sexta-feira, 30 de julho de 2021

A Ronda (La Ronde) 1950

 "La Ronde" é uma adaptação da peça "Reigen", uma comédia escrita por Arthur Schnitzler que trata de forma irónica assuntos como promiscuidade, adultério e sedução entre um grupo de pessoas de uma variedade de classes sociais, já que os personagens "continuam as suas intrigas enquanto...hipocritamente ignoram as tensões sociais". O cenário move-se entre um carrocel e a cidade de Viena, coforme os jogadores do carrocel sexual aparecem e desaparecem de cena, passando do palco sonoro artificial do carrocel para um quarto ou outros locais, para depois voltarem para o carrocel. Um narrador urbano e espirituoso classifica as seduções cómicas e fornece perspectivas sobre os pares.
O filme não mostra actividade sexual, apenas os eventos que levam a ela e a precedem e as reacções emocionais que a acompanham em cada fase. Focando o duplo objectivo de examinar o desejo sexual e as mentiras que as pessoas contam para satisfazer esse desejo, o filme examina cada personagem em duas cenas de sedução, uma a seguir à outra. 
O filme foi importado de França e passou pela alfândega dos Estados Unidos sem problemas. O seu status de filme estrangeiro significava que não exigia um selo de aprovação para ser exibido e a decisão era deixada para os censores locais. Em 1952 os censores do estado de Nova Iorque recusaram-se a emitir uma licença para o filme, alegando que era "imoral" e tendia a corromper a moral. Os advogados da distribuidora, a Commercial Pictures, apelaram da decisão, que após revisão restringiu a decisão. O caso então entrou no tribunal de apelações de Nova Iorque, que apoiou a decisão do conselho de censores. Durante cerca de 2 anos o filme permaneceu em tribunal, até finalmente conseguir autorização para ser exibido.

terça-feira, 27 de julho de 2021

Um Cântico de Amor (Un Chant D'amour) 1950

Escrito e realizado por Jean Genet em 1947, o seu único filme, transpõe as suas ideias e escritas para imagens visuais. Um trabalho de vanguarda que não contém qualquer música ou som, foi muitas vezes comparado com os filmes de Jean Cocteau, Keneth Anger e Maya Deren, e a sua história lírica de amor e romance gay é considerado pelos especialistas como um dos filmes mais intensamente físicos já feitos. O filme contrasta cenas de fantasia com a representação realista e dura da prisão, e o espectador é deixado a ser levado para onde termina a fantasia e começa a realidade. 
Uma das mais memoráveis curtas metragens já feitas e também mais controversas, o seu conteúdo picante impediu que fosse mais exibido. Embora muito silêncio e confusão cercassem este tesouro escondido, tornou-se a curta-metragem gay mais famosa da Europa, e um dos mais emblemáticos da cultura gay.
Em 1965 Saul Landau foi autorizado a exibir o filme na zona da baía de São Francisco, num acordo em que não seria exibido em casas comerciais. Landau exibiu o filme em várias sessões até ser ameaçado de prisão pela polícia. Os advogados que representavam Landau colocaram uma acção pedindo que o caso fosse arquivado, porque o filme possuía "valor artístico"  e "importância social". Mesmo com testemunhas especializadas, entre as quais autoridades em dramaturgia, literatura, cinema, criminologia e direito o tribunal decidiu que o filme era não mais que pornografia barata, calculada para promover a homossexualidade, perversão e práticas sexuais mórbidas. 

sábado, 24 de julho de 2021

Herança Cruel (Pinky) 1949

A história, adaptada de um livro de Cid Rickets Sumner, foi primeiro concebida como um filme chamado "Quality". A personagem principal é Patricia Johnson, uma mulher negra de pele mais clara, de alcunha Pinky, nascida no Mississipi numa altura de grandes preconceitos raciais. Depois de acabar o colégio vai para Boston para fazer um grau em enfermaria e trabalhar, num sitio onde passa por "branca". Apaixona-se por um doutor que não sabe nada do seu passado nem família. 12 anos mais tarde regressa ao sul, a casa da avó...
As acções do anticomunista HUAC, que investigava todas as possibilidade de deslealdade ao governo colocaram muitos realizadores nervosos no final dos anos 40, e uma tendência promissora de filmes com conteúdo social foi interrompida. "Quality", tal como outros filmes que expunham a dura realidade do racismo, estavam entre os que os argumentistas comunistas consideravam ser um importante passo na luta contra o racismo, mas estes filmes também deixavam outros americanos preocupados, o que levaria uma investigações da HUAC, mais agressivas. HUAC queria dizer House Un-American Activities Committee. A 20th Century Fox arquivou os seus planos para "Quality", que tratava em detalhes o tópico volátil inter-racial, mas encarregou Pjilip Dunne de reescrever o argumento e minimizar severamente o livro para depois renomear o filme para "Pinky". O filme foi exibido nos cinema de todo o país sem problemas, até em locais onde o racismo era mais proeminente, mas não passou nos censores de Marshall, no Texas. 
A cidade tinha nos livros um estatuto que permitia aos funcionários locais agirem como uma agência de censura de filmes, com poderes para pré-visualizar todos os filmes que pudessem ser exibidos publicamente e rejeitar todos os que fossem de um carácter a ser prejudicial aos interesses da cidade. E foi assim que o operador de um cinema da cidade, chamado Gelling, foi condenado por uma contravenção ao violar o estatuto local e ter mostrado o filme. Foi assim que nasceu um dos casos mais mediáticos em tribunais americanos, "Gelling vs. State of Texas.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

A Estrela do Norte (The North Star) 1943

"The North Star" é uma relíquia do seu tempo, um dos vários filmes de propaganda sobre a Segunda Guerra Mundial criados por Hollywood, que refletiam a nova relação entre os Estados Unidos e a União Soviética depois de em 1941 estes terem passado de aliados da Alemanha para aliados dos Estados Unidos. Estes filmes, que incluíam "Mission to Moskow", "Days of Gloria" e "Song of Russia",  foram feitos para ajudar os esforços dos americanos na guerra, e o mesmo tempo para fazer algum dinheiro nas bilheteiras. Samuel Goldwyn juntou uma equipa bastante criativa, que continha desde o realizador Lewis Milestone, ao fabuloso elenco, mas em vez de seguir os outros filmes de propaganda, centrava-se, segundo dizia, "na vida de russos normais, para americanos normais."
A história passa-se numa pequena cidade agrícola ucraniana, e começa com cenas extensas da vida das pessoas antes da guerra estourar. A vida dos russos são cantos, danças, piqueniques e tocar acordeão, vivendo todos felizes. Tudo muda drasticamente quando a guerra começa, e a paisagem torna-se num amontoado de destruição. O filme evita a política negra de Estaline e os fardos sob os quais os russos comuns trabalharam nas décadas de 20 e 30, e em vez disso, concentra-se na tragédia de guerra.
Ao contrário dos outros filmes deste ciclo, pelo menos a maioria, este não foi banido na estreia, nem teve qualquer problema até a guerra acabar, mas viria a ter depois. Ao longo dos anos, e ao longo dos acontecimentos da guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, foi sendo alterada a mensagem de cooperação entre os dois países no filme. Ao saber que o seu material estava a ser alterado, a argumentista Lillian Hellman tentou que o seu nome fosse retirado do filme. Numa versão televisiva de 1956 foram removidos 25 minutos, e todas as referências à palavra "camarada", além de todo o discurso pró-comunista ter passado a anti-comunista. Já na parte final de década de 40, tanto Milestone como Hellman foram perseguidos pelos anti-comunistas e colocados na lista negra de Hollywood. 

terça-feira, 20 de julho de 2021

A Terra dos Homens Perdidos (The Outlaw) 1943

"The Outlaw" contava mais uma vez a relação entre Doc Holliday, Billy the Kid, o xerife Pat Bonner e Rio, uma meia-nativa americana que é namorada de Doc Holliday. Garret é o novo Xerife de Lincoln, New Mexico, e fica a saber que o velho amigo Doc Holliday está de passagem pela cidade. Embora Doc tenha uma uma reputação de causar sarilhos o xerife está satisfeito com a sua visita, mas Doc acaba por fazer amizade com Billy the Kid, um dos criminosos mais procurados das redondezas, e traír a confiança do Xerife. No meio desta nova amizade vai estar Rio, a rebelde namorada de Doc. 
"The Outlaw" foi o objecto da luta final de Joseph Breen como líder da PCA, e a sua disputa com Howard Hughes sobre o filme levou-o à renuncia. Como o filme era independente Hughes não precisava de enviar o argumento com antecedência ao Conselho de Revisão do Código de Produção, mas resolveu fazê-lo de qualquer forma, e quando Breen leu o argumento listou mais de 100 alterações entre diálogos e interacões entre as personagens. Queria que todas as sugestões de um relacionamento sexual entre Doc e Rio fossem suprimidas, e todas as referências de assassinatos a sangue frio de Billy fossem retiradas. Mais tarde, quando Breen viu o filme, chegou à conclusão que não só a maioria das sugestões tinham sido ignoradas como também ficou possesso pela forma como Hughes explorou os dotes físicos da actriz que interpretava Rio, Jane Russell. Breen insinuou que Russell só tinha ficado com o papel por ser a nova namorada de Hughes, e que tinha sido dada demasiada ênfase aos seios voluptuosos da actriz. Hughes concordou com algumas alterações sugeridas de Breen, e cobrir um pouco mais o corpo da actriz, mas voltou a ignorar mais uma série de exigências. Depois de muitas discussões foi emitido finalmente um selo para o filme.
O filme estreou num único cinema de São Francisco a 5 de Fevereiro de 1943, acompanhado por gigantes cartazes de uma Jane Russell escassamente vestida, espalhados por toda a cidade. O marketing causou mais protestos do que o filme, com grupos  religiosos e cívicos a escreverem para Hays para reclamar do retrato nojento da figura feminina. Os outros estúdios também protestaram porque viram no esquema de Hughes uma forma de concorrência desleal. O filme foi retirado de exibição quando a polícia emitiu mandados de prisão, e desapareceu do mapa durante alguns anos. Terminada a Segunda Guerra Mundial Hughes lançou o filme novamente com uma nova campanha publicitária. A PCA retirou o selo de aprovação, e Hughes processou a MPPDA tendo ganho no tribunal. Apesar de muitas contrariedades o filme estrou finalmente e acabou por ser um grande sucesso, apesar de ter estreado com o "C" de "condemened".


sexta-feira, 16 de julho de 2021

O Grande Ditador (The great Dictator) 1940

 "O Grande Ditador", o primeiro filme falado de Charles Chaplin, marcava o seu regresso ao cinema depois de um hiato de 5 anos, que seguiram a estreia de "Tempos Modernos", o seu último filme mudo. Um dos dois únicos filmes americanos que condenaram Adolf Hitler e o partido Nazi antes do envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. O filme abre com um aviso: "Qualquer semelhança entre o ditador Hynkel e o barbeiro judeu é pura coincidência", e é construído à volta de um caso de identidade equivocada em que um barbeiro judeu é confundido com um ditador. Feito como uma sátira ao lider alemão nazi Adolf Hitler, cujo Terceiro Reich ainda era pouco conhecido nos Estados Unidos, o filme detalha a ascenção de Adenoid Hynkel, um soldado humilde da Primeira Guerra Mundial, que se torna no ditador implacável num país chamado Tomania. O vulgar Hynkel usa um bigode de escova de dentes e cria uma máquina de guerra agressiva e anti-semita. 
Os Estados Unidos ficariam mais um ano fora da guerra quando da estreia deste filme, e muitos americanos, entre eles Chaplin, ainda não se tinham apercebido do horror do reinado de Hitler. Portanto, o seu ditador é um pouco tolo, infeliz e humano. Napaloni, o ditador de Bacteria (inspirado no ditador Mussolini, aliado de Hitler) é igualmente tolo, deixando o público especular que, se os tolos comandam regimes totalitários, eles não podem ser muito perigosos. Algumas das palhaçadas mais divertidas acontecem quando Hynkel conhece o seu aliado Napaloni e tenta impressioná-lo portando-se como um intelectual em todas as reuniões.
"O Grande Ditador" era claramente um ataque a Adolf Hitler e ao seu regime nazi, que criou preocupações dos dois lados do Atlântico, mesmo antes de estar terminado. Ainda em 1938 os censores britânicos e o consulado alemão entraram em contacto com o Hays Office para dizer que ia ser feita uma sátira a Hitler, e isso podia não caír bem. Joseph Breen ainda não tinha sido informado dos planos de filmagem, mas manteve-se atento. Não seria então de surpreender que o filme fosse banido na estreia, nos Estados Unidos, e em vários países como Espanha, Perú e Japão, que anunciou que todos os filmes anti-nazis seriam banidos neste país.

terça-feira, 13 de julho de 2021

Os Loucos Divertem-se ( Idiot's Delight) 1939

Robert Sherwood originalmente escreveu "Idiot´s Delight" como uma peça de teatro que ganhou o prémio Pulitzer em 1936, e se tornou na base para o último filme anti-guerra feito pelos estúdios da MGM antes do início da Segunda Guerra Mundial na Europa. O filme passa-se num pequeno hotel italiano perto da fronteira com a Suiça, que repentinamente entra em actividade quando o governo italiano fecha a fronteira e lança um ataque aéreo de surpresa a Paris para iniciar a Segunda Guerra Mundial - uma filosofia perpicaz de Sherwood. O hotel, antes pacífico, de repente enche-se de pessoas que querem passar a fronteira para a Suíça. O mix de personagens incluí: um cientista alemão, um artista americano que viaja com seis coristas, um jovem casal inglês em lua de mel, e um fabricante de armas americano com a sua amante, que pode ou não ser russa. A fuga da guerra irá mudar a vida de todas estas personagens. 
A história por detrás deste filme demonstrava o medo que Hollywood tinha em fazer declarações politicamente fortes e expunha até que ponto um filme podia ser censurado antes do seu lançamento. Os críticos tinham acusado em 1936 que a peça não era apenas anti-guerra mas também anti-italiana nas suas numerosas referências à incompetência da Itália moderna. No início de 1936 tanto a Warner Bros como os Piorneer Studios tinham expressado interesse em transformar a peça em filme, ao que o PCA tentou desencorajar expressando que o filme poderia não ser bem aceite no exterior e poderia causar represálias da Itália e dos seus aliados contra a indústria de Hollywood, porque o filme tinha muitas críticas contra o fascismo e o militarismo. Mesmo com a pressão do embaixador italiano contra a MPPDA seria a MGM quem avançaria para a produção do filme já em finais de 1936. 
Seguiram-se 15 longos meses de negociações com o governo italiano para conseguirem autorização para o filme, o embaixador queria que o filme não tivesse ligação com a peça original e não contivesse ofensas aos italianos, e também que o título do filme fosse diferente da peça e que as cópias que fossem circular em Itália não tivessem referências a Sherwood. O produtor insistiu que o filme mantivesse do sentimento anti-guerra original, mas também prometeu que seria uma história de amor e não uma declaração antifascista e para apaziguar Sherwood e persuadi-lo a transformar o seu protesto politico numa ardente história de amor, a MGM explicou-lhe a importãncia de manter o mercado interno. 
Um novo argumento estava pronto em 1938, e enfatizava a história de amor entre Irene e Harry, mudando o cenário para um país sem nome da Europa Central, mudando também a linguagem de italiano para esperanto. O governo italiano aprovou o projecto depois de Benito Mussolini ter aprovado o argumento, mas depois de estreado os críticos criticaram muito Hollywood por ter feito mudanças tão drásticas para acalmar os italianos, e por outro lado, mesmo depois de todas estas mudanças, alguns países recusaram na mesma o filme, como Espanha, França, Suiça e Estónia. 
Legendas em Espanhol.

domingo, 11 de julho de 2021

The Youth of Maxim (Yunost Maksima) 1935

 Um dos primeiros filmes sonoros produzidos nos estúdios russos,  debruça-se sobre a mudança de um simples camponês para um revolucionário experiente. O filme é representativo da politização do cinema soviético ocorrida no século de 1930, que alguns criticos acharam perturbador, pois o seu objectivo era tornar o blochevismo mais atraente. Planeado para ser a primeira de uma trilogia, a acção passa-se na Rússia czarista durante os anos de 1905-07, antes da monarquia ser derrubada e o Partido comunista assumir o poder. Na essência o trabalhador recebe a sua educação na cidade ao ver os seus melhores amigos vitimizados ou mortos pela polícia e pelo sistema capitalista. É prese sem motivos legais durante algum tempo e depois solto, saíndo da prisão amargurado e cheio de zelo revolucionário, juntando-se ao movimento socialissta do submundo.
Em Detroit, em 1935, o comissário da policia declarou que o filme "The Youth of Maxim" era pura propaganda comunista e provavelmente instaria o ódio de classe ao governo e à ordem social dos Estados Unidos. O comissário impediu a exibição do filme sob a autoridade de um decreto municipal que permitia a proibição de filmes que fossem imorais ou indecentes. Um exibidor chamado Schuman contestou a decisão numa acção movida  no tribunal do condado de Wayne, e pediu um mandado para obrigar o comissário emitir a licença. O tribunal viu o filme e recusou-se a emitir uma ordem com o fundamento que existia abuso por parte do comissário da policia. Depois o exibidor apelou para o Supremo Tribunal de Michigan que reverteu a proibição. Depois de muita lura em tribunal o filme acabaria por ser exibido em Detroit.
Legendas em inglês.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Amok (Amok) 1934

"Amok" é uma adaptação francesa do conto “Der Amoklaufer”, escrito pelo escritor alemão Stefan Zweig e realizado pelo emigrante russo Fyodor Otsep. Embora as primeiras cenas sejam romanticamente surreais, a história explora as consequências do amor compulsivo e mostra com severo realismo a forma como uma loucura irracional pode ás vezes estabelecer-se sob a superficie de uma sociedade respeitável. Os primeiros 11 minutos do filme, durante os quais os personagens e as suas obsessões são revelados, fornecem apenas uma história visual, sem diálogos. O filme passa-se numa ilha colonial francesa e gira à volta da paixão obsessiva de um médico pela esposa de um homem rico, dono de terras, longe da ilha há um ano.
Apesar do filme ser de 1934, só chegaria aos cinemas americanos em 1946, e foi desde logo condenado pelos censores do estado de Nova Iorque, que analisou o filme e negou a distribuição,  a menos que a Destinguished Films concordasse em cortar vários minutos em que o médico e a mulher falam sobre o aborto proposto. Segundo eles o filme era "indecente, imoral e tendia a corromper a moral". A Destinguished Films apelou da decisão num caso ouvido no Supremo Corte do Estado de Nova Iorque, argumentando que o filme "não era mais sórdido ou grosseiro do que muitos filmes que foram aprovados". O tribunal não concordou observando que "o padrão em questões deste tipo é flexível, e continuou com a decisão de proibir o filme, que permaneceu proibido em Nova Iorque.
Legendas em inglês.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

O Aventureiro de Florença (The Affairs of Cellini) 1934

Passado na Florência do Século 16, em Itália, o filme, baseado na peça "The Firebrand", de Bess Meredyth, pretende relatar a vida amorosa do ourives e escultor Benvenuto Cellini (1500-71). O filme foca-se nas ligações sexuais dos artistas do período do Renascimento. A história envolve o que se pode chamar de um quadrilátero amoroso invocando Cellini, uma camponesa chamada Ângela, o duque de Florença, e a sua esposa. Cellini está apaixonado por Ângela, que é amante do duque, e a esposa deste está apaixonada por Cellini. 
Um dos primeiros filmes produzidos por Darryl F. Zanuck depois de saír da Warner Bros e fundar a 20th Century Fox, que lançaria muitos dos seus filmes através da United Artists.Como um acto contra o que ele considerava ser um clima de cada vez maior restrição e censura, resolveu não se associar ao MPPDA, ou com a Associação de Produtores de Cinema (AMPP), filial da costa oeste da MPPDA. Ao não ingressar em nenhum destes grupos poderia evitar enviar o argumento para o SRC, que poderia aprovar ou sugerir alterações que iriam atrasar a produção. Ao contrário dos outros estúdios membros, Zanuck fez o filme de acordo os seus próprios padrões. Apesar de o ter de submeter na mesma ao SRC, sujeito a modificações, a maioria dos cinemas americanos da altura estavam ligados ao MPPDA, e tinham concordado não exibir filmes sem o selo de aprovação destes. 
O chefe da SRC, Joseph Breen, criticou o filme por estar repleto de comportamentos lascivos e depravados, e criticou os personagens pessoas libidinosas que se envolvem em sexualidade promiscua. Antes que o filme pudesse receber o selo de aprovação da PCA, Zanuck teve de cortar cenas de abraços apaixonados, e outras que colocavam os personagens sugestivamente perto, ou em quartos. Depois de finalmente o filme receber o selo da pureza do PCA foi finalmente exibido nos cinemas, mas foi colocado na lista negra da diocese católica de Chicago. Em 1934 Chicago tinha o mais poderoso dos censores locais, bem como uma das maiores populações católicas romanas. O Cardeal de Chicago condenou o filme como imoral, e deu-lhe a classificação C, e alertou os católicos que enfrentariam a condenação eterna se vissem o filme. Um grande número de católicos boicotaram o filme, que acabou por ser um insucesso.
Legendas em espanhol.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Escravos do Desejo (Of Human Bondage) 1934

"Of Humam Bondage" é uma adaptação do romance homónimo de W. Somerset Maugham, e conta a história de Philip Carey, um jovem sensível cujo primeiro sonho é tornar-se um artista. Em França um instrutor de pintura diz-lhe que ele não tem habilidade para se tornar um grande pintor, então decide ir estudar medicina para Londres. Lá, um amigo pede-lhe para saber o nome de uma empregada de mesa, mas ele acaba por se apaixonar por ela.
A RKO anunciou este filme com o seguinte slogan: "O amor que levou um homem ao paraíso...e o atirou para o fundo". Esta provocativa propaganda refletia o tema do filme, que falava do amor obsessivo de um jovem estudante de medicina por uma prostituta. Quando a RKO apresentou o argumento pela primeira vez, baseado no livro de Maugham, Joseph Breen, o chefe da PCA, alertou logo que o assunto era altamente ofensivo, porque no livro a desleixada prostituta tinha sífilis. Breen exigiu que o estúdio mudasse a sua doença para tuberculose,  e que a personagem fosse menos desleixada. Depois da RKO fazer todas as alterações pedidas por Breen e do filme receber o selo de aprovação da PCA, a versão final não atendeu às exigências da Catholic Legion of Decency (LOD), em Detroit, Pittsburgh, Omaha e Chicago, e o filme seria banido nessas cidades. 
Embora o LOD tivesse sido extremamente eficiente a banir filmes anteriores, "Of Human Bondage" parecia exercer uma atração mais forte na imaginação dos católicos. Um elemento da MPPDA foi enviado para avaliar o impacto do LOD em 20 cidades dos Estados Unidos, e quando chegou a Baltimore estava a ser exibido "Of Human Bondage", que tinha sido banido nas cidades que eu referi em cima. O resultado é que o filme estava a bater recordes de espectadores, e o facto dele ter sido proibido em várias cidades só lhe trouxe publicidade positiva, acabando por trazer mais gente a ver o filme que em outras circunstâncias. 
Legendas em inglês.