terça-feira, 29 de junho de 2021

Êxtase (Ekstase) 1933

Realizado na Checoslováquia em 1933, "Ecstasy" é um filme sobre a frustração sexual e o esforço de uma mulher para ultrapassá-lo. A protagonista, Eva, casou-se com um homem mais velho. Pouco depois de casar, Eva descobre que o marido é obcecado com a ordem na sua vida, e é impotente. Desanimada e infeliz pede o divórcio, e volta para casa dos pais. Um dia quando nada nua num lago é vista por um jovem que se apresenta, e os dois vão se apaixonar.
"Ecstasy" foi anunciado com o seguinte slogan: "O filme mais falado no mundo", um rótulo que ganhou por causa de duas sequências: uma em que a protagonista nada nua num lago, e outra em que a câmara se fecha no rosto de Eva no momento que parece ser o instante do climax sexual. Por estas duas sequências o filme estava condenado desde a sua estreia. A estrela, creditada como Hedy Kiesler, antes de mudar o seu nome em Hollywood para Hedy Lamarr, casou-se com um milionário austríaco logo depois de terninar as rodagens, que tentou comprar todas as cópias do filme para impedir a sua circulação, embora sem sucesso.
 Em 1934 Mussolini violou a lei da censura para que o filme fosse mostrado no festival de Veneza, mas o Vaticano levantou objecções. Com o filme a ser muito falado pelo mundo fora, o distribuidor americano Samuel Cummins tentou importar o filme para os Estados Unidos, mas falhou quando os agentes da Alfândega o aprenderam de acordo com a Lei de Tarifas de 1930, que permitia a apreensão de qualquer material importado considerado obsceno, enquanto se aguarda uma decisão judicial. Foi a primeira vez que as leis aduaneiras foram usadas para impedir que um filme entrasse nos Estados Unidos. Só uma segunda versão foi aprovada, e o filme acabaria por estrear finalmente em Abril de 1936 em território americano. 

sábado, 26 de junho de 2021

A Mulher que Nos Perde (Baby Face) 1933

 "Baby Face" debruça-se sobre a forma como uma jovem ambiciosa de uma pequena cidade usa o seu poder sexual para manipular os homens, enquanto se muda de uma bar clandestino da era da Lei Seca para uma vida de luxo na cidade de Nova Iorque. Lily Powers, interpretada por Barbara Stanwyck, quer mais da vida do que receberá da vida a trabalhar num bar clandestino, e quando o seu pai morre depois da explosão de um navio ilegal, ela muda-se para a cidade com Chico, um jovem afro-americano que trabalha para ela como empregado doméstico. Lily procura trabalho num banco, apesar da sua aparente falta de educação e habilidade para os negócios, mas vai usar a sua atratividade física para convencer o gerente pessoal do banco a abordar o seu chefe, e uma vez contratada começa a usar os seus ativos físicos para subir na hierarquia do banco, enquanto vai conhecendo homens cada vez mais poderosos.  
Esta comprida sinopse diz tudo sobre os problemas que este filme teria em plena década de 30 do século XX. Foi um dos filmes que quando foi criado o PCA levou com a classificação de nível 1, e foi condenado a nunca mais ser exibido. E tal como o filme anterior deste ciclo, só voltaria ser visto já nos anos 80 do século XX, quando teve lançamento em VHS. A objecção principal ao filme é que glorificava o vício em diversas ocasiões. No argumento original, o pai de Lily, o dono do bar clandestino, forçava-a a dançar em festas exclusivamente masculinas, a ter relações sexuais com vários homens que podiam beneficiá-lo e a dançar quase nua pelo dinheiro que os clientes clandestinos estavam dispostos a pagar. Quando ela foge para a cidade começa uma série de casos com diversos homens para subir na vida, inclusive como amante do dono de um banco. 
Com um argumento tão imoral não era difícil de adivinhar os problemas que o filme viria a ter. Darryl Zanuck, o chefe de produção da Warner Bros. foi avisado que teria de minimizar o "elemento do sexo" e punir Lily, fazendo-a perder o dinheiro e o marido, que ela amava, e que o argumento não seria aceita se a Warner não reforçasse os valores morais do filme. Zanuck também foi instruído a retirar várias falas do filme consideradas "questionáveis", e a diminuir as sugestões de que o pai de Lily a tinha obrigado a prostituir-se e que ela usava o sexo para abrir caminho em Nova Iorque. Durante a rodagem do filme Zanuck desentendeu-se com Jack Warner, deixando a Warner Bros (a seguir fundaria a 20th Century Fox), e o novo responsável pelo filme passaria a ser Hal Wallis. Depois da MPPDA ter aprovado os vários cortes do argumento, continuava a não ser aprovada a versão final, e Wallis teve de cortar ainda mais algumas cenas. Mesmo com todas as mudanças e aprovações o filme continuo a ser um alvo para a Catholic Legion of Decency (LOD), e como previsto, foi para a lista negra dos filmes norte americanos em 1934.

Imdb  

quinta-feira, 24 de junho de 2021

A Mulher dos Cabelos Vermelhos (Red-Headed Woman) 1932

A história de Lil, uma rapariga de origem pobre que anseia ser rica, mesmo a trabalhar como secretária. Para atingir o seu objectivo ela fará qualquer coisa ou machucará qualquer um, e o pior é que está habituada a conseguir o que quer. Também gosta de viver um pouco perigosamente, porque tem namorado e tenta ao máximo envolver-se com o seu chefe. 
A razão porque neste ciclo eu estou a focar-me mais em filmes do inicio da década de 30 é porque nesta altura houve uma série de obras que tentaram empurrar os limites do comportamento moral o máximo que os censores permitissem. Tanto puxaram que a corda partiu-se, e este foi um dos filmes que contribuiu para isso. Vários estúdios questionaram porque a MPPDA deu à MGM tanta margem de manobra para fazer este filme, e até mesmo Jason Joy o chefe da SRC cuja função era aprovar ou desaprovar um filme para a estreia, estava inseguro quanto ao efeito potencial do filme, embora o tenha aprovado. 
Depois do filme ser aprovado os jornais de Hollywood questionaram o seu julgamento, que a SRC andava a mostrar favoritismo em relação à MGM, permitindo-lhe uma maior latitude no conteúdo dos seus filmes, que não permitiam a outras produtoras. Como resultado, os outros estúdios esforçaram-se neste período para criar obras que capitalizassem o que eles consideravam o relaxamento temporário dos censores. Em vários estados, no entanto, não se viram as coisas deste modo, e a censura obrigou a que fossem cortadas várias cenas. 
O filme foi exibido para uma audiência substancial, até que foi criado o PCA, em 1934. "Read-Headed Woman" foi um dos 10 filmes que foram mais responsáveis por ter sido criado um código mais restrito, e que viria a dominar a indústria nos próximos anos. Aí este filme foi retirado de circulação dos cinemas americanos, e foi-lhe ordenado que nunca mais fosse exibido. Só voltaria a sê-lo muitos anos depois, em 1988, quando teve edição em VHS.

domingo, 20 de junho de 2021

Parada de Monstros (Freaks) 1932

A ideia base para este filme tem sido várias vezes atribuída ao actor alemão anão Harry Earles, que teve um papel significativo no filme de Tod Browning "The Unholy Three", e ao chefe de produção da MGM Irving Thalberg. Earles sugeriu que Browning adaptasse a história curta "Spurs" que conta a história de uma mulher gigante que casa com um anão rico para ficar com o seu dinheiro, mas afinal de contas ele irá acabar por aterrorizar a vida da mulher gigante. Numa versão alternativa da génese do filme, "Freaks" foi criado para capitalizar a onde de filmes de terror, como "Drácula" ou "Frankenstein". Thalberg queria um filme para Browning depois do sucesso de "Dracula", e tinha de ser algo ainda mais aterrorizante do que os dois filmes de sucesso do ano anterior, e o resultado foi ainda mais perturbador do que Thalberg pensava. O perfácio explicava aos espectadores a história social dos protagonistas, e como o medo e a paranoia das pessoas ditas "normais" resultaram na crueldade contra os protagonistas do filme. 
A propaganda ao filme foi marcada pelo conteúdo controverso, com taglines que diziam coisas como" "Será que uma mulher gigante realmente pode amar um anão?", "Será que os gémeos siameses fazem amor?", "De que sexo é o meio-homem meia-nulher?". O lançamento do filme foi marcado por muita controvérsia por causa do uso de pessoas deformadas e malformadas em vez de actores reais maquilhados. O elenco final apresentava o mais estranho casting jamais visto num filme, desde um homem sem membros que rola e acende um cigarro com os dentes, a um meio-homem, meio-mulher, entre tantos actores com defornações.
A polémica instalou-se logo durante as rodagens, quando um grupo de funcionários do filme se queixou porque estavam perturbados com as malformações do elenco, e queria o filme interrompido. Louis B. Meyer ficou furioso com Thalberg, como ele aprovou a produção do filme, e um grupo de executivos da MGM tentou convencê-lo a parar com o projecto. Mas Thalberg estava inflexível, e prometeu assumir as culpas se o filme desse para o torto. 
Tiveram de cortar 25 minutos para que  o filme pudesse estrear em Los Angeles, mas as receitas foram baixas, e a MGM retirou o filme passadas duas semanas de exibição. Num esforço de salvar o filme Browning filmou mais dois finais alternativos, incluindo um final feliz, que foi enviado para os outros estados americanos. A maioria dos estados proibiu o filme mesmo sem visualizá-lo, tal já era a má fama que tinha, e de certa forma marcava o fim da carreira do realizador em Hollywood. A partir da década de sessenta o filme foi reaproveitado, atingindo o estatuto de culto.


sexta-feira, 18 de junho de 2021

Scarface, o Homem da Cicatriz (Scarface) 1932

Um dos primeiros filmes sobre crime organizado, "Scarface" é baseado num livro escrito por Armitage Trail, mas o argumento, escrito pelo nativo de Chicago Ben Hecht, infusa os personagens com experiências de gangsters da vida real, como Al Capone, Deanie O´Banion, Johnny Torrio, e "Big Jim" Colosimo. O filme abre com um perfácio que clama que os acontecimentos são baseados em actividades da vida real mafiosa, e corrupção do governo. O perfácio desafio então os espectadores, perguntando o que eles vão fazer acerca disso. 
Os censores condenaram filmes como Scarface", que combinavam entretenimento e cometário social, porque, mesmo que os criminosos sofressem mortes violentas no final, porque, segundo eles, "ao longo do caminho criava-se sempre uma certa simpatia pelos criminosos, ou noutros casos, ensinava-se métodos do crime bem sucedidos a jovens influenciáveis". O mais perigo de uma série de filmes de gangsters do inicio da década de 30 tinha de ser este "Scarface", a quem Jason Joy, o chefe do SRC rejeitou a ideia inicial de fazer o filme ao produtor Howard Hughes, e que ele nem pensasse em fazê-lo sob nenhuma circunstância. Nesta altura os filmes de gangsters eram repugnantes, tanto para os censores como para o público, mas isso não fez Hughes mudar de idéias, e ordenou que Howard Hawks avançasse com o projecto. 
A primeira versão do filme era tudo o que Hughes queria, mas chumbou no SRC, como seria de esperar, por excesso de violência, e não só. Mostrava políticos e cidadãos comuns a socializar com gangsters, e depois a denunciá-los publicamente. Até a própria mãe do gangster principal tratava o filho com amor, e isso incomodava os censores. 
Muitas mudanças foram feitas para que o filme pudesse ser aprovado, e foi ordenado que ao título fosse acrescentado um sub-titulo, que seria "Shame of a Nation", para que não restassem dúvidas que o filme estava a acusar os gangsters e não a glorificá-los. Mesmo depois de todas as mudanças aprovadas, e o sub-titulo acrescentado, o filme ainda seria rejeitado por diversos censores locais, como em Nova Iorque, Virginia, Ohio, Kansas, Maryland. Ao todo viriam a ser feitas três versões do filme. 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

O Sinal da Cruz (The Sign of the Cross) 1932

 "O Sinal da Cruz" é adaptado de uma peça de Wilson Barrett, e apresenta uma perspectiva da perseguição do Imperador Nero aos cristãos. Cecil B. DeMille cria um espectáculo maciço no filme, contatando 4 mil extras e construindo um modelo de Roma em miniatura. Também ordenou a construção de um anfiteatro onde colocou dezenas de animais tirados de zoos locais. O cenário é o ano de 64 e Roma está a arder. Circulam rumores de que foi Nero que começou o fogo, mas ele pretende culpar os cristãos por toda esta devastação. 
Cecil B. DeMille tornou-se num dos mais famosos realizadores a escapar aos censores, e uma boa parte da sua fama veio deste filme, onde segundo ele "uma legião de seguidores da igreja podia sentir a sua libido estimulada desde que os pecadores fossem punidos no final por um anjo vingador". A mistura de pecado e sensação significou que os censores não apontaram algumas cenas que noutros filmes seriam apontadas, como por exemplo uma cena onde uma mulher nua é amarrada numa arena para ser violada por um gorila. Os censores estaduais eram menos premissivos, e foi este e uma série de outros filmes que levaram a que fosse criada a Catholic Legion of Decency (LOD), e levou a que a fosse criado o mais resstrito PCA.
Jason Joy, do SRC, aprovou o argumento com apenas algumas reservas, no entanto avisou que os censores locais poderiam ter outra visão sobre o filme. Depois de estreado, a Paramont recebeu uma série de cartas de grupos católicos a criticarem o filme, e depois de ter sido criado o PCA que reclassificava todos os filmes, "The Sign of the Cross" foi considerado dos mais ofensivos, e por isso, retirado da circulação. A cópia original foi seriamente cortada, mas foi recuperada recentemente pela UCLA Film and Television Archive.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

O Adeus às Armas (A Farewell to Arms) 1932

 Nesta adaptação do famoso livro de Ernest Hemingway, o Capitão Rinaldi, um cirurgião italiano, conta ao seu amigo Frederick Henry, um tenente no serviço de ambulâncias que está apaixonado por uma enfermeira, Catherine Barkley, e tenta juntar na sua ambulância a colega desta, Ferguson. No entanto, o noivo de Catherine morreu no exército depois de 8 anos de serviço, e ela está interessada em Henry. 
Membros do SRC há muito que estavam avisados contra este livro, que iria ser feito por um estúdio grande. Em 1930 foi reportado ao chefe do SRC que o livro continha profanidade, amor ilícito, nascimento ilegítimo, deserção do exército, e uma imagem não muito favorável de Itália durante a guerra. Em 1931 a Warner Bros fez uma tentativa de passar o livro para filme, mas os revisionistas avisaram que o livro era anti-italiano, e avisaram que se o filme fosse feito seria automaticamente banido em Itália, e noutros países, coisa que o estúdio não queria. Em contraste, a Paramont resolveu arriscar, e avançar com o filme. 
Apesar dos censores tentarem demover a produção do filme, ela avançou, e o filme foi gravado em apenas dois meses com um orçamento chorudo para a época, para satisfazer o apetito do público, que entretanto já tinha ouvido falar muito do filme. Tiveram de ser removidas algumas cenas já identificadas anteriormente, e o filme depois foi rejeitado pelo chefe do SRC, mas depois do final do filme ter sido substituído por aprovado pelo consulado italiano, e depois de ter sido aprovado por um júri de produtores de Hollywood, teve finalmente autorização para estrear. Mais tarde, quando foi colocado em funcionamento o Catholic Legion of Decency (LOD, que há falamos neste ciclo), o filme foi novamente banido, e colocado na lista negra da Igreja católica.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Até segunda

 Peço desculpa, mas não tenho tido o tempo que pretendia para actualizar o blog. Vou estar ausente até segunda, e enquanto isso aproveitem para dar uma vista de olhos num blog sobre o meu outro hobby, visitar e fotografar sitios abandonados. O One Thousand Abandoned Places
Também podem seguir-me no instagram, com o user frocha74. Até segunda. 

terça-feira, 8 de junho de 2021

A Vénus Loira (Blonde Venus) 1932

"Blonde Venus" foi um de uma série de filmes feitos que apareceram entre 1930 e 1933, que lidavam com assuntos como o divórcio, o adultério, a prostituição, e a promiscuidade. Muitos críticos viram estes filmes como reflexo das condições durante a Grande Depressão, que obrigavam as pessoas a tomar más decisões morais. Neste filme, no entanto, a personagem feminina principal comete adultério, mas faz com o objectivo de obter dinheiro para o pagamento de um tratamento de saúde ao marido. Ele a rejeitará quando fica a saber da atitude dela, sem querer saber das razões.
A controvérsia começou logo no primeiro argumento, quando o chefe da Paramont rejeitou o argumento original, escrito por Josef Von Sternberg, considerando-o "muito crú", ordenando uma nova versão que fosse mais aceitável. Nesta primeira versão do argumento, a personagem de Marlene Dietrich termina a carreira de bailarina e volta para o marido, que a perdoa do adultério. O MPPDA encarregue de fazer a revisão do argumento rejeitou-o porque segundo ele "nas mentes do público iria destruir o caracter do marido, até então um homem decente que tinha sido enganado pela sua esposa. A segunda versão, escrita em grande parte pelo chefe da Paramont, mostrava Helen sozinha no final, removendo a possibilidade de "compensar os valores morais". Só uma terceira versão, que seria uma mistura das duas primeiras, seria finalmente aprovada pelos censores.
O filme move a personagem de Dietrich para cima e para baixo na escada socioeconómica. Começa como uma cantora de um cabaret em Berlim, muda para uma vida de quase pobreza de um americano moribundo e depois entra num caso que a leva a um opulento apartamento em Manhattan, para caír nas profundezas da prostituição da classe baixa no Deep South. 
Em 1934, quando depois da igreja exercer muita pressão os códigos de produção se tornarem mais rígidos, "Blonde Venus" foi uma das grandes vitimas. Foi reclassificado como "Classe 1", o nível mais elevado, e foi ordenado que fosse retirado de circulação, e que nunca mais fosse mostrado no seu formato original.

domingo, 6 de junho de 2021

Frankenstein (Frankenstein) 1931

Num prológo antes da exibição dos créditos, um senhor de smoking sai de trás de uma cortina fechada e faz um "aviso amigável" ao público:
"Como vai? O Sr. Carl Laemmle [o produtor] acha que seria um pouco desagradável apresentar este filme sem apenas uma palavra de advertência amigável. Estamos prestes a desvendar a história de Frankenstein, um homem da ciência que procurou criar um homem segundo a sua própria imagem sem contar com Deus. É uma das histórias mais estranhas já contadas. Ele lida com os dois grandes mistérios da criação - vida e morte. Acho que vai emocionar. Isto pode chocá-lo. Pode até - horrorizá-lo. Então, se algum de vocês sente que não se consegue submeter os nervos a tal tensão, agora é sua hipótese. . . uh ... bem, nós avisamos."
A história de Frankenstein dificilmente causaria uma reação nos dias de hoje, mas o público que assistiu à estreia a 29 de Outubro de 1931, no Granada Theatre em Santa Barbara, Califórnia, achou o filme violento demais, e traumatizante para as crianças. Numa biografia do realizador James Whale, um produtor que acompanhou o realizador na estreia disse que o filme deixou o público nervoso, uma reação que deixou Laemme perturbado, ao ponto de considerar o filme um desastre. 
Depois das críticas recebidas na estreia, alguns estados foram exigentes e ordenaram uma série de cortes para que o filme fosse exibido, como por exemplo, na cena em que o monstro afoga a menina, uma cena que ainda é dura para os dias que correm, entre várias outras. Depois dos cortes terem sido feitos, ainda foram pedidos mais uma série de cortes para que o filme fosse exibido noutros estados.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Drácula (Dracula) 1931

O filme começa com o aparecimento de uma carruagem puxada por cavalos serpenteando por uma estrada estreita e ingrime através das montanhas dos Cárpatos da Transilvânia na Europa Ocidental. A carruagem finalmente pára numa velha estalagem ao anoitecer. Um passageiro anuncia os seus planos de prosseguir. O nervoso proprietário da pousada diz-lhe que o cocheiro tem medo de continuar e que deveriam esperar até ao nascer do sol. Destemido, o corretor imobiliário chamado Renfield não é supersticioso, e não tem medo do aviso, e decide partir para o castelo de qualquer forma...
"Drácula" foi proposto como projecto de filme em 1930 por Carl Laemmle Jr., o aparente herdeiro da Universal Pictures, que teve de lutar até mesmo com o seu pai para fazer o filme.  Os executivos do estúdio enviaram cópias do livro de Bram Stoker, e da bem sucedida peça teatral de John L. Baldcrston e Hamilton Deane ao coronel Jason S. Joy, administrador da PCA. E. M. Arsher, produtor associado da Universal escreveu a Joy a pedir os seus "ângulos de censura" na história que ele alegou que seria filmada pela Universal como "um filme de terror e mistério. com o tema do amor como alívio". Asher estava especialmente preocupado porque os relatórios dos leitores sobre a peça e o livro identificaram várias áreas de conteúdo que poderia ser censurado, mas por sua vez, Joy, não encontrou nada censurável no que leu, em contraste com as preocupações do Estúdio. Naquela altura eram muito poucos os filmes americanos do mainstream que lidavam com o sobrenatural, e os poucos que o fizeram nunca criaram polémica. Por outro lado, o Production Code não falava nada sobre vampiros.
Aprovado pelo MPPDA, com o selo da PCA, o filme estreou em 1931, mas neste caso, o público foi mais reclamante do que o próprio regulador, e as reclamações chegaram imediatamente. Inúmeras cartas chegaram, de todos os quadrantes da sociedade, a protestar contra o filme, que era um perigo, que era horrível, que não podia ser mostrado a crianças. Um pouco por todo o mundo foram requeridos extensos cortes no filme, incluindo o diálogo de Renfield sobre sangue de rato, aranhas e moscas, o choro de uma criança num cemitério, e a leitura em voz alta da narração de um jornal sobre a vitimização de uma criança. Censores também exigiram que as mulheres vampiras do castelo de Drácula fossem removidas do filme. Nos Estados Unidos foram os censores de Massachussetts que exigiram que fossem cortadas duas breves cenas: uma que mostra uma parte de um esqueleto num caixão e outra que mostra um insecto a emergir de um caixão minúsculo.

terça-feira, 1 de junho de 2021

A Idade do Ouro (L'âge d'or) 1930

Um dos lendários filmes de Luis Buñuel ,"A Idade do Ouro" seria, à primeira vista, uma história de frustração sexual numa sociedade reprimida. Um homem e uma mulher apaixonados tentam consumar a sua paixão mas sofrem a oposição das suas famílias, da Igreja Católica e da classe média. À medida que o filme prossegue, no entanto, emerge a natureza radical do trabalho de Buñuel, este faz numerosos ataques à religião organizada, além de criticas intransigentes da sociedade.  Par dar ironia às já perturbantes e contraditórias imagens o realizador completa o filme com música clássica de Richard Wagner, Beethoven e Claude Debussy.
Escrito em colaboração com o pintor surrealista Salvador Dalí, o filme é extremamente desarticulado e bombardeia os espectadores com imagens bizarras e irracionais. Quando o casal aparece pela primeira vez, a tentar fazer amor a rolar na lama enquanto uma multidão, representando a sociedade, está de costas. Membros da multidão, culturalmente variada, situados de acordo com a sua classe social, ficam fascinados ao assistir a uma comemoração bem-humorada de quatro homens que morreram de forma mais sem sentido. Mais  perto do espectáculo estão os representantes da classe alta, que usam gravatas, joias e cartolas. Os membros da classe media estão mais distantes e vestem de forma mais moderada. A classe trabalhadora está no fundo, e mal consegue ver os eventos. Quando os membros da classe trabalhadora vêm os amantes levantam os punhos e chamam a polícia.
Quando o filme estreou em 1930 foi criticado pela falta de moral. A insinuação sexual e a natureza foram temas de acalorados debates, e os 6 primeiros dias de exibição, em Paris, tiveram sempre salas esgotadas. Depois da primeira semana, grupos conservadores patrocinados pela igreja católica w grupos de pressão da direita protestaram em frente ao cinema e atacaram publicamente o realizador e o argumentista na imprensa. O que levou ao banimento do filme durante 49 anos, no entanto, foi o desdém que Buñuel e Dali demostraram para com a igreja, no seu apoio ao sexo antes do casamento, a representação de Jesus como um impostor assassino, e as mensagens anti-católicas prokectadas por um slide no filme. Apesar de ter passado em cineclubes e casas privadas, só viria a ter uma estreia oficial nos Estados Unidos em 1979.