quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Fassbinder: As Primeiras Curtas

O Pequeno Caos (Das kleine Chaos) 1966
Três jovens apanhados na rebelião da contra-cultura dos anos sessenta, decidem, para completar o seu baixo rendimento na venda de assinatura de revistas porta-a-porta, orquestrar o assalto a uma casa. Os três aspirantes a criminosos, interpretados por Christoph Roser, Marite Greiselis e o próprio Fassbinder, entram na casa de uma mulher assustada, e exigem-lhe dinheiro. 
Fassbinder tinha apenas 20 anos quando começou a rodar o seu primeiro filme, que se encontra actualmente desaparecido. A sua obra seguinte, "Das kleine Chaos" passaria a ser assim a sua estreia. O personagem de Fassbinder tem uma postura que parece homenagear o James Cagney dos filmes de gangsters dos anos 30 e 40. O próprio filme tem várias referências a este popular sub-género do cinema americano. A sequência da invasão à casa faz lembrar bastante a de "Laranja Mecânica", de Kubrick, mas não se sabe se o realizador veio aqui buscar influências. 
Embora tenha sido feito com um orçamento muito limitado, e a fotografia é a prova dessas limitações, Fassbinder já sabia posicionar a sua câmara, alternando entre close-ups estáticos e dinâmicas sequências de câmara ao ombro. 

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 O Vagabundo (Der Stadtstreicher) 1966
Um vagabundo de Munique encontra um revólver. Tenta livrar-se dele, mas ocorrem-lhe fantasias suicidas.
Uma curta-metragem de Fassbinder que vai buscar inspiração ao Neo-Realismo Italiano, e à Nouvelle Vague francesa. Aquilo que se passa no filme não é muito importante, mas sim a forma como é feito e como nos é mostrado. 
Apresentado quase como um filme mudo, "Der Stadtstreicher", está profundamente focado nas suas imagens, e nunca nos breve momentos de diálogo. A força das imagens é poderosa, dramática e melancólica, tal como era a convicção de Fassbinder em fazer filmes que não estivessem focados em obter um final feliz.
Fassbinder não teve muita sorte com estas primeiras curtas. A "Der Stadtstreicher" foi recusado o certificado porque alegadamente glorificava o suicídio. Quanto a "Das kleine Chaos" foi rejeitado pelo comité de selecção do Festival de Cinema de Oberhausen. O tempo faria justiça ao realizador.

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1 comentário:

julia disse...

Mas não glorifica o suicídio. O protagonista primeiro tenta se livrar da arma, depois não consegue o local adequado e depois dorme com ela e lhe é roubada a perspectiva de suicídio definitivamente. Ele vai ter que continuar se arrastando no álcool ou aproveitar a chance e sair desta situação.
Deita a cabeça na relva desolado porque teria sido fácil só um tiro, mas como dormiu no ponto, passou a oportunidade. Vai ter que continuar se encarando.