A gama ousada de temas abordados e a versatilidade estilística de Kon Ichikawa seriam uma importante fonte de influência para qualquer realizador nascido no Japão do século XX. Ao longo da sua longa carreira, que se espalhou desde os anos 40 do século vinte até ao novo milénio, abordou várias temáticas dentro dos seus filmes: a juventude em fúria ("Punishment Room", 1956), filmes de guerra brutais ("The Burmese Harp", 1956, e "Fires on the Plain", 1959), thrillers ("The Pit", 1957, e, "The Inugamis", 1976), sátiras domésticas negras ("Odd Obsession", 1959, e "The Makioka Sisters", 1983), dramas de período ("An Actor´s Revenge", 1962), o documentário ("Tokyo Olympiad", 1965, dramas de samurais ("The Wanderers" 1973), e muito mais. O seu elevado ecletismo, contudo, talvez tenha abrandado a sua entrada na lista dos grandes autores de cinema japoneses, e por isso, foi feita uma retrospectiva dos seus filmes em 2001, na Cinemateca de Ontário por James Quandt, de forma a dar a conhecer a sua filmografia. Até então era pouco reconhecido fora do Japão.
Ichikawa foi treinado como animador. A sua obra de estreia, em 1946, era um filme de marionetas, e as storyboards eram uma das componentes principais na produção dos seus filmes em acção real. Mas ele preferia filmar em exteriores, as suas imagens em widescreen muitas vezes mostram uma enorme sintonia entre as paisagens e as estações do tempo.
A sua esposa, Natto Wada, escreveu a adaptação cinematográfica que viria a catapultar a sua carreira, "Punishment Room", baseado num livro do autor de culto Shintarô Ishihara, e que viria a ser uma das obras mais importantes mais importantes dos anos 50 e 60, da cultura japonesa.
Dos realizadores japoneses que gozam de uma reputação internacional, Ichikawa é talvez o menos conhecido e o menos compreendido. Muitos rejeitaram-no como se ele fosse apenas um ilustrador, mas os seus filmes embora não tivessem uma integridade óbvia, como nos casos de Ozu, Mizoguchi ou Kurosawa, a sua variedade extensa desmente os mais cépticos.
Na verdade, Ichikawa trabalhou sempre sob pressões diferentes dos outros mestres japoneses. As pressões comerciais que ele enfrentou eram mais fortes do que a dos seus contemporâneos, está registado que alguns dos seus filmes foram-lhe impostos pelo estúdio em vingança pelos fracassos dos seus filmes mais pessoais. No entanto, ele conseguia sempre impor o seu estilo, mesmo nos filmes mais comerciais.
Durante este mês de Agosto, vamos então conhecer a carreira deste realizador. Não iremos ver os seus quase noventa filmes, mas tenho para vós uma selecção das suas obras mais essenciais. Serão 22 obras, incluindo o documentário que poderão ver já hoje. Infelizmente a maioria dos filmes terão legendas em inglês, porque foi, de todo, impossível arranjá-los com legendas em português. Mas sempre que possível terão legendas em português.
Começamos então pelo documentário "Ichikawa Kon Monogatari" 2006, com legendas em inglês.
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