O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O vigésimo oitavo convidado é a montadora Patricia Saramago, que escolheu Pouco a Pouco de Jean Rouch, justificando-se assim: «O orgulho do Sul do mundo. Para vermos de maneira diferente coisas a que estamos demasiado habituados.»
Sinopse: PETIT À PETIT é um exemplo extremo da noção de “antropologia compartilhada”, que foi tão cara a Rouch. Retomando ao seu modo a ideia das clássicas Lettres Persanes, de Montesquieu, Rouch conta a história de um habitante do Níger, cuja empresa vai construir o primeiro prédio de Niamey e vem a Paris ver como vivem as pessoas nas “casas de andares”. Isto é pretexto para uma divertida excursão de antropologia invertida, em que o africano observa com surpresa os estranhos hábitos dos parisienses, numa crítica implícita ao modo como os antropólogos franceses estudam os seus compatriotas. O filme também é um retrato dos espíritos da Paris dos primeiros anos do período pós-68.
Em 1968, quando se estava a preparar para rodar Petit à Petit, Jean Rouch escreveu aos Cahiers du Cinéma que “o filme vai ser improvisado durante a rodagem, naturalmente. O que se segue, são as grandes linhas da história, desenvolvida com os intérpretes ao longo de passeios pela África negra, e com o “herói”, Damouré Zika, durante a sua primeira estadia em Paris.
“Tudo começa portanto nesta pequena aldeia do Níger, Ayorou, onde vivem os três inseparáveis: Illo, o pescador, Lam, o pastor, Damouré, o «galante». Depois de terem sido iniciados às regras elementares do comércio, como vimos em Jaguar, criaram eles próprios uma sociedade anónima, comissionada para vender os peixes deles, o gado, e vários outros produtos. Essa sociedade chama-se «Pouco a pouco», em memória da loja onde fizeram a sua aprendizagem no Gana, «Pouco a pouco, o pássaro faz o seu chapéu», o que significava que, pouco a pouco, o pássaro conseguia adquirir o turbante do chefe.”
Legendas em inglês
Amanhã, a escolha de Cristina Amaral.
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