quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Olhar de Ulisses (To Vlemma Tou Odyssea) 1995



Theo Angelopoulos tem um estilo visual muito sedutor, que consiste em takes longos e muito poucos diálogos, não muito diferente de Bela Tarr, mas onde Tarr usa lama, chuva, e pequenos episódios apresentados em takes longos, os filmes de Angelopoulos têm um estilo visual muito mais limpo, menos episódico, e os takes longos são em muito menor número, e mais espalhados pelo filme.
Quando um filme não é episódico, por outras palavras, quando existe um macro-plot em vez de muitos mini-plots, a narrativa global vale melhor o tempo do espectador. No caso de "O Olhar de Ulisses", um realizador sem nome (que na realidade se chama A.), viaja através das Balcãs para localizar as bobines de três filmes dos primeiros realizadores daquela zona, os irmãos Manakis. Os irmãos Manakis trabalhavam no início do século vinte, e os seus primeiros trabalhos, e de acordo com este filme que reescreve a história por causa do drama, tal como alguns bons filmes também o fizeram, estão algures nas Balcãs, esperando ser descobertos. Porque não foram objecto de maior interesse pelos diferentes arquivos filmicos das Balcãs? O filme não explica.
A., interpretado por Harvey Keitel, é o realizador que cresceu nas Balcãs, que fala grego, mas que passou a maior parte da sua vida nos Estados Unidos, produzindo filmes que muitos gregos, por alguma razão, abominam. Ele ouve falar das bobines perdidas, e decide partir em viagem para descobrir o rasto da origem do cinema nas Balcãs.
No processo, viaja através da Grécia, Albânia, Bulgária, Sérvia, e Bósnia Herzegovina. O título do filme sugere uma dimensão "Odisseia" para a viagem, mas isso é uma ilusão. A certa altura ele transporta uma mulher vestida de preto para o outro lado do rio, onde encontram os primeiros sinais de destruição na antiga Jugoslávia, numa cena que evoca o episódio de Hades, mas a metáfora é ténue, e um pouco confusa.
O filme é muito interessante a identificar as Balcãs, e há muitas cenas em que o passado se confunde com o presente, com os personagens a mudarem e a parecerem figuras do passado. O filme caminha para uma espécie de realismo mágico, contendo cenas filmadas de um modo que mal são notadas, incluindo um take no inicio do filme onde uma audiência assiste ao último filme de A., cativada, em pé e à chuva.
Concorrendo em Cannes no ano de 1995, acabou por perder a Palma de Ouro para "Underground", de Kusturica. Desapontado pela derrota acabou por chocar uma plateia em silêncio, com as palavras: "Se é isto que têm para mim, eu não tenho nada a dizer". Mas o filme ainda ganharia o FIPRESCI Prize, e o Grande Prémio do Júri, que é uma espécie de segundo lugar.

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