sexta-feira, 10 de abril de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: "A Máscara da Morte Vermelha", de Roger Corman

O “Jornal do Fundão“, os “Encontros Cinematográficos”, o “Lucky Star – Cineclube de Braga“, o “My Two Thousand Movies” e “A Comuna” associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blogue “My Two Thousand Movies”.

Sinopse: Talvez a obra-prima de Corman, esta adaptação de Poe, que o realizador filmou em Inglaterra. A história do príncipe Próspero, tirano e sádico, mas também um intelectual e um filósofo, que se refugia no seu castelo, fechado ao exterior para evitar a entrada da “morte vermelha”, numa região dominada pela peste.

O décimo convidado é a crítica de cinema Inês Lourenço, que escolheu A Máscara da Morte Vermelha de Roger Corman, escrevendo assim sobre esta obra entusiasmante do grande artesão:
“De todas as adaptações de Edgar Allan Poe que Roger Corman levou ao grande ecrã, The Masque of the Red Death (1964) é a mais inebriante. Uma autêntica vertigem de cores que coloca a morte no centro do baile da vida, como metáfora pintada para uns olhos de criança. E, ainda assim, não há nada de infantil no substrato deste filme que conta a história do malvado príncipe Próspero, encerrado no seu faustoso castelo medieval enquanto a população fora das muralhas morre de uma praga chamada “Morte Vermelha”. Esse espaço interior, onde quase tudo se passa, serve de refúgio para os nobres, mas estes são submetidos a jogos perversos orquestrados pelo próprio príncipe, Vincent Price, claro, figura soberba de todas as adaptações cormanianas de Poe, que molda a atmosfera com os olhos bem abertos e aquela expressão de realeza de que estas produções de baixo orçamento souberam tirar partido.
O que mais me fascina neste filme de esplendor artesanal, sem medo do excesso, é precisamente o modo como amplifica o prazer da visão sem adormecer sobre o valor da metáfora do conto – aqui, a evocação de O Sétimo Selo é inevitável, e, de facto, podemos olhar para The Masque of the Red Death como um ensaio Technicolor que coça a ferida da meditação de Bergman. 
Não deixa de ser curioso, no meio deste discurso sobre a cor, que o seu director de fotografia, um jovem Nicolas Roeg, tenha depois, em 1973, assinado a brilhante adaptação de um conto de Daphne du Maurier – Don’t Look Now – cujo trauma da morte está representado no casaco vermelho de uma criança… »

Amanhã, a escolha de José Oliveira.

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