terça-feira, 5 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: "Três na Rua Mechtchanskaya", de Abram Room

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo quinto convidado é a realizadora Rita Azevedo Gomes, que escolheu Três na Rua Meshchsanskaya de Abram Room.

Sinopse: Esta atrevida farsa russa é uma fascinante curiosidade, atípica em relação ao cinema de propaganda da altura, e bem à frente do seu tempo no tratamento a sexo e género. Os três intérpretes principais têm grandes interpretações, com destaque para Lyudmila Semyonova num papel feminino altamente progressista para a altura. O filme também beneficia de um trabalho de câmara inventivo, produzindo uma visão realista da década de 20 em Moscovo e dos seus habitantes.
Era o quarto filme de Abram Room, e ganhou fama por ter sido banido (e elogiado) nos dois continentes. Tal como outros dos primeiros realizadores do cinema soviético, chegou a esta área depois de um caminho sinuoso. Era um médico especializado em psiquiatria e neurologia, que serviu como oficial do Exército Vermelho durante a Guerra Civil Russa, que se deu depois das revoluções de 1917. Originalmente da Lituânia, Room decidiu ficar em Moscovo depois da desmobilização e começou a trabalhar no Teatro da Revolução.

Num capítulo de Kino and the Woman Question, Judith Alley escreve que “Três na Rua Meshchanskaya é diferente da maior parte dos filmes considerados “clássicos” do cinema mudo soviético tanto pelo seu tema como pelo seu estilo. Um crítico da Close-Up descreveu o filme como caracterizado por “cortes descuidados, continuidade não relacionada, por todos os erros que o amador pode cometer.” O crítico continua: “E no entanto aqui estava um filme que nos prendia e tinha génio. A própria irregularidade concedia-lhe um poder acrescentado; quase se podia dizer que criou uma nova técnica.” 
“O filme conta a história de uma mulher, Liudmilla, cuja vida é definida pelo pequeno apartamento de um quarto em que passa os dias. O marido dela, Kolia, um supervisor de construção, convida um velho amigo, um estampador, a partilhar o apartamento deles. O amigo, Volodia, chegou recentemente a Moscovo e não consegue encontrar um quarto devido à crise de habitação.”
 Justificando a sua escolha, Rita Azevedo Gomes disse-nos que é «uma recentíssima descoberta, este filme, Três na Rua Meshchanskaya, fascinou-me não tanto pela urgência em abordar, no contexto social da União Soviética dos anos 20, temas como o amor, o casamento, a moralidade sexual, mas pela maneira como tudo se condensa e encerra num pequeno espaço, uma cave nos subúrbios de Moscovo. Sublime a economia estética da imagem; cada plano, detalhe, olhar, cada reflexo, aproxima-nos com enorme delicadeza da densidade interior dos três personagens e da sua fragilidade, sustentada pelo espantoso trabalho dos actores.» 

Amanhã, a escolha de Tag Gallagher.

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