terça-feira, 22 de novembro de 2016

Capítulo 7 - Suspense

A palavra "suspense" já há muito que foi retirada dos dicionários dos cinéfilos. Sofreu uma americanização, e agora passou a ser chamado de "thriller". Não se sabe bem de onde vem este género, mas se teve algum impulsionador, sem dúvida que foi Alfred Hitchcock. Hitchcock desenvolveu a premissa do "suspense" de forma brilhante, ousando sugerir, mais do que mostrar, a violência que o seu conhecimento podia acarretar, sobretudo com as pessoas que o espectador mais facilmente se podia identificar. Os anos oitenta foram óptimos para esta premissa, provavelmente tão bons ou melhores que as décadas anteriores. Vamos conhecer neste capítulo alguns dos filmes de suspense mais brilhantes.

Sangue Por Sangue (Blood Simple) 1984
No Texas, o dono de um bar que normalmente não é reconhecido como uma boa pessoa, contrata um detective privado obscuro para obter provas (fotográficas) de que a sua esposa o anda a enganar com um dos empregados do bar. Quando o casal adúltero descobre que o marido percebeu a traição resolvem fugir, mas o marido enganado volta a contratar o detective, desta vez para matar o casal e esconder os cadáveres num sitio onde não possam ser encontrados.
"Blood Simple", o sublime filme de estreia dos irmãos Coen, não envelheceu um bocadinho desde a sua estreia, a mais de 30 anos atrás. Atravessado por uma grande tensão, e cheio de momentos de suspense, bem escrito, e soberbamente construido com um enorme senso de humor negro, é um filme noir deliciosamente perverso, bem modernizado e transportado para as planícies abertas do Texas. Onde o mal, o desejo e a culpa apodrecem nas paisagens húmidas e claustrofóbicas dos filmes noir dos anos 40. Os ingredientes chave estão todos aqui, ou seja, emoções intensas e a vontade de matar por causa dessas emoções, e a história construída de forma desonesta para manter os personagens na tela inconscientes do que realmente está a acontecer.
Brilhante o quarteto principal, Dan Hedaya (o dono do bar), M. Emmet Walsh (o detective), Frances McDormand (a traidora), John Getz (o traidor).

Terror na Auto-Estrada (The Hitcher) 1986
C. Thomas Howell  é um jovem de Chicago que atravessa o pais de carro, até à Califórnia. A estrada do Texas é solitária e o jovem está cansado, mas encontra uma forma de se manter acordado ao dar boleia a Rutger Hauer.Não demora muito para que o jovem fique assustado com o seu passageiro, quando ele lhe diz que decapitou viciosamente a última pessoa que lhe deu boleira, e pretende fazer o mesmo com ele. A partir daqui começa um jogo entre o gato e o rato...
Originalmente foi um fracasso nos cinemas, mas tornou-se num fenómeno de culto para os fãs do VHS e da televisão por cabo. A razão para tal acontecer era muito simples: o filme agarra-nos pelos desenvolvimentos sórdidos, e nunca mais pára até ao seu final sangrento, e explosivo. Não faz muito sentido, porque nunca é claro quem é John Ryder ou porque escolheu fazer da vida de Halsey um inferno, mas tentar inventar teorias faz parte da diversão. Em muitos aspectos é um filme derivante de outro jogo mortal entre o gato e o rato, "Duel", de Steven Spielberg, mas também influenciou outros filmes pelo seu próprio direito, como "High Tension" (2003).
Rutger Hauer, o replicant de "Blade Runner" tem um dos seus momentos mais brilhantes. E não esquecer a realização de Robert Harmon" (em estreia), e o argumento de Eric Red (também em estreia), duas enormes promessas que infelizmente não corresponderam às expectativas.

No Rasto dos Assassinos (Cohen & Tate) 1988
Cohen e Tate são dois assassinos profissionais contratados pela máfia para matar a família Knight e os agentes do FBI que os protegem. Cohen é um atirador profissional e é regido por um determinado código de honra, Tate, no entanto, é um jovem rude e brutal sem escrúpulos. Tendo cumprido sua missão, raptam o filho de Knight e trazem-no para Houston, mas o jovem não é tão inocente como parece.
Escrito e realizado por Eric Red, com um orçamento muito limitado, "Cohen & Tate" seria um dos melhores filmes de suspense dos anos 80. E aqui tem que se falar em Eric Red, uma grande promessa do cinema americano independente, numa altura em que não havia cinema independente. Red tinha-se destacado como argumentista de duas das obras mais promissoras dos anos 80, "The Hitcher" e "Near Dark", e seria com todo o mérito que lhe seria dada uma hipótese de realizar a sua primeira obra com este "Cohen and Tate". Os três filmes (poderão ser todos vistos neste ciclo) têm um ponto em comum: pegam num outsider inocente, e atiram-no para o meio do perigo, com um ou mais psicopatas.
Red poderia ter feito uma carreira brilhante, mas dois anos depois viu-se envolvido num acidente que mudaria a sua vida. Matou duas pessoas involuntariamente e tentou cortar a sua própria garganta. Levou meses para se conseguir livrar de acusações em tribunal, e isso acabou por trazer implicâncias para a sua carreira. Também escreveria o argumento de "Blue Steel", de Kathryn Bigelow.

Perigosa Sedução (Sea of Love) 1989
Em Nova Iorque, ao investigar um caso no qual homens são assassinados depois de responderem a um anúncio de correio sentimental, o detective Frank Keller envolve-se na investigação, e ennvolve-se com Helen Cruger, a principal suspeita. Quanto mais ele se apaixona, mais provas surgem para incriminar Helen.
Se há um papel que parece destinado a Al Pacino é o de policia. E se "Sea of Love" não é dos seus melhores filmes, é a sua interpretação que faz o filme ser tão interessante. Com alguns toques que parecem inspirar o resto do elenco (Ellen Barkin muito bem no papel de mulher fatal, e John Goodman como polícia), Pacino estava afastado do cinema já há quatro anos, desde a sua interpretação em "Revolução" de Hugh Hudson, já no ano de 1985, e como esse filme tinha sido um grande flop, haveria que ter cuidado no regresso. Não foi preciso muito trabalho para o realizador Harold Becker levar o trabalho a bom porto. Bastou o argumento de Richard Price, e Al Pacino entrar em modo de piloto automático.
Pacino ficou fora dos Óscares, mas ainda conseguiu uma nomeação para os Globos de Ouro. O seu primeiro e único Óscar só seria conquistado quatro anos depois, em "Scent of a Woman".

1 comentário:

Emanuel Neto disse...

A primeira vez que vi "Sea of Love", em finais dos anos 80, a imagem que ainda hoje tenho na memória é a tórrida cena de sexo entre Pacino e Barkin.
De resto não me lembro de mais nada!