quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Capítulo 4 - Drama

A prateleira dos filmes de Drama era sempre das mais preenchidas, mas nem por isso das mais concorridas. Normalmente quem se deslocava a um clube de vídeo para procurar um filme em VHS procurava um filme de género, não que o Drama não fosse um género, mas era sempre dos menos procurados. Todavia, depois de uma pesquisa, mesmo pouco minuciosa, encontrava-se por lá belas surpresas. Havia um pouco de tudo nos lançamentos em vídeo, muitos clássicos de Hollywood, poucos filmes em língua não inglesa. "Casablanca", "O Mundo a Seus Pés", a trilogia "O Padrinho", e tantas outras pérolas. Começamos hoje aqui a selecção dos dramas.

O Navio (E La Nave Va) 1983
Orlando é um velho jornalista que embarca no luxuoso navio Glória N., que parte de Nápoles para o ritual do enterro da famosa cantora de ópera Edmea Tetua. Nele também estão amigos e conhecidos da diva, colegas de trabalho e pessoas importantes da época, que escondem as suas disputas internas em prol do funeral. Tudo corria bem, até o capitão resgatar do mar dezenas de refugiados sérvios, que fugiam do seu país e assinalavam o início da primeira Grande Guerra.
Fellini realizou este filme já na fase final da sua carreira, os três últimos seriam "Ginger e Fred", "Entrevista" e "A Voz da Lua". O grande foco do filme é o absurdo das classes altas e a sua ignorância sobre o que se passa no mundo, e isto reflecte-se bem na entrevista do Orlando ao grão duque austríaco. Do brilhante inicio, filmado no estilo de um velho filme mudo, gradualmente misturando som e cor enquanto os passageiros embarcam no navio, até ao grande final operático, "O Navio é um puro deleite visual.
Fellini era dos realizadores italianos mais bem representados em VHS, e mesmo assim tinha apenas cinco obras lançadas no mercado. Apenas uma do seu período neorealista, "La Strada".

Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon) 1975
Em 1972, numa tarde quente de Agosto em Brooklyn, dois zés-ninguém demasiado optimistas decidem assaltar um banco. Sonny é o cérebro da operação, e Sal é o seu cúmplice. O plano é conseguir dinheiro para uma operação de mudança de sexo, mas o resultado é um desastre. Não tarda que a rua em frente do banco se tenha transformado num circo de polícias, câmaras de televisão, multidões e até um rapaz de entrega de pizzas.
Por vezes o conceito mais simples pode ser o mais atraente e interessante. Era algo que Sidney Lumet já tinha feito antes com "12 Angry Men", e conseguia de novo com "Dog Day Afternoon", que provavelmente era o filme de assalto mais simples de todos os tempos. Tal como em "12 Angry Men" no território dos filmes de tribunal, é a partir dessa simplicidade que emerge a complexidade, criando um número interessante de personagens, idéias e conflitos.
Foi um dos melhores filmes dos anos setenta, e uma das melhores personagens de Al Pacino.
Imdb 

As Coisas Mudam (Things Change) 1988
Um humilde engraxador, Gino (Don Ameche), concorda em confessar um crime e apanhar de três a cinco anos na cadeia. O crime foi na verdade cometido por um mafioso, que em troca lhe dará uma compensação financeira que lhe dará a chance de realizar o seu sonho: ter um barco de pesca na Sicília. Jerry (Joe Mantegna), um capanga encarregado de vigiá-lo até ao dia do depoimento, decide levá-lo para se divertir no fim de semana antes de Gino ser preso.
O argumentista e realizador David Mamet, que já tinha lidado com o engano em "House of Games", foca-se aqui na importância ética de manter a palavra. Gino recusa-se a voltar com a palavra atrás a Mr. Green (Mike Nussbaum) é como o Thomas Moore de "A Man for All Seasons", quando explica que não pode quebrar um julramento: "when a man makes a promise, he puts himself in his own hands like water. And if he opens his fingers to let it out, he need not hope to find himself again." 
É também um filme sobre a solidão, e o valor de manter a palavra num mundo onde tudo é flúido e fugaz.

As Montanhas da Lua (Mountains of the Moon) 1990
As Montanhas da Lua descreve a expedição levada a cabo em 1854 por Richard Burton e John Hanning Speke em busca da nascente do Nilo. Burton é um explorador polifacetado, culto e dinâmico. Fala mais de 40 idiomas e é também poeta e antropólogo. Speke, mais jovem, é um aventureiro. O seu sonho é viajar para África para explorar terra desconhecidas. Baseado nas suas biografias e nos artigos escritos pelos dois exploradores ingleses, As Montanhas da Lua é uma aventura de descobrimentos, amizade, ambição, traição e arrependimento.
Bob Refelson era um dos realizadores mais emblemáticos dos anos setenta, em parte por causa de "Five Easy Pieces", e realizava apenas o terceiro filme em 10 anos, e num registo muito diferente do que era habitual ver nele. Rafelson conta-nos aqui uma grande história, muito pesada e comovente, mas um pouco afastada da realidade. Era baseado no livro "Mountains of the Moon" de William Harrison, que também escreveu o argumento do filme em conjunto com Rafelson, sendo o livro baseado no próprio diário de Burton e Speke, servindo também de inspiração para o filme. 
Um grande destaque para a beleza da fotografia de Roger Deakins e para a iterpretação de Patrick Bergin, em foco neste inicio dos anos noventa, e de quem já vimos neste ciclo um filme, "Robin Hood".
Link a ser substituido

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