quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A Cidade da Tristeza (Beiqíng chéngshì) 1989

"Há duas histórias diferentes para relatar. Uma é a maravilhosa história que acontece por vezes, algures, na maior parte dos casos de forma imprevisível: a ascensão de uma Nova Vaga, de um movimento artístico num país, e a emergência de um ou dois (raramente mais) cineastas excepcionalmente talentosos. Acontece isso com o movimento do Novo Cinema, nos anos 80, em Taiwan, e um dos realizadores mais dotados que apareceram na altura foi Hsiao-Hsien Hou. Começou por fazer filmes pessoais, autobiográficos, que revelaram o seu sentido de ritmo, a intensidade física dos seus planos, a força sugestiva, à primeira vista indiferente, como filmava até as mais simples situações. 
Há também uma segunda história, que diz respeito ao momento inevitável em que uma nação precisa do seu cinema para contar a si própria e ao mundo o seu percurso - revelar, por assim dizer, a sua autobiografia colectiva. Em 1989, o desaparecimento da ditadura militar que governou a ilha durante 40 anos, deu aos cineastas uma oportunidade para contar a história recente de Taiwan.  E é isto que Hou, o "autor vanguardista subjectivo", decidiu fazer (e aquilo que continuaria a fazer com o "Hsimeng Jensheng" e "Haonan Haonu"). "Beiqing Chengshi", que foi claramente reconhecido no seu país como um grande passo em frente na capacidade do cinema para olhar, finalmente, para o passado recente de Taiwan, constitui um momento de viragem - um facto que também permitiu que o filme se tornasse num grande sucesso junto do público.
Uma mistura de fresco histórico e filme moderno, a complexa estrutura narrativa de  Beiqing Chengshi (baseada nas vidas intrincadas de quatro irmãos) e a enorme quantidade de informação histórica que inclui transmitem uma sensação emocional e estética do período, os sentimentos individuais e colectivos, as reivindicações das diversas comunidades a que cada irmão pertence, queira ou não queira. Beiqing Chengshi não é só uma obra-prima. É um exemplo para todos os filmes que pretendem mostrar os principais acontecimentos de um país, e acabam, em vez disso, por se tornar quase sempre monumentos enfadonhos."
Texto de Jean-Michael Frodon

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