O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O vigésimo terceiro convidado é o realizador Billy Woodberry, que escolheu A Árvore dos Tamancos de Ermanno Olmi.
Sinopse: "A Árvore dos Tamancos" foi o filme de Ermanno Olmi premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes que trouxe a consagração do realizador italiano. É um filme quase documental, onde são recuperadas características do neo-realismo como a utilização de actores amadores e se faz uma exploração crua mas intensamente poética da realidade. O filme conta a vida de quatro famílias italianas de camponeses no final do século XIX. Vêm da Lombardia, trabalham numa exploração agrícola na região de Bergamo e vivem uma vida comunitária. Todos ajudam sempre que surgem dificuldades como aconteceu no caso de Gopa, um vagabundo que acolheram, ou no nascimento do bebé de Batisti. No entanto, um dia Batisti abate um olmo para fazer uns tamancos para o filho e fica mal visto na comunidade que o acolhia.
O cineasta norte-americano disse-nos que «as minhas razões para escolher A Árvore dos Tamancos, de Ermanno Olmi foram bastante simples. Na altura em que me estenderam o convite para seleccionar um filme para a série, as taxas mais altas de hospitalizações, infecções e morte estavam a acontecer no norte de Itália, na região da Lombardia e em Bergamo. Lembrei-me de Olmi e lembrei-me que ele tinha nascido na região e pensei neste filme belo e comovente que ele lá fez em 1978 sobre a vida dos camponeses no início do século vinte. A minha ideia era que no meio do sofrimento tão grave ligado a este sítio nesta altura, o filme pudesse ser uma oportunidade para partilhar este trabalho com um público como forma adicional de pensar sobre este local e estas pessoas através deste filme.»
Em entrevista a Bert Cardullo, e discutindo o seu método de trabalho, Ermanno Olmi disse que “sou uma pessoa que ainda trabalha bastante na Moviola. Para A Árvore dos Tamancos, estive lá um ano inteiro. A montagem é o momento em que todas as emoções que senti quando comecei a pensar no filme, a concebê-lo, a escolher os locais de filmagem, as caras – estas coisas todas – a montagem é o momento em que tudo se conjuga. Pode-se dizer que durante esse tempo, eu ajusto as minhas contas, trabalho esta escolha ou aquela síntese, resumo a emoção de todas as minhas emoções no que diz respeito a este filme em particular. Não é trabalho administrativo no sentido em que olho para o guião e digo, “OK, para esta cena precisamos de um corte tal e tal. E para aquela cena é necessário um grande plano .” É um novo momento criativo, um momento extraordinário. Isto é porque eu raramente escrevo argumentos sistemáticos e organizados; em vez disso, rabisco uma data de notas. Quando estou a rodar, apareço no plateau com essas notas todas – pedacinhos de papel cheios de apontamentos sobre o diálogo, a atmosfera, as caras – e aí, no plateau, começo uma nova fase crítico-criativa – e não crítico-executiva – enquanto penso nos planos que quero tirar. A montagem, naturalmente, é uma continuação deste processo crítico-criativo.”
Amanhã, a escolha de Giovanni Comodo.
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