terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Trilogia de Bill Douglas (1972-78)


Bill Douglas é quase uma lenda entre os cineastas britânicos. Lindsay Anderson considerou-o "poeta do cinema britânico", enquanto que o crítico Philip French considerou a sua trilogia como "uma das obras mais heroicas do cinema britânico".
Mas quem é Bill Douglas? Apesar de algumas pessoas já terem ouvido falar no seu nome, poucas eram as que tinham visto os seus filmes. Pelo menos até ao lançamento do DVD pelo British Film Institute. Os seus filmes marcavam-se por uma série de características: sempre mostrados a preto e branco (embora tenham sido filmados a cores), com actores amadores e um estilo visual austero (usando câmera estática, takes longos, e sem banda sonora musical).
Como os títulos sugerem, os filmes são baseados na educação de Douglas na cidade mineira de Newcraighall, nos anos depois da Segunda Guerra Mundial, e é uma história sobre pobreza e infelicidade. Em 1940, Newcraighall era um lugar desolado e azedo, mas esta era a visão de Douglas desde a sua infância (no filme ele chama-se Jamie), e também uma visão muito pessimista da classe trabalhadora escocesa.
"My Childhood" (1972) apresenta-nos a vida solitária e carente de Jamie, quando ele vive com a sua avó e o primo Tommy sendo obrigado e defender-se sozinho. Encontra uma figura paterna num prisioneiro de guerra alemão, que logo desaparece quando a guerra acaba.
Bill Douglas teve oportunidade de começar a fazer a trilogia quando Mamoun Hassan, o chefe do Conselho de Produção do BFI na altura, leu um argumento inicial para "My Childhood" e ficou surpreendido com o que encontrou. O realizador e crítico Lindsay Anderson também ficou muito impressionado, e aconselhou Douglas a continuar com o seu projecto, e ao conseguir apoio e financiamento do BFI o projecto de Douglas começou. Os filmes foram feitos com um orçamento bastante reduzido, e um elenco constituído principalmente por actores amadores. Bill conheceu Stephen Archibald (Jamie) e Hughie Restorick (Tommy) num encontro casual numa paragem de autocarros, e Stephen Archibald  interpretaria a sua personagem até ao fim da trilogia.
Por vezes, os momentos mais comoventes da trilogia são quando a dureza da realidade dão lugar a raros exemplos de alegria e bondade. Em "My Childhood" Jamie despeja água a ferver numa caneca e antes de a recolocar no lugar passa para as mãos da avó para a aquecer. Em "My Ain Folk" os potes de geleia tornam-se o tesouro mais valioso, pois podem ser trocados por bilhetes de cinema. Em "My Way Home" Robert implora a Jamie que se "entusiasme" e "esteja vivo", dando a Jamie o primeiro momento de esperança para o futuro.
Com poucos diálogos e poucos movimentos de câmera, os filmes da trilogia foram muitas vezes comparados com os do cinema mudo, e o próprio Bill foi o primeiro a explicar que as suas obras não tinham uma "narrativa convencional", mas sim uma "narrativa emocional". Sobre o tema de "My Ain Folk" ele explica que o filme não é, em primeiro lugar, uma questão de compreensão...mas uma questão de sentimento. Para que o filme tenha sucesso, a narrativa emocional deve vir em primeiro lugar."  A trilogia recebeu muitos elogios quando da estreia e diversos prémios de cinema pelo mundo fora, e tornou-se numa obra de culto.

My Childhood (1972)
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Imdb

My Ain Folk (1973)
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Imdb

My Way Home (1978)
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