quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Boas Festas

 Foi um ano muito complicado para todos nós. Espero que o próximo seja muito melhor, até lá, passem umas boas festas na companhia da vossa família, e em casa.  
Aproveitem para deixar algumas sugestões de ciclos para o próximo ano. Até dia 2.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Os Malucos do Centro (Mallrats) 1995

Ao serem abandonados pelas suas namoradas no mesmo dia, Brodie e T.S. decidem ir ao centro comercial para se lamentarem. Até ao fim do dia encontram vários personagens excêntricos e armam um plano para reatar com as suas amadas.
O menos apreciado dos filmes de Kevin Smith, uma visão de comédia de adolescentes picante que foi ridicularizada pelo seu humor misterioso de fanboy, e falta geral de classe. Até o próprio Smith pediu desculpas, meio por brincadeira, pelo seu aparente erro. No entanto, este esforço estimulante, embora falhado, merece uma reavaliação nos dias de hoje.
Tal como o filme anterior, "Clerks", esta história de Smith sobre adolescentes preguiçosos recém abandonados a fazerem travessuras num centro comercial, tem uma premissa igualmente ténue, e contém o mesmo humor bruto, obcecado pela cultura pop. Agora apoiado por um estúdio grande, e com um orçamento bem maior, com critérios para atingir um público mais amplo. Os filmes de Smith eram mais sobre uma atitude do que outra coisa, e isso era bem visível aqui.

sábado, 19 de dezembro de 2020

Welcome to the Doll House (Welcome to the Doll House) 1995

Dawn Weiner (Heather Matarazzo) não tem motivos para gostar da escola. É uma adolescente complexada e há motivos para isso. Na sua escola é ridicularizada pelos colegas, que a chamam de "Salsicha", e a sua relação com a família não é das melhores. Ela deseja ser aceita de qualquer forma e para isso planeia namorar com um rapaz mais velho, que é muito popular, apesar disso ser totalmente improvável.
"Depois do fracasso da estreia de Todd Solondz com “Fear, Anxiety & Depression”, o cineasta acabaria por vingar no circuito do cinema independente americano com o sucesso de “Welcome To The Dollhouse”, uma mordaz sátira aos liceus americanos. O filme é um original coming of age, centrando-se na personagem de Dawn, uma miúda que sofre de constante bullying na escola e em casa, mas que consegue, através da sua persistência, contrariar os seus medos e as suas inseguranças. Retrato também de uma classe média suburbana, o filme mostra uma América desengraçada, feia, contente com as suas vidas normais, nas quais todos acabam por tentar sobreviver." (DR)
Premiado em em festivais como Berlim, Sundance, entre outros.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Miúdos (Kids) 1995

Nova York serve de cenário para mostrar o conturbado mundo dos adolescentes, que indiscriminadamente consomem drogas e quase nunca praticam sexo seguro. Um jovem, que deseja só fazer sexo com virgens, e uma jovem, que só teve um parceiro mas é HIV soropositivo, servem de base para tramas paralelas, que mostram como um adolescente pode prejudicar seriamente a sua vida se não estiver bem orientado.
Durante 90 minutos este drama sensacionalista com textura de documentário de Larry Clark, o seu primeiro filme, envia os seus personagens por um espiral crescente de maus comportamentos. Interpretado por um feroz elenco de não actores, na sua maioria, os adolescentes rebeldes sem saída de "Kids" portam-se como uma matilha de jovens sociopatas, saltando de uma sensação para outra. Roubar, beber e tomar drogas, espancar uma criança até à morte, deflorar virgens, todas acções cheias de agressões, alimentadas pela fome eterna de uma cultura repleta de violência e fantasia pop. 
"Kids" concentra-se numa pequena tribo, a turbulenta juventude do skate e do rap de Manhattan, que aperfeiçoam a sua atitude no fio da navalha do niilismo urbano. Mas o filme fala para maiores correntes ocultas, de desejo e desespero. O seu verdadeiro tema é a aniquilação da empatia na sociedade americana. 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Um Realizador em Apuros (Living in Oblivion) 1995

"Living in Oblivion" conta-nos um dia na vida do realizador Nick Reve (Steve Buscemi), que está a tentar fazer um filme independente com um orçamento muito reduzido. Nesta manhã em particular, ele tem de filmar a cena seis. Mal sabe ele que pesadelos, reais, figurativos e cinematográficos irão atormentar a produção, e o que eventualmente surgir não será nada como alguém imaginou.
Separado em três segmentos, cada um mostrando uma tentativa de filmar uma cena diferente de um filme, este segundo filme de Tom DiCillo revela o que pode acontecer a uma produção de baixo orçamento quando as coisas não saem conforme o planeado. Parte do que transparece é simplesmente frustrante, observamos como uma cena após a outra é arruinada por problemas técnicos (microfones pendurados muito baixos, focos deficientes, ruido nas ruas).  
Apresentando algumas cenas a cores e outras a preto e branco, e apoiado por algumas interpretações fortes, particularmente Buscemi que consegue capturar perfeitamente a frustração e o desgosto que andam de mãos dadas durante um processo criativo, "Living in Oblivion" é divertido e assertivo num olhar sobre os altos e baixos do cinema independente. DiCillo trabalhou como director de fotografia de Jim Jarmusch em obras como "Stranger than Paradise" ou "Coffee and Cigarretes".

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Clerks (Clerks) 1994

Acompanhamos um dia na vida de dois balconistas de lojas de conveniência, Dante e Randal. Eles incomodam os clientes, discutem filmes e jogam hóquei no telhado da loja.
Apesar de ser adorado por uma legião de seguidores, principalmente do sexo masculino e na casa dos vinte anos, o facto é que o filme de estreia de Kevin Smith não é uma boa primeira obra. Mas é um filme extremamente importante e crucial para definir as mudanças na indústria de Hollywood na década de 90 e o efeito da Geração X na estética e no gosto cinematográfico. Noutra altura "Clerks" poderia ter sido um filme de culto e depois desaparecer na obscuridade, mas em meados dos anos 90, com o rápido crescimento dos distribuidores, "Ckerks" estava perfeitaemente posicionado para se tornar ele próprio um marco.
Ao lado de "Slacker", que já falamos neste ciclo, "Clerks" é o filme da "generation X" em definitivo, que rejeita virtualmente tudo o que Hollywood clássica representava estética e narrativamente, sem estrelas, sem história, e certamente sem arte, pelo menos como essa palavra é convencionalmente entendida. Quando o conselho de classificação da MPAA deu ao filme a temida classificação de NC17, a justificativa foi a enxurrada incessante de linguagem vulgar e descrição de actos sexuais dos personagens, mas a verdadeira razão poderia ser porque a MPAA tinha medo que este filme pudesse influenciar as crianças negativamente.
Feito com um orçamento minúsculo, o filme seria premiado em Cannes, Deauville e Sundance.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Crumb (Crumb) 1994

Três irmãos brilhantes e talentosos tiveram uma infância relativamente normal e acabaram por tomar caminhos completamente diferentes. Um deles é R. Crumb, um cartoonista underground com alguns parafusos a menos, e uma personalidade rebelde, que se transformou num ícone da banda desenhada do final dos anos 60. Apesar dele ser o mais bem sucedido, os outros irmãos são igualmente criativos, no entanto levam estilos de vida diferentes.
Ostensivamente um filme sobre o grande artista da contracultura Robert Crumb, cujos cartoons eram obscenamente hilariantes e frequentemente anti-sociais, refletiram e ajudaram a definir a ideologia de uma geração de hippies, marginais e desajustados, e que lentamente se transforma no retrato de uma família brilhante mas disfuncional. A revelação do filme não é tando sobre um Robert Crumb como individuo mas sim como um Robert Crumb que fez  parte de uma família que poderia ter criado muitos Robert Crumbs, mas que em vez disso desabou sob o peso da doença mental e do isolamento.  Para muitos Robert Crumb é o epítome do esquisito: um nerd desajeitado e desengonçado com uns grandes óculos de garrafa.
Terry Zwigoff usa sabiamente um formato sem narração ou explicações explicitas, o que permite que os personagens falem por si próprios, (a mesma abordagem que o seu primeiro documentário).  O principal interesse do filme é de como a educação de Crumb e as relações familiares informaram sobre as obsessivas questões sexuais e culturais no centro da sua volumosa produção artistica.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A Última Sedução (The Last Seduction) 1994

Bridget Gregory (Linda Fiorentino), uma femme fatale, é maquiavélica e fria a executar os seus planos. Assim, depois de largar o marido, Clay (Bill Pullman), um médico que negocia com drogas, foge com um milhão de dólares e deixa-o à mercê dos traficantes e agiotas. No entanto, como sabe que não terá paz enquanto Clay estiver vivo, induz Mike Swale (Peter Berg), um rapaz de uma pequena cidade, a eliminar o seu marido.
Realizado por John Dahl, um realizador que estava a ter um inicio de carreira bastante promissor, depois de "Kill Me Again" e "Red Rock West", duas obras "negras". "The Last Sedution" era o seu terceiro filme, e um dos melhores "neo-noirs" dos anos 90, muito graças ao excelente papel de Linda Fiorentino, actriz com uma grande sensualidade,  que teve aqui o papel da sua vida, e só não foi nomeada para o óscar porque o filme estreou primeiro na televisão por cabo. 
Poderia ser um filme mais reconhecido hoje, mas não o é por várias razões. A principal é que a produtora ITC Entertainment não sabia que o filme que estava a ser feito era algo mais do que um série B para a televisão por cabo, e por isso o filme estreava na HBO desqualificando-o para os Óscares. Por causa da pressão do público acabaria por ter estreia no cinema, onde arrecadou mais do dobro dos custos de produção.



terça-feira, 8 de dezembro de 2020

A Comédia dos Infiéis (Swimming with Sharks) 1994

Guy (Frank Whaley) é um universitário recém-formado em cinema que pensa ter chegado o seu grande momento quando é contratado como assistente de um grande produtor, Buddy Ackerman (Kevin Spacey). Entretanto o que era sonho torna-se pesadelo, quando Buddy o trata da pior maneira possível. No entanto, os acontecimentos tomam outro rumo quando o jovem subordinado decide raptar o chefe, para vingar as humilhações sofridas.
"Swimming With Sharks" é um filme que se preocupa com os perigos que as pessoas arrogantes trazem para si próprias e para as suas vítimas, além da sátira a Hollywood. É um filme sobre vingança que usa a indústria do cinema como um veículo para o seu debate moral. Não há nada de novo aqui sobre Hollywood, o uso descarado do cliché sobre o mundo do cinema No entanto, esse não é o objetivo, e ainda nos dá um pano de fundo quase incidental para as preocupações mais universais sobre conformidade e autoridade.
Realizado pelo estreante George Huang, com Kevin Spacey no papel principal. Spacey é mesmo um dos pontos mais importantes do filme, um dos primeiros passos deste actor como protagonista, actor que viria a se tornar num dos mais importantes da sua geração. Ganhou o prémio da crítica em Deauville.


domingo, 6 de dezembro de 2020

Próximo Ciclo:



Ida Lupino: dos Dois Lados da Câmara

Juventude Inconsciente (Dazed and Confused) 1993

Na década de 1970, os veteranos de uma escola do Texas divertem-se ao máximo com os caloiros. A juventude irresponsável transborda em clima de festas, carros velozes e total insanidade total.
"Dazed and Confused", de Richard Linklater, o sucessor de "Slacker", é uma espécie de "American Graffiti" para os anos noventa, passado nos anos sententa, tal como o anterior também era passado duas décadas antes. Apesar de espiritualmente não ser um filme tão profundo como "American Graffiti", faz um excelente trabalho a acompanhar um grupo de jovens ao longo de um dia, desfrutando das inúmeras emoções e experiências que compõem a adolescência. Linklater não obriga o filme a seguir um enredo em particular, e esta escolha ajuda-o a evitar as convenções do cinema "teen", em que os jovens aprendem uma grande lição depois de uma série de actos "malucos". 
Linklater era ele próprio um produto da década de setenta, e vê essa época não como um pós-modernista mas com o olhar de um antropólogo. Entende e transmite a estranheza dos primeiros beijos, a estupidez das danças lentas, e a experiência de estar bêbado pela primeira vez. 
Como seria de esperar, revelaria uma geração de actores que vieram a ter sortes diferentes até aos dias de hoje: Jason London, Milla Jovovich, Adam Goldberg, Cole Hauser, Ben Affleck, Parker Posey, Matthew McConaughey, entre outros. 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O Jogador (The Player) 1992

Um executivo de um estúdio pressionado por uma série de fracassos de bilheteria consecutivos começa a receber ameaças anónimas. Obcecado com as mensagens, mata o argumentista que acredita ser o responsável e tenta driblar as investigações policiais.
12 anos depois do desastre crítico e comercial que foi "Popeye", o realizador independente Robert Altman regressou em excelente forma com esta sátira amarga de Hollywood. Apesar de ser um filme de baixo orçamento, abunda uma infinidade de grandes estrelas de Hollywood, muitas delas mão planeadas, já que os lugares que elas frequentavam coincidiam com o local das filmagens. Tim Robbins tem uma grande interpretação como o produtor de coração frio cujo instinto é a sobrevivência, disposto a cortar a garganta (falando de uma forma metafórica) a qualquer pessoa que se interponha entre ele, e o que ele construiu. 
O humor é abundante, embora nunca óbvio, usando pistas visuais, como cartazes de filmes antigos, usando alusões subtis a outros filmes como referências, começando com um plano sequência de vários minutos que é uma clara alusão a filmes como "A Touch of Evil" de Orson Welles ou "The Rope" de Alfred Hitchcock. É também uma comédia de azar, colocando-nos na posição nada invejável de torcer para que Griffin literalmente saia impune. 
O filme seria nomeado para três Óscares, incluindo o de Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado, da autoria de Michael Tolkin. Além disso ganhou o prémio de Melhor Realizador e Actor em Cannes, entre muitos outros prémios. 


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Polícia Sem Lei (Bad Lieutenant) 1992

Em Nova Iorque, um polícia corrupto faz uso da sua autoridade para assediar sexualmente adolescentes e fazer acordos com traficantes, para obter drogas e dinheiro sujo. Mas quando uma jovem freira é violada no altar de uma igreja do bairro, este polícia sem lei é atraído pelo seu caso e por uma derradeira e desesperada tentativa de encontrar os verdadeiros caminhos do poder da misericórdia.
"Bad Lieutenant" é, ao mesmo tempo um dos melhores e mais típicos dos filmes de Abel Ferrara, uma vez que contém grande parte dos elementos que definem a sua obra. E isto inclui cenas toxicodependentes errantes, polícias sujos, punks urbanos, armas, agulhas, e, no fim, uma mensagem definitiva de redenção. E seguindo os passos de Christopher Walken em "King of New York" ou Zoe Tamerlis em "Angel of Vengeance" vamos encontrar um Harvey Keitel que tem uma interpretação marcante. Nunca está fora do ecrã, e é difícil imaginar um actor que conseguisse fazer um tamanho acto de equilíbrio para esta personagem.  O crime nas ruas sujas de Nova Iorque é vividamente capturado, e os vilões que ela povoam são autênticos. É mais um filme onde Ferrara coloca uma atmosfera sórdida à frente da história, e continua a ser um trabalho admiravelmente intransigente. 
Junto com "Reservoir Dogs", de Quentin Tarantino, foi um dos filmes que ajudou a catapultar o nome de Harvey Keitel, um actor que já andava na estada desde os anos setenta, com bons resultados, mas que nunca tinha tido tanto reconhecimento. Uma personagem similar ao Travis de "Driver", muito mais crú do que o Mickey Cohen de "Bugsy" que ele tinha interpretado no ano anterior, e lhe tinha valido uma nomeação para melhor actor secundário. Keitel ganhou com este filme o premio de Melhor Actor no Fantasporto e o mesmo prémio nos Film Independent Spirit Awards.


terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Confronto em Los Angeles (One False Move) 1992

Dois homens e uma mulher saem de Los Angeles com um carregamento de droga, deixando pelo caminho uma trilha de corpos. Prevendo que o trio chegará a Star City, no Arkansas, uma dupla de policiais contacta o xerife local e esperam os bandidos para o confronto inevitável.
Estreado poucos dias depois dos distúrbios em Los Angeles de 1992, "One False Move" oferece uma reflexão particularmente consciente da divisão e segregação regional fortemente evidente nos Estados Unidos da América. Vemos a violência como denominador comum entre os estados azuis e vermelhos, um facto casual da vida que não pode ser parado, não importam as etnias ou origens. Os personagens envolvidos entram num espiral de violência e de desconfiança devido a uma falha de carácter ou um erro do passado.
Feito com um orçamento minúsculo por Carl Franklin, um antigo actor de televisão que dava os primeiros passos no cinema, "One False Move" era um "neo-noir" que tinha alguns trunfos, como um óptimo argumento de Billy Bob Thornton (que viria a ser um nome de peso no cinema independente americano dos anos 90) e Tom Epperson. Na frente das câmaras também contava com um óptimo trabalho, de Bill Paxton (de "Aliens" e "Neard Dark") e dos novatos Cynda Williams, Michael Beach e o próprio Thornton.  Uma pérola dos anos 90.

 


segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Cães Danados (Reservoir Dogs) 1992

Cinco estranhos juntam-se para o que pensavam ser o crime perfeito, no entanto, quando este assalto não corre como esperado, Mr. Pink, Mr. White, Mr. Blue, Mr. Orange e Mr. Blonde começam a duvidar uns dos outros e tentam descobrir qual dos cinco é, na verdade, um informador da polícia.
"Reservoir Dogs" é a longa-metragem de estreia extremamente confiante do realizador e argumentista Quentin Tarantino, e, assim como o seu sucessor, "Pulp Fiction" (não veremos neste ciclo), gerou um tipo de hype difícil de explicar, mas que continua tão chocante, perversamente engraçado e estiloso como na altura da estreia, quase 30 anos depois. Ganhou a reputação de ser um filme violento mas a sua visualização revela uma verdade diferente. 
A história é a do assalto que corre mal, que não era nenhuma novidade no mundo do cinema, mas este caso era diferente. Não vemos o roubo, vemos a evolução, Joe a reunir a equipa, a dar-lhes nomes disfarçados, cada tem o nome de uma cor. E depois vemos as consequências, depois de tudo dar errado, mas não vemos o assalto em si. O talento de Tarantino para o diálogo é o que catapulta o filme para o clássico instantâneo. Faz-se rodear de um elenco fantástico: Harvey Keitel, Tim Roth, Michael Madsen, Steve Buscemi, Chris Penn, Lawrence Tierney, ele próprio, e deixa-os falar. Tipos normais a terem conversas normais, mas eles não têm nada de normal, são assassinos que costumam atirar primeiro e perguntar depois, o que ainda torna o filme mais interessante.
Estreou no festival de Sundance de 1992, logo no início do ano. Durante esse ano precorreu inúmeros festivais, tendo finalmente estreado nas salas americanas em Outubro. A Portugal só chegaria em Maio do ano seguinte, e ao Brasil em Junho.

domingo, 29 de novembro de 2020

El Mariachi (El Mariachi) 1992

Um jovem que ganha a vida a actuar aqui e ali chega a uma povoação da fronteira mexicana ao mesmo tempo que um perigoso assassino, cuja missão é matar o homem mais poderoso das redondezas. Ambos correspondem à mesmo descrição: fato negro e estojo de guitarra na mão. As semelhanças entre os dois homens vão confundir os guarda-costas da vítima. Sem querer, o Mariachi vê-se encurralado entre dois fogos.
Com 20 e poucos anos, acabado de sair da universidade, o texano Roberto Rodriguez começou a produção deste filme, com um orçamento de $7000, e uma enorme vontade de fazer a sua primeira obra, para colocá-la a circular pelos festivais. E tal como "Slacker", de Richard Linklater, este filme também era originário da cidade de Austin, que assim, cada vez mais, se tornava na cidade dos filmes de "low , budget", apesar deste ter sido filmado no México.
O filme de Rodriguez tem uma narrativa mais tradicional, com o esquema de identidade trocada com muitas perseguições e derramamento de sangue. Rodriguez conhece as convenções do género - o homem inocente envolvido em eventos para além do seu controle, o frio assassino e o senhor do crime sedento de sangue - e usa tudo para um efeito total. Embora a história possa parecer comum para o género, Rodriguez produziu, escreveu, filmou e editou tudo sozinho, com um humor único e muito directo, que se tivesse sido feito de outra forma podia ter passado por despercebido. 
Não passou por despercebido pelos festivais, tendo ganho o prémio da audiência em Deauville e Sundance, além do prémio de melhor primeira obra nos Film Independent Movie Awards.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Utopia Festival

No ano passado fui convidado para fazer parte da programação do Festival Utopia, e aceitei com todo o agrado. O Utopia é um festival criado para divulgar o cinema em língua portuguesa e costuma ser realizado em Londres, mas este ano por causa da pandemia vai ser realizado online. 
Todo realizado online, e com sessões gratuitas, por isso conto convosco. 
- 8 longas metragens
- 33 curtas metragens
- 12 conversas

Podem encontrar todos os detalhes no site do festival: aqui.
E aqui em baixo podem ver o trailer. Até já.
Vou parar os posts durante o festival.

Veneno (Poison) 1991

Em "Herói", Richie tem sete anos, mata o pai e desaparece no mundo. Depois do acontecimento, um documentário pastiche com cores esquisitas questiona quais teriam sido as motivações do rapaz para cometer o crime. "Horror", filmado a preto e branco, é a história de um cientista que isola o elixir da sexualidade humana e, quando testa a invenção em si próprio, transforma-se num inflamado assassino. Uma colega sua tenta salvá-lo, mesmo sob risco de vida. "Homo" mostra a atração de um preso na prisão Fontenal por um homem, outro detido, que ele tinha conhecido na juventude, num reformatório.
"Veneno" foi a primeira longa-metragem de mais um realizador, Todd Haynes, seguindo a estética de um video doméstico de baixo orçamento da sua famosa curta: "Superstar: The Karen Carpenter Story". Nesta estreia Haynes emprega uma infinidade de estilos cinematográficos e pontos de referência para contar três histórias de abusos, doença, sexualidade e ostracização. Em vez de contar cada história separadamente avança com cada uma delas para um climax irremediavelmente violento, com cada uma das histórias a ser contada num estilo diferente. 
Foi um dos filmes independentes que maior burburinho fez no inicio dos anos 90. Percorreu vários festivais como  Sundance (ganhou o principal prémio), Berlim (best Feature Film), Fantasporto (prémio da crítica), Sitges (premio especial do Júri).

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Slacker (Slacker) 1990

O filme retrata um dia na vida de diferentes jovens (maioritariamente) que vivem na cidade de Austin, no Texas e que se sentem maioritariamente deslocados da cidade e da sociedade em que vivem. Vive-se um clima de revolta e apatia, sentimentos típicos dos adolescentes dos anos 90, revoltados com o contexto em que estão inseridos.
"Slacker generation" é uma expressão inglesa utilizada para definir uma geração muito preguiçosa e relaxada. É uma variação do termo Geração X, muito usado na década de 1990, que designava uma geração marcada pela apatia. "Slacker" também foi um dos filmes que ajudou a colocar no mapa o cinema independente americano, entre finais dos anos 80 e inicio dos anos 90, realizado por um novato Richard Linklater, em estreia quase absoluta, e à frente de um elenco onde pontuava ele próprio e um grupo de actores maioritariamente amadores.
O filme é essencialmente uma série de vinhetas interligadas, evita a dramaturgia tradicional para se concentrar na interacção dos personagens e na exploração da visão que estes têm do mundo. Apesar da atenção do realizador aos detalhes, não está interessado em fazer um simples melodrama carregado, mas de fazer um filme profundamente filosófico que vai buscar a sua narrativa estrutural a clássicos como "La Ronde", de Max Ophuls. 


domingo, 15 de novembro de 2020

Metropolitan (Metropolitan) 1990

Um estudante radical é adoptado por um grupo de jovens nova-iorquinos e altera os seus egos e as suas vidas. Num apartamento sofisticado de Manhattan, o grupo de amigos discute mobilidade social e socialismo e joga cartas - até que um homem se junta a eles com opiniões críticas sobre o modo de vida dos ricos.
Whit Stillman foi uma voz distinta na cena do cinema independente americano no início dos anos 90, com as suas alusões ás comédias de Jane Austen e Oscar Wilde, assumindo uma dimensão fascinante à luz dos seus cenários e sensibilidades modernas. Como muitos outros realizadores independentes emergentes na época, ele tendia a concentra-se nos jovens e nos seus diálogos, mas os seus personagens não eram preguiçosos como os de Kevin Smith ou Richard Linklater, mas sim jovens bem sucedidos à beira da idade adulta, com todas as suas neuroses. 
A sua sensibilidade é mais bem demonstrada no filme de estreia, "Metropolitan", que foi feito com um orçamento de apenas 200 mil dólares, e filmado em Super 16 mm.  Os personagens são todos caloiros da faculdade de Manhathan, da "alta burguesia urbana", como diz um personagem mais letrado do filme. A acção passa-se ao longo de um período de algumas semanas conhecido como "debutante season", onde os adolescentes se vestem noite após noite com smokings, e participam em danças e encontros formais, embora nunca vejamos nenhum desses encontros. Em vez disso, Stillman concentra-se no antes e depois das festas, o que lhe permite a uma janela mais focada no seu mundo.
O diálogo é bastante alfabetizado e erudito. Na verdade é tão inteligente, e obviamente planeado que dificilmente acreditaríamos que, embora fossem da classe alta, falariam assin. No entanto, isso nunca diminui o realismo como seres humanos tridimensionais porque o ritmo e a cadência das suas palavras e discussões ganham vida própria que transcende a simples verossimilhança .

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Viagem pelo Cinema Indie dos anos 90

 O cinema independente existe desde que o cinema existe, essencialmente é qualquer filme sem o apoio dos grandes estúdios, o que inclui desde a rebelião dos filmes de Charles Chaplin contra o sistema até aos filmes dos anos 70 de blaxploitation. 
Mas embora tenha existido "indies" desde que Thomas Edison monopolizou a tecnologia cinematográfica, o movimento ficou indiscutivelmente mais conhecido nos anos noventa do século passado, quando sucessos como "Sex, Lies, & Videotape" ou "Pulp Fiction" tornaram os seus realizadores nomes conhecidos e influentes. Eram filmes criativos e desafiadores, e alcançaram o público mais convencional, arrecadando dezenas de milhões de dólares, o que levou os estúdios mais poderosos a atraírem outras empresas de cinema independente. 
A década de 90 foi uma década de ouro para o cinema independente na América, uma verdadeira ressurreição dos ideais dos anos 60 e 70. De repente, os geeks do cinema criados como cinéfilos, pegavam numa pequena câmara e com um orçamento minúsculo faziam filmes únicos. Alguns eram cómicos, outros totalmente estranhos, outros obscenos, mas todos partilhavam uma coisa: o bom gosto pelo cinema.
Nos próximos dias, vamos fazer uma viagem pelos meandros deste cinema. Espero que gostem.


PS: tenho andado muito ocupado com uma coisa, que vão saber muito em breve, mas sempre que consiga venho cá postar um filme. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

11.25: The Day He Chose His Own Fate (11·25 jiketsu no hi: Mishima Yukio to wakamono-tachi) 2012

Em 25 de Novembro de 1970 um homem cometeu um ritual suicida dentro da sede do Ministério do Ministério de Defesa do Japão, em Tóquio, deixando um legado de obras primas e uma polémica que fervilha até aos dias de hoje. O homem era Yukio Mishima, um dos maiores e mais famosos romancistas japoneses. Com quatro membros do seu próprio exército particular - o Tatenokai - Mishima tomou o comandante como refém, e convocou os militares reunidos fora do exército para derrubar a sua sociedade e restaurar os poderes do Imperador. 
No Japão, este filme está posicionado como a última parte da "trilogia Showa" de Kôjo Wakamatsu, sendo "Showa" o nome da época coberta pelo reinado de Hirohito (1936 - 1989) e conta a história de Mishima no contexto do tumultuoso "Showa 40s". Tal como "United Red Army" e "Caterpillar", os dois episódios anteriores, Wakamatsu polvinha a sua obra com várias imagens de jornais sobre incidentes principalmente políticos que levaram ao seu climax, que neste caso significaram manifestações violentas no interior de Tóquio contra os Estados Unidos. 
Outro filme ainda mais conhecido sobre Mishima é "Mishima - a Life in Four Chapters", de 1985, realizado por Paul Schrader, e interpretado pelo falecido Ken Ogata, um actor de primeira classe que o Japão conheceu. E para os curiosos sobre o fanatismo japonês devem ver o documentário "Yasukini", de 2007, realizado por Li Ying.
Legendas em inglês.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O Bom Soldado (Kyatapirâ) 2010

1940. Durante a guerra Sino-Japonesa, o Tenente Kurokawa regressa a casa com o prestígio de um soldado condecorado. Sem braços nem pernas, sobrevive com as duras marcas das batalhas travadas em território chinês. Na sua aldeia, os moradores têm esperança que Shigeko, a mulher daquele Tenente, honre o Imperador e a Pátria ao tornar-se um exemplo para todos, cumprindo o seu dever de cuidar daquele «bom soldado»
Escrito por Hisako Kurosawa e Masao Adachi, que voltava a passar trabalhar com Wakamatsu passados vários anos, seria um dos últimos filmes do realizador. Estética, emocional e intelectualmente rude, e brutalmente eficaz, vamos encontrar o lendário realizador marginalizado a fazer pontos óbvios sobre o nacionalismo / militarismo e outros menos óbvios sobre a dinâmica sexual do casamento. Naturalmente, os dois estão intimamente ligados. Wakamatsu aproveita a maior parte da premissa do clássico romance de Dalton Trumbo, "Johnny Got his Gun", e coloca-se ao lado do soldado em casa no contexto de uma pequena localidade afectada pelo patriotismo do tempo da guerra, e concentra a sua atenção na esposa do veterano, dividida entre um senso doutrinado de dever e o crescente senso do absurdo da sua situação.
O filme assumo uma postura anti-guerra clara e dura, com avisos explícitos, imagens cheias de brutalidade, e a questão sobre o significado da guerra e o que ela resultará, ficando completo com imagens de arquivo de documentários sobre a guerra.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Exército Vermelho Unido (Jitsuroku Rengo Sekigun: Asama sanso e no michi) 2007

Em 1972, 14 membros do Exército Vermelho Unido foram executados, durante sessões de “autocrítica”, em treino nas montanhas. Este filme debate a radicalização das universidades nipónicas nos anos 1960, simultânea a eventos marcantes: o assassinato de Martin Luther King, a invasão da Checoslováquia por tropas do Pacto de Varsóvia ou o Maio 68 em França. 
"Koji Wakamatsu passou parte substancial da carreira a fazer "pink films", esse peculiar género erótico do cinema japonês que, como todos os géneros, era essencialmente um "invólucro". A caixa de DVDs com cinco filmes de Wakamatsu recentemente editada deixa ver bem a quantidade de coisas que o realizador levava para dentro do "invólucro" do "pink film": uma relação (política) com o Japão que lhe era contemporâneo, uma proximidade com os movimentos contestatários mais radicais (e frequentemente violentos) dessas décadas de 60 e 70. A bem dizer, a proximidade de Wakamatsu com esses movimentos transcendeu o cinema - acreditou neles, participou, advogou a "luta armada", e meteu-se nos sarilhos correspondentes (por causa de um filme de propaganda palestiniana está ainda hoje proibido de entrar em solo americano). 
Não é fundamental, mas é importante saber deste "background" a propósito de "Exército Vermelho Unido", porque a raiz do filme é eminentemente pessoal. Wakamatsu, que hoje (com 75 anos) renega a violência e acredita que a maneira correcta de tentar mudar o mundo é "pela via eleitoral" (disse-o em entrevista recente), fê-lo para acertar contas com o seu passado e com a sua geração. Pegou na história do Exército Vermelho Unido, um dos vários grupos e grupúsculos que na viragem dos anos 60 para os 70 se dedicaram a operações de "terrorismo urbano" no Japão, e um grupo que ele terá conhecido razoavelmente bem. E dissecou, com toda a frieza, os momentos capitais dessa história. "Exército Vermelho Unido" é uma espécie de falso filme épico, num movimento que vai do empolgamento ao desaparecimento e à dissolução. Começa como se fosse uma enciclopédia: com uma montagem vivíssima que alterna imagens de arquivo, reconstituições contemporâneas e legendas informativas, Wakamatsu traça uma cronologia dos movimentos de contestação japoneses, da relativamente inofensiva agitação estudantil nas universidades à formação de grupos prontos para a "luta armada" - há aqui um lado exaustivo e, digamos, "documental", que é imediatamente poderoso, e pensamos, por exemplo, nalgumas coisas do melhor Scorsese, aquela capacidade de contar uma história a duzentos a hora ("Goodfellas", "Casino") a partir duma aparentemente simples acumulação factual. 
Depois, Wakamatsu isola um alvo, o Exército Vermelho Unido, e o filme transforma-se numa crudelíssima análise psicológica da mentalidade "revolucionária". Parte de um episódio real, uma reunião do grupo num "chalet" algures na província japonesa em 1972 uma reunião em que o grupo praticamente se auto-destruiu a golpes de auto-crítica e purificação ideológica, deixando para trás uma pilha de cadáveres. Wakamatsu não salva ninguém - a não ser, e mesmo que por breves instantes, as mulheres, como já acontecia nos seus "pink films" - desse teatro intimista e absurdo, visão absolutamente "des-romantizada" do "esquerdismo radical", onde o idealismo deu lugar uma burocracia fanatizada (a terminologia empregue nos diálogos é importante) e os traços de carácter do "ser japonês" (a "dificuldade em desobedecer", como Wakamatsu mencionou) aceleram a desgraçam. Mas não só isso: todos aqueles temas clássicos do cinema japonês e da cultura japonês (o sacrifício, a honra) aparecem à tona, como se o "vermelho" fosse uma mera tonalidade que vem cobrir um atavismo trágico sem verdadeiramente o alterar (e isto é, no fim de contas, o mais desesperante e o mais desesperado). 
Ajustadas contas com o passado "revolucionário", Wakamatsu pensou que era injusto ficar-se pela sua geração. E passou a "O Bom Soldado", onde os alvos são a geração que fez a II Guerra.e, politicamente, o fascismo. É a história de um "herói de guerra" que depois de várias "proezas" durante a invasão da China volta a casa transformado num "homem-lagarta" ("Caterpillar" é o título inglês do filme) - apenas cabeça e tronco, os braços e as pernas ficaram algures em terra chinesa. Volta a casa para a mulher (para horror, piedade e nojo dela, tudo ao mesmo tempo), e ambos seguem o curso da II Guerra Mundial de longe, pelas notícias e comunicados radiofónicos. Ainda o "documento": as imagens e os sons de arquivo, os planos que enquadram as fotografias do Imperador Hirohito na sala do casal. E ainda uma medida de absurdo, evidentemente, na observação do fanatismo ideológico ("os Deuses da Guerra"), da parafernália militarista (as medalhas do homem-lagarta), das reverenciais submissão e obediência - em vários graus, incluindo a relação marido/mulher (a condição feminina, enfim, tema clássico e perene do cinema japonês), e o único olhar minimamente condoído é para ela, não para ele, o "herói de guerra" reduzido a uma animalidade rastejante (come, bebe, urina, tem sexo, rasteja - e é tudo). Quando se ouve pela rádio o discurso da rendição japonesa proferido pelo imperador, desfaz-se tudo o que ainda pudesse fazer sentido. Wakamatsu passa à contabilidade - o número de mortos de Hiroxima, dos bombardeamentos de Tóquio, o número de japoneses que morreram na guerra. O filme acaba assim, com números. E num par de filmes, duas gerações devastadas."
Este excelente texto é do Luis Miguel Oliveira. Legendas em inglês.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Perfect Education 6 (Kanzen-naru Shiiku: Akai Satsui) 2004

 Um gigôlo kabukicho, com dívidas de jogo, Mikio Osawa, concorda em matar o marido de uma esposa rica em troca de um monte de dinheiro, mas o golpe corre mal. Em fuga pelas montanhas cobertas de neve do Norte do Japão, esconde-se numa casa aparentemente vazia. Mas a casa não está vazia, mora lá Mika, uma jovem tímida e traumatizada, escravizada por um camionista doente e mal-humorado, que a mantém presa desde muito nova. Os três vão construir uma relação monstruosa. 
"Perfect Education", ou "Kanzen-Naru Shiiku", foi uma série que se iniciou em 1999, com um filme de Ben Wada, e que este ano de 2020 teve o seu nono epísódio. Uma série muito pouco conhecida, mas que conseguiu algum sucesso internamente. O sexto episódio é o que tem realização de um nome de maior peso, Kôji Wakamatsu, e reinventa um pouco mais uma série que estava condenada. Boa velocidade, montagem e interpretações. 
Legendas em inglês.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Endless Waltz (Endoresu Warutsu) 1995

Um biopic sobre o saxofonista de jazz Kaoru Abe (Ko Machida) e a sua esposa, a famosa escritora Izumi Suzuki (Reona Hirota). Uma espécie de Sid & Nancy para o Free Jazz, começa com Suzuki a marcar o número errado e a falar com Abe. Em vez de desligar ele convida-a para sair, e depressa estão a morar juntos. Sexo, drogas e Ornette Coleman aparecem em destaque na fase inicial da sua relação, e depressa percebem que são almas gémeas. 
Abe é um artista românico, mas também um homem egocêntrico e auto-destrutivo, sujeito a ataques de raiva e ataques epiléticos. Por sua vez Izumi é apresentada pela primeira vez como uma jovem hippie de mente livre, mas conforme a relação com Abe se aprofunda no casamento, e depois na maternidade, Izumi revela ter uma vontade de aço e um pragmatismo, recusando-se a ser a musa de Abe. Esta relação tempestuosa torna-se cada vez mais destrutiva.
Kôji Wakamatsu a passar do território do micro-budget da era do pinku para o que se pode considerar um bastante convencional filme biográfico. Embora haja algum sexo, não é o fulcro central como acontecia nos filmes pinku, e embora também se encontre alguns floreios estilísticos a experiência visual que era um seu filme também está ausente. Wakamatsu tem de lutar com as armadilhas da cinebiografia do jazz - reverência, romantização ou condenação normativa - em qual, qualquer das quais seria difícil caír, dada a vida de vício de Abe. 
Legendas em inglês.

Brevemente:


Cinema Independente Americano dos Anos 90

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Les Liaisons Erotiques (Erotikkuna Kankei) 1992

Passado em Paris, o enredo diz respeito a uma discreta agência de detectives particulares dirigida por Rie e o seu parceiro Kishin, que vão resolvendo casos enquanto também fazem visitas guiadas pela cidade. Quando o rico Okuyama (Takeshi Kitano) os contrata para seguirem a sua amante francesa Loren, que ele acredita ter outro caso, Kishin vê-se seduzido por essa "femme fatale" e sai das profundezas de um submundo sórdido de ricos empresários japoneses, jogo e montes de dinheiro. Enquanto isso Okuyama vai-se aproximando de Rie.
Kôji Wakamatsu, o grande mestre do Pinku, no inicio da década de noventa, estava a terminar uma série de projectos mais comerciais, bem longe da rebeldia dos anos 60 e 70. "Liaisons Erotiques" não tinha nada de erótico, apesar do nome. Funcionava como um filme-veículo para a jovem Rie Miyazawa, uma jovem de 18 anos que tomou os mídia como um relâmpago. Meio holandesa, meio japonesa, estreou numa série de comerciais de TV quando tinha apenas 11 anos, iniciando uma carreira de modelo infantil. 
Takeshi Kitano deu uma ajuda no elenco, numa altura em que se iniciava na realização.
Legendas em inglês.



sábado, 31 de outubro de 2020

Serial Rapist (Jûsan-nin Renzoku Bôkôma) 1978

Um homem comete 13 assassinatos brutais de pessoas aleatórias, uma após a outra. Um homem anónimo, ciclista, que habita numa casa abandonada à beira do rio, passando o tempo a observar as chaminés das fabricas e os aviões a descolar. Entre as vítimas de violações e assassinatos deste homem silencioso estão pessoas bem diferentes, de polícias a um casal a fazer sexo.
Também conhecido por "The Violent Man Who Attacked 13 People" (numa tradução mais literal" ou "Serial Rapist", é um dos mais violentos e niilistas dos pink movies feitos até hoje. Com um tom completamente sombrio e sem qualquer esperança de rendição, narra alguns dias na vida de um serial killer. O saxofone de Kaoru Abe substitui a voz do jovem criminoso trazendo um contraste criativo com a sua alienação. A solidão do seu personagem perdido é esmagadora, e o filme é frio e é preenchido por muita amargura e desespero.
Seria um dos últimos filmes da colaboração entre Masao Adachi e Kôji Wakamatsu, uma colaboração que viria a ser reatada 30 anos depois, em "Caterpillar". Os anos 80 não foram particularmente famosos para Wakamatsu, dedicando-se a um cinema mais comercial e em muito menor número. Por isso, neste ciclo, vamos dar um salto até aos anos 90, a partir de segunda-feira.
Legendas em inglês.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Eros Eterna (Seibo Kannon Daibosatsu) 1977

"Eros Eterna" conta a história de uma lendária freira imortal, que vagueia pelo mundo encontrando várias pessoas de várias condições. Para conhecer um pouco melhor este filme, vamos ler o texto do especialista Miguel Patrício:
""Geralmente faço este género de filmes difíceis de compreender após ter vivido uma experiência forte." Eis a única e enigmática formulação proferida sobre Eros Eterna, presente na longa entrevista feita por Go Hirasawa e publicada no livro mais essencial acerca do cineasta, Koji Wakamatsu: Cinéaste de la Révolte. O carácter fantasmático da película, entre o sincretismo religioso e o mito rural, pede emprestada presenças oshimanas para fortalecer uma experiência obscura que se quer no limite do cinema político-anarca desenvolvido durante os anos 60. Essas duas presenças são Mamoru Sasaki, que, ao contrário de Masao Adachi, parecer consagrar no argumento muito mais tempo à dimensão divina do que à terrena e, finalmente, Eiko Matsuda, a actriz de In the Realm of the Senses, que dá carne ao espírito e espírito à carne, personificando uma monja, Happyaku Bikuni, que segundo a lenda viveu mais de 800 anos após ter ingerido carne de sereia e os seus vários encontros (sexuais) com os mortais. A Art Theatre Guild, uma vez mais, financiou este delírio wakamatsuano cuja origem, segundo o mesmo, remontava à sua experiência na Palestina documentando os treinos e a maneira de pensar dos membros da FPLP, defensores radicais da luta armada como única forma de revolução mundial. Qual o elo de ligação entre o misticismo impenetrável de Eros Eterna e o compromisso extremo de Red Army/PFLP: Declaration of World War? São os seis anos que separam um filme do outro que nos fornecem a pista fulcral, pois esse prolongamento no tempo, causador de algum distanciamento em relação ao radicalismo político, pôde ter estado no cerne desta fantasia mitológica onde todos os humanos estão sobre o escrutínio de uma entidade imortal que, através da sexualidade, molda e expande o conceito de caridade e absoluta compreensão. Bikuni transforma-se, assim, em Kannon Bosatsu, a divindade budista da misericórdia como o título original em japonês nos deixa antever (Sacred Mother Kannon). É, todavia, na cena de amor entre Kannon e um revolucionário que melhor fica cristalizada esta espécie de auto-crítica política no interior do próprio filme. Após ser incitado pela sereia imortal para prosseguir com os intentos terroristas, o estranho personagem suicida-se com a própria bomba que iria completar o seu "acto heróico". A divindade, sempre cheia de graça e misericórdia exceptuando apenas um caso, o do responsável maldoso pela instalação de uma central nuclear (talvez uma representação maniqueísta do capitalismo torpe), diz olhando para o cadáver ensanguentado do suicida: "Tu estavas assustado em viver uma vida longa, não era assim?" Esta complacência para com aquele instinto revolucionário impaciente que revela, ainda assim, o pavor de não se conservar perante a duração da realidade, a duração da sua própria negação, lança assim o mote de um cineasta, Wakamatsu, interessado na santidade radical, quiçá para exorcizar ou substituir os fantasmas de uma revolução que, na altura, já ia longe da vista e dos corações." Daqui
Legendas em inglês.

sábado, 24 de outubro de 2020

 Por razões de força maior vou ter de fazer uma pequena pausa, mas volto em breve, a partir da próxima quinta-feira.

Até já. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Ecstasy of Angels (Tenshi no Kôkotsu) 1972

Um grupo de anarquistas, que vestem roupas da moda e vivem em apartamentos elegantemente mobilados, entram num depósito de armas e roubam algumas caixas com explosivos. Há um tiroteio com o exército e o líder do grupo anarquista é cego. Ele consegue fugir, mas o grupo agora começa a dividir-se, e começam a criar conflitos entre os seus membros.
Depois de ter filmado o Exército Vermelho japonês nos territórios da Palestina, Wakamatsu tornou-se alvo do governo Japonês e da Interpol, e foi colocado ma lista negra do governo americano, não podendo entrar neste país até aos dias da sua morte. 
Wakamatsu teve oportunidade de assistir às violentas revoluções estudantis em Tóquio durante o final dos anos sessenta e inicio dos anos setenta. Em entrevistas explicou que enquanto filmava o que acreditava ser o confronto final entre estudantes e policias observou que os movimentos estudantis tinham falhado em prevalecer devido a lealdades pessoais a subgrupos dentro do movimento geral. Estas lealdades fragmentaram o foco do movimento e possibilitaram que a polícia superasse a multidão. A conclusão de Wakamatsu era que para que o movimento fosse bem sucedido teria de ser uma revolução radicalmente individualizada, e é essa ideia que ele explora em "Ecstasy of Angels".
Uma montanha russa de violência, sexo e política revolucionária. É isso que define este "Ecstasy of Angels".

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

The Red Army/PFLP: Declaration of World War (Sekigun-P.F.L.P: Sekai Sensô Sengen) 1971

Em 2008 Wakatsu lançou "United Red Army", a história da criação de grupo revolucionário armado ultra-esquerdista em 1970, e a sua implosão dois anos depois. O filme foi um trabalho de amor e dedicação de Wakamatsu, que hipotecou a sua própria casa para financiar o filme, e a explodiu para uma cena em particular, já que ele e o seu argumentista habitual Masao Adachi eram activamente envolvidos nos movimentos estudantis clandestinos e nas organizações de esquerda que deram origem ao Exército Vermelho Unido em Julho de 1971.  Foi neste ano que os dois homens se encontraram com duas das fundadoras do grupo, Fusako Shigenobu e Mieko Toyama, na Palestina, onde estas mulheres trabalhavam como voluntárias na Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP). Para marcar a ocasião Wakamatsu e Adachi criaram um filme de notícias para a criação do Exército Vermelho, este  "The Red Army/PFLP: Declaration of World War".
Foi um marco no cinema como activismo, o cinema como movimento no cinema japonês, e um filme que retratava as actividades quotidianas dos guerrilheiros árabes como uma narrativa cinematográfica da revolução mundial. O filme foi concebido como uma nova forma de reportagem, e foi discutido em sincronicidade com o grupo Dziga Vertov de JL Godard e os filmes revolucionários da América Latina, transcendendo distâncias geográficas. Foi uma obra bastante importante no sentido de que foi a personificação da colaboração entre cineastas japoneses e palestinos daquela época, e também um documento histórico da Palestina, onde os seus constantes bombardeamentos dificultavam aos palestinos possuírem os seus próprios filmes. 
Legendas em Inglês.

domingo, 18 de outubro de 2020

Seizoku: Sex Jack (Seizoku) 1970

Passado num futuro próximo, um pequeno gang de jovens estudantes revolucionários é escondido por um ladrão. Enquanto se escondem, todos menos o ladrão, vão alternando a fazer sexo com uma jovem infeliz ( e talvez relutante), que teve a infelicidade de se envolver com eles. 
Uma história sobre jovens revolucionários loucos por sexo, obviamente inspirados na Zengakuren, a associação de estudantes japonesa, "Sex Jack" tenta mostrar como o poder se inflitra num grupo anti-establishment, dando aos seus membros uma liberdade enganosa. Obra essencial para apreciar o clima de turbulência política entre os estudantes do inicio dos anos 70, o filme foi proibido pela censura francesa, que não aprovou a morte fictícia de um primeiro ministro.
Um tema recorrente para  Wakamatsu é a mensagem politica carregada com sexo e violência, que está bem presente neste filme. Os diálogos políticos e monólogos filosóficos que os jovens estudantes têm enquanto fazem sexo com a jovem enquanto ela diz "pela revolução", ou "nós venceremos" adicionam um interesse obscuro ao filme, tocando nas emoções humanas mais cruas.
Legendas em português.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Vai Vai Virgem Pela Segunda Vez (Yuke Yuke Nidome no Shojo) 1969

A história insólita de dois adolescentes unidos por um passado de violência sexual e um estranho desejo de vingança. A acção decorre quase na sua totalidade no terraço de um edifício de apartamentos onde, ao cair da noite, uma jovem (Poppo) é vítima de uma violação em grupo. Em vez de se afastar, Poppo permanece no terraço e é violada uma segunda vez. No terraço encontra-se outro jovem (Tsukio) que observa placidamente o decorrer dos acontecimentos sem esboçar qualquer intenção de intervir. Na manhã seguinte, Poppo e Tsukio começam a partilhar detalhes íntimos das suas vidas, incluindo o facto de Tsukio ter assassinado recentemente quatro pessoas...
Apesar de demorar pouco mais de uma hora, "Go, Go, Second Time Virgin" agrega uma grande quantidade de arte em cada cena. A atmosfera implacável e pessimista será difícil para muitos espectadores, e apesar das exibições casuais e frequentes de nudez, o filme dificilmente poderá ser catalogado de erótico, em vez disso o contacto físico é apresentado como um bálsamo temporário para aliviar a agonia do dia a dia da cidade grande, com famílias insensíveis ás necessidades dos seus filhos. 
A rebelião adolescente nunca pareceu tão cruel como neste filme, que é um dos pináculos da carreira de Kôji Wakamatsu. 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Sex Games (Seiyûgi) 1969

Uma obra-prima do cinema militante de 1968, filmadas nas verdadeiras barricadas da própria universidade de Nihon, durante o período das lutas sociais. Começa como uma longa sessão de amor livre, na forma de uma peça de violação encenada por um grupo de estudantes sem rumo. No entanto um dos estudantes apaixona-se pela jovem violada e ela convida-o a participar uma experiência para descobrir o verdadeiro significado do radicalismo. Filmado a quatro mãos, por Kôji Wakamatsu e Masao Adachi, habitual argumentista de Wakamatsum estudante desta iniversidade.
Palavras do Miguel Patricio: 
"Incendiário como sempre, este raríssimo filme do forasteiro Masao Adachi parece continuar o trilho de gasolina cinematográfica deixado pelo seu "companheiro de luta", Wakamatsu, a saber, descrição de uma juventude que esbateu os limites morais e vê na violência e na sexualidade a única maneira de se exprimir com radicalidade e, portanto, honestidade brutal. Mais relevante do que esta busca desconexa pela violentação do outro e do próprio, é a presença fantasmagórica e atmosférica (pairante, até diria) de uma revolução "política" que se exprimiria exactamente da mesma forma e com as mesmas energias destrutivas e anárquicas. Marx e Engels tinham avisado no Manifesto Comunista de 1848 que o fantasma comunista vinha para ficar na Europa; Buñuel, depois deles, chamou "Fantasma da Liberdade" ao seu filme mais desconexo e que apontaria para o pós-modernismo, a expressão cultural do não ser determinado. Adachi neste Sex Game filma tudo menos este fantasma da Revolução, que, por um lado, não é mais do que um fantasma, no sentido de não existir efectivamente, mas a sua inscrição irreal deixa nos que acreditam nele ou o desejam um sentimento complexo de ansiedade e justificação. No final, o fantasma é Deus, mas um Deus maligno que necessita ver sacrificados os falsos fieis. Eis que Adachi encontra neste universo confuso e contraditório, mas repleto de revolta (nem que seja a revolta que nasce da revolta) imagens misteriosas (quase surreais se não fossem carnais) de uma geração cuja lógica de conduta residia na escolha de extremos. Portanto, a sequência final - farsa agressiva que suspende a seriedade diegética como se nada fosse - aponta para a seguinte denúncia: a evasão do Deus da Revolta torna a escolha dos extremos arbitrária, sejam eles a pertença ao Exército Vermelho ou a inscrição no Tatenokai (Sociedade do Escudo) de Yukio Mishima." Daqui.
Legendas em inglês.



segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Running in Madness, Dying in Love (Kyôsô Jôshi-kô) 1969

Durante confrontos entre manifestantes e policias que deflagram pelas ruas de Tóquio um jovem esconde-se em casa do seu irmão - um policia. Este último é baleado acidentalmente pela esposa, o que obriga o jovem a fugir com ela. 
Distopia total no final dos anos sessenta. Violência e laços familiares tóxicos na rectaguarda, uma promessa de libertação na frente que parece aumentar como uma fantasia. Este provocativo road movie de Kôji Wakamatsu começa como deve continuar, enquanto o clima político volátil do Japão do final dos anos sessenta contrasta com abstração da frustração juvenil da nação. O filme começa com uma montagem a preto e branco de uma manifestação de protesto em Shinjuku onde os estudantes estão em confrontos violentos com a polícia devido à renovação do tratado de Anpo (acordo de segurança e cooperação entre o Japão e os Estados Unidos).
As imagens da verdadeira manifestação são filmadas por Wakamatsu, porque estas ocorriam perto do escritório da produtora, e são intercaladas com encenações que colocam Sahei (mais uma vez Ken Yoshizawa) no centro da acção, sobrepondo a sua luta individual contra um pano de fundo de desencanto geracional. Um tremendo trabalho visualmente hipnótico de niilismo radical, e talvez o olhar mais desesperado de Wakamatsu sobre a futilidade do protesto político e da libertação sexual.
Legendas em inglês.

 

sábado, 10 de outubro de 2020

Violent Virgin (Shôjo geba-geba) 1969

Um homem e uma mulher são capturados e mantidos em cativeiro por um grupo de Yakuzas, e o filme explora as várias mudanças na dinâmica de poder entre o casal e este grupo, e ainda outro grupo de Yakuzas bem vestidos.  À medida que o filme avança, os personagens parecem mais símbolos representando relacionamentos numa alegoria, do que parte de uma narrativa. Wakamatsu filma inteiramente ao ar livre, no deserto. 
Seria muito fácil chamar "Violent Virgin" de um filme perturbador. A qualidade da interpretação e o cenário surreal evitam que o espectador seja atraído directamente para o filme, mas toca numa série de questões que não podemos deixar de reflectir, quando quase misericordiosamente chegamos ao fim, e como a distinção entre o homem e a besta, e a parede que separa os dois pode por vezes ser tão fina. 
Notavelmente para a época, e até mesmo para agora, há uma representação do prazer mútuo nas cenas de sexo masculino / feminino, que parecem transcender a perspetiva masculina. Os personagens femininos são vistos como tão sexualmente e violentamente carregados como os masculinos.
Legendas em inglês.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Violence Without a Cause (Gendai sei Hanzai Zekkyô hen: Riyû Naki Bôkô) 1969

Três jovens estudantes universitários, pobres e abandonados, decidem ir para o interior de Aomori, onde ficam num pequeno apartamento de estudantes. Enquanto caminham pela praia, avistam um jovem casal e decidem violar a rapariga. Os três se sentem rejeitados pela sociedade, apesar de tentarem sair deste estado. Depois de perceberem que não são capazes de integrar a sociedade, os três decidem pôr um fim ás suas vidas.
A história foi provavelmente inspirada na figura de Norio Nagayama, um serial killer de 19 anos que foi condenado por matar 4 pessoas, numa vaga de assassinatos por todo o país em 1968. O título do filme foi inspirado pelo clássico americano protagonizado por James Dean ""Rebel Without a Cause", com a angustia da adolescência a passar aqui para a juventude japonesa da década de 60.
Filmado em muito poucos dias (Wakamatsu fez 11 filmes em 1969), com inspiração na Nouvelle Vague mas sem o cuidado de desenvolver personagens, é um dos filmes mais bem apreciados do realizador. Os três jovens protagonistas, assim como parte do elenco, são amadores.
Legendas em inglês.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Season of Terror (Gendai kôshoku-den: Teroru no kisetsu) 1969

Dois polícias à paisana seguem um jovem, Hikoya, que acreditam ser o líder de um grupo activista radical. Instalam-se num apartamento em frente ao jovem, onde o observam e tentam obter informações sobre este grupo activista. Lentamente os policias percebem que o jovem não está tão envolvido como eles esperavam, passando a maior parte do tempo com as suas duas parceiras sexuais.
"Season of Terror", de Kôji Wakamatsu é um filme fascinante que explora muitos dos temas típicos do realizador: o ativismo político e o erotismo.  Hikoya é um homem que cresceu frio e cansado, enojado com a dissenção dentro dos movimentos revolucionários. Em vez disso, voltou-se para o sexo e o prazer, passando os dias deitado, estimulando-se com os prazeres da carne. A fotogradia é fria, capturando da melhor forma o ponto de vista deste homem fragmentado. Wakamatsu traça paralelos entre sexo, violência e activismo, embora no final possa parecer muito crítico em relação  à revolução sexual. 
É um filme que pode ter várias interpretações. e Wakamatsu mostra a corrupção que os constantes prazeres da carne podem ter num indivíduo, que no caso de Hikoya perdeu toda a vontade de lutar pelo que acredita.
Legendas em inglês.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Vengeance Demon (Fukushûki) 1969

Um irmão e uma irmã vivem como marginalizados pela sua aldeia por causa da crença de que a loucura e a doença correm no seu sangue. Um grupo de moradores planeia roubar a propriedade deles, espancando e enforcando o irmão, e violando a irmã em grupo. Os aldeões acreditam que o irmão está morto, e pensam num plano para matar a irmã e fazer parecer que as duas mortes pareceram um acidente. Mas o irmão sobrevive, e vai atrás dos aldeões em busca de vingança.
Wakamatsu transporta a violência da cidade para o campo, para as brigas entre aldeões, num filme realizado no período mais prolifico da carreira do realizador, entre 1965 e 1972. Não sendo propriamente um pink movie, acabaria por passar despercebido na filmografia do realizador, muito poucas vezes exibido nos dias que correm. Está aqui, para os curiosos.
Protagonizado por Ken Yoshizawa, um habitual colaborador de Wakamatsu, que tinha estreado no cinema pela mão do próprio realizador em "Rankô", que já vimos neste ciclo. 
Legendas em inglês.