segunda-feira, 11 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Os Melhores Anos das Nossas Vidas”, de William Wyler

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O último convidado é Filipa Gambino, que escolheu Os Melhores Anos das Nossas Vidas de William Wyler.

Sinopse: Filme dramático norte-americano realizado em 1946 por William Wyler, The Best Years of Our Lives foi interpretado por Myrna Loy, Fredric March, Dana Andrews, Harold Russell, Teresa Wright e Virginia Mayo, entre outros. O argumento foi escrito por Robert E. Sherwood, baseando-se no livro Glory For Me, de MacKinlay Kantor. Tratando-se de um clássico sobre o regresso a casa, depois da guerra, e as dificuldades de adaptação à nova vida civil, o filme centra-se em três homens: Al Stephenson (Fredric March), Fred Derry (Dana Andrews) e Homer Parrish (Harold Russell). Os três regressam a casa juntos, atormentados pelas memórias recentes da guerra e com dúvidas acerca do seu futuro. Quando chegam, seguem diferentes caminhos. O marinheiro Homer regressa a casa sem mãos, Al regressa para a sua esposa Milly (Myrna Loy), filhos e o antigo emprego num banco, e Fred encontra uma mulher que praticamente o abandonou e não tem perspetivas de trabalho.

Em jeito de conclusão, escreve-nos que “o ecletismo deste ciclo (de uma maneira pouco premeditada já que a curadoria foi distribuída por tantas pessoas quantos os filmes que por aqui passaram) acabou, de certa forma, por reflectir os vários estágios pelos quais passámos durante esta quarentena. O terror do vírus desconhecido em Cassandra Crossing, ou da peste em A Máscara da Morte Vermelha, ou da cólera em 7 Mulheres; a estranheza da impossibilidade de sair do confinamento em O Anjo Exterminador, a necessidade de evasão em E.T. - O Extraterrestre ou Querido Diário, os dramas familiares como Spencer’s Mountain ou O Túmulo dos Pirilampos e tantos outros e tão bons onde pudemos encontrar paralelos com a situação em que nos encontramos. 
Escolhi Os Melhores Anos das Nossas Vidas porque descobri nele ecos para as perguntas que me invadem agora o pensamento, nesta fase de desconfinamento: vamos encontrar o mundo ainda como o deixámos? Haverá lugar nele para nós? Saberemos/poderemos ainda abraçar os que amamos? Terá o pior já passado? Tudo perguntas que atormentam estes 3 veteranos de guerra que Wyler acompanha no regresso a casa. 
Ao longo do filme o desconforto é palpável, o desajustamento destes homens às realidades às quais regressam quase que nos fere. No entanto, ou por isso mesmo, está cheio de vida e beleza. Particularmente marcantes os momentos em que Wyler recorre à profundidade de campo como forma de contar as histórias dos três homens ao mesmo tempo. Acontece no bar onde os três amigos se costumam encontrar mais que uma vez (Fred, no fundo, ao telefone com Peggy), acontece no magistral plano final: toda a força do poder redentor do amor numa única imagem. 
Esperemos que seja também esse poder redentor do amor a salvar-nos agora e que os melhores anos das nossas vidas estejam, afinal, ainda por viver.”

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