segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Cães Danados (Reservoir Dogs) 1992

Cinco estranhos juntam-se para o que pensavam ser o crime perfeito, no entanto, quando este assalto não corre como esperado, Mr. Pink, Mr. White, Mr. Blue, Mr. Orange e Mr. Blonde começam a duvidar uns dos outros e tentam descobrir qual dos cinco é, na verdade, um informador da polícia.
"Reservoir Dogs" é a longa-metragem de estreia extremamente confiante do realizador e argumentista Quentin Tarantino, e, assim como o seu sucessor, "Pulp Fiction" (não veremos neste ciclo), gerou um tipo de hype difícil de explicar, mas que continua tão chocante, perversamente engraçado e estiloso como na altura da estreia, quase 30 anos depois. Ganhou a reputação de ser um filme violento mas a sua visualização revela uma verdade diferente. 
A história é a do assalto que corre mal, que não era nenhuma novidade no mundo do cinema, mas este caso era diferente. Não vemos o roubo, vemos a evolução, Joe a reunir a equipa, a dar-lhes nomes disfarçados, cada tem o nome de uma cor. E depois vemos as consequências, depois de tudo dar errado, mas não vemos o assalto em si. O talento de Tarantino para o diálogo é o que catapulta o filme para o clássico instantâneo. Faz-se rodear de um elenco fantástico: Harvey Keitel, Tim Roth, Michael Madsen, Steve Buscemi, Chris Penn, Lawrence Tierney, ele próprio, e deixa-os falar. Tipos normais a terem conversas normais, mas eles não têm nada de normal, são assassinos que costumam atirar primeiro e perguntar depois, o que ainda torna o filme mais interessante.
Estreou no festival de Sundance de 1992, logo no início do ano. Durante esse ano precorreu inúmeros festivais, tendo finalmente estreado nas salas americanas em Outubro. A Portugal só chegaria em Maio do ano seguinte, e ao Brasil em Junho.

domingo, 29 de novembro de 2020

El Mariachi (El Mariachi) 1992

Um jovem que ganha a vida a actuar aqui e ali chega a uma povoação da fronteira mexicana ao mesmo tempo que um perigoso assassino, cuja missão é matar o homem mais poderoso das redondezas. Ambos correspondem à mesmo descrição: fato negro e estojo de guitarra na mão. As semelhanças entre os dois homens vão confundir os guarda-costas da vítima. Sem querer, o Mariachi vê-se encurralado entre dois fogos.
Com 20 e poucos anos, acabado de sair da universidade, o texano Roberto Rodriguez começou a produção deste filme, com um orçamento de $7000, e uma enorme vontade de fazer a sua primeira obra, para colocá-la a circular pelos festivais. E tal como "Slacker", de Richard Linklater, este filme também era originário da cidade de Austin, que assim, cada vez mais, se tornava na cidade dos filmes de "low , budget", apesar deste ter sido filmado no México.
O filme de Rodriguez tem uma narrativa mais tradicional, com o esquema de identidade trocada com muitas perseguições e derramamento de sangue. Rodriguez conhece as convenções do género - o homem inocente envolvido em eventos para além do seu controle, o frio assassino e o senhor do crime sedento de sangue - e usa tudo para um efeito total. Embora a história possa parecer comum para o género, Rodriguez produziu, escreveu, filmou e editou tudo sozinho, com um humor único e muito directo, que se tivesse sido feito de outra forma podia ter passado por despercebido. 
Não passou por despercebido pelos festivais, tendo ganho o prémio da audiência em Deauville e Sundance, além do prémio de melhor primeira obra nos Film Independent Movie Awards.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Utopia Festival

No ano passado fui convidado para fazer parte da programação do Festival Utopia, e aceitei com todo o agrado. O Utopia é um festival criado para divulgar o cinema em língua portuguesa e costuma ser realizado em Londres, mas este ano por causa da pandemia vai ser realizado online. 
Todo realizado online, e com sessões gratuitas, por isso conto convosco. 
- 8 longas metragens
- 33 curtas metragens
- 12 conversas

Podem encontrar todos os detalhes no site do festival: aqui.
E aqui em baixo podem ver o trailer. Até já.
Vou parar os posts durante o festival.

Veneno (Poison) 1991

Em "Herói", Richie tem sete anos, mata o pai e desaparece no mundo. Depois do acontecimento, um documentário pastiche com cores esquisitas questiona quais teriam sido as motivações do rapaz para cometer o crime. "Horror", filmado a preto e branco, é a história de um cientista que isola o elixir da sexualidade humana e, quando testa a invenção em si próprio, transforma-se num inflamado assassino. Uma colega sua tenta salvá-lo, mesmo sob risco de vida. "Homo" mostra a atração de um preso na prisão Fontenal por um homem, outro detido, que ele tinha conhecido na juventude, num reformatório.
"Veneno" foi a primeira longa-metragem de mais um realizador, Todd Haynes, seguindo a estética de um video doméstico de baixo orçamento da sua famosa curta: "Superstar: The Karen Carpenter Story". Nesta estreia Haynes emprega uma infinidade de estilos cinematográficos e pontos de referência para contar três histórias de abusos, doença, sexualidade e ostracização. Em vez de contar cada história separadamente avança com cada uma delas para um climax irremediavelmente violento, com cada uma das histórias a ser contada num estilo diferente. 
Foi um dos filmes independentes que maior burburinho fez no inicio dos anos 90. Percorreu vários festivais como  Sundance (ganhou o principal prémio), Berlim (best Feature Film), Fantasporto (prémio da crítica), Sitges (premio especial do Júri).

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Slacker (Slacker) 1990

O filme retrata um dia na vida de diferentes jovens (maioritariamente) que vivem na cidade de Austin, no Texas e que se sentem maioritariamente deslocados da cidade e da sociedade em que vivem. Vive-se um clima de revolta e apatia, sentimentos típicos dos adolescentes dos anos 90, revoltados com o contexto em que estão inseridos.
"Slacker generation" é uma expressão inglesa utilizada para definir uma geração muito preguiçosa e relaxada. É uma variação do termo Geração X, muito usado na década de 1990, que designava uma geração marcada pela apatia. "Slacker" também foi um dos filmes que ajudou a colocar no mapa o cinema independente americano, entre finais dos anos 80 e inicio dos anos 90, realizado por um novato Richard Linklater, em estreia quase absoluta, e à frente de um elenco onde pontuava ele próprio e um grupo de actores maioritariamente amadores.
O filme é essencialmente uma série de vinhetas interligadas, evita a dramaturgia tradicional para se concentrar na interacção dos personagens e na exploração da visão que estes têm do mundo. Apesar da atenção do realizador aos detalhes, não está interessado em fazer um simples melodrama carregado, mas de fazer um filme profundamente filosófico que vai buscar a sua narrativa estrutural a clássicos como "La Ronde", de Max Ophuls. 


domingo, 15 de novembro de 2020

Metropolitan (Metropolitan) 1990

Um estudante radical é adoptado por um grupo de jovens nova-iorquinos e altera os seus egos e as suas vidas. Num apartamento sofisticado de Manhattan, o grupo de amigos discute mobilidade social e socialismo e joga cartas - até que um homem se junta a eles com opiniões críticas sobre o modo de vida dos ricos.
Whit Stillman foi uma voz distinta na cena do cinema independente americano no início dos anos 90, com as suas alusões ás comédias de Jane Austen e Oscar Wilde, assumindo uma dimensão fascinante à luz dos seus cenários e sensibilidades modernas. Como muitos outros realizadores independentes emergentes na época, ele tendia a concentra-se nos jovens e nos seus diálogos, mas os seus personagens não eram preguiçosos como os de Kevin Smith ou Richard Linklater, mas sim jovens bem sucedidos à beira da idade adulta, com todas as suas neuroses. 
A sua sensibilidade é mais bem demonstrada no filme de estreia, "Metropolitan", que foi feito com um orçamento de apenas 200 mil dólares, e filmado em Super 16 mm.  Os personagens são todos caloiros da faculdade de Manhathan, da "alta burguesia urbana", como diz um personagem mais letrado do filme. A acção passa-se ao longo de um período de algumas semanas conhecido como "debutante season", onde os adolescentes se vestem noite após noite com smokings, e participam em danças e encontros formais, embora nunca vejamos nenhum desses encontros. Em vez disso, Stillman concentra-se no antes e depois das festas, o que lhe permite a uma janela mais focada no seu mundo.
O diálogo é bastante alfabetizado e erudito. Na verdade é tão inteligente, e obviamente planeado que dificilmente acreditaríamos que, embora fossem da classe alta, falariam assin. No entanto, isso nunca diminui o realismo como seres humanos tridimensionais porque o ritmo e a cadência das suas palavras e discussões ganham vida própria que transcende a simples verossimilhança .

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Viagem pelo Cinema Indie dos anos 90

 O cinema independente existe desde que o cinema existe, essencialmente é qualquer filme sem o apoio dos grandes estúdios, o que inclui desde a rebelião dos filmes de Charles Chaplin contra o sistema até aos filmes dos anos 70 de blaxploitation. 
Mas embora tenha existido "indies" desde que Thomas Edison monopolizou a tecnologia cinematográfica, o movimento ficou indiscutivelmente mais conhecido nos anos noventa do século passado, quando sucessos como "Sex, Lies, & Videotape" ou "Pulp Fiction" tornaram os seus realizadores nomes conhecidos e influentes. Eram filmes criativos e desafiadores, e alcançaram o público mais convencional, arrecadando dezenas de milhões de dólares, o que levou os estúdios mais poderosos a atraírem outras empresas de cinema independente. 
A década de 90 foi uma década de ouro para o cinema independente na América, uma verdadeira ressurreição dos ideais dos anos 60 e 70. De repente, os geeks do cinema criados como cinéfilos, pegavam numa pequena câmara e com um orçamento minúsculo faziam filmes únicos. Alguns eram cómicos, outros totalmente estranhos, outros obscenos, mas todos partilhavam uma coisa: o bom gosto pelo cinema.
Nos próximos dias, vamos fazer uma viagem pelos meandros deste cinema. Espero que gostem.


PS: tenho andado muito ocupado com uma coisa, que vão saber muito em breve, mas sempre que consiga venho cá postar um filme. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

11.25: The Day He Chose His Own Fate (11·25 jiketsu no hi: Mishima Yukio to wakamono-tachi) 2012

Em 25 de Novembro de 1970 um homem cometeu um ritual suicida dentro da sede do Ministério do Ministério de Defesa do Japão, em Tóquio, deixando um legado de obras primas e uma polémica que fervilha até aos dias de hoje. O homem era Yukio Mishima, um dos maiores e mais famosos romancistas japoneses. Com quatro membros do seu próprio exército particular - o Tatenokai - Mishima tomou o comandante como refém, e convocou os militares reunidos fora do exército para derrubar a sua sociedade e restaurar os poderes do Imperador. 
No Japão, este filme está posicionado como a última parte da "trilogia Showa" de Kôjo Wakamatsu, sendo "Showa" o nome da época coberta pelo reinado de Hirohito (1936 - 1989) e conta a história de Mishima no contexto do tumultuoso "Showa 40s". Tal como "United Red Army" e "Caterpillar", os dois episódios anteriores, Wakamatsu polvinha a sua obra com várias imagens de jornais sobre incidentes principalmente políticos que levaram ao seu climax, que neste caso significaram manifestações violentas no interior de Tóquio contra os Estados Unidos. 
Outro filme ainda mais conhecido sobre Mishima é "Mishima - a Life in Four Chapters", de 1985, realizado por Paul Schrader, e interpretado pelo falecido Ken Ogata, um actor de primeira classe que o Japão conheceu. E para os curiosos sobre o fanatismo japonês devem ver o documentário "Yasukini", de 2007, realizado por Li Ying.
Legendas em inglês.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O Bom Soldado (Kyatapirâ) 2010

1940. Durante a guerra Sino-Japonesa, o Tenente Kurokawa regressa a casa com o prestígio de um soldado condecorado. Sem braços nem pernas, sobrevive com as duras marcas das batalhas travadas em território chinês. Na sua aldeia, os moradores têm esperança que Shigeko, a mulher daquele Tenente, honre o Imperador e a Pátria ao tornar-se um exemplo para todos, cumprindo o seu dever de cuidar daquele «bom soldado»
Escrito por Hisako Kurosawa e Masao Adachi, que voltava a passar trabalhar com Wakamatsu passados vários anos, seria um dos últimos filmes do realizador. Estética, emocional e intelectualmente rude, e brutalmente eficaz, vamos encontrar o lendário realizador marginalizado a fazer pontos óbvios sobre o nacionalismo / militarismo e outros menos óbvios sobre a dinâmica sexual do casamento. Naturalmente, os dois estão intimamente ligados. Wakamatsu aproveita a maior parte da premissa do clássico romance de Dalton Trumbo, "Johnny Got his Gun", e coloca-se ao lado do soldado em casa no contexto de uma pequena localidade afectada pelo patriotismo do tempo da guerra, e concentra a sua atenção na esposa do veterano, dividida entre um senso doutrinado de dever e o crescente senso do absurdo da sua situação.
O filme assumo uma postura anti-guerra clara e dura, com avisos explícitos, imagens cheias de brutalidade, e a questão sobre o significado da guerra e o que ela resultará, ficando completo com imagens de arquivo de documentários sobre a guerra.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Exército Vermelho Unido (Jitsuroku Rengo Sekigun: Asama sanso e no michi) 2007

Em 1972, 14 membros do Exército Vermelho Unido foram executados, durante sessões de “autocrítica”, em treino nas montanhas. Este filme debate a radicalização das universidades nipónicas nos anos 1960, simultânea a eventos marcantes: o assassinato de Martin Luther King, a invasão da Checoslováquia por tropas do Pacto de Varsóvia ou o Maio 68 em França. 
"Koji Wakamatsu passou parte substancial da carreira a fazer "pink films", esse peculiar género erótico do cinema japonês que, como todos os géneros, era essencialmente um "invólucro". A caixa de DVDs com cinco filmes de Wakamatsu recentemente editada deixa ver bem a quantidade de coisas que o realizador levava para dentro do "invólucro" do "pink film": uma relação (política) com o Japão que lhe era contemporâneo, uma proximidade com os movimentos contestatários mais radicais (e frequentemente violentos) dessas décadas de 60 e 70. A bem dizer, a proximidade de Wakamatsu com esses movimentos transcendeu o cinema - acreditou neles, participou, advogou a "luta armada", e meteu-se nos sarilhos correspondentes (por causa de um filme de propaganda palestiniana está ainda hoje proibido de entrar em solo americano). 
Não é fundamental, mas é importante saber deste "background" a propósito de "Exército Vermelho Unido", porque a raiz do filme é eminentemente pessoal. Wakamatsu, que hoje (com 75 anos) renega a violência e acredita que a maneira correcta de tentar mudar o mundo é "pela via eleitoral" (disse-o em entrevista recente), fê-lo para acertar contas com o seu passado e com a sua geração. Pegou na história do Exército Vermelho Unido, um dos vários grupos e grupúsculos que na viragem dos anos 60 para os 70 se dedicaram a operações de "terrorismo urbano" no Japão, e um grupo que ele terá conhecido razoavelmente bem. E dissecou, com toda a frieza, os momentos capitais dessa história. "Exército Vermelho Unido" é uma espécie de falso filme épico, num movimento que vai do empolgamento ao desaparecimento e à dissolução. Começa como se fosse uma enciclopédia: com uma montagem vivíssima que alterna imagens de arquivo, reconstituições contemporâneas e legendas informativas, Wakamatsu traça uma cronologia dos movimentos de contestação japoneses, da relativamente inofensiva agitação estudantil nas universidades à formação de grupos prontos para a "luta armada" - há aqui um lado exaustivo e, digamos, "documental", que é imediatamente poderoso, e pensamos, por exemplo, nalgumas coisas do melhor Scorsese, aquela capacidade de contar uma história a duzentos a hora ("Goodfellas", "Casino") a partir duma aparentemente simples acumulação factual. 
Depois, Wakamatsu isola um alvo, o Exército Vermelho Unido, e o filme transforma-se numa crudelíssima análise psicológica da mentalidade "revolucionária". Parte de um episódio real, uma reunião do grupo num "chalet" algures na província japonesa em 1972 uma reunião em que o grupo praticamente se auto-destruiu a golpes de auto-crítica e purificação ideológica, deixando para trás uma pilha de cadáveres. Wakamatsu não salva ninguém - a não ser, e mesmo que por breves instantes, as mulheres, como já acontecia nos seus "pink films" - desse teatro intimista e absurdo, visão absolutamente "des-romantizada" do "esquerdismo radical", onde o idealismo deu lugar uma burocracia fanatizada (a terminologia empregue nos diálogos é importante) e os traços de carácter do "ser japonês" (a "dificuldade em desobedecer", como Wakamatsu mencionou) aceleram a desgraçam. Mas não só isso: todos aqueles temas clássicos do cinema japonês e da cultura japonês (o sacrifício, a honra) aparecem à tona, como se o "vermelho" fosse uma mera tonalidade que vem cobrir um atavismo trágico sem verdadeiramente o alterar (e isto é, no fim de contas, o mais desesperante e o mais desesperado). 
Ajustadas contas com o passado "revolucionário", Wakamatsu pensou que era injusto ficar-se pela sua geração. E passou a "O Bom Soldado", onde os alvos são a geração que fez a II Guerra.e, politicamente, o fascismo. É a história de um "herói de guerra" que depois de várias "proezas" durante a invasão da China volta a casa transformado num "homem-lagarta" ("Caterpillar" é o título inglês do filme) - apenas cabeça e tronco, os braços e as pernas ficaram algures em terra chinesa. Volta a casa para a mulher (para horror, piedade e nojo dela, tudo ao mesmo tempo), e ambos seguem o curso da II Guerra Mundial de longe, pelas notícias e comunicados radiofónicos. Ainda o "documento": as imagens e os sons de arquivo, os planos que enquadram as fotografias do Imperador Hirohito na sala do casal. E ainda uma medida de absurdo, evidentemente, na observação do fanatismo ideológico ("os Deuses da Guerra"), da parafernália militarista (as medalhas do homem-lagarta), das reverenciais submissão e obediência - em vários graus, incluindo a relação marido/mulher (a condição feminina, enfim, tema clássico e perene do cinema japonês), e o único olhar minimamente condoído é para ela, não para ele, o "herói de guerra" reduzido a uma animalidade rastejante (come, bebe, urina, tem sexo, rasteja - e é tudo). Quando se ouve pela rádio o discurso da rendição japonesa proferido pelo imperador, desfaz-se tudo o que ainda pudesse fazer sentido. Wakamatsu passa à contabilidade - o número de mortos de Hiroxima, dos bombardeamentos de Tóquio, o número de japoneses que morreram na guerra. O filme acaba assim, com números. E num par de filmes, duas gerações devastadas."
Este excelente texto é do Luis Miguel Oliveira. Legendas em inglês.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Perfect Education 6 (Kanzen-naru Shiiku: Akai Satsui) 2004

 Um gigôlo kabukicho, com dívidas de jogo, Mikio Osawa, concorda em matar o marido de uma esposa rica em troca de um monte de dinheiro, mas o golpe corre mal. Em fuga pelas montanhas cobertas de neve do Norte do Japão, esconde-se numa casa aparentemente vazia. Mas a casa não está vazia, mora lá Mika, uma jovem tímida e traumatizada, escravizada por um camionista doente e mal-humorado, que a mantém presa desde muito nova. Os três vão construir uma relação monstruosa. 
"Perfect Education", ou "Kanzen-Naru Shiiku", foi uma série que se iniciou em 1999, com um filme de Ben Wada, e que este ano de 2020 teve o seu nono epísódio. Uma série muito pouco conhecida, mas que conseguiu algum sucesso internamente. O sexto episódio é o que tem realização de um nome de maior peso, Kôji Wakamatsu, e reinventa um pouco mais uma série que estava condenada. Boa velocidade, montagem e interpretações. 
Legendas em inglês.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Endless Waltz (Endoresu Warutsu) 1995

Um biopic sobre o saxofonista de jazz Kaoru Abe (Ko Machida) e a sua esposa, a famosa escritora Izumi Suzuki (Reona Hirota). Uma espécie de Sid & Nancy para o Free Jazz, começa com Suzuki a marcar o número errado e a falar com Abe. Em vez de desligar ele convida-a para sair, e depressa estão a morar juntos. Sexo, drogas e Ornette Coleman aparecem em destaque na fase inicial da sua relação, e depressa percebem que são almas gémeas. 
Abe é um artista românico, mas também um homem egocêntrico e auto-destrutivo, sujeito a ataques de raiva e ataques epiléticos. Por sua vez Izumi é apresentada pela primeira vez como uma jovem hippie de mente livre, mas conforme a relação com Abe se aprofunda no casamento, e depois na maternidade, Izumi revela ter uma vontade de aço e um pragmatismo, recusando-se a ser a musa de Abe. Esta relação tempestuosa torna-se cada vez mais destrutiva.
Kôji Wakamatsu a passar do território do micro-budget da era do pinku para o que se pode considerar um bastante convencional filme biográfico. Embora haja algum sexo, não é o fulcro central como acontecia nos filmes pinku, e embora também se encontre alguns floreios estilísticos a experiência visual que era um seu filme também está ausente. Wakamatsu tem de lutar com as armadilhas da cinebiografia do jazz - reverência, romantização ou condenação normativa - em qual, qualquer das quais seria difícil caír, dada a vida de vício de Abe. 
Legendas em inglês.

Brevemente:


Cinema Independente Americano dos Anos 90

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Les Liaisons Erotiques (Erotikkuna Kankei) 1992

Passado em Paris, o enredo diz respeito a uma discreta agência de detectives particulares dirigida por Rie e o seu parceiro Kishin, que vão resolvendo casos enquanto também fazem visitas guiadas pela cidade. Quando o rico Okuyama (Takeshi Kitano) os contrata para seguirem a sua amante francesa Loren, que ele acredita ter outro caso, Kishin vê-se seduzido por essa "femme fatale" e sai das profundezas de um submundo sórdido de ricos empresários japoneses, jogo e montes de dinheiro. Enquanto isso Okuyama vai-se aproximando de Rie.
Kôji Wakamatsu, o grande mestre do Pinku, no inicio da década de noventa, estava a terminar uma série de projectos mais comerciais, bem longe da rebeldia dos anos 60 e 70. "Liaisons Erotiques" não tinha nada de erótico, apesar do nome. Funcionava como um filme-veículo para a jovem Rie Miyazawa, uma jovem de 18 anos que tomou os mídia como um relâmpago. Meio holandesa, meio japonesa, estreou numa série de comerciais de TV quando tinha apenas 11 anos, iniciando uma carreira de modelo infantil. 
Takeshi Kitano deu uma ajuda no elenco, numa altura em que se iniciava na realização.
Legendas em inglês.