sábado, 20 de maio de 2017

The Land of Hope (Kibô no Kuni) 2012

Inspirado nos acontecimentos de Fukushima, o filme mostra o terremoto no Japão que provoca um tsunami e a explosão de uma usina nuclear. Os habitantes das cidades da região têm de abandonar as suas casas, no entanto, Yasuhiko insiste em continuar a viver no mesmo lugar com a sua esposa Chieko, a despeito dos riscos da radiação, contrariando as autoridades locais e o próprio filho.
"Não deixa de ser irónico como um evento real, infelizmente trágico e alarmante, conseguiu melhorar a concepção dramática das sinuosas e histriónicas ficções de Sono, ficções essas que vinham ultimamente sendo praticadas em piloto automático, com súbitas mudanças de ritmo e cadência psicológica num mundo impregnado de personagens psicopatas, cruéis e instáveis. Pois bem, aqui encena-se um desastre radioactivo em tudo semelhante ao de Fukushima, mas acontecendo logo depois deste. Se bem que algumas referências (sobretudo espaciais) tinham sido já feitas no seu filme passado, Himizu, a verdade é que neste Land of Hope o foco está totalmente virado para as coreografias de abandono da terra em virtude de uma pseudo-segurança, lá onde não existe radioactividade. Nesse sentido, por se aproveitar de uma situação exterior, imposta, com um grau de realidade próxima de nós e em tudo estranha e neurótica (qual o conhecimento que nos assegura não estarmos infectados?), a radicalidade nas acções e a depressão emocional dos seus típicos personagens é-nos muito mais perceptível e nela nos fiamos. Também o chefe de família (bom papel de Isao Natsuyagi), acompanhado pela sua mulher senil, tem um desafio pela frente: sair implica morrer, o êxodo significa não voltar mais. É sobretudo por causa dessas cenas finais (um fechar do círculo perfeito para um resto, às vezes, redundante, televisivo, e facilitista em termos de imagem) que se pode dizer que Sono, passando a mesma mensagem de duas formas distintamente diferentes, a de que o amor torna possível a redenção, torna significativo o que quer transmitir, principalmente para os seus contemporâneos japoneses, que, de alguma forma, necessitam de ver o seu esforço recompensado em celulóide. Mesmo o compositor que tinha chacinado em Guilty of Romance, Mahler, aparece aqui com o seu peso devido e real, próximo de uma tragédia convincente e não um exercício de sadismo auto-indulgente pelo acto de criar e pelos seus personagens. Falta, porém, algum sintetismo."
Texto de Miguel Patricio, daqui.  

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