"The Boys Next Door" (que no Brasil se chamou "ódio cego", na época em que foi lançado em VHS, para depois se tornar homônimo do clássico de John Huston "os desajustados"), pode ser considerado um filme anti-Brat Pack,distante das obras fofas e doces de John Hughes. O que temos aqui é um retrato selvagem de uma juventude enraivecida, como é o caso do personagem de Maxwell Caulfield, ao passo que o personagem de Charlie Sheen é um poço de ambivalência, que apenas segue o seu amigo, juntando-se a ele nos crimes. Embora fique sugerida uma homossexualidade latente na relação entre os dois rapazes, o que interessa à diretora, Penelope Spheeris, é retratar a alienação de uma juventude sem perspectivas de fazer parte da sociedade. Ela, conhecida como a "antropóloga do rock'n'roll", já havia mostrado essa mesma juventude alienada e enraivecida em clássicos como o documentário "The Decline of Western Civilization" (que mostra a efervescência da cena punk angelena com a participação de bandas como X, Black Flag, Circle Jerks, Germs e outros) e sua obra prima "Suburbia", de 1983. Quem viu esses filmes sabe do pendor mostrado pela diretora para tratar dessa juventude transviada que anda na beira do precipício social. É como se, tomando emprestado uma definiçao de Vincent Canby, Penelope Spheeris tirasse toda a poesia que há em "Terra De Ninguém" (badlands), de Terence Malick, assim como todos os floreios de "O SelvagemDa Motocicleta" (rumble fish), de Francis Ford Coppola.
Penelope Spheeris continuou explorando a a juventude errante em "sonhos e vingança" (dudes), de 1987, e dirigiu a segunda parte de seu "The Decline of Western Civilization": "The Metal Years", e até que dirigisse o seu grande sucesso de público "Quanto Mais Idiota Melhor" (wayne's world), realizou videos para o Megadeth, como o de "in my darkest hour". Infelizmente todo o seu som e a sua fúria se diluíram em filmes como "A Família Buscapé" (the beverly hillbilies) e "Os Batutinhas" (the little rascals). O que vale, no entanto, é a sua primeira fase, e é por ela que Penelope Spheeris é sempre lembrada.
* Texto da autoria do Alexandre Mourão.
Uma pequena nota: as legendas estão péssimas, por isso estão separadas.
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