sexta-feira, 20 de abril de 2018

Bonnie e Clyde (Bonnie and Clyde) 1967


"A tentativa de Arthur Penn para fazer um filme de "foras-da-lei" americano ao estilo da Nova Vaga Francesa e com exuberância juvenil provou ser um extraordinário sucesso junto do público, que gostava de políticas anti-sistema. Também os críticos aplaudiram eventualmente o esforço do realizador para impregnar o cinema dos E.U.A. com uma nova energia e seriedade. Na altura da sua estreia, contudo, Bonnie e Clyde foi consensualmente condenado pela sua descrição gráfica da violência. Progressos tecnológicos tornaram possível mostrar feridas de tiros de forma mais realista, e a câmara de Penn demora-se com frequência nos efeitos dos corpos a serem desepedaçados e na dor e sofrimento que daí resultam. Anteriores filmes americanos, de facto, tinham-se, muitas vezes, centrado na violência, mas Bonnie e Clyde foi o primeiro filme de Hollywood a fazer o espectador experenciar o seu horror e, até, a sua enfeitiçante beleza.

As criticas iniciais ao filme eram geralmente agrestes, quando não condenatórias, mas a maré de opinião crítica depressa mudou radicalmente, obrigando algumas revistas a publicar críticas revisionistas. Alternando com eficácia cenas de terror, realismo brutal, e quase comédia de "bolo na cara", Bonnie e Clyde é vagamente biográfico e tem um sentido muito realista devido ao meticuloso design artístico e às filmagens em locais do Noroeste do Texas, onde a paisagem da seca e do pó levado pelo vento é  belamente reproduzida. Com algumas imprecisões históricas, a obra traça as proezas e o eventual fim trágico do par mais célebre de assaltantes de bancos da era da Depressão que, no seu tempo, foram festejados como heróis populares. Warren Beatty e Faye Dunaway cintilam como o casal criminoso, enquanto um apoio fabuloso é proporcionado por Gene Hackman, Estelle Parsons e Michael J. Pollard, que representam outros membros do gangue. Após uma primeira vaga de sucessos, o bando é cercado pela polícia em Iowa, onde o irmão de Clyde, Buck (Hackman), é morto pela polícia e a sua Blanche (Parsons) fica cega e é capturada. O tratamento do franco do sexo pelo filme, particularmente da invulgar relação entre o impotente Clyde e a agressiva Bonnie, também desbravou território novo. Pelo fim dos anos 60, Hollywood tinha trocado as restrições do Código de Produção por um sistema de classificações que permitia maior liberdade na descrição do sexo e da violência. Bonnie e Clyde está entre os primeiros filmes - e dos com maior sucesso - já feitos sob o novo sistema. Obteve dez nomeações para os Óscares, e o seu imenso poder de atraxção nas bilheteiras ajudou a tirar o cinema americano do vermelho e de volta a uma reencontrada rentabilidade.
Bonnie e Clyde é uma poderosa declaração ambígua sobre o lugar da violência e do individuo na sociedade americana. Na história do cinema, no entanto, a sua importância é muito maior.

O sucesso popular e crítico do filme mostrou à indústria estabelecida de Hollywood que filmes que combinavam a estilização europeia e a seriedade sobre temas tradicionais americanos (mediados por géneros convencionais) podem ter êxito, principalmente se tivessem um ritmo rápido e apresentassem espectaculares sequências de antológicas de acção. Bonnie e Clyde abriu o caminho para a "Hollywood Renaissance" dos anos 70, com obras primas como "O Padrinho" de Francis Ford Coppola , fazendo ao filme de Penn o sincero elogio de uma imitação próxima."
Texto de R. Barton Palmer

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