sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Perigo na Sombra (I'll Met by Moonlight) 1957

Perigo na Sombra foi ó ultimo filme realizado por Powell e Pressburger, enquanto membros da produtora The Archers, que se dissolveria ainda nesse ano. A dupla voltaria ainda a assinar dois filmes em conjunto, mas por ora decidiram terminar a sua carreira conjunta, para que cada um pudesse explorar os seus próprios caminhos. Claro que essa decisão amigável veio a ser mais benéfica para Powell do que para Pressburger.
Perigo na Sombra é o título em português de I`ll Met By Moonlight. O filme é uma mistura quase bizarra de filme de guerra e acção, com um thriller, num ambiente típico de neo-realismo italiano. Para este último aspecto contribuiu decisivamente o facto de os The Archers terem optado nesta adaptação de um romance de W. Stanley Moss, pelo preto branco. Embora tivesse sido rodado em grande parte nos Alpes marítimos franceses, a acção refere-se à ilha grega de Creta e reporta-se à fase final da Segunda Guerra Mundial. Nessa ilha ocupada pelos alemães, com o habitual rasto de destruição que esteve associado ao nazismo, um grupo de oficiais britânicos aliado à resistência cretense ao invasor, resolve fazer uma operação audaciosa: raptar o responsável máximo militar alemão e levá-lo para o Cairo. As razões nunca são apresentadas ao longo do argumento. A operação é, em si mesma, particularmente arriscada, a dois níveis: por um lado conseguir efectuar o acto de rapto e, por outro, conseguir evacuá-lo da ilha. É aqui que o filme se torna num thriller interessante. recheado de sentido de humor. Como de costume nos seus filmes, coabitam várias línguas: o inglês. o alemão e o grego, consoante os protagonistas. Ao espírito impulsivo e generoso dos cretenses, junta-se a fleuma e o humor dos oficiais britânicos, num quadro de entreajuda praticamente exemplar. Também a guerra surge como um pano de fundo, onde as acções militares são mais referidas do que propriamente filmadas. O conjunto de peripécias muito focado nas viagens pela ilha montanhosa tentando fugir dos alemães e conduzir o dito general até ao porto onde o barco britânico o espera, acabam por ocupar uma parte substancial da acção. Nesse sentido, o filme é estranhamente leve para um tema tão sério, com alguns momentos quase hilariantes. Este tom de abordagem da guerra, contrasta com A Batalha do Rio de Prata, o seu filme anterior, que era pesado e austero. O general alemão (protagonizado por Marius Goring, que já tinha participado em 3 filmes anteriores da dupla) foge completamente à visão estereotipada que foi apresentada na generalidade dos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. Embora procure reaver a sua liberdade e deixar todas as pistas possíveis para que os seus soldados o encontrem tentando mesmo subornar uma criança, há uma espécie de moral cavalheiresca entre o referido general e os seus raptores britânicos. Na guerra cada um desempenha o seu papel: uns combatem por um lado, outros por outro. O facto de serem inimigos não pode significar que tenham que se odiar. Este olhar humanista sobre os alemães está muito presente em praticamente todas as abordagens feitas à Segunda Guerra Mundial por parte de Powell e Pressburger. Não há espaço nos seus filmes para um maniqueísmo simplista. De resto, apesar de não ser um filme de grande orçamento, todos os pormenores foram meticulosamente cuidados. Para além de uma presença breve de Christopher Lee, o destaque principal vai para Dirk Bogarde, ainda numa fase afirmação de uma carreira que veio a ser extraordinária, a ponto de ser considerado um dos mais versáteis e brilhantes actores de toda a história do cinema. 
Enquadrada no conjunto da obra de Powell e de Pressburger, I`ll Met You By Moonlight não é um dos seus melhores filmes, longe disso. Mas contém suficientes motivos de interesse para justificar um visionamento atento. 
* texto de Jorge Saraiva

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