terça-feira, 21 de abril de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Nathalie Granger”, de Marguerite Duras

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga e o My Two Thousand Movies associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “Cinema em Tempos de Cólera: 40 dias, 40 filmes”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O vigésimo primeiro convidado é Mathilde Ferreira Neves, que escolheu Nathalie Granger de Marguerite Duras.

Sinopse: Crónica da vida quotidiana de uma mulher e da sua filha, que partilham a casa com uma amiga e a filha dela. Silêncios, tarefas domésticas, corredores, notícias inquietantes na rádio, telefonemas do departamento de imigração, Jeanne Moreau, Lucia Bose, Gérard Dépardieu. Marguerite Duras.

Numa entrevista a Leopoldina Pallotta della Torre publicada em La Passione sospesa (1989), e sobre o filme, Marguerite Duras disse que “eu adorava a ideia de trabalhar com duas grandes estrelas, invertendo o cliché e mostrando os corpos delas de trás, ou as mãos delas, sem me demorar nas pernas, nos rostos e nos seios delas.
"Queria fazer um filme que respeitasse o ritmo da mulher, sem apelar à feminidade habitual, tão desgastada. Tenho belas recordações deste acordo entre mulheres, elas as duas e eu. 
"Quanto a Jeanne, desde a época de Moderato cantabile que me apercebi da inteligência extraordinária do olhar dela, com a seriedade com que interiorizava os seus papéis. Enquanto rodava com Brook, vinha constantemente a minha casa para me pedir informações sobre a vida de Anne Desbaresdes, que eu própria era obrigada a inventar no momento para a contentar. 
"A Jeanne é muito parecida comigo: ambas tínhamos sido atravessadas pela força de um amor durante a nossa vida toda. Não necessariamente de um amor que já existisse, mas por qualquer coisa que ainda lá não estava, que ia chegar ou acabar." 
Mathilde Ferreira Neves escreve-nos que “para Marguerite Duras, Nathalie Granger é, antes de mais, o trabalhar da matéria do feminino: da função que as mulheres têm tido e mantido ao longo dos séculos, das angústias da mãe de Nathalie, que são, no fundo, as angústias de qualquer mãe. Mas o que é, efectivamente, importante para a realizadora é que o filme, muito para além de ser uma afirmação do feminino, é uma negação da sociedade tal como a conhecemos.” 
Uma homenagem a Lucia Bosè (extraordinária actriz neste filme), recentemente falecida devido à pneumonia covidiana. 

Amanhã, a escolha de Bruno Andrade. 

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