Rudolfo e Petrita vivem em quarteirões separados de Madrid, enquanto procuram ter um pequeno apartamento em conjunto (ou "pisito", no dialecto espanhol). Infelizmente, os seus baixos salários impedem-nos de ter um. Os colegas de Rudolfo sugerem que ele se case com a velha e frágil Dona Martina, que é a principal inquilina do apartamento onde ele se hospeda. De acordo com a lei espanhola do aluguer, ele pode herdar o arrendamento da sua esposa.
Marco Ferreri nasceu em Milão (Itália), mas a sua carreiro começou em Espanha. Os três filmes que por lá realizou são amplamente reconhecidos como obras fundamentais para o desenvolvimento do cinema espanhol na década de 60. Ferreri queria ser veterinário, mas depois acabou por estudar para jornalismo. Depois de escrever numa revista de cinema que rapidamente se tornou popular, que contava com artigos de realizadores bem conhecidos como Visconti, De Sica e Antonioni, acabou por se tornar assistente de realização e produção de alguns realizadores de nomeada. Em 1955 viajou para Madrid, onde conheceu Rafael Azcona, que mais tarde se tornou um dos seus colaboradores mais próximos.
Em 1958 ele co-realizou "El Pisito" com Isidoro Ferry. O argumento, escrito por Azcona, é baseado na novella "Pobre, paralítico y muerto", e tornou-se num grande sucesso da crítica e popular. O filme reflectia a falta de habitações disponíveis na altura, e as subvenções que o estado deu para a construção de vários apartamentos com preços moderados. Com o seu humor negro, o filme apresentava o mesmo tipo de critica social à corrupção e especulação de terrenos urbanos, característico de obras posteriores de Ferreri e Azcona.
Carlos é um jovem pobre mas ambicioso que vive nos arredores de Barcelona. Desejando melhorar a vida e ganhar muito dinheiro, mesmo que seja através do crime, irá sugerir a um velho amigo que tem muitos contactos o plano de roubar os escritório da empresa onde trabalhava.
Filmes espanhóis sobre o mundo do crime nos anos 50 e 60 eram escritos sob o restrito escrutínio do Conselho de Censura (JSOC), e a polícia só poderia ser apresentada como eficiente e exemplar em todas as circunstâncias. O final, era portanto, previsível, mas os argumentistas podiam se concentrar em como a policia chegava até lá. Se o filme encobrir a acção policial para não perturbar os censores, isso será compensado pelos fragmentos que oferece de uma Espanha urbana do final dos anos cinquenta (neste caso Barcelona).
Realizado por um jovem e quase estreante Juan Bosch, um nome que nos vai escapar um pouco neste ciclo, mas que mesmo assim está aqui bem representado, e que durante a década de sessenta foi um artesão que se moveu em vários géneros, e sobretudo na série B. Fez uma trilogia de filmes noir, dos quais este é o melhor exemplo, e também um óptimo exemplo do film noir espanhol que se fazia em Espanha pelo final dos anos 50.
Terminadas as suas carreiras em Direito e Medicina, respectivamente, Antonio Redondo e Josefina Castro, são um casal de jovens espanhóis, que procuram trabalho para comprar um apartamento e começar uma vida juntos, mas irão enfrentar muitas dificuldades ao longo do processo.
"La Vida por Delante" é o segundo filme de Fernan Gomez, um dos mais completos artistas do cinema espanhol. Depois da sua estreia com "Manicómio", em 1954, como co-realizador, a sua carreira de realizador foi pouco apreciada pelo público, sendo mais conhecido pela sua carreira de actor às ordens de outros realizadores. "La Vida por Delante" é um filme interessante, apesar de longe de outras das suas obras mais interessantes, como "El Mundo Sigue" (1963) e "El Extraño Viaje" (1964), que também veremos neste ciclo.
É uma análise bastante confiável para mostrar a dura vida quotidiana daquele tempo, contado com bastante sentido de humor, com algumas cenas hilariantes, com ênfase na maravilhosa cena do acidente, com um actor secundário de luxo, Pepe Isbert, que demonstra uma enorme presença e conhecimento.
Um ano depois teve uma sequela, chamada “La Vida Alrededor”. Legendas em inglês.
José Diaz deixa a prisão depois de cumprir uma sentença injusta de 10 anos por assassinato. Voltando à cidade de onde é originário, ele e a irmã, Carmen, planeiam matar Luis, quem pensam ter incriminado José. Apesar das intenções originais, o medo e a miséria que vêm fazem José e Carmen integrar um grupo de trabalho que Luis está a organizar, e daí começa uma uma amizade entre os dois homens.
Realizado por Juan António Bardem, foi o primeiro filme espanhol a ser nomeado para o Óscar de Melhor filme em Lingua Estrangeira. O filme que Bardem originalmente queria chamar de “Los Segadores”, é um drama rural com quadros tradicionais de trabalhos agrícolas e a questão típica da vingança e o confronto entre famílias vizinhas depois de uma briga criminosa. Pode ser visto como uma alegoria à reconciliação entre dois lados.
Brilhante no aspecto estético, com cores vivas em Eastmancolor, a história desenrola-se de uma forma convencional, com uma abordagem romântica previsível e progressiva, embora não tivesse a força de filmes anteriores de Bardem, como "Muerte de un Ciclista" ou "Calle Mayor", que agora vistos a tantos anos de distancia são bem melhores do que este "La Venganza", no entanto seria este filme que além da nomeação do Óscar, também conseguiria uma nomeação para a Palma de Ouro em Cannes.
Um grupo de amigos resolve pregar uma partida a uma rapariga solteira. Um deles tem de se fingir apaixonar por ela, o que acaba mesmo por acontecer.
Um filme que nos dá um retrato da Espanha provincial durante as décadas de quarenta e cinquenta do século passado, principalmente em relação aos papéis sociais e de género. Adaptado de uma das peças mais populares de Carlos Arniches, "Calle Maior" lida com a representação de sentimentos ambíguos que se podem ter enquanto se observam pessoas que vivem num ambiente isolado e agem de acordo com formas e regras antigas e fixas. A esse respeito, o filme pode não ser apenas "espanhol", como insiste em afirmar a voz off de abertura imposta pela censura pró-Franco, mas é óbvio que lida com uma imagem da Espanha amplamente divulgada por intelectuais e artistas nacionais e estrangeiros. O realizador Juan António Bardem partilha com Arniches a mesma atitude ao adoptar um ponto de vista contraditório, crítico e nostálgico. Mesmo que nenhuma referência a um contexto político seja dado, Bardem consegue imortalizar uma época e uma forma de viver e pensar, na qual a maioria das pessoas se resignavam a permanecer a mesma, já que para aqueles que não eram felizes, e, principalmente, para as mulheres, não havia saída.
"Calle Mayor" é um filme muito influente hoje em dia. Testemunhamos desamparadamente a inevitável queda de Juan e Isabel e a eventual alienação social. Enquanto isso os cruéis e astutos brincalhões nunca recebem uma punição nem são apontados como culpados no filme. A visão de António Javier Bardem sobre a sociedade do seu tempo era sombria, principalmente quando se concentrava na, então renascida, classe média. Uma visão que também seria partilhada por outros realizadores espanhóis, como Berlanga ou Buñuel.
Venceu 4 prémios no festival de Veneza. Legendas em inglês.
No último filme antes da sua morte, o actor Edmund Gween interpreta o professor Jorge Serra Hamilton, um cientista nuclear que foge para uma vila isolada de pescadores do mediterrâneo para impedir que as suas teorias sejam usadas para fins militares. Em Calabuch as pessoas vivem em paz, longe da louca evolução da civilização, movimentando-se ao seu próprio ritmo, sobrevivendo de uma forma modesta, mas cheia de fraternidade e camaradagem. A chegada do professor irá trazer mudanças relevantes nesta pequena localidade.
Terceira longa-metragem de Luis Garcia Berlanga, (quarta se contarmos com "Esa Pareja Feliz", a meias com Juan Antonio Bardem) é um filme sensível, mergulhado no espírito das obras de Frank Capra. Isto faz do filme uma peça quase única na filmografia de Berlanga, acostumada a observações mais contundentes e a um humor mais sombrio. No entanto o filme ainda tem algumas provocações, lançando pequenas subversões que se manifestam discretamente, mas com bastante inteligência.
Matias, policia e carcereiro, trata os prisioneiros como se fossem convidados, deixando-os saír sempre que quiserem. A autoridade eclesiástica, isto é, o padre, tem uma mente aberta e jovial, que não era normal naqueles tempos. O Professor Hamilton diz a certa altura: "o que eu gosto em Calabuch é que cada um é o que quer ser, ninguém interfere na vida dos outros, todos se dedicam apenas à sua vida". Esse sentimento libertário é uma característica muito comum no cinema de Berlanga, que não hesitava em servi-la, mesmo tendo em conta a escuridão dos tempos que se vivia fora daquela pequena localidade, criando uma vila de essência utópica.
Depois de anos a estudar no estrangeiro, Laura Mendoza, herdeira de grandes terras, com uma rivalidade que já vem de várias gerações com os vizinhos por causa do controle da água de um rio: os Alzaga. A rivalidade vai reacender quando Laura se apaixona pelo herdeiro dos Alzaga.
Manuel Mur Oti, de quem já vimos dois filmes neste ciclo, é uma das grandes injustiças do cinema espanhol, há décadas esquecido pelo público, e desprezado pela crítica (que também não conhecia muito bem o seu trabalho), sendo mais visto apenas nos últimos anos, graças ao aparecimento dos seus filmes na internet. Foi acusado de ser um cineasta pedante, melodramático e pretensioso, de enorme ego e ambição excessiva, que acabaram por prejudicar a sua carreira. Essa foi a mensagem que foi passada através de gerações, no entanto isso não é verdade, e descobrimos à medida que vemos os seus filmes.
"Orgullo" era o seu quarto filme (não vimos o primeiro neste ciclo), e surpreende porque tem todos os elementos de um western épico de Hollywood, mas é passado em Castilla. Um maravilhoso e espectacular “gazpacho-western” em que o Monument Valley é substituido pelos picos da Europa,e as canções folclóricas americanas pelas "jotas castellanas", com reminiscências de "The Big Country" de Wyler, e "Westward the Womem" de Wellman, mas também de John Ford e Anthony Mann, que surpreenderá por ter sido filmado na Espanha Negra dos anos cinquenta, e por ter permanecido escondido durante tanto tempo.
Podem ler um texto maravilhoso sobre o filme do nosso amigo João Palhares, para o site À Pala de Walsh, aqui.
Como as obras do início da Nouvelle Vague ou os filmes mudos de Eisenstein, "Morte de um Ciclista" (Muerte de un ciclista) de Juan Antonio Bardem é um filme forjado a partir da convicção teórica e ideológica. Produzido em Espanha debaixo do regime de Franco, onde o cinema se tornou, nas palavras do próprio Bardem, "politicamente ineficaz, socialmente falso, intelectualmente inútil, esteticamente inexistente, e industrialmente partido," "Morte de um Ciclista" foi uma tentativa consciente de infundir o cinema espanhol com nova vida, para mostrar que o cinema podia, ao mesmo tempo, ser nacional e universal.
A inspiração imediata do filme veio do neo-realismo italiano, que cineastas espanhóis como Bardem viam como uma abordagem estética significativa para lidar com o tempo presente e passado. Bardem tentou mesmo trazer o imediatismo, o humanismo e profundidade emocional para o filme que tinha visto em "Ladrões de Bicicletas", de Vittorio De Sica (1948) ou Umberto D. (1952). Ao mesmo tempo, Bardem foi influenciado pelo cinema de Hollywood, particularmente pelo melodrama e suspense, que fundiu com a estética neo-realista neste filme, para produzir uma obra verdadeiramente original que funciona tanto como entretenimento tenso como uma crítica às divisões de classe na sociedade espanhola. O filme começa numa estrada solitária, onde vemos o ciclista do título a subir uma colina. Este homem anónimo (nunca lhe vemos o rosto) é abalrroado por um carro que está a ser dirigido por María José de Castro (Lucia Bosé) e Juan Fernandez Soler (Alberto Closas). Juan é um professor universitário de baixo nível, e Maria é a mulher de um rico empresário (Otello Toso). Porque eles estão no caminho de volta de um encontro sexual, estão relutantes em ajudar o moribundo, com medo do seu relacionamento ser descoberto. Então, deixam-no abandonado na estrada e voltam para as suas vidas, mas este evento irá assombra-los, especialmente quando um jornalista das colunas sociais chamado Rafa (Carlos Casaravilla) insinua que sabe qualquer coisa. Ele não diz exactamente o que, nem porque, porque deixá-los a adivinhar faz parte da sua tática de poder, que só inflama o medo dos protagonistas de perder tudo.
A nível narrativo, "Morte de um Ciclista" está estruturado de uma forma descendente, em que vemos estes dois membros da classe superior lentamente a descerem aos infernos, com sentimentos como a culpa e o medo a começarem a consumi-los. Há aqui um certo tipo de suspense hitchcockiano, onde estamos constantemente no limite, esperando alguma grande revelação, que desafia os nossos preconceitos morais porque essencialmente nos encontra à espera que o casal adúltero seja acusado de fuga, e de homicídio. Nem Maria nem Juan estão de alguma forma inocentes, embora o atropelamento do ciclista foi, certamente, um acidente não intencional, mas a sua decisão de deixar o pobre homem a morrer na beira da estrada, a fim de protegerem-se é um pecado de proporções assustadoras , um acto verdadeiramente desumano que tentam justificar, mas nunca pode realmente resolver. A veia mais humanista no filme está centrada grande parte em Juan, que se sente pior com a situação, embora ele indiscutívelmente tenha menos a perder. Bardem usa a culpa como uma forma de explorar a classe dividida em Espanha.
Numa noite de tempestade, Hugo e Ivón chegam a um hotel em Gijón acompanhados do filho do primeiro.Saem para ver o mar revolto e, pouco depois Ivón regressa a pedir ajuda porque o jovem foi levado pelo mar. Como o corpo não aparece, um comissário encarrega-se do caso.
Um excelente exemplo do film noir espanhol, que apesar das boas interpretações de Arturo de Córdova e Emma Penella, não foi bem recebido, nem pelo público, nem pela crítica. Um golpe que afectou a carreira do realizador, José Antonio Nieves Conde que tinha tido um grande impacto com "Surcos" (1951) e do argumentista Carlos Blanco, conhecido pelo seu trabalho com José Luis Sáenz de Heredia, para quem escreveu outro noir, "Los ojos dejan huellas" (1952), também interpretado por Emma Penella.
Nieves Conde deu ao enredo uma estética visual expressionista que gerou situações de grande força, enquanto Blanco escreveu um argumento complexo, repleto de decepções e pretensões, optando por romper com a linha cronológica dos acontecimentos. Longe de ser mais um film noir convencional, a história ganha em originalidade os ecos de um personagem fictício que se volta contra o seu criador e ganha densidade graças a um herói sofredor.
Uma jovem actriz de teatro com desejos de sucesso chamada Ana Ruiz (Elisa Galvé), rebaixada para papéis secundários, pode realizar o sonho de se tornar protagonista de uma nova peça. O único obstáculo para alcançar o seu objectivo, é que o empresário que promove a peça, Carlos Márquez (Carlos Casaravilla), quer que Ana seja sua amante, mas ela está apaixonada por Miguel (Fernando Rey).
Depois de Juan António Bardem ter um início de carreira em comum com Luis Garcia Berlanga, com o qual realizou em conjunto "Esa Pareja Feliz" e escreveu alguns argumentos, a carreira de ambos seguiria caminhos separados. Desta forma, "Cómicos", realizado em 1954, seria o primeiro filme a solo de Bardem, que no final se tornará numa homenagem realista ao mundo do teatro, um mundo ao qual ele pertenceu, já que fazia parte de uma família de actores.
Como documento, tenta expôr a grandeza e as muitas misérias de uma profissão tão pouco reconhecida. Das dificuldades económicas, da renúncia à estabilidade sentimental, dos ciúmes profissionais ou a promiscuidade usual, para não chamá-la directamente de prostituição, à qual alguns iniciantes são forçados. Tudo isto por uma vida diferente, por uma liberdade paradoxal em que a melhor recompensa é o elogio à vaidade, e, num reconhecimento imediato, pelo meio de aplausos.
Bom para o seu primeiro filme, pela intimidade do tema, embora a exposição não seja inconclusiva, contrasta com os seus trabalhos posteriores, "Muerte de un Ciclista", "Calle Mayor", que atingem um discurso de verdadeira dureza crítica.
A acção passa-se numa localidade na região espanhola de "La Mancha", onde uma mulher, "Aurelia" (Aurora Bautista) trabalha nas suas terras com a ajuda de um jovem estranho (Jose Suarez), acabado de chegar a esta localidade. O marido de Aurelia (Carlos Lemos) está na prisão por um crime cometido por um ataque de ciúmes, e tudo vai bem até que o marido recupera a liberdade trazendo consigo os fantasmas que rodeiam a sua alma.
Adaptação de uma peça de teatro homónima de Jose Suarez Carreño, vencedor do "Lope de Vega" de 1951, que nos mostra uma Castilla tão seca como os seus habitantes, homens e mulheres. É um dos melhores exemplos da chamada "España Negra", e dos valores morais mais difíceis no pós-guerra civil espanhola, e provavelmente não encontrará uma ocasião mais propícia a esta forte tragédia, assinada por Manuel Mur Uti, em 1953.
É uma espécie de continuação de "Cielo Negro", estreado dois anos antes, e conta outra história baseada numa personagem feminina, Aurélia, num massacre continuo, que aparece como a causa e a consequência, e como isso encaixa claramente na cultura patriarcal daqueles tempos. A personagem de Aurélia é interpretada por Aurora Bautista no auge da sua carreira, depois de interpretar filmes como "Agustina de Aragon", "Pequeñeces" ou "Locura de amor."
Juan luta por ganhar a vida como técnico no estúdio de cinema local, e está sempre à procura de um esquema para ganhar mais dinheiro. Tem um monte de diplomas de escolas por correspondência na parede, mas, não verdade, não consegue consertar um radio. A sua esposa, Carmen, é obcecada por concursos e sorteios. Por exemplo, comprar mais sabão do que o casal alguma vez precisará para ganhar um prémio. Um personagem "obscuro", que trabalha no teatro local, convence Juan a "emprestar" algum filme do estúdio onde trabalha, e investir o seu dinheiro e equipamento num negócio de fotografia.
Primeiro filme feito por dois realizadores - Juan António Bardem e Luis Garcia Berlanga, - depois de se formarem na Escola Superior de Cinema, realizado em 1951, mas que só viu a luz do dia dois anos depois, na sequência do sucesso de "Bienvenido Mister Marshall", o filme anterior deste ciclo, que também tinha sido escrito pelos dois, mas que tinha sido uma realização a solo de Berlanga. A inexperiência de uma primeira obra é evidente, mas contém muitos dos elementos que definiriam as respectivas carreiras no futuro, e tem de ser referido que Bardem e Berlanga seriam duas das vozes mais importantes do cinema espanhol das próximas décadas.
A combinação entre comédia (Berlanga) e melodrama (Bardem) emraizada num ambiente pobre e realista, que era invulgar no cinema espanhol da época. A representação de problemas como o desemprego e a habitação foram razões que atrasaram a estreia do filme. O filme toca em alguns pontos marcantes sobre a Espanha de Franco, que ainda ressoam algumas décadas depois, destacando as desigualdades sociais, e a censura, nunca perdendo de vista o encantador romance em apuros, que é o núcleo do filme. Conta ainda com uma grande interpretação de Fernando Fernán Gómez, uma das lendas da interpretação espanhola.
Na pequena cidade de Villar Del Rio, em Espanha preparam-se para a chegada dos americanos depois do fim da 2ª Guerra Mundial. Os habitantes investem nos preparativos para impressionar os visitantes, esperando poder beneficiar-se do Plano Marshall. Há que pensar bem no que pedir aos novos amigos: um pedido por habitante, nem mais nem menos.
O facto da Espanha ter sido excluída do Plano Marshall (um plano americano de ajuda aos países afectados pela Segunda Guerra Mundial) já era conhecido, não tinham participado directamente na guerra mas tinham apoiado os fascistas e estavam agora sob uma ditadura, é a primeira indicação de que as correntes de subversão são facilmente encontradas no filme. As comédias britânicas da Ealing são talvez a comparação mais próxima próxima de critica social e comédia agradável realizada por artistas populares.
"Bienvenido Mister Marshall" é um dos filmes mais famosos e mais inteligentes da história do cinema espanhol, uma sátira brilhante e ao mesmo tempo minimalista e ambiciosa que utiliza um pequeno enclave bucólico e árido da Andaluzia, condenado a desaparecer devido à inexistência do caminho de ferro e ao esquecimento institucional da ditadura de Franco depois do desastre republicano na Guerra Civil Espanhola, para gozar com a idiossincrasia dos Estados Unidos e do Plano Marshall.
Além do sucesso comercial, teve um grande impacto internacional que incluem 2 prémios no Festival de Cannes de 1953. Melhor comédia e uma Menção Especial. Legendas em inglês.
A familia Perez migra da sua pequena aldeia para Madrid, na esperança de lá conseguirem uma vida melhor. Já lá têm um filho, Pepe (Francisco Arenzana) que já conhece um pouco da cidade por lá ter prestado serviço militar. Ficam em casa de um parente cuja filha Pili (Maria Asquerino) já foi corrompida pela cidade. Chili, cínica vive do mercado negro, que era típico daquela altura.
Realizado em 1951, pelo cineasta José António Nieves Conde, uma realizador que até então estava livre de atritos com a ditadura, "Surcos" entrou para a história não apenas pelas suas inúmeras conquistas narrativas, como também foi certamente o primeiro filme espanhol a ser directamente inspirado pelo neorrealismo italiano, que implicava uma abordagem física da realidade de Madrid, a sua feiura, as inúmeras lacunas que tornam o território hostil onde a miséria e a pobreza são omnipresentes, como implicavam os movimentos de câmara colocada no terreno físico das ruas onde a vida quotidiana se desenrola. No entanto, além de contar uma história de homens e mulheres sujeitos a constante degradação física e moral, o real objectivo do realizador era chamar a atenção para a necessidade de implementar uma série de mudanças profundas pela ideologia mais consciente socialmente do movimento político Falange, do qual o próprio realizador era membro.
Nesta perspectiva ideológica, Madrid em "Surcos" é a sarjeta onde desaparecem os valores da família, a honestidade e o senso do trabalho, a serem substituídos por conceitos como falsidade, oportunismo e crime, de modo que todo o reverso que os seus personagens principais experimentam fazem parte da luta alegórica entre tradição e modernização. "Surcos" contém retratos vívidos de personagens do submundo, como se viessem de um "film noir". Isso era invulgar na Espanha daquela época, talvez fosse uma reacção à corrupção generalizada. A regra do mais forte, e os golpes recebidos pelos personagens principais são reais, e embora o final imposto pela censura provoque, em alguns deles, uma memória da sua antiga dignidade, o público sabe que o efeito da derrota é irreverssível.
Concorreu em Cannes, onde foi nomeado para a Palma de Ouro. Legendas em inglês.
As desventuras de Emilia (Susana Canales), uma humilde costuereira que toma emprestado um vestido de luxo da casa de moda onde trabalha para tentar deslumbrar um colega de trabalho por quem ela se apaixonou.
"Cielo Negro" fecha com uma das sequências mais significativas de todo o cinema espanhol, um longo travelling no qual a câmara segue Emilia, do viaduto da rua Bailén até à basílica de San Francisco el Grande, em Madrid. Um travelling que não deixa de ser um reflexo do país do momento, do julgamento sobre o papel feminino na sociedade na Espanha de meados do Século XX. É uma fotografia da personalidade da personagem, mas não deixa de ser, em nenhum momento, a essência clara e magistral do Cinema. Sem ter de aceitar ou repudiar a mensagem religiosa da submissão, o planeamento, a encenação e a realização dos dez minutos finais deste filme são dignos de estudo, e merecem os maiores elogios. A cena é feita a partir da visão de Emília, a sua predeterminação ao fracasso, à solidão, à decepção pela espécie humana. "Cielo Negro" é a história de um sonho que se transformou em pesadelo, de um amor platónico que foi levado ao engano pelo egoísmo e maldade dos homens.
Realizado por Manuel Mur Oti, que começou a fazer filmes aos 41 anos, quase por acaso, depois de ser extremamente bem sucedido numa série de outras carreiras, como escritor, poeta, argumentista, advogado, e até perfumista. O papel da mulher na sociedade é um dos focos maiores no trabalho de Mur Oti, como se vê aqui neste filme, que embora não fosse o seu primeiro, era a sua revelação.
Podemos considerar este ciclo dividido em quatro partes. A primeira parte, que terminou ontem, é sobre a primeira década do governo de Franco. Para avançarmos para a década de cinquenta, temos que fazer aqui algumas considerações.
A segunda década da ditadura de Franco foi um período de várias mudanças políticas , económicas e culturais. Trouxe legitimações internacionais do regime ditatorial: a Espanha foi admitida na Unesco em 17 de Novembro de 1952, assinou um acordo com o Vaticano em 27 de Agosto de 1953, e finalmente foi admitida nas Nações Unidas em Dezembro de 1955. A Espanha autárquica tornou-se tecnocrática. Franco reestruturou o seu gabinete em Fevereiro de 1957, incluindo Laureano López Rodó como secretário geral da presidência do governo, um novo ministro das finanças, Mariano Navarro Rubio, e um novo ministro do comércio, Alberto Ullastres Calvo. Defensores de uma sociedade tecnológica e de progresso, os tecnocratas valorizavam a eficiência, a competição e o profissionalismo. Também apoiavam o esforço da modernização liderado pelo estado, e a liberalização económica. Os novos ministros tecnocratas endossaram a adopção do capitalismo moderno, investimento estrangeiro, industrialização maciça, migração populacional, urbanização e expansão educacional. Entre os desenvolvimentos mais preocupantes para o regime estavam as greves trabalhistas e os distúrbios estudantis.
Em Setembro de 1951, José María García Escudero foi nomeado director geral do Teatro e Cinema. García Escudero era um defensor da renovação, as suas reformas articularam mais claramente a política de subsídios estatais, censura, licenças de importação e exportação, e a politica da industria cinematográfica em geral. No entanto, ele foi vitíma das contradições internas do regime de Franco, que paradoxalmente exigia controle interno e liberalização. Ele tinha sido nomeado director geral para ajudar a projectar uma imagem mais liberal de Espanha no exterior, mas posteriormente foi visto como liberal demais, e obrigado a renunciar em Fevereiro de 1952. A sua renúncia foi motivada pelo chamado escândalo "Surcos", que ilustra bem a politica complexa de Espanha durante a década de 50.
García Escudero nomeou para uma categoria de "interesse nacional" o filme "Surcos" (1951), em vez de outro mais apropriado ideologicamente para o regime de Franco, "Alba de America" (1951), de Juan de Orduña, épico histórico sobre as descobertas de Colombo na América. Apesar dos seus valores falangistas, "Surcos" centrava-se em questões sociais e contemporâneas, como a imigração, o mercado negro, corrupção, desemprego e prostituição. A nomeação de "Surcos" enfrentou forte oposição dos sectores tradicionais do regime, o que forçou a destituição de García Escudero. A sua breve aparição teve um grande impacto no cinema espanhol, e ele voltaria a ocupar o cargo em 1962, tendo sido uma das figuras principais do Novo Cinema Espanhol. Mas a esta parte, lá chegaremos.
A politica institucional e de produção dos anos 50 influenciou realizadores experientes e emergentes. Com algumas excepções, os veteranos continuaram a fazer trabalhos convencionais e não politizados, que se saíram bem com o regime e o público. A cultura cinematográfica dos anos cinquenta também viu o surgimento de uma nova geração, ligada ao Instituto de Investigaciones y Experiencias Cinematográficas ou IIEC, a escola de cinema criada em 18 de Fevereiro de 1947. As duas vozes jovens mais importantes a surgir daqui foram Juan António Bardem e Luís Garcia Berlanga, ambos graduados do IIEC. Em 1953 os dois dirigiram "Esa Pareja Feliz" onde a actriz Lola Gaos interpreta uma raínha medieval que é uma clara paródia a Aurora Batista no épico histórico "Locura de Amor", um filme claramente de ideologia fascista realizado uns anos antes. "Berlanga foi também o autor do filme mais célebre deste período, "¡Bienvenido Mister Marshall!", que explorava os mitos e realidades da Espanha franquista, da burocracia espanhola ao Plano Marshall, uma politica americana que fornecia ajuda financeira a uma frança subdesenvolvida.
Aos filmes lá iremos a seu tempo devido, mas agora, para não vos maçar mais, resta dizer que no inicio da década de cinquenta o IIEC organizou umas mostras de cinema italiano, com a exibição de alguns filmes muito importantes, como "Cronaca di un Amore" ou "Miracolo a Milano", com os próprios realizadores muitas vezes a acompanharem as exibições dos filmes. Este acontecimento teve um impacto enorme no cinema espanhol posterior, que como iremos ver nos próximos dias, teve forte inspiração no neorrealismo italiano.
Neorrealismo seria a principal estética do cinema espanhol dos anos 50. Com esta me despeço, até amanhã.
"Vida en Sombras" conta a história de um homem que desde a infância se apaixona pelo cinema e cresce para se tornar um realizador ou cameraman. Enquanto luta para tirar fotos, casa-se e fica seriamente impressionado pela Guerra Civil Espanhola. A sua vida irá ser entre a luz e a sombra, e mistura-se com um profundo amor pelos filmes, que irá prevalecer no fim.
O que faz de "Vida en Sombras", de Lorenzo Llobet Gracia, um filme tão invulgar, é a repetição. O início e o final são idênticos. Ou melhor, não há um fim propriamente dito, mesmo que o próprio filme nos tenha convidado a seguir a trajetória do protagonista, ao mesmo tempo e paralelamente à história do cinema em si. É a história invulgar do filme dentro do filme, e ao mesmo tempo a história de um casal. O centro da acção, aquele em volta do qual tudo gira, é causado pela morte da esposa do protagonista, e também do filho ainda não nascido. E este acontecimento essencial coloca "Vida en Sombras" na esteira do cinema de vanguarda europeu e, também, com um precursor do cinema pós-clássico.
Seria a única longa metragem de ficção de Lorenzo Llobet Garcia, um cineasta amador associado a um clube de cinéfilos de Barcelona conhecido como Telúricos (o "underground"), e está cheio de pistas subtis, ou menos subtis, que evocavam o desejo de escapar à Espanha de Franco. Diz-se que as dificuldades que o filme teve com a censura foram por causa do uso do catalão como língua, mas não está garantido.
Esta versão aqui presente, é um versão completa pré-censura restaurada pela Fimoteca Española e Filmoteca da Catalunya. Tem legendas em inglês.
O velho Alonso Quijano enlouquecido pela leitura de livros de cavaleiros decide ele próprio armar-se em cavaleiro, e abandonar a sua aldeia, acompanhado pelo fiel escudeiro Sancho Panza. Depois de uma série de peripécias os seus amigos tentam trazê-lo de volta a casa e fazê-lo ver a razão.
Em 1947 realizaram-se várias actividades para comemorar o quarto centenário do nascimento de Miguel de Cervantes. Entre os vários projectos e eventos inclui-se uma versão cinematográfica de "Don Quixote de La Mancha", realizada por Rafael Gil, e com produção da Cifesa. Já havia várias versões internacionais deste livro para o cinema, desde os tempos do cinema mudo, mas a versão de Gil era especial: era a primeira versão espanhola do livro de Cervantes, e foi considerada, até aos dias de hoje, como a versão mais fiel ao livro.
O escritor e jornalista Antonio Adab Ojuel, colaborador de Gil em vários argumentos anteriores, ficou encarregue da adaptação, selecionando os episódios mais notáveis do livro, eliminando os relatos incrustados e fazendo uma clara síntese da trama. Rafael Rivelles foi escolhido para o papel principal, enquanto Juan Calvo era o actor escolhido para o papel de Sancho Panza. O grandioso elenco contava ainda com Sara Montiel e Fernando Rey, ambos em inicio de carreira cinematográfica.
Numa noite escura é encontrado o corpo de uma mulher rica da sociedade, e os investigadores suspeitam imediatamente de uma criada da mulher. Por sua vez, a criada da mulher exige que o seu noivo seja trazido para interrogatório. Alguns jornalistas que cobrem a historia resolvem seguir a sugestão da mulher, e gradualmente descobrem a cadeia de eventos que levaram ao homicídio.
É um filme em que o "evento" do crime é subjugado a uma exploração das reacções populares que ele provoca. Assim como "A Torre dos Sete Corcundas" viola as convenções classificatórias e paira sobre uma linha genérica que atravessa o melodrama e a comédia popular, entre uma "comédia de maneiras" e um filme de mistério. É um drama de tribunal resolvido nas tabernas e nos cafés de Madrid. É nessas arenas que testemunhamos uma mudança nas relações de poder que perturba a célebre função de Madrid como sociedade de salões, um elemento que está intimamente ligado ao intimamente ligado ao papel histórico da cidade como centro político da nação.
Seria o terceiro filme da célebre trilogia de Madrid de Edgar Neville, que foi, possivelmente o realizador espanhol de mais sucesso durante a década de 40. Neste ciclo só veremos os seus três filmes da trilogia de Madrid.
Passado na atmosfera surreal do advento de Domingo de Carnaval, o início da celebração de 3 dias que culmina com as festividades do Mardi Gras (e inaugura o inicio da Quaresma com a Quarta-Feira das Cinzas) o filme começa com a descoberta de um corpo de um corrector de penhores assassinado. O polícia que vai investigar é Matias (um jovem Fernando Férnan Gomez, em inicio de carreira) que chega a uma lista com vários suspeitos. O principal suspeito é preso, e a sua filha Nieves /Concita Montes) irá iniciar uma investigação paralela.
"Domingo de Carnaval" é um filme sobre os costumes tradicionais da Espanha no inicio do Século 20, e faz parte de uma trilogia que recria o ambiente da época em Madrid, em conjunto com "A Torre dos Sete Corcundas (1944), que já vimos aqui, e que seria completa com "El Crimen de la Calle Bordadores" (1946), todos eles realizados por Edgar Neville.
É um filme que mistura a investigação policial e intrigas contemporâneas com marcas apropriadas da cultura popular: danças regionais, rituais etnográficos, trajes tradicionalistas, diálogos característicos da comédia de costumes e a representação de toda uma amálgama de entretenimento e jogos sociais, temperados com humor e a familiaridade que aparece nestes momentos de comemoração. Criando um ambiente sinistro e carnavalesco e sustentando a tensão e o suspense do filme através da eficiência da narrativa, Neville não apenas demonstra uma precisão para contar histórias, como também dá um vislumbre da disparidade e instabilidade social e económica que se vivia na época, a vida durante os primeiros tempos da transição do pós-guerra e o entrincheiramento do fascismo.
1937, durante a guerra cívil espanhola, em Terruel. A luta dos republicanos (com muito poucos meios mas grande compromisso) contra o exército fascista do General Franco. Pode ser visto como um testemunho romantizado do do realizador e escritor André Malraux, que se juntou aos republicanos em 1936.
Feito em 1938/39, mas lançado comercialmente em 1945, mostra a defesa da segunda republica espanhola pela força aérea republicana, filmada no nordeste de Espanha, Teruel, Catalunha e Paris. Durante a Guerra Civil Espanhola as forças republicanas espanholas lutam contra o exército franquista mais bem equipado, nas desoladas montanhas na província de Teruel. Esta luta foi inspirada em eventos reais baseados que lutam contra o exército franquista. Nascem os seguintes heróis: Comandante Peña (José Sempere) , Capitão Muñoz (Andres Mejúto) , Capitão Schreiner (Pedro Codina), um comissário político com alto compromisso chamado Arrignies (Julio Peña) e a valiosa ajuda de um homem do campo chamado (José Maria Lado), todos eles executam una tarefa perigosa: destruir e bombardear uma ponte no caminho para Saragoça, um objectivo fundamental para o avanço das forças rebeldes. Enquanto isso, os camponeses apoiam a Républica e os regugiados fogem do bombardeamento de Teruel e arredores, mas um avião cai e o camponeses resgatam e ajudam os pilotos feridos.
Algures entre o documentário e a ficção, escrito e realizado por André Malraux, baseado num capítulo do seu livro chamado "La Esperanza", inclui cenas espectaculares de brigas de rua, e um bombardeamento, com imagens de arquivo adicionadas. O filme foi mostrado em Paris na Cinemateca Francesa, em 1940, já que era uma produção franco-espanhola, mas o regime de Franco fez pressão para o silenciar. Uma cópia foi encontrada em 1945, e foi novamente exibido, mas seria novamente banido, para só voltar a ser exibido em 1977, depois da morte do General Franco.
"A Torre dos Sete Corcundas", a adaptação cinematográfica do livro de Emilio Carrere, de 1924, conta a história de Basilio Beltrán (Antonio Casal), escolhido pelo fantasma do arqueólogo assassinado Robinson de Mantua (Felix de Pomés) para investigar a sua morte, ás mãos de uma comunidade de corcundas que fabricam dinheiro falso numa sinagoga subterrânea, uma remanescência clandestina da inquisição, construída em segredo debaixo da cidade. No decorrer da investigação Basílio apaixona-se pela filha de Robinson, Inés (Isabel de Pomés, também filha na vida real de Félix de Pomés), e afasta-se do objecto anterior do seu desejo, a cantora La Bella Medusa.
O filme, tal como o livro original, é definido pela sua natureza "popular" e fervilhante, tanto pretende ser um drama histórico como um filme de terror cómico que rompe fronteiras genéricas, temporais e locacionais, na intercepção entre o popular e o histórico. A história é estereotipada como um drama de fantasia numa Madrid vibrante e reconhecível, cujas formas de falar caricaturadas e o comportamento lembram os romances do século 19 de Benito Pérez Galdós, no século XIX. Nota-se a influência do expressionismo alemão que vai muito além de "Metropolis". A fotografia ecoa frequentemente "O Gabinete do Dr. Caligari", de Robert Wiene, e isso reflecte-se tematicamente na abundância de hipnotismo, cientistas loucos, e arqueólogos.
Edgar Neville foi talvez o nome mais importante do cinema espanhol dos anos quarenta, um cinema mais leve, focado em comédias e entretenimento, ao contrário do que viria a acontecer na década seguinte. Foi dele a autoria de uma trilogia focada na cidade de Madrid, da qual este é o primeiro filme. Veremos os outros dois filmes também neste ciclo.
Quando Fernando conhece Mariana e a sua família excêntrica não consegue deixar de se apaixonar por ela, embora a sua relação tenha altos e baixos, e seja estranhamente assombrada por um segredo de família.
"Eloisa está debajo de un Almendro" tem como base uma peça com o mesmo nome de Enrique Jardiel Poncela, e serviu de inspiração para a quarta longa metragem de Rafael Gil, um ex-crítico de cinema que foi um dos realizadores mais proeminentes da era de Franco. "Eloisa..", a peça de Poncela, foi importante na história da dramaturgia espanhola devido à revolução humorística que propôs, apostando na evasão da realidade através do que era implausível, onde a fantasia quase surreal e um humor mais intelectual ou inteligente assumem uma importância especial, numa discussão que gira à volta de um jovem que regressa a casa depois de anos a estudar em Bruxelas, para encontrar uma estranha nota de suicídio do seu pai assinada dez anos antes.
A adaptação de Rafael Gil, até certo ponto, é fiel e rigorosa ao texto original, sem dúvida para tirar proveito de alguns diálogos que contêm algumas notas cómicas dignas de nota. Mas longe de querer realizar uma adaptação académica e óbvia, Gil demonstra com a sua câmara intenção de evitar uma clara servidão teatral, introduzindo ligeiras e óptimas mudanças. Desta forma a versão cinematográfica não pode ser simplesmente classificada de comédia com base nos lugares comuns do género, devemos também adicionar o epiteto de fantástico. Isto porque tem uma grande inspiração gótica, que emerge praticamente de todos os cenário criados por Enrique Alárcon, para um filme filmado inteiramente em estúdio, onde se destaca a concepção do castelo da personagem principal.
Estreou em Portugal com o nome de "O Castelo dos Doidos", um título que não faz justiça à atenção que ele merece. Legendas em inglês.
Quando a Républica Espanhola é declarada em 1931, três irmãos seguem camimhos separados. Um deles, um padre, é morto pelos esquerdistas. Outro, um membro do Governo, trai os ideais tradicionais da sua família. O terceiro, luta ao lado de Franco para defender esses mesmos ideias.
“Raza” pode ser classificado como um dos chamados filmes de guerra patrióticos que foram produzidos em Espanha durante a década de 40, exaltando as glórias do passado do seu país, e distorcendo o seu contexto histórico, a fim de legitimar a implementação do regime de Franco. Além disso, este filme é também conhecido por, o general Francisco Franco, sob o pseudónimo de Jaime de Andrade, ter, ele próprio escrito o argumento. Franco propôs a idéia para o filme, enquanto o recentemente criado Consejo de la Hispanidad, uma instutuição dedicada à difusão da cultura espanhola, apoiava a sua produção.
José Sáenz de Heredia, escolhido de entre os realizadores mais conhecidos da época, ficou encarregado de realizar o filme. Sáenz de Heredia era primo de José António de Rivera, o fundador da Falange e dos chamados Principios del Movimiento, o autêntico corpus ideológico que sustentou o regime de Franco. Além de ter escolhido o realizador, Franco supervisionou pessoalmente todo o elenco, a versão final do argumento, e a montagem do filme, tornando-o u manifesto verdadeiramente propagandista para a sua causa.
O argumento de Franco também tem fortes conotações autobiográficas. Não é difícil de reconhecer a mãe de Franco em Isabel Acuña sw Churruca, e, mais obviamente, a personagem também partilha o sobrenome da mãe de Franco. Além disso, o personagem José, tal como Franco, também se matriculou na Academia Militar de Toledo, e a sua primeira misssão foi a Marrocos. Pedro, o irmão republicano que finalmente recupera e se identifica com os nacionalistas, é muito parecido com Ramón Franco, o irmão do ditador. A única excepção é a figura paterna, Pedro Churruca, um herói militar que morreu na guerra, tem pouco a ver com pai de Franco, um jogador bêbado que abandonou a família.
Para iniciar este ciclo, e para vos dar uma ajuda a compreender sobre tudo o que verão por aqui neste ciclo, partilho convosco uma colecção de 6 livros.
- Spain Transformed; The Franco Dictatorship, 1959-1975
- Popular Spanish Film Under Franco; Comedy and the Weakening of the State
- Out of the Past; Spanish Cinema After Franco
- New Mythological Figures in Spanish Cinema; Dissident Bodies Under Franco
- Burning Darkness; A Half Century Of Spanish Cinema
- A Cinema of Contradiction Spanish Film in the 1960s (2006) Sally Faulkner