terça-feira, 22 de março de 2016

O Idiota (Hakuchi) 1951

Depois de sair de um manicómio, um homem decide mudar-se de cidade. É quando Kameda viaja para Hokkaiko e acaba por se envolver com duas mulheres, vindo a relacionar-se com uma delas - ainda que esteja apaixonado pela outra. O drama instaura-se com a iminência de um assassinato, depois de uma perceber que não é amada e decidir tomar providências drásticas quanto à sua situação. 
Provavelmente não é muito razoável dizer que a adaptação de "O Idiota", de Fyodor Dostoiévski por Akira Kurosawa, seja o seu filme mais esquecido. Ainda fresco do sucesso de "Rashômon", o filme com o qual alcançaria aclamação internacional, e o título que abria portas do cinema japonês para o público ocidental, Kurosawa trocou de estúdio, do Daiei para o Shôchiku, para a sua próxima aventura, uma adaptação do seu livro preferido, do seu autor preferido. O resultado foi uma obra dividida em duas partes, com quase quatro horas e meia de duração, o que à partida o tornaria difícil de ser digerido pelo público. A pedido do estúdio, Kurosawa tentou cortá-lo um pouco mais, de modo a torná-lo menos complicado, mas mesmo assim não conseguia satisfazer os seus empregadores. Novos cortes surgiram, agora partindo do patrão, e os 266 minutos iniciais foram reduzidos para 166. A versão mais comprida era, de longe, a melhor, e estes 100 minutos cortados foram procurados durante muito tempo, mas acabaram por ser considerados perdidos para sempre.
O que nos restou acabou por ser um produto curioso. Apesar de algumas alterações terem sido feitas, principalmente terem movido a história da Rússia do século 18 para um inverno japonês pós-segunda guerra mundial, a história permaneceu muito fiel ao livro original. Também reunia um elenco do agrado dos apreciadores do cinema japonês clássico, incluindo Setsuko Hara, Yoshiko Kuga e Chieko Higashiyama. Para ajudá-lo, Kurosawa reuniu também uma equipa que era a nata do cinema japonês da altura, mas mesmo assim é bastante difícil avaliar esta obra, sabendo nós de antemão que poderia ter sido uma obra muito melhor, se a versão original fosse mantida.
Àqueles familiares com o livro talvez seja mais fácil de preencher os detalhes narrativos em falta, e trazer um sentido, atmosfera e espírito ao filme, mas infelizmente, dado o tratamento nas mãos do estúdio, é apenas uma parte de um todo. Ainda assim, é uma obra a descobrir. 

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