segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

A Sangue Frio (In Cold Blood) 1967

Um próspero e respeitado fazendeiro do Kansas, a sua mulher e os seus dois filhos adolescentes são brutalmente massacrados de uma forma imoral. Os assassinos são dois ex-condenados desleixados: Perry Smith (Robert Blake) e Dick Hickock (Scott Wilson). Nenhum dos dois homens é são o suficiente para se arrepender do crime. A história penetra profundamente nas mentes dos criminosos enquanto seguem a viagem tortuosa pelo México e Estados Unidos para tentar fugir da lei. Após mais de um ano de fuga, os homens caçados são finalmente presos.
Em 1959 Herbert, Bonnie, Nancy e Kenyon Clutter foram brutalmente assassinados na sua quinta do Kansas. O escritor Truman Capote estava entre os jornalistas que se reuniram no local quando as buscas pelos assassinos começaram, mas ao contrário dos outros, ficou por ali durantes as buscas e tudo o que aconteceu depois. Em 1966 ele publicou "In Cold Blood", um dos mais influentes livros da história da américa, baseado nestes crimes. Este trabalho rapidamente começou a ser transformado em filme, que foi estreado no ano seguinte pelas mãos do  realizador Richard Brooks, com algumas cenas a serem filmadas no próprio local onde ocorreram os crimes. 
É um poderoso legado para qualquer filme. Richard Brooks fez um extraordinário trabalho na recriação do crime que se destaca por si só, num filme que agarra desde o começo com os seus visuais "noiristas", e um inconfundível sentido de ameaça. 
O verdadeiro destaque do filme é a interpretação de Robert Blake, um dos melhores vilões da história do cinema, que em conjunto com o livro de Capote seriam significativos em mudar as atitudes dos americanos para com a pena de morte. Seria irónico que Blake seria acusado de assassinar a sua própria esposa em 2002, mas acabaria por ser ilibado. 

Link
Imdb

domingo, 30 de dezembro de 2018

O Génio do Mal (Compulsion) 1959

Chicago, 1924. Judd Steiner (Dean Stockwell) e Artie Straus (Bradford Dillman) são dois jovens homossexuais que pertencem a famílias ricas. Os dois acreditam ser superiores intelectualmete, além disto se consideram acima da moralidade convencional. Para provar que são superiores, eles assassinam Paulie Kessler sem qualquer razão. Depressa um pequeno detalhe faz o “crime perfeito” ser um falhanço. Para tentar alterar este quadro, as famílias de Judd e Steiner contratam Jonathan Wilk (Orson Welles), um famoso advogado que tem a fama de convencer os jurados.
"Compulsion" foi realizado em 1959, 35 anos depois de Nathan Leopold e Richard Loeb cometerem um assassínio na vida real no qual o filme (e o livro, que o precedeu em 3 anos, escrito por Meyer Levin em 1956) é baseado. É difícil imaginar um mundo onde os média levariam tanto tempo para capitalizar tais eventos terríveis, dado que a televisão moderna teria assunto para um drama no ar durante meses. O facto é que o advogado de Leoold e Loeb era o famoso Clarence Darrow, o que tornaria tudo mais complicado para a comunicação social. O filme "Rope"(1949) de Hitchcock, também teria ecos destas duas personagens, e também teve influências de um peça de 1929, muito mais oportuna. 
"Compulsion" está dividido em duas partes. A primeira é dedicada ao crime, mais especificamente à tentativa de Judd e Artie o esconderem, com duas grandes interpretações do par central, Dean Stockwell e Bradford Dillman. Judd é o cérebro, um jovem perdido que tenta esconder as suas emoções atrás de um elevado intelecto. Stockwell interpreta a sua personagem com uma tensa fragilidade, ansioso por agradar a Artie, que é muito mais visceral. A segunda parte do filme é dedicada aos eventos no tribunal, e é aqui que aparece Orson Welles, no papel do advogado dos dois jovens. 
Atrás das camaras estava Richard Fleischer, um homem mais dado a filmes de acção, que aqui consegue mergulhar no melodrama da melhor forma. De notar que os três actores principais, Stockwell, Dillman e Welles, ganharam em conjunto o prémio de melhor actor no Festival de Cannes.

Link
Imdb

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Boas festas

Aconteceu-me um incidente com o computador e devo ficar sem postar uns dias, mas voltarei em breve.
De qualquer forma, boas festas.

domingo, 23 de dezembro de 2018

Angst (Angst) 1983

Um homem é libertado da prisão depois de cumprir quatro anos pelo homicídio de uma mulher idosa. Rapidamente começa a sentir a compulsão para matar novamente. Depois de não conseguir matar uma motorista de táxi, foge e descobre uma casa rural isolada, onde vive uma jovem, com a mãe doente e um irmão retardado. Então, começa a descarregar os seus prazeres sádicos sobre eles, na tentativa de mantê-los como reféns, enquanto pensa na sua infância conturbada com a mãe abusiva e a avó ... 
Angst é sobre um assassino liberto da prisão para iniciar outra matança. Há aqui pouco comentário social sobre a reabilitação ou a dureza da sociedade para os ex-reclusos. Assim que ele sai dos portões da prisão, quer matar de novo - não há conflito interno dentro da sua personalidade, e parece satisfeito com o monstro que é. Este filme é um dos favoritos de Gaspar Noé (o realizador de Irreversível) e percebemos facilmente como inspirou a sua obra, tanto visualmente como no conteúdo. As duas coisas que instantaneamente nos atingem são a fotografia e o sound design. Zbigniew Rybczynski (que fez o video de John Lennon, Imagine) foi o responsável pelo aspecto visual do filme e usou algumas sequências estranhas para grande parte do filme. Ele dá ao público uma certa distância do protagonista, para que possamos gostar ou desprezar deste assassino, mas quando a acção começa colocando-nos tão perto quanto possível do assassino, que pára instantaneamente tornando-o uma figura patética e perturbadora. O design de som intenso também é excepcional. O som, que é anormalmente alto, tem um ritmo bastante acentuado, enquanto a banda sonora de "synth 80" evoca memórias de "Halloween". 
 Embora outros personagens apareçam em cena, é o desempenho de Erwin Leder como o assassino que consome o filme. Um pouco como o desempenho de Jackie Earle Haley em "Little Children", este personagem  é tão terrível como patético, o que é coisa muito rara de se ver no cinema. Nós vemos e ouvimos tudo desde a sua perspectiva distorcida, mas em nenhum momento conseguimos sentir simpatia por ele.

Link
Imdb

sábado, 22 de dezembro de 2018

Uma Voz na Escuridão (Experiment in Terror) 1962

Kelly (Lee Remick) é atacada por um desconhecido, que exige que ela roube 100.000 dólares do banco onde trabalha. Caso recuse, a sua irmã será assassinada. O FBI consegue interceptar um telefonema do desconhecido através do agente John Ripley (Glenn Ford), mas as pistas não são suficientes para encontrá-lo.
Depois de se especializar em comédias ligeiras (Operation Petticoat, High Time), romance (Breakfast at Tiffany’s), e mini-aventuras na TV com o detective Peter Gunn, em 1962 Blake Edwards resolveu virar-se para dois géneros completamente novos para ele: o drama social em "Days of Wine and Roses", sobre a força destrutiva do alcoolismo, e o horripilante suspense psicológico, em "Experiment in Terror", onde uma investigação do FBI se transforma num jogo entre um gato e um rato, entre uma heroína e um assassino chantagista.
Ambos os filmes eram interpretados por Lee Remick, e enquanto em "Experiment in Terror" a actriz partilhava o papel de protagonista com o actor veterano Glenn Ford, a verdadeira estrela do filme é sem dúvida Ross Martin, que transformou um vilão genérico num dos mais brilhantes e cruéis vilões de Hollywood, sem derramar uma gota de sangue na tela, ou fazer um acto gráfico de violação sexual. 
Mesmo sem ser visto em corpo completo até perto do final do filme, apenas através da sua voz ofegante, dos maneirismos faciais capturados pela macro-cinematografia, e o zumbido do órgão de Henry Mancini, Martin transforma-se num monstro capaz de atormentar as suas vítimas da forma mais cruel. 
O filme combina muito bem um imaginário de pesadelo e um olhar fascinante sobre as várias culturas em redor de São Francisco, saltando com grande facilidade entre locais e classes sociais, para o grande final em Candlestick Park.

Link
Imdb

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

O Homem Que Queria Saber (Spoorloos) 1988

Co-produção Franco-holandesa, de George Sluizer, "Spoorloos" é um exemplo de uma narrativa hábil. Um art-house hit em 1988 (re-feito nos EUA pelo mesmo realizador em 1993, com resultados previsivelmente lamentáveis​​), o filme é um reinterpretação arrepiante do enredo que Hitchcock usou em The Lady Vanishes (1938). Um casal holandês está de férias em França. As animadas brincadeiras indiciavam que a sua relação era um compromisso profundo, com o tipo de fraturas inevitáveis que ​​qualquer casal pode sofrer. Eles descansam na viagem, para que Saskia Wagter (Jahanna ter Steege) possa comprar algumas bebidas frias numa estação de serviço completamente normal. De repente, ela desaparece, e Rex Hofman (Gene Bervoets) é atingido pela tristeza, confusão e culpa. Como poderia ele não ter visto o que aconteceu? Quem queria prejudicar alguém sem motivo aparente? 
 Passam-se três anos, e Rex continua a procurar o amor perdido. Atormentado e propenso a crises de raiva e desespero, Rex colocou a vida em suspenso até que descubra o que aconteceu naquele dia fatídico. O interesse de Sluizer, no entanto, não reside na solução do enigma, pois ele já mostrou ao espectador quem cometeu o crime: um homem calvo de meia-idade, Raymond Lemorne (Bernard-Pierre Donnadieu), raptou Saskia na estação de serviço depois de subjuga-la com clorofórmio. Mas enquanto nos mostra isto, Sluizer retém-se no destino de Saskia. E uma vez que Rex descobre que Raymond está envolvido, torna-se claro que o realizador está preocupado com o jogo de gato e o rato entre os dois homens, e a explicação do sequestrador. 
O que se torna imediatamente evidente é que Raymond é um sociopata. Um exterior benigno que desmente uma obsessão em cometer um crime perfeito contra uma vítima aparentemente aleatória. O pouco que sabemos sobre a sua banal vida familiar retira-lhe qualquer possibilidade de homicídio, muito menos rapto e tortura. Por conseguinte, a tensão em "Spoorloos" não reside na antecipação da solução do destino de Saskia (e, eventualmente, Rex), mas na incompatibilidade entre a aparência benigna de Raymond e as suas tendências voláteis. Rex, de coração partido oferece-se ao assassino, a fim de descobrir o que aconteceu com a namorada. A descoberta desta informação e as suas consequências constituem o clímax do filme, e o elemento mais perturbador de uma narrativa consistentemente inquietante.

Link
Imdb

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Psico (Psycho) 1960

"Um dos filmes de terror mais famosos de sempre e, muito possivelmente, o mais influente de toda a História, "Psico", de Alfred Hitchcock, trocou os seres sobrenaturais do passado do género - vampiros, lobisomens, zombies e companhia - por um monstro até demasiado humano. O filme fez de Norman Bates um nome conhecido por todos e garantiu de forma definitiva o estatuto do seu realizador como mestre do suspense.
Adaptado por Joseph Stefano, de um arrepiante, mas esquecido, romance de Robert Bloch, que baseou a personagem de Norman num assassino em série real do Wiscoin, Ed Gein, "Psico" conta a história de Marion Crane (Janet Leigh), uma bonita mulher que rouba 40.000 dólares do local de trabalho. Deixa então a cidade sem um plano, a não ser um vago desejo de passar a noite com o namorado, que é casado. Conduzindo a noite inteira à chuva, Marion pára finalmente num Motel, onde o gerente é um rapaz desajeitado mas suficientemente simpático chamado Norman (interpretado com perfeição subtil por Anthony Perkins). Numa reviravolta chocante que pôs o público literalmente a gritar na plateia, Marion é apunhalada até à morte, na mesma noite, quando tomava um duche, por o que parece ser uma velha com uma faca de trinchar de 30 cm. Nunca até ali, um personagem central fora assassinado tão brutalmente e a menos de metade do filme!. Depois do detective da companhia de seguros, incumbido do caso, Milton Arbogast (Martin Balsam), ser também abafado, Lila (Vera Miles) a irmã de Marion e o namorado Sam Loomis (John Gavin) seguem o rasto da desaparecida até à casa da família Bates, situada na mesma estrada do Motel.
Quando "Psico" estreou, recebeu críticas pouco entusiastas - embora de longe muito melhores do que o veneno que acolheu o sinistramente familiar, "Peeping Tom", também distribuido no mesmo ano. Contudo, a reacção do público ao filme foi assombrosa, com as pessoas a formarem fila à volta dos quarteirões para obter bilhetes. A gerar mais publicidade, estava a nova "política especial" de Hitch de não deixar ninguém entrar nas salas depois do genérico de abertura. Claramente, este cineasta nascido em Inglaterra encontrou um meio para tocar directamente na psique colectiva da América: ao tornar o Monstro tão normal, e ao unir sexo, loucura e assassinato numa fantasmagórica e sórdida crónica, Hitchcock antecipou efectivamente as primeiras páginas dos maiores casos criminais das próximas décadas"
Texto de SJS.

Link
Imdb

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

I See a Darkness

A minha inspiração, óbvia, para este ciclo veio de uma canção original de 1999, interpretada por Bonnie "Prince" Billy, da qual Johnny Cash fez uma excelente cover alguns anos depois. Mas a temática do ciclo foge um pouco à temática da canção. Enquanto que a música original é sobre alguém que pede ajuda para sair da escuridão como isolamento, no ciclo programado pretende-se recriar algo muito diferente: o Mal.
A representação do "mal" sempre foi invulgar em todas as formas de arte. É um assunto tanto desagradável como fascinante, poder explicar o que é a maldade na natureza humana. Foi analisada através de crenças religiosas, padrões sociais ou vários estados psicológicos, com a origem do mal a variar de caso para caso, como um mistério intrigante.

Nos filmes que poderão ver nos próximos dias, até dia 5 de Janeiro, vão conhecer uma série de personagens completamente mergulhadas na maldade, e que usam tudo ao seu alcance para fazer mal aos outros, quer física quer psicologicamente. Quer sejam o Anthony Perkins de "Psycho", ou o assassino brutal de Robert Blake, em "In Cold Blood".
Serão cerca de 15 filmes, cada um com uma característica muito especial em relação à maldade. Fiquem por aí, e Feliz Natal, ho ho ho.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Longe (Longe) 2016

Em “Longe”, José Oliveira criou uma obra admirável na sua aparente simplicidade, sempre tão difícil de alcançar, e que deixa claro que a vontade do realizador para continuar a fazer cinema é imensa.
 O tempo avança, a geografia altera-se, novas tecnologias surgem, mas os temas essenciais da existência são quase sempre os mesmos desde que se começaram a narrar as primeiras histórias em todas as culturas do mundo. Uma boa história não é matéria suficiente para dar um bom filme, outros factores relacionados com o uso linguagem do cinema são mais decisivos, são esses que definem a importância de um filme.
Os primeiros planos de “Longe” definem de imediato a estrutura formal do filme: o rigor dos enquadramentos e os longos planos fixos. A acção desenrola-se dentro do plano e não é a câmara que procura a acção em piruetas ou outros efeitos de encher o olho, mas acompanhando à distância o périplo de um homem, de passado desconhecido, no regresso à grande cidade, a lugares, ao encontro de velhos amigos e de uma filha de quem só tinha conhecimento da existência por carta. 
Com uma fotografia e som exemplares, mas sem música decorativa a preencher os vazios, apenas o som da água, do vento, do burburinho da cidade, das vozes ao longe ou dos personagens nas poucas falas. Este regresso a um cinema de narrativa linear clássica, depurado e resistente, estabelece um paralelo com o regresso do protagonista, que não sabemos de onde vem, nem as causas da sua ausência, tal como alguns personagens de antigos filmes. 
José é o nome do homem que vem de longe. Dos canaviais junto às margens de um rio, apresenta-se de corpo inteiro, como um solitário fordiano que atravessa lentamente um território que já foi o seu em tempos idos.
* Texto escrito pelo Daniel Curval. Podem ler o resto aqui, mas aconselho a fazerem-no depois de verem o filme.
"Longe" foi produzida pela Optec, e foi das curtas metragens mais faladas de 2016, tendo sido exibida em festivais como Locarno, Caminhos do Cinema Português, Encontros de Cinema do Fundão e no BH International Film Festival.

Link
Imdb

Cópia Certificada (Copie Conforme) 2010

Ele (o barítono William Shimell) é um escritor inglês em busca de um significado para a vida. Ela (Juliette Binoche) é uma galerista francesa em busca de originalidade. Quando, depois de uma conferência dele, se conhecem, decidem passear por uma pequena cidade no sul da Toscana, onde embarcam num jogo: durante todo aquele dia vão fingir ser um casal. Contudo, a forma como inventam essa relação é de tal modo convincente que acabam por se tornar um, criando assim a sua própria história de amor.
Uma co-produção entre a França, a Itália e a Bélgica, é o primeiro filme do realizador Abbas Kiarostami fora do seu país natal.Como é típico no trabalho de Kiarostami, que o crítico Geoffrey Cheshire chamou correctamente de um "cinema de perguntas" num ensaio de 1996, o filme levanta mais questões do que resolve, recusando-se a esclarecer qualquer tipo de "verdade" profunda ou "significado" em favor de envolver a imaginação e a moralidade do espectador. Tal como Krzysztof Kieślowski, Ingmar Bergman, Terrence Malick, e Andrei Tarkovsky (entre outros), Kiarostami é mais um filósofo do que é um realizador, e os seus filmes funcionam de acordo com isso, colocando questões que ele sabe que não têm respostas simples.
Dado o subtexto do filme sobre originais e cópias e as suas bifurcações narrativas, Kiarostami encoraja-nos a ver o filme em termos de como as suas diferentes partes se relacionam umas com as outros, emocionalmente e filosoficamente, se não narrativamente. O caractér provisório da interacção inicial dos protagonistas como estranhos e a posterior irritação das suas tensões conjugais estão fundamentalmente ligadas, pois ambas reflectem a luta pela ligação e afirmação interpessoais. 
Filme escolhido pelo Paulo Fonseca. 

Link
Imdb

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Soleil Ô (Soleil Ô) 1970

Um nativo da Mauritânia fica encantado quando é escolhido para trabalhar em Paris. À espera de transformar a experiência numa vida melhor para si próprio prepara ansiosamente a partida da sua terra natal. Embora seja um homem educado teve bastantes dificuldades em encontrar trabalho e um apartamento. Ele vê a desigualdade racial como os negros a serem relegados para trabalho manual enquanto brancos menos qualificados têm preferência. Um jantar com um amigo branco liberal revela também uma atitude de colonização continua perante os países do terceiro mundo... 
"Soleil Ô" foi rodado ao longo de quatro anos com um orçamento muito reduzido, contando a história de um imigrante negro que se dirige para Paris à procura dos "seus ancestrais gauleses". Este manifesto filmico denuncia uma nova forma de escravidão, muito popular nos dias que correm, os imigrantes que procuram desesperadamente trabalho e um lugar para morar, mas só encontram a indiferença, a rejeição e a humilhação, antes de aceitarem o apelo final à insurreição. “Soleil Ô” é também o título de uma canção da Índia Ocidental, que fala da dor dos negros de Dahomey (agora Benin), que foram levados para o Caribe como escravos.
Um grito de revolta contra todas as formas de opressão, colonização e todas as suas sequelas políticas, económicas e sociais, e uma denuncia violenta dos fantoches instalados no poder, em muitos países africanos, pela burguesia francesa. Foi aclamado na Semana da crítica do Festival de Cannes de 1970, para depois ganhar o Leopardo de Ouro em Locarno do mesmo ano, ex aqueo com três outros filmes.
Legendas em Inglês.
Filme escolhido pelo Luis Bernardo.

Link
Imdb

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

C'était un Rendez-Vous (C'était un Rendez-Vous) 1976

É o início da manhã na Paris dos anos setenta. Um condutor dirige-se aos Champs Elysées no seu carro invisível a uma velocidade perigosa, prosseguindo a toda a pressa pelas ruas da cidade, abrandando o menos possível, não se importando com o nível de tráfico ou a geografia das ruas à frente, para não falar dos moradores da capital francesa que se levantam cedo como pedestres. Qual será o motivo de tanta pressa?
"C'était un Rendez-vous" é um filme que se tornou lenda durante muitos anos. Consistindo na vista da frente de um carro desportivo, o realizador Claude Lelouch aparentemente amarrou uma câmara na parte da frente de um carro e deixou-a a funcionar pelas ruas e vielas da cidade. Com menos de 10 minutos de duração, o filme parece ainda mais curto, tais são os momentos incríveis de acção, hipnotizando o espectador.
Não só o filme em si é lendário, como também as histórias que cresceram em volta dele. O vídeo do filme apareceu em diversos blogs, que contavam que se tratava de uma obra underground de 1978, onde um amigo do realizador, piloto profissional, dirigia um Mercedes a mais de 300km/h(!) pelas ruas de Paris. O boato também contava que o escândalo do lançamento rendeu cadeia ao realizador. Pra surpresa de muitos, é tudo mentira...
Numa entrevista publicada no livro “Claude Lelouch, mode d’emploi”, algumas informações foram finalmente esclarecidas: o filme foi feito em 1976 com o que sobrou da película de uma longa-metragem recém terminado, e que era suficiente para uma curta de 10 minutos. Claude Lelouch, que tinha uma obsessão para filmar um argumento sobre um suposto carro a circular atrasado pra um encontro, resolveu finalmente completar o projecto. O condutor foi o próprio realizador, que não passou dos 200km/h e não foi preso na estreia do filme, apesar de ter sido que sim.
Filme escolhido pelo Luís Kasprzykowski.

Link
Imdb

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Até o Vento tem Medo (Hasta el Viento tiene Miedo) 1968

Num rigoroso colégio interno feminino, jovens são forçadas a passar as férias de verão nas dependências da escola como punição por terem entrado numa torre abandonada proibida aos alunos. Com o passar dos dias, elas começam a suspeitar que o edifício é habitado pelo fantasma de uma aluna que cometeu suicídio ao passar por um castigo similar no passado.
Produção de baixo orçamento realizada em 1968 (e que, portanto, comemora cinco décadas de lançamento este ano), Até o Vento Tem Medo é um exemplar típico do cinema de terror realizado no México, e que teve a sua fase áurea nas décadas de 60 e 70. O cinema de terror mexicano, embora goze de grande prestígio entre os fãs do género, é quase desconhecido no Brasil e em Portugal. 
O abandono e o amor perdido parecem ser os temas principais do filme, com apenas Kitty a encontrar o amor nos limites reestritos da escola. O próprio vento desempenha um papel importante e é ao mesmo tempo ameaçador e um mau presságio, funcionando como um aviso para as jovens não irem bisbilhotar à noite. Inclui cenas como "rostos contra as janelas", e vozes a chorar à noite, incluindo aqui ecos de filmes como "The Innocents" (61) e ‘The Uninvited’ (44), com acenos a "Les Diaboliques" (55), com a directora a mostrar traços idênticos ao dos directores dos filmes de terror clássico.
Filme escolhido pelo Fernando Fonseca.

Link
Imdb

sábado, 8 de dezembro de 2018

Edição Especial (Broadcast News) 1987

Três ambiciosos "Workaholics" estão à solta na sala de imprensa de uma rede de TV onde as suas vidas profissionais e pessoais acabam irremediavelmente interligadas. Tom (William Hurt) é um âncora moderno, bonito, bem educado e um pouco burro. Jane (Holly Hunter) é a sua ambiciosa e brilhante produtora, que está decidida a transformar Tom num verdadeiro sucesso das notícias. E Aaron (Albert Brooks) é um competente repórter, mas totalmente desprovido de carisma para atrair o público, que não consegue tolerar o rápido sucesso de Tom frente às câmeras ou junto de Jane. Os elementos perfeitos para um explosivo e divertido triângulo amoroso.
Visto hoje, 31 anos depois da sua estreia no cinema, "Broadcast News", a segunda longa metragem de James L. Brooks e sucessor do hiper sucesso "Laços de Ternura", é uma excursão antropológica à era passada das notícias em rede, assim como uma comédia sintonizada com as relações no sucesso profissional. Dadas as massivas mudanças que se deram nos mídia desde os anos oitenta, há pouco sobre a representação do frenético pulso que há nas redações de hoje em dia, mas em 1987 o filme foi um retalho detalhado do que acontece por detrás de uma câmara de uma noticiário, em 2018 é um documento histórico de como as coisas costumavam ser (ou deviam ainda ser).
Ao contrário da maioria dos filmes de Hollywood, que tendem a concentrar num protagonista singular ou casal, Brooks divide "Broadcast News" em três personagens centrais, cujas várias interacções, antagonismos, acoplamentos e desacoplamentos, definem tanto o arco dramático da história, quanto as várias facetas do ambiente de trabalho. Somos apresentados a cada um desses personagens como crianças, que Brooks usa para definir com humor as suas características de carácter conflituante.
Foi nomeado para 7 Óscares, mas perdeu-os todos. Era o ano em que ganhava "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci.
Filme escolhido pelo André Sousa. 

Link
Imdb

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

The Wishing Tree (Natvris Khe) 1977

Poesia, imagens vívidas e alegoria, marcam as quase duas dúzias de episódios deste conto épico sobre a vida humana e os seus problemas, passados na localidade georgiana de Kachetien, perto da virada do século. Uma história continua diz respeito a uma jovem mulher, apaixonada por um homem, casado com outra pelos anciãos da aldeia. Quando ela é apanhada a encontrar-se com o seu verdadeiro amor, é denunciada na aldeia por abuso público e ridicularizada, sendo atiradas contra ela bolas de lama.
Muitos personagens excêntricos são retratados, desde o homem simples ao contador de histórias, e os seus sonhos revelam o que cada um consideraria felicidade nesta vida. O realizador bem conceitudado deste filme, Tengiz Abuladze, era conhecido pelas suas obras visualmente sofisticadas e simbolicamente ricas.  "The Wishing Tree" é o segundo filme numa trilogia georgiana de Abuladze: o primeiro, lançado em 1969, chamava-se "Encounter", sobre o primitivista Nikos Piosmani, o último, lançado em 1987, chamava-se "Repentance". "The Wishing Tree" baseava-se num conto contado por Georgi Leonidze, e ganhou vários prémios, incluindo o David Donatello Prize para melhor filme estrangeiro, prémio equivalente aos Óscares em Itália. 
Neste filme de Abuladze a poesia e o testemunho são partes da mesma corrente. A morte abre e fecha o filme, mas este é abundante em vida. 
Legendas em inglês.
Filme escolhido pelo Tiago de Cena.

Link
Imdb

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

As Lágrimas do Tigre Negro (Fah Talai Jone) 2000


Dum (Chartchai Ngamsan) era um brilhante estudante universitário com um futuro ainda mais brilhante pela frente. Depois do seu pai ser brutalmente assassinado resolve unir forças com o senhor do crime Fai (Sombat Metanee), trocando os estudos académicos por uma vida de criminoso. Agora é conhecido como Black Tiger, o criminoso mais conhecido do gang de Fai. Ainda assim está apaixonado pela sua namorada de infância Rumpoey (Stella Malucchi), e quer casar com ela, mas as coisas complicam-se quando ela se envolve com um polícia ambicioso (Arawat Ruangvuth) que quer acabar com o reino de terror de Fai.
Duas coisas sobressaem logo neste filme: as cores, numa mistura peculiar de rosas brilhantes e verdes opacos. A segunda é a música, numa mistura de sons ocidentais, clássicos familiares, e canções tradicionais tailandesas que remontam aos anos cinquenta. Estes dois factores dão o tom ao filme, e seguem até ao final dando uma sensação um tanto surrealista.
"Tears of the Black Tiger" marca o regresso do realizador/ argumentista Wisit Sasanatieng aos "anos heróicos do cinema de género tailandês". Um dos primeiros filmes deste país a ser aceite em Cannes, funciona tanto como uma homenagem como uma paródia, paródia de filmes heróicos que foram também eles, paródias inconscientes da época dourada de Hollywood. Humoristicamente mergulhando nos westerns kitsch dos anos 30 e 40, com umas colheradas de melodrama e romance, com um tempero dos filmes de gangsters, é um filme muito conseguido tecnicamente, e bastante equilibrado.
Muitas das imagens do filme de Sasanatieng são influenciadas por westerns, spaghetti e outros, mas as convulsões da sua narrativa talvez devam mais aos filmes chineses de artes marciais, que aos épicos de John Ford e Sérgio Leone. 
Legendas em Inglês.
Filme escolhido pelo Pedro Soares.

Link
Imdb

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O Grande Mestre dos Lutadores (Zui Quan) 1978

O pai de Wong Fei-hong tem tentado ensinar-lhe a difícil arte do Kung-Fu, mas o filho é desobediente demais para ser ensinado, e o pai vê-se obrigado a enviá-lo para o seu tio, um mestre cruel e tortuoso dos 8-Drunken Genii kung-fu. Depois de muito sofrimento o filho volta para resgatar o pai de um cruel assassino.
"Drunken Master" é um filme lendário para o reino das artes marciais por três razões: primeiro porque marcaria o tom para quase todos os filmes de Jackie Chan. Os filmes que lhe seguiriam fundiam estilos como a comédia slapstick e as artes marciais, muito bem filmadas e coreografadas como uma forma de arte visual. A segunda razão é que seria dirigido pelo futuro mestre das artes marciais Yuen Woo-ping, talvez o maior coreógrafo de kung-fu de todos os tempos, embora tivesse estreado em segundo lugar. Por último, porque é um óptimo filme de entretenimento. 
Não há muita história, excepto para mostrar algumas aventuras dos primeiros tempos do herói folclórico chinês Wong Fei Hung, antes de se tornar numa figura histórica. Como descrito no filme, Wong é um jovem travesso sempre metido em sarilhos, e apesar das suas habilidades serem impressionantes continua a lutar com lutadores que o superam. Agora, sob a tutela de um velho mestre, aprende um novo estilo de luta que mais tarde irá empregar para salvar o seu pai.
Jackie Chan está maravilhoso, mostrando claramente que estava destinado a ser um herói de acção no futuro, embora se pergunte porque levou tanto tempo a ser uma estrela fora do seu país. Ao contrário dos seus pares, que também são impressionantes em termos de habilidades físicas, Chan trazia uma nova dimensão ás suas personagens que o diferenciavam dos demais. 
Filme escolhido pelo Sérgio Renato.

Link
Imdb

domingo, 2 de dezembro de 2018

Sinédoque, Nova Iorque (Synecdoche, New York) 2008

Caden Cotard, encenador de teatro, está a trabalhar numa nova peça - mas tudo parece retirar-lhe a atenção. A mulher deixou-o e foi viver para Berlim, onde continua a pintar, e levou com ela a filha de ambos. Madeleine, a sua psiquiatra, está mais preocupada com a promoção do seu novo livro do que ouvi-lo. E a relação que tem com a jovem Hazel também não vai de vento em popa. E, para piorar tudo, sente-se doente com uma misteriosa doença que ataca o seu sistema nervoso. Aterrorizado perante a ideia da sua própria morte, Caden decide deitar tudo para trás das costas e, aspirando criar uma obra de uma integridade absoluta, reúne um grupo de actores em Nova Iorque...
Quando se trata de correr riscos, Charlie Kaufman é um mestre. No seu filme de estreia como realizador, explora a jornada que leva à morte, de certa forma comicamente, juntando alguns pedaços de obscuridade, bizarro, e alguns flashes de brilhantismo. Kaufman cria uma realidade alternativa, uma realidade tão elaborada e intencional como qualquer bom filme de fantasia, ainda que fundamentada, detalhada e reconhecível como a vida como a conhecemos. As fantasias cinematográficas de Kaufman não são convencionalmente povoadas por extraterrestes, hobbits, criaturas pré-históricas ou coisas semelhantes, mas sim, vêm de dentro do cérebro e geram personagens que se parecem como nós.Eles são doppelgängers assombrados, ou as visões que por vezes captamos nos cantos dos nossos espelhos, imagens das pessoas que poderíamos ser, e não de quem somos. Em comparação com os seus outros trabalhos, podemos dizer que é o filme mais onírico em que Kaufman já se viu envolvido. Os outros são contos de ocorrências extraordinárias em mundos realistas. 
"Synecdoche, New York" destaca-se também pela interpretação de Philip Seymour Hofffman, na frente de um grande elenco.
Filme escolhido pelo Bruno Costa.

Link
Imdb