domingo, 9 de setembro de 2018

O Salão de Música (Jalsaghar) 1958

O último representante de uma alta casta insiste em manter o padrão de vida dos seus antepassados, mesmo vivendo numa situação cada vez mais difícil. Uma das coisas da qual não abre mão é a enorme sala de música da sua mansão. O seu amor à música e os seus actos acabam por levar a sua família à ruína. Narra a decadência de um nobre (Roy) que representa a tradição e diante da subida do "status" seu vizinho, um prestador de serviços, convertido rapidamente num novo rico.
Para um realizador que já havia professado por várias vezes que a música era o seu primeiro amor, não seria de surpreender que o indiano Satyajit Ray tenha escolhido a música como tema obrigatório do seu terceiro filme, "Jalsaghar". Ray, que começou na publicidade antes de se dedicar à produção cinematográfica, já se tinha destacado com os seus dois primeiros filmes, a produção independente "Pather Panchali" (1955), e a sua sequela, "Aparajito" (1956), dois filmes que foram largamente aclamados, dois retratos da vida real que ganharam prémios em festivais internacionais, e ajudaram a redefinir o cinema indiano para o resto do mundo. No entanto, "Aparajito" tinha sido um fracasso comercial no país natal de Ray, e na busca de um tema que pudesse ter um maior apelo comercial, foi atraído por um conto muito adorado de 1937, da autoria de Tarashankar Banerjee, sobre o declínio de um Rajá no inicio do século 20, cujo amor pela música foi a sua queda. 
Ray e Banerjee tinham muito em comum: ambos eram naturais da região Oeste de Bengala, na Índia, e ambos concentravam o seu trabalho principalmente na vida das aldeias. Embora este filme fosse uma partida para ambos os artistas, trouxeram à história uma voz caracteristicamente humana e empática, principalmente transformando o que poderia ser uma simples condenação da aristocracia míope num retrato complexo e comovente do fracasso humano. Ray já se tinha estabelecido como um realizador indiano único, cujos dramas calmos e discretos eram o oposto aos típicos melodramas de Bollywood, e com este filme ele definiu a sua arte ao reimaginar o tradicional universo musical indiano. 
Filme escolhido pelo Carlos Natálio.

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