sexta-feira, 4 de março de 2016

As Horas de Maria (As Horas de Maria) 1979

Inspirado no relato pela imprensa de um caso verídico, com argumento, diálogos e realização de António de Macedo e fotografia de Elso Roque, As Horas De Maria prolonga na ficção o gesto de Fátima Story. Esta produção Cinequanon foi parcialmente filmada em Fátima, assente numa estrutura de doze capítulos que seguem a história da personagem de uma rapariga cega e internada num hospital, convicta na probabilidade de um milagre de Nossa Senhora de Fátima. Estreado com enorme escândalo em 1979, foi um dos mais polémicos filmes da época, acusado de blasfémia pela igreja católica.
As Horas de Maria é uma obra de valor simbólico, numa época de bruscas e dramáticas mutações em Portugal. No ano em que o filme foi produzido, 1976, não teria por certo acontecido o que aconteceu três anos mais tarde, quando estreou em Lisboa. A suposição não é sem fundamento. O recuo das forças progressistas da Revolução dos Cravos, num contexto social que lhes era desfavorável, fez-se sentir com avanços da direita em políticas em que muito recuara, como a cultura. A viragem foi rápida.
Na estreia, a 3 de Abril de 1979, um evento insólito deu relevo ao filme nos meios de comunicação e gerou considerável polémica: um grupo agressivo de manifestantes de direita, sentindo-se apoiados pelo repúdio já manifestado pela Igreja católica, que achava a obra blasfema, insultaram e agrediram espectadores em frente da sala – o Nimas, na Av.5 de Outubro, em Lisboa, – com actos violentos e apedrejamentos. O ritual manter-se-ia por vários dias, com agrupamentos a rezar o terço e a entoar ladainhas para a conversão de Macedo, dos espectadores contaminados, dos fãs heréticos.
A explicação do insólito é assim dada por João Bénard da Costa : «O realizador, baseado nos chamados Evangelhos apócrifos, propunha uma visão não trascendental de Jesus e punha em causa a virginidade de Maria». (João Bénard da Costa, Histórias do Cinema, Sínteses da Cultura Portuguesa, Europália 1991, ed. Imprensa Nacional).
Voltam ao de cima certas sensibilidades, próximas das que dominavam antes. O efeito que o filme provocou ilustra isso e não só: as bem prováveis consequências de um atrevimento assim. De mais um: a filmografia de Macedo está cheia disso.

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3 comentários:

Anónimo disse...

Por favor, repostem esta jóia esquecida do grande Macedo!

Anónimo disse...

Não estou a conseguir ver o filme! Poderia colocar um novo link?

Anónimo disse...

Muito agradecida, também!