domingo, 27 de janeiro de 2019

Quem Programa Sou Eu: Carlos Natálio

Depois do relativo sucesso que foi o ciclo do 10º aniversário dos Thousand Movies, em que cerca de 80 amigos do blog foram convidados a escolher um filme para passar no blog, foi-me sugerido que poderia dar a palavra mais vezes aos leitores, a escolher ou programar filmes e ciclos.
A partir desta sugestão decidi avançar para esta nova rubrica chamada "Quem Programa Sou Eu", a qual terá diversas edições ao longo do ano. Os convidados terão duas alternativas, ou escolhem um tema para um ciclo e programam eles próprios os filmes a ser exibidos, ou então sugerem 10 filmes livres para passarem neste ciclo.
A pessoa que me deu esta ideia foi a primeira a ser convidada. O Carlos Natálio é um dos membros fundadores do site À pala de Walsh,  e também autor do blog Ordet, e aceitou de bom agrado este contive. Por isso, o que verão por aqui nas próximas duas semanas é da exclusiva responsabilidade dele, e parece-me bem que não se vão arrepender nada.
Para abrir as hostilidades, ficamos com a sua apresentação do ciclo:



"Quando me pedem para escolher um conjunto de filmes, quase sempre, antes de pensar em títulos, tenho de procurar num motivo, um critério qualquer para poder fazer uma selecção. Isto porque, o mais comum é sempre acabarmos com as escolhas de circunstância, baseadas em critérios de "qualidade". O que acaba sempre por redundar numa reprodução de filmes canónicos, com pouco a dizer do escolhido. Outro caminho também muito trilhado é o das obras que levaríamos para uma ilha deserta, o que supõe qualquer coisa de último e sobrevivente, de definitivo. Porque quis contornar nisso, até porque há tantas formas de amar o cinema, preferi usar outro critério. Este é um conjunto de filmes que, por uma razão ou por outra — em alguns casos, só vi estes filmes uma vez, por isso nem sei se passaria os testes da dita "qualidade" ou da ilha — me afectaram muito quando os vi. Filmes como amores à primeira vista, impressões que, no caso de certas obras, se desenvolveram em amores maduros e consistentes. Noutras menos. Em alguns casos ainda, esse teste está por fazer.
Quando refiro que me afectaram, quero dizer que me fizeram acreditar no poder enorme que o cinema tem. Aquela energia que nos faz sentir numa espécie de casa, de útero, abraçados pelo negro por todos os lados, excepto um. Este um é de onde brota uma luz promissora, estranha por vezes: pois ao mesmo tempo que nos vai dizendo que o mundo, esse, é uma vertigem separada desta nossa quietude voyeurista e proibida, a luz é ela que também nos dá uma profunda comunhão com os seres, as suas alegrias e tristezas, o voo leve dos pássaros, o peso das rochas, o líquido, o fantasma, o vulcão e a prece. Tudo isso como dádiva ao cinéfilo, que em troca, apenas tem de agir, vendo e sentindo. Mas isso não é tudo? 
Agradeço muito ao Chico o convite para participar desta Cinemateca de amigos e espero que desfrutem dos filmes, pelo menos tanto quanto eu."

Já pensaram em ser programadores do My Two Thousand Movies por duas semanas? Pensem bem na ideia. 

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