No início dos anos 50 do século XX um género de comédia chamado "neorealismo rosa" tornou-se no género de maior sucesso em Itália, até ao final dessa década. Como o próprio nome sugere, o neoralismo rosa apresentava-nos retratos neorrealistas da miséria do pós guerra como pano de fundo para as histórias de romance tradicionais. Nessa mesma altura, no entanto, outros e muito menos populares filmes interpretados pelo jovem Alberto Sordi introduziram um tipo completamente diferente de comédia. Entre eles, também com Sordi como protagonista, contavam-se os primeiros filmes de Federico Fellini, "Lo Sceicco Bianco" (1952) e o seu sucessor "I Vitelloni" (1953). Numa breve cena, mas inesquecível, no final deste último, Sordi, que interpreta um jovem ocioso que ainda mora com a mãe e a filha mais velha segue no banco de trás de volta para casa, com os seus amigos desempregados, e ao passarem por um grupo de trabalhadores na estrada, grita "Lavoratori!" (trabalhadores) enquanto lhes mostra o dedo do meio (na verdade todo o antebraço, como é comum em Itália. A diferença entre os personagens de classe média, como era Sordi, e a ética da classe trabalhadora do "neorealismo rosa" não podia ser marcada de uma forma mais brutal, como nesta sequência. Apesar da reacção violenta, mas compreensível, dos trabalhadores, esta curta sequência marcaria uma o inicio de uma nova era do cinema italiano, um inovador género que teria um grande futuro, a Commedia all’italiana.
Commedia all’italiana é um dos géneros italianos mais populares, ou talvez o mais popular de todos os tempos, que se espalhou por quase 3 décadas, desde meados dos anos 50 até ao início dos anos 80. Na verdade, críticos e estudiosos de cinema atribuem o seu nascimento oficial alguns anos depois dos filmes de Fellini, em 1958, devido ao enorme sucesso do filme de Mario Monicelli "I Soliti Ignoti", que supostamente estabeleceu os padrões para todo o género. É impossível negar que este filme funcionou como um divisor no território da comédia italiana. Depois do seu grande sucesso comercial e crítico, recebeu uma nomeação para o Óscar, e o produtor Dino de Laurentiis decidiu apoiar o novo projecto do realizador Mário Monicelli, um projecto controverso e ambicioso de grande orçamento, cómico-dramático passado durante a Primeira Guerra Mundial, "La Grande Guerre" (1959), com Alberto Sordi e Vittorio Gassman.
Este segundo filme foi novamente um triunfo, e partilhou o prestigioso prémio Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1959 com "General Della Rovere" de Roberto Rosselini. Nesta altura produtores e distribuidores estavam já convencidos que estes filmes com uma mistura de comédia e drama, mesmo com uma abordagem cómica invulgar como "La Grande Guerre", ou uma comédia com elementos trágicos, tinham grande potencial artístico, e, acima de tudo, comercial.
O festival de Veneza de 1959 foi assim visto como um momento de transição, de Rosellini para Monicelli, em que o legado neorrealista será assumido pela Commedia all’italiana.
Posto isto, vamos assim dar inicio a esta viagem, que iniciará com os filmes do Monicelli, e se prolongará até ao inicio dos anos 80. Uma boa oportunidade para rirem um pouco, numa altura em que o mundo não está propício para tal. Boa viagem a todos.
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