Vagamente baseado num livro de Yukio Mishima, que por sua vez era inspirado num evento real que chocou a nação em 1950, "Enjo" detalha as dificuldades e a desilusão de Goichi, um jovem gago enviado para servir no templo mais famoso de Kioto, e do Japão. O seu pai era um padre muito fraco, a sua mãe uma mulher adúltera, para não deixar de mencionar que cresceu durante a Segunda Guerra Mundial, e tudo isto isto já eram razões suficientes para o jovem crescer com problemas emocionais. Apesar dos outros estagiários gozarem com ele por causa da gaguez, a dedicação e a devoção de Goichi chamam a atenção do padre chefe, que lhe quer pagar uma educação adicional. Mesmo assim, Goichi logo descobre que esse padre também está longe de ser perfeito, aparentemente mais interessado na sua gueixa e ganhar tanto dinheiro quanto possível dos visitantes do tempo, principalmente dos turistas americanos, do que fazer os seus deveres.
Não encontrando nenhuma forma de expressar o seu tumulto interior, ele queima o templo. É aqui que vamos encontrar este nosso filme. Através de uma série de flashbacks, enquadrados com um interrogatório policial, desvendamos a história da sua obsessão com o templo, desde a sua juventude.
Raizô Ichikawa ganhou o prémio de Melhor Actor no Festival de Veneza, no papel do perturbado Goichi, que o catapultava para lá das fronteiras do ídolo adolescente que era na altura, enquanto que Tatsuya Nakadai, que viria a ser um dos actores mais importantes do cinema japonês, se revelava aqui no papel de um aleijado. Era o primeiro filme de Kon Ichikawa em Widescreen, e mais uma maravilha a preto e branco, trabalho de Kazuo Miyagawa, director de fotografia de "Ugetsu" "Rashomon", e "Yojimbo", que aqui também fazia o seu primeiro trabalho em Widescreen.
Ichikawa contra a história de uma forma facturada e onírica, com o filme a passar de um período para outro sem aviso prévio. As memórias de Goichi tornam-se mais díspares e intensamente focadas à medida que a sua saúde espiritual se deteriora. Ichikawa tenta capturar um pouco da claustrofobia interna de Goichi através da arquitectura opressiva do ambiente do templo, mas não consegue se aproximar do senso de pavor do livro de Mishima. "Enjo" é a dissecação da auto-imolação de um homem da sua própria desintegração espiritual, mas é também uma condenação do mundo moderno corrupto que permite que tal poluição aconteça.
Legendas em inglês.
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