O terror japonês já pode ser encontrado desde o final do século 19, quando curtas como "Jizo the Ghost" ou "Ressurection of a Corpse" foram produzidas, mas o verdadeiro boom deste cinema, só se deu depois do final da Segunda Guerra Mundial. Os filme de terror sempre tenderam reflectir as ansiedades sociais dominantes em certa altura e lugar, onde esses filmes foram produzidos: a corrente do expressionismo alemão é disso um belo exemplo.
O pós-guerra foi um tempo turbulento para o Japão. O país tinha sofrido uma derrota militar humilhante, com baixas catastróficas, 2,7 milhões de mortos, e um grande número de desaparecidos ou feridos. Centenas de milhar faleceram nas obliterações nucleares de Hiroshima e Nagasaki, e a sua radioatividade. Para a derrota ser ainda mais humilhante, nos sete anos posteriores à derrota o Japão foi ocupado pelas tropas americanas, para se prevenirem do rearmamento.
A escala da destruição japonesa encontrou o seu mais óbvio espelho no ciclo de filmes "Kaiju Eiga" (monster movies) dos anos cinquenta, com o primeiro exemplo em "Godzilla", de 1954. Este filme, seguido de tantas sequelas e imitações, encenava a destruição de Tóquio, enquanto que a parada de monstros mutantes simbolizavam a ameaça da radiação, e a poluição ambiental. O medo do apocalipse e da destruição foram sempre uma constante no cinema de terror japonês, desde a segunda grande guerra até aos tempos actuais, enquanto as faces de mulheres assustadas (um sinal comum nas vítimas nucleares), encontraram corpo em certos filmes japoneses de horror da década de 60, como em "Ghost Story of Yotsuya" ou "Onibaba", que iremos ver neste ciclo.
Durante o período da ocupação os valores tradicionais colidiram com as forças de modernização ocidentais. O código Shinto em que a nação tinha sido construída, baseado na ética confucionista e que estabelecia responsabilidades entre o imperador e os seus súbitos, assim como entre membros de uma familia e amigos, foi substituido pelos valores da democracia ocidental, com uma nova ênfase no capitalismo individual. Muitos dos filmes de terror produzidos na década de cinquenta e sessenta dramatizaram esta colisão com o código, a busca egoísta do ganho pessoal, e a ausência de valores colectivos estão na origem de algumas destas histórias de fantasmas.
A estes filme foi dado o nome de Kaidan Eiga (histórias de fantasmas), normalmente baseadas em contos do folclore budista, ou em peças Kabuki. Fiz uma selecção destes filmes, que vos vou mostrar durante a semana.
Aqui ficam os seus nomes.
Segunda: The Ghost of Yotsuya (1959), de Nobuo Nakagawa
Terça: Jigoku (1960), de Nobuo Nakagawa
Quarta: Onibaba (1964), de Kaneto Shindô
Quinta: Kwaidan (1964), de Masaki Kobayashi
Sexta: Kuroneko (1968), de Kaneto Shindô
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