. Judie Foster é fertil: já engravidou por 6 vezes. De cada vez, os obrigatórios testes de gravidez mostraram que se tratava de um mutante e e Judite foi obrigada a abortar. Agora ela engravida novamente. E pensa, e se os complicados testes que fazem ao feto foram a causa das mutações? Ela e o seu marido, André fogem da cidade para um hotel numa pequena e decandente estância balnear, na orla do continente, onde não há polícia e não há lei. Lá, Judite fica ao cuidado do enigmático Doutor Gould, que desaparece frequentemente no seu pequeno avião. Onde vai Gould? O que anda a fazer?
Na muito pequena lista de filmes portugueses de ficção científica, ou fantasia, "Aparelho Voador a Baixa Altitude", realizado pela sueca naturalizada portuguesa Solveig Nordlund,  merece um enorme destaque, e cai muito bem neste ciclo de Fantasy Lo-Fi. Nordlund escolheu para adaptar uma pequena história de J.G. Ballard, com o argumento feito em conjunto com Colin Tucker e Jeanne Waltz a tornarem a história mais rica, além das grandes interpretações de Margarida Marinho e Miguel Guilherme, e ainda os cenários desoladores da região de Tróia, e do sul do rio Tejo.
Os cenários são mesmo a parte mais importante do filme. A sua presença desoladora e sem vida aparecem sempre em fundo na maioria dos shots de Nordlund, conseguindo tirar o máximo proveito que estes prédios em ruínas têm para oferecer, conseguindo ângulos invulgares ao filmar varandas, corredores, átrios, portas e janelas para maximizar o efeito visual e psicológico do filme, pois é nos corredores escuros do hotel que a maioria dos momentos mais importantes do filme é rodado.

Link
Imdb

terça-feira, 1 de outubro de 2019

The American Astronaut (The American Astronaut) 2001

"The American Astronaut" começa quando Samuel Curtis (McAbee) pousa a sua nave espacial num bar intergaláctico situado num dos maiores asteroides que ocupam o espaço entre Marte e Júpiter. Um narrador explica-nos então uma história bastante complicada. O novo trabalho de Curtis é trocar uma mulher clonada que vive numa caixa, levá-la para Júpiter, um planeta só de homens, e trocá-la pelo Rapaz que viu os Seios de Uma Mulher (Gregory Russell Cook), depois levar o rapaz para Vénus para trocá-lo pelo cadáver de um criador, e finalmente trazê-lo de volta para a sua família de luto na terra.
Tudo muito simples até que os problemas acontecem. E não esquecer que o narrador é o Professor Hess (Rocco Sisto), um velho inimigo de Curtis, que mata toda a gente sem razão. Por outro lado, ele não matará se tiver um motivo (sim, é mesmo assim).
"The American Astronaut" é um musical, na grande tradição das estranhas bandas de São Francisco, como Primus ou The Residents, e onde a música de Billy Nayer Show é realmente bizarra, variando do rockabilly a pequenas rimas.  É um filme tão ferozmente caseiro, com efeitos extravagantes do espaço sideral, uma fotografia com pouca luz (projetada para encobrir cenários de aparência barata) e um argumento onde vale tudo, e onde é difícil de acreditar no que quer que seja. 
O grande problema do filme provém do facto do realizador, argumentista e protagonista Cory McAbee pretender que este filme se torne uma obra de culto, mas como diz o velho ditado, um filme de culto não pode procurar o seu público, mas tem de ser o público a próprio filme de culto. 

Link
Link
Imdb