Seria impossível menosprezar a enorme influência de Nélson Pereira dos Santos ao longo do dramático curso do moderno cinema brasileiro. Ao longo da sua carreira, tremendamente prolífica e que abrange mais de metade de um século, Dos Santos dedicou-se ao cinema com um envolvimento político e populista, produzindo obras tão clássicas como Rio 40 Graus, Vidas Secas, ou Como Era Gostoso o Meu Francês. Partilhar a inovação estilística e a ousadia é uma das imagens de marca do realizador, e os seus filmes são verdadeiros marcos a oferecer explorações verdadeiras sobre questões socio-políticas - desigualdade das classes, pobreza, racismo - usando exteriores que vão desde as favelas do Rio de Janeiro a regiões mais remotas e áridas do nordeste, mostrando dialectos locais para apresentar uma visão mais nua, crua e autêntica do Brasil, a partir de perspectivas distintas. Abrangendo uma extraordinária gama de estilos e géneros, desde o documentário neo-realista ao cinema avant-grade Dos Santos construíu uma obra notável.
Nascido em São Paulo, no seio de uma família de origem italiana, extremamente cinéfila, Dos Santos apenas descobriu a sua vocação para o cinema depois de completar os estudos universitários, primeiro na advocacia, e depois no jornalismo. Depois de um breve estágio no cinema comercial, Nelson Pereira dos Santos conseguiu acabar a sua primeira longa-metragem, "Rio 40 Graus", que o colocava imediatamente no centro de um intenso debate sobre a responsabilidade ideológica e cultural do cinema e das artes populares para representar a nação. Esta experiência, e um breve período a estudar e a viajar pela Europa, convenceram Dos Santos da necessidade de permanecer resolutamente independente, em estilo e espírito, de qualquer doutrina oficial, uma atitude que iria marcar todos os seus filmes como realizador ou argumentista. Pela sua dedicação inabalável a um tipo de prática neo-realista, pela sua independência intransigente como realizador e produtor, mas acima de tudo pela sua incansável busca por temas essencialmente brasileiros, Dos Santos é creditado como ter marcado o caminho para o crescimento do Novo Cinema Brasileiro, na década de 60. Ao ponto de realizadores como Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade considerarem Nélson como o seu líder espiritual.
Aqui ficam os filmes que poderão ver esta semana.
Segunda: Rio 40 Graus (1955)
Terça: Vidas Secas (1963)
Quarta: Boca de Ouro (1963)
Quinta: Como Era Gostoso o Meu Francês (1971)
Sexta: Memórias do Cárcere (1984)
2 comentários:
Olá Francisco. Gosto muito do cinema brasileiro. Tenho um blogue sobre essa paixão, onde acabo de publicar a tua apresentação do ciclo NPS. Cumprimentos. João
Muito obrigado João. Um abraço :)
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