Não é fácil fazer uma história sobre todos os filmes banidos, censurados, contestados nos Estados Unidos, muito menos em todo o mundo. Mesmo listas mais extensas podem ser inadequadas, porque falta a análise dos filmes e a sua supressão. Colocar este tema num ciclo é uma tarefa ainda mais difícil, mas vou tentar contar o ponto de vista dos filmes banidos a partir da história do cinema dos Estados Unidos, à partida o país mais livre do mundo, ou, provavelmente, talvez não.
A chamada censura nos filmes começou pouco depois dos média terem tornado o cinema uma arte mais visível para um mais vasto público. Mesmo na altura dos filmes serem mudos, uma obra podia ser mais expressiva apenas em imagens do que em mil palavras, e esse facto não passou por despercebido aos pretensos moralistas. Em 1915, "The Birth of a Nation", de D. W. Griffith, impressionou o mundo e chocou audiências com as suas cenas de lutas raciais e glorificação do Ku Klux Klan. Depois de ver o filme numa exibição privada na Casa Branca, o presidente Woodrow Wilson disse que "era como escrever uma história do país... e o problema é que era tudo tão terrivelmente verdade". Apesar da opinião do presidente, e do filme apenas tentar contar a história, seria a obra mais frequentemente banida na história do cinema.
Tentativas de suprimir o filme em 1915 levaram a uma decisão do United States Supreme Court, que um filme deveria ser tratado como um produto comercial, e como tal, não poderiam reivindicar protecção de garantias constitucionais como liberdade de expressão e imprensa. Este julgamento não apenas negou protecção constitucional aos filmes, mas também os deixou abertos a serem censurados e banidos por cidade ou por distrito de acordo com cada censor regente, pelo menos até ao início da década de 50.
A indústria do cinema, representada pelo Motion Picture Producers and Distributors Association (MPPDA) liderada por Will Hayes, criou um código ao qual todos deveriam aderir. O MPPDA que incluía os donos dos cinemas e os estúdios, criaram uma série de auto-regulamentos, começando pela criação do Studio Relations Comittee (SRC) em 1927, que levou ao desenvolvimento do Prodution Code Administration (PCA) em 1934, que criava um selo de aprovação ou negação para cada filme. Os donos dos cinemas, na sua maioria, concordaram exibir apenas filmes com o selo de aprovação, mas grupos como o Catholic Legion of Decency (LOD) acharam o SRC demasiado relaxado. Já há muitos anos que a igreja católica tentava controlar o conteúdo dos filmes, começando por ter banido o filme "The Power of the Cross", de 1916, e ameaçado excomungar o realizador, A. M. Kenelly. Em 1922 a igreja católica começou a publicar listas de filmes recomendados, depois bispos e padres católicos começaram uma vigorosa campanha para purificar o cinema, levando à criação do LOD. As suas ameaças e acções levaram a indústria do cinema a restringir ainda mais o PCA, que levou à supressão de muitos filmes lançados anteriormente, e resultou na mutilação de outros, para que pudessem caber dentro dos requisitos, levando a uma guerra com os censores.
Os filmes sofreram escrutínios de várias formas, desde alterações no argumento antes da produção começar, de cortes de frames e mesmo segmentos para poderem obter o selo de exibição, e até mesmo cortes posteriores de acordo com os censores de cada cidade.
É a partir destes pressupostos que se desenvolve o nosso ciclo, que irá percorrer um período desde o "Birth of a Nation" até ao inicio dos anos 80. Vamos ver que até no país mais democrático do mundo as coisas não foram tão fáceis como deveriam ter sido, e iremos analisar mais de 60 filmes que foram banidos pelas mais variadas razões, em ordem cronológica. Espero que gostem do ciclo.
2 comentários:
- O desconhecido me agrada, obrigado !
Obrigada venham eles
Enviar um comentário