Colossus é um computador incrivelmente sofisticado que irá controlar todas as defesas nucleares americanas. Pouco depois de ser ligado, detecta a existência de Guardian, a contraparte soviética, anteriormente desconhecido para os designers de Forbid. Ambos os computadores insistem que devem estar ligados entre si, e depois de tomar salvaguardas para preservar material confidencial, ambos os lados satisfazem as vontades dos computadores. Assim que a ligação é estabelecida, os dois tornam-se um novo super-computador, e ameaçam o mundo com o lançamento imediato de bombas nucleares.
Apenas dois anos depois de "2001", de Kubrick, e quatorze antes de "Terminator", havia outro, menos conhecido, conto sobre as máquinas a tomarem controlo da humanidade, e tentar erradicá-la. Medos e incertezas sobre o progresso da tecnologia, e o papel da ciência na modernidade, eram uma preocupação nas narrativas dos filmes de terror, e ficção científica, e foi sobre este domínio que nascia este pequeno filme de Joseph Sargent, com argumento de James Bridges.
O tempo acabaria por dar-lhe um estatuto de culto, e é um dos melhores filmes sobre computadores malvados.
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sexta-feira, 31 de julho de 2015
quinta-feira, 30 de julho de 2015
Crimes do Futuro (Crimes of the Future) 1970
Um jornalista, curiosamente chamado de Adrian Tripod, investiga a morte de quase todas as mulheres adultas na terra. Descobre que as mortes podem ter sido causadas por cosméticos venenosos, fabricados por uma empresa que também está envolvida na gestão de uma rede internacional de prostituição juvenil.
Realizado por David Cronenberg com um orçamento quase mínimo, é a segunda aventura do realizador no campo da realização, depois de "Stereo". Filmado a cores e a 16 milímetros, usando a arquitetura moderna de Toronto, e, no fundo, é um pseudo-documentário mudo com uma voiceover como narração, numa voz com pouca emoção. É um filme de sci fi surreal, apresentado como uma farsa de humor negro.
Cronenberg neste filme escolar imaturo explora um mundo de mutações genéticas, e apresenta temas que no futuro serão parte importante da sua obra, como a incapacidade do homem moderno de tratar de doenças que ele próprio causou, corpos monstruosos, e problemas de cariz sexual. É, sobretudo, um filme para os fãs mais antigos do realizador, que provavelmente não conhecem esta obra.
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Realizado por David Cronenberg com um orçamento quase mínimo, é a segunda aventura do realizador no campo da realização, depois de "Stereo". Filmado a cores e a 16 milímetros, usando a arquitetura moderna de Toronto, e, no fundo, é um pseudo-documentário mudo com uma voiceover como narração, numa voz com pouca emoção. É um filme de sci fi surreal, apresentado como uma farsa de humor negro.
Cronenberg neste filme escolar imaturo explora um mundo de mutações genéticas, e apresenta temas que no futuro serão parte importante da sua obra, como a incapacidade do homem moderno de tratar de doenças que ele próprio causou, corpos monstruosos, e problemas de cariz sexual. É, sobretudo, um filme para os fãs mais antigos do realizador, que provavelmente não conhecem esta obra.
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quarta-feira, 29 de julho de 2015
Umut (Umut) 1970
"Umut" é a história de um homem analfabeto, e da sua família, cuja existência depende do seu salário como taxista de charretes. Quando um dos seus cavalos é morto por um carro, e quando fica claro que nem a justiça nem a caridade o irão ajudar, o homem, interpretado por um dos realizadores, Yilmaz Güney, começa uma lenta queda para o desespero. Seguindo o conselho de um homem santo local, e alimentado por um optimista incansável, ele parte para o deserto em busca de um tesouro mítico perdido.
Parte realismo social na sua descrição da situação dos mais desfavorecidos contra a economia transformada de uma Turquia cada vez mais modernizada, e parte existencialismo poético no retrato psicológico de um homem desesperado prestes a sucumbir à fé ilusória, "Umut" de Yilmaz Güney e Serif Gören capta o ambiente precário de uma nação numa encruzilhada política e económica.
Nunca estreou em Portugal ou no Brasil, e esta dupla de realizadores só conseguiu fama internacional quando venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1982, com "Yol". Ainda estávamos a 10 anos de distância, e nesta altura era difícil a filmes turcos de serem exibidos fora do país.
Uma nota de interesse, a casa do personagem principal é também a casa onde Yilmaz Güney cresceu.
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Parte realismo social na sua descrição da situação dos mais desfavorecidos contra a economia transformada de uma Turquia cada vez mais modernizada, e parte existencialismo poético no retrato psicológico de um homem desesperado prestes a sucumbir à fé ilusória, "Umut" de Yilmaz Güney e Serif Gören capta o ambiente precário de uma nação numa encruzilhada política e económica.
Nunca estreou em Portugal ou no Brasil, e esta dupla de realizadores só conseguiu fama internacional quando venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1982, com "Yol". Ainda estávamos a 10 anos de distância, e nesta altura era difícil a filmes turcos de serem exibidos fora do país.
Uma nota de interesse, a casa do personagem principal é também a casa onde Yilmaz Güney cresceu.
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A Vontade de Um General (Uomini Contro) 1970
Norte da Itália, a Primeira Guerra Mundial atravessa um impasse sangrento. Atolados nas suas trincheiras, é dado um objectivo a uma divisão de infantaria italiana: retomar um alto posto de comando que está nas mãos do inimigo. Infelizmente, a ingenuidade táctica do General Leone, o pouco popular comandante da divisão, consiste em atacar o inimigo com ataques frontais contra poderosas metralhadoras. As tropas estão desmoralizadas, o número de vítimas aumenta, e a indignação espalha-se entre as fileiras. Perturbado pela decisão dos seus superiores, o tenente Sassu é progressivamente levado a questionar-se sobre o propósito da guerra...
Realizado por Francesco Rossi, "Uomino Contro" está provavelmente, para sempre destinado a ser comparado com "Paths of Glory" de Stanley Kubrick, e as similaridades não são apenas superficiais. Em primeiro lugar sublinham a desumanidade pura e absurda do que era lutar nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, através de uma variedade de técnicas formais cuidadosamente afinadas, para chegarem a uma condenação apaixonada, e persuasiva da guerra. Mas o filme de Kubrick nunca atinge os níveis de raiva ostensiva que o de Rosi atinge. A fúria da guerra é visceralmente sentida cena após cena, num movimento pulsante, e numa explosão sonora.
Sendo um filme de Francesco Rossi, tem contornos políticos, e a presença habitual de Gian Maria Volonté num dos principais papéis.
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Realizado por Francesco Rossi, "Uomino Contro" está provavelmente, para sempre destinado a ser comparado com "Paths of Glory" de Stanley Kubrick, e as similaridades não são apenas superficiais. Em primeiro lugar sublinham a desumanidade pura e absurda do que era lutar nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, através de uma variedade de técnicas formais cuidadosamente afinadas, para chegarem a uma condenação apaixonada, e persuasiva da guerra. Mas o filme de Kubrick nunca atinge os níveis de raiva ostensiva que o de Rosi atinge. A fúria da guerra é visceralmente sentida cena após cena, num movimento pulsante, e numa explosão sonora.
Sendo um filme de Francesco Rossi, tem contornos políticos, e a presença habitual de Gian Maria Volonté num dos principais papéis.
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A Orelha (Ucho) 1970
Uma breve noite paranóica na vida de Ludvík (Radoslav Brzobohatý) e Anna (Jiřina Bohdalová), um casal cáustico. Ludvík é um oficial do ministério que se encontra sob suspeita quando o seu superior e outros colegas são presos e detidos para interrogatório. Ao chegar a casa, depois de cumprir funções no partido, ele e Anna encontram a energia e o telefone desligados. Também há carros estacionados perto, e homens rondando o jardim. O pânico instala-se dentro da casa escura e desarrumada, e o casal teme que a "orelha" ouça tudo o que eles dizem e fazem.
Realizado pelo checo Karel Kachyna, "Ucho" teve de esperar 30 anos para finalmente ser visto, no festival de Cannes de 1990. Kachyna escreveu, dirigiu e produziu um filme que audaciosamente questionava os métodos do Partido comunista. Filmado a preto e branco, este estudo sobre a paranoia e o desespero foi compreensivelmente proibido pelo Pacto de Varsóvia pouco tempo depois de estar terminado.
Um belo exemplo do cinema político que se fazia na Europa do leste nesta altura.
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Realizado pelo checo Karel Kachyna, "Ucho" teve de esperar 30 anos para finalmente ser visto, no festival de Cannes de 1990. Kachyna escreveu, dirigiu e produziu um filme que audaciosamente questionava os métodos do Partido comunista. Filmado a preto e branco, este estudo sobre a paranoia e o desespero foi compreensivelmente proibido pelo Pacto de Varsóvia pouco tempo depois de estar terminado.
Um belo exemplo do cinema político que se fazia na Europa do leste nesta altura.
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terça-feira, 28 de julho de 2015
Anos Setenta, Esses Esquecidos...
A década de setenta abria com Hollywood a passar por uma depressão financeira e artística, mas acabou por se tornar um ponto alto criativo na produção cinematográfica. Restrições à linguagem, conteúdo adulto, sexualidade, violência, soltaram-se e tornaram-se mais difundidos. O movimento hippie, o movimento dos direitos civis, o amor livre, o crescimento do rock and roll, a mudança de sexo, e o uso de drogas tiveram um grande impacto nas mentalidades, e no cinema em si. Hollywood e o cinema renasceram com o colapso anterior do cinema de estúdio e as obras de muitos jovens e experimentais cineastas tornaram-se mais difundidas.
A contra-cultura da época ensinou o cinema a ser mais livre, a assumir mais riscos, e a experimentar novas alternativas. Muitas das audiências do final dos anos 60, já tiveram um vislumbre de novas possibilidades, novas técnicas de contar histórias e opções artísticas mais significativas, pelas influências dos movimentos das "novas vagas" europeias, e obras originais de cineastas de outras línguas.
No mês de Agosto o "My One/Two Thousand Movies" completa 7 anos a distribuir filmes pelas gentes da língua portuguesa, e para comemorar o facto convida os seus leitores a uma viagem pelos anos da década de 70, mas uma viagem ao contrário. Vamos deixar de lado todos esses grandes sucessos, quer de crítica como de público, os premiados e Óscarizados, e vamos ver os menos conhecidos. Primeiras obras ignoradas de futuros grandes realizadores, últimas obras de realizadores esquecidos, obras intermédias que foram um fiasco, ou filmes simplesmente esquecidos. Vai ser uma longa viagem pela contra-contra cultura dos anos 70, onde visitaremos os quatro cantos do mundo.
Ao todo serão setenta filmes, que serão postados aqui a um ritmo muito maior do que é normal, e por isso com textos mais curtos, mas sobretudo, esperemos que seja uma viagem divertida. Obrigado a todos por seguirem o blog, e o ciclo começa já amanhã, até ao fim de Agosto. Espero que gostem.
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Tirania (Goyokin) 1969
Tatsuya Nakadai interpreta um samurai perseguido pela culpa pela sua parte inconsciente no massacre de uma pequena aldeia. Agora é um ronin, e fica a saber que o seu antigo clan pretende fazer outro massacre a outra aldeia. Determinado a detê-los, ele irá passar por grandes dificuldades, na tentativa de se redimir do erro do passado.
"Goyokin", de Hideo Gosha, é um filme absorvente, incrível visualmente, embora pouco visto, de entre os filmes de samurais, que consideras temas como a honra, o dever e a lealdade, mas fá-lo com um toque dinâmico, e uma sensação não muito subtil de indignação com o derramamento de sangue, para ganho pessoal ou político.
Ao longo do filme, Gosha encontra maneiras criativas de ensaiar a acção (uma sequência envolvendo um Nakadai capturado é extremamente inteligente), com confiança, que demora o seu tempo para que o público compreenda os pormenores do que está a acontecer, e usando o mesmo método de Kurosawa, que coreografava as suas cenas de modo a que o espectador pudesse perceber o local geográfico onde estavam situados, e a relação entre os personagens que estavam de cada lado.Outros aspectos da produção eram impecáveis, como a fotografia deslumbrante de Kozo Okazaki, ou a superba banda sonora de Masaru Sato.
O filme parece ter sido uma colisão feliz de talentos de fontes diferentes. Era uma co-produção entre a Tokyo Eiga (uma divisão da Toho) e a Fuji Television, com quem Gosha tinha contrato. A maior parte dos actores eram free-lancers, embora Ruriko Asaoka há anos que tinha contrato com a Nikkatsu, e Natsuyagi fosse emprestado pela Toei. O sucesso desta e de outras grandes produções do final dos anos sessenta levaria a mais do mesmo em 1970-71, muitas vezes com combinações entre Nakamura, Asaoka, Toshiro Mifune, Shintaro Katsu, e Shintaro Ishihara, mas nenhum deles iria atingir a grandeza de "Goyokin".
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"Goyokin", de Hideo Gosha, é um filme absorvente, incrível visualmente, embora pouco visto, de entre os filmes de samurais, que consideras temas como a honra, o dever e a lealdade, mas fá-lo com um toque dinâmico, e uma sensação não muito subtil de indignação com o derramamento de sangue, para ganho pessoal ou político.
Ao longo do filme, Gosha encontra maneiras criativas de ensaiar a acção (uma sequência envolvendo um Nakadai capturado é extremamente inteligente), com confiança, que demora o seu tempo para que o público compreenda os pormenores do que está a acontecer, e usando o mesmo método de Kurosawa, que coreografava as suas cenas de modo a que o espectador pudesse perceber o local geográfico onde estavam situados, e a relação entre os personagens que estavam de cada lado.Outros aspectos da produção eram impecáveis, como a fotografia deslumbrante de Kozo Okazaki, ou a superba banda sonora de Masaru Sato.
O filme parece ter sido uma colisão feliz de talentos de fontes diferentes. Era uma co-produção entre a Tokyo Eiga (uma divisão da Toho) e a Fuji Television, com quem Gosha tinha contrato. A maior parte dos actores eram free-lancers, embora Ruriko Asaoka há anos que tinha contrato com a Nikkatsu, e Natsuyagi fosse emprestado pela Toei. O sucesso desta e de outras grandes produções do final dos anos sessenta levaria a mais do mesmo em 1970-71, muitas vezes com combinações entre Nakamura, Asaoka, Toshiro Mifune, Shintaro Katsu, e Shintaro Ishihara, mas nenhum deles iria atingir a grandeza de "Goyokin".
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domingo, 26 de julho de 2015
Kill! (Kiru) 1968
Dois Ronins Genta (Nakadai) e Hanjiro (Takahashi) viajam até uma cidade empoeirada atraídos pelo facto de saberem que um chefe local procura espadachins. Uma vez lá ficam a saber que este chefe é um bandido, e cruza com sete jovens samurais, que pretendem assassinar o chefe.Genta avisa os sete jovens sobre o mal que eles estão a fazer, e é ignorado. Os dois ronins vão dar consigo em diferentes lados da barricada, quando Hanjiro se junta ao lider local Ayuzawa (Koyama), e Genta fica com os jovens samurais. Ayuzawa ordena aos seus homens para localizarem os samurais, e contrata um grupo de ronins para os matarem.
Realizado por Kihachi Okamoto, é um filme reminiscente do spaghetti western, salpicando a sua história de sete aprendizes de samurais em luta contra um corrupto poderoso, com uma banda-sonora muito peculiar de Masuru Sato, claramente influenciada por Morricone, e onde não faltam as cidades empoeiradas dos spaghetti westerns. De facto, pode ser visto como próximo da sequela de "Yokimbo", "Sanjuro", já que ambos os filmes partilham a mesma fonte. No entanto, enquanto "Sanjuro" girava em torno da personagem de Mifune, falta ao filme de Okamoto o foco numa personagem idêntica, e é fácil para o espectador se perder no meio das duplas e triplas traições que ocorrem ao longo do enredo. Mas, para um filme desta envergadura, o enredo acaba por ser o menos importante, já que a acção é para onde deve estar virada a nossa atenção.
Em vez de defender a lealdade e o serviço como a maioria dos filmes de samurais fazia, termina com os samurais a deixarem o seu mestre, e as prostitutas e as prostitutas libertadas das suas obrigações. Em 1968, um filme com esta mensagem, tinha muito mais a ver com os ideais de JFK ou Martin Luther King. Com todo este material intelectual, as lutas também acabam por ser muito bem feitas, e o humor funciona como o de muitos filmes cómicos americanos. E depois, também temos o prazer de ver um Tatsuya Nakadai em forma, que é sempre um filme dentro de outro filme.
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Realizado por Kihachi Okamoto, é um filme reminiscente do spaghetti western, salpicando a sua história de sete aprendizes de samurais em luta contra um corrupto poderoso, com uma banda-sonora muito peculiar de Masuru Sato, claramente influenciada por Morricone, e onde não faltam as cidades empoeiradas dos spaghetti westerns. De facto, pode ser visto como próximo da sequela de "Yokimbo", "Sanjuro", já que ambos os filmes partilham a mesma fonte. No entanto, enquanto "Sanjuro" girava em torno da personagem de Mifune, falta ao filme de Okamoto o foco numa personagem idêntica, e é fácil para o espectador se perder no meio das duplas e triplas traições que ocorrem ao longo do enredo. Mas, para um filme desta envergadura, o enredo acaba por ser o menos importante, já que a acção é para onde deve estar virada a nossa atenção.
Em vez de defender a lealdade e o serviço como a maioria dos filmes de samurais fazia, termina com os samurais a deixarem o seu mestre, e as prostitutas e as prostitutas libertadas das suas obrigações. Em 1968, um filme com esta mensagem, tinha muito mais a ver com os ideais de JFK ou Martin Luther King. Com todo este material intelectual, as lutas também acabam por ser muito bem feitas, e o humor funciona como o de muitos filmes cómicos americanos. E depois, também temos o prazer de ver um Tatsuya Nakadai em forma, que é sempre um filme dentro de outro filme.
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Samurai Rebellion (Jôi-Uchi: Hairyô Tsuma Shimatsu) 1967
No Japão, em 1725, durante um tempo de paz, Isaburo um samurai veterano pertence a um clã local, leva uma vida tranquila com o filho e a esposa. Mas um dia, a sua honra e os seus princípios morais entram em conflito aberto com os do seu clã. O confronto é inevitável e vai ter consequências inesperadas.
Masaki Kobayashi apresenta-nos um exame sublime e assombroso da desumanidade, conformidade e abuso do poder, em Samurai Rebellion. Através de composições altamente formalizadas e meticulosas, Kobayashi reflecte o rígido código de conduta, o comportamento estruturado e a supressão da vontade individual que definem a existência diária sob o domínio de Tokugawa. As sequências panorâmicas em exteriores contrastam com o isolamento do interior do país, que servem também para reforçar um sentimento de aprisionamento e inevitabilidade da classe social, a intrasigência de Takahashi em aceitar a recusa da oferta a Isaburo.
Em "Samurai Rebellion", tal como no mais famoso filme de Kobayashi, "Harakiri", todo o sistema político do Japão feudal, e o código samurai de fidelidade (Bushido),são colocados em conflito directo com as bases sociais mais íntimas do casamento e da família. Desta forma, Kobayashi expõe a falência moral e a falta de compaixão de um código que não valoriza o ser humano individual. Ichi é a catalisadora desta revelação. A sua união sexual com Matsudaira é falsa porque não é construída sobre o amor e respeito mútuo. O bushido falha como sistema para governar as suas vidas de verdadeiros seres humanos, quando se exige que deixe um verdadeiro relacionamento a fim de proteger a honra.
Ganhou o FIPRESCI Prize no festival de Veneza de 1967.
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Masaki Kobayashi apresenta-nos um exame sublime e assombroso da desumanidade, conformidade e abuso do poder, em Samurai Rebellion. Através de composições altamente formalizadas e meticulosas, Kobayashi reflecte o rígido código de conduta, o comportamento estruturado e a supressão da vontade individual que definem a existência diária sob o domínio de Tokugawa. As sequências panorâmicas em exteriores contrastam com o isolamento do interior do país, que servem também para reforçar um sentimento de aprisionamento e inevitabilidade da classe social, a intrasigência de Takahashi em aceitar a recusa da oferta a Isaburo.
Em "Samurai Rebellion", tal como no mais famoso filme de Kobayashi, "Harakiri", todo o sistema político do Japão feudal, e o código samurai de fidelidade (Bushido),são colocados em conflito directo com as bases sociais mais íntimas do casamento e da família. Desta forma, Kobayashi expõe a falência moral e a falta de compaixão de um código que não valoriza o ser humano individual. Ichi é a catalisadora desta revelação. A sua união sexual com Matsudaira é falsa porque não é construída sobre o amor e respeito mútuo. O bushido falha como sistema para governar as suas vidas de verdadeiros seres humanos, quando se exige que deixe um verdadeiro relacionamento a fim de proteger a honra.
Ganhou o FIPRESCI Prize no festival de Veneza de 1967.
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quinta-feira, 23 de julho de 2015
Harakiri (Seppuku) 1962
No Japão feudal do século 17, Hanshiro Tsugumo (Tatsuya Nakadai), um velho samurai desempregado, bate à porta de um poderoso senhor. Recebido por Kageyu Saitô (Rentarô Mikuni), o líder do clã, Tsugumo pede-lhe permissão para cometer suicídio por harakiri na sua residência. Mas quando o velho samurai indaga sobre um samurai mais jovem que cometeu suicídio, um pouco antes da sua chegada, as coisas tomam um rumo inesperado.
"Seppuku" é uma história de tradições injustificadas que levam a actos vergonhosos e mortes. É uma crítica à sociedade japonesa dos anos sessenta, que uma uma história de samurais como objecto, mas cujos principais pontos são mais comuns tanto ao ocidente como ao oriente dos dias actuais, assim como a idéia de trabalhar uma vida inteira para uma empresa, já não existe. O filme explora muitas questões, incluindo obrigações conflitantes, a adesão ao ritual e à tradição, honra virtual vs. honra verdadeira, corrupção política, a lealdade para com a profissão vs lealdade para com a família.
Masaki Kobayashi não se opõe ao gosto pelos filmes violentos, por isso ele não vê qualquer necessidade de destruir o envolvimento do público ou tornas as sequências de batalha extremamente desagradáveis com excesso de gore, ou abuso de efeitos especiais. As lutas são espectáculos deslumbrantes e absolutamente emocionantes de se ver, principalmente graças ás horas de montagem que levaram o filme a ser concluído.
"Harakiri" é uma pequena obra-prima com uma tensão em crescendo, revelando os factos progressivamente, e com contenção cinemática, cujo drama é potentemente infundido com conotações político-sociais, nada paradas no tempo e no lugar.
Kobayashi dois anos mais tarde viria a realizar outro dos grandes filmes japoneses dos anos sessenta, "Kwaidan", e aqui ganhou o grande prémio do Jurí no Festival de Cannes, de 1963.
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"Seppuku" é uma história de tradições injustificadas que levam a actos vergonhosos e mortes. É uma crítica à sociedade japonesa dos anos sessenta, que uma uma história de samurais como objecto, mas cujos principais pontos são mais comuns tanto ao ocidente como ao oriente dos dias actuais, assim como a idéia de trabalhar uma vida inteira para uma empresa, já não existe. O filme explora muitas questões, incluindo obrigações conflitantes, a adesão ao ritual e à tradição, honra virtual vs. honra verdadeira, corrupção política, a lealdade para com a profissão vs lealdade para com a família.
Masaki Kobayashi não se opõe ao gosto pelos filmes violentos, por isso ele não vê qualquer necessidade de destruir o envolvimento do público ou tornas as sequências de batalha extremamente desagradáveis com excesso de gore, ou abuso de efeitos especiais. As lutas são espectáculos deslumbrantes e absolutamente emocionantes de se ver, principalmente graças ás horas de montagem que levaram o filme a ser concluído.
"Harakiri" é uma pequena obra-prima com uma tensão em crescendo, revelando os factos progressivamente, e com contenção cinemática, cujo drama é potentemente infundido com conotações político-sociais, nada paradas no tempo e no lugar.
Kobayashi dois anos mais tarde viria a realizar outro dos grandes filmes japoneses dos anos sessenta, "Kwaidan", e aqui ganhou o grande prémio do Jurí no Festival de Cannes, de 1963.
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quarta-feira, 22 de julho de 2015
Sanjuro (Tsubaki Sanjûrô) 1962
"O sucesso comercial e de crítica de "Yojimbo" foi tal que Akira Kurosawa foi pressionado a escrever, contra vontade, uma sequela. Os elementos marcantes no primeiro filme (mistura inusitada entre comédia, tragédia e ultra-violência) mereceriam um novo doseamento em "Sanjuro": em termos de swordplay, menos quantidade, mais qualidade; o negrume seria quase extirpado, em virtude de um acréscimo de humor físico, entre o slapstick e a auto-caricatura.
"Sanjuro" é um entretenimento assumidamente light, ao pé de "Yojimbo", sem, no entanto, fugir àquilo que é apanágio desta faceta da obra de Kurosawa: narrativa inteligente e simples, acção minuciosamente coreografada e personagens carismáticas.
Na realidade, apesar de ambos serem autênticos cocktails cinematográficos (western + musical + filme de acção puro e duro), "Sanjuro" é assumidamente mais directo e acessível que "Yojimbo": a acção e a comédia consomem cada partícula do filme, não havendo tanta preocupação em retratar as personagens e o seu modus vivendi na sociedade japonesa de meados do século XIX.
O filme começa com um grupo de 9 jovens, e inexperientes, samurais dispostos a arriscar as suas vidas no combate contra a corrupção. A sua reunião é interrompida pela intromissão de Sanjuro, que, aparentemente de forma desinteressada, se junta ao grupo. O seu sangue-frio e argúcia tornam-no num líder incontestável no seio do movimento, mas, do lado dos "maus", haverá quem lhe faça frente. E é o duelo final, aquele que Kurosawa descreveu no seu argumento como sendo "inefável", o zénite de "Sanjuro": a simetria e a suspensão irrespirável que se estilhaçam num golpe relampejante. Kurosawa não cedeu, mesmo após dois filmes, e manteve Sanjuro, ou o "homem sem nome", que vai e vem, deixando um rasto de sangue atrás, como um invencível Deus da guerra. Não me interpretem mal, Sanjuro é justo e bom, mas também é alguém que odeia a paz: enquanto esta subsistir, ele diz "See ya later"."
Por Luís Mendonça, daqui.
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"Sanjuro" é um entretenimento assumidamente light, ao pé de "Yojimbo", sem, no entanto, fugir àquilo que é apanágio desta faceta da obra de Kurosawa: narrativa inteligente e simples, acção minuciosamente coreografada e personagens carismáticas.
Na realidade, apesar de ambos serem autênticos cocktails cinematográficos (western + musical + filme de acção puro e duro), "Sanjuro" é assumidamente mais directo e acessível que "Yojimbo": a acção e a comédia consomem cada partícula do filme, não havendo tanta preocupação em retratar as personagens e o seu modus vivendi na sociedade japonesa de meados do século XIX.
O filme começa com um grupo de 9 jovens, e inexperientes, samurais dispostos a arriscar as suas vidas no combate contra a corrupção. A sua reunião é interrompida pela intromissão de Sanjuro, que, aparentemente de forma desinteressada, se junta ao grupo. O seu sangue-frio e argúcia tornam-no num líder incontestável no seio do movimento, mas, do lado dos "maus", haverá quem lhe faça frente. E é o duelo final, aquele que Kurosawa descreveu no seu argumento como sendo "inefável", o zénite de "Sanjuro": a simetria e a suspensão irrespirável que se estilhaçam num golpe relampejante. Kurosawa não cedeu, mesmo após dois filmes, e manteve Sanjuro, ou o "homem sem nome", que vai e vem, deixando um rasto de sangue atrás, como um invencível Deus da guerra. Não me interpretem mal, Sanjuro é justo e bom, mas também é alguém que odeia a paz: enquanto esta subsistir, ele diz "See ya later"."
Por Luís Mendonça, daqui.
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terça-feira, 21 de julho de 2015
Yojimbo, o Invencível (Yojimbo) 1961
Sanjuro, o samurai solitário, qual John Wayne nipónico, chega a uma pequena comunidade, dividida entre dois gangs, com um objectivo em mente: negociar o seu futuro. A sua chegada é notada, depois deste exibir uma extrema agilidade no manejo da espada, deitando abaixo, sem pestanejar, um punhado de malfeitores. O sangue-frio e a forma implacável como ceifa vidas - "uma morte por segundo", queria Kurosawa - fazem deste o mais cobiçado guerreiro da vila. Mas Sanjuro é arguto, tacteando cinicamente o terreno nos dois lados da barricada, antes de tomar partido.
"Yojimbo" é um filme de acção, pincelado com um humor negro mordaz, ou um western tresloucado e, para o seu tempo, ultra-violento (membros decepados e algum sangue jorrado) desenrolado em pleno Japão do século XIX. O (anti-)herói desta trama é apresentado como sendo o mais consciencioso "homem de guerra", enriquecendo à custa dos autênticos massacres que executa. Mas até tem, vamos descobrindo, o coração no sítio...
Na senda de "Seven Samurai", Akira Kurosawa cria um objecto raro: visual e sonicamente assombroso, com a utilização magistral do widescreen e de efeitos sonoros inovadores (para além dos temas musicais desconcertantes, o som do esquartejar da espada e do vento empoeirado são elementos fulcrais nas cenas de acção) e exemplar na escrita, pejada de reviravoltas, jogos mentais e algumas deliciosas bizarrias (exemplo da buñueliana "mão de boas-vindas" que Sanjuro vê na boca de um cão vadio, mal entra na conturbada vila).
Para mais, "Yojimbo" vai beber ao carisma imenso do seu actor principal, o braço direito de Kurosawa: Toshirô Mifune. Ele reinventa o género do cowboy solitário, lacónico (falando, sem falar), cerebral e, acima de tudo, cool. Em certa medida, esta composição de Mifune esteve na origem da carreira de Clint Eastwood, já que "Per un pugno di dollari" de Sergio Leone, o seu primeiro grande sucesso, é um remake de "Yojimbo".
O círculo completou-se em 2006, quando Eastwood homenageou o legado Kurosawa-Mifune com uma obra colossal: "Letters From Iwo Jima".
Por Luís Mendonça, daqui.
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"Yojimbo" é um filme de acção, pincelado com um humor negro mordaz, ou um western tresloucado e, para o seu tempo, ultra-violento (membros decepados e algum sangue jorrado) desenrolado em pleno Japão do século XIX. O (anti-)herói desta trama é apresentado como sendo o mais consciencioso "homem de guerra", enriquecendo à custa dos autênticos massacres que executa. Mas até tem, vamos descobrindo, o coração no sítio...
Na senda de "Seven Samurai", Akira Kurosawa cria um objecto raro: visual e sonicamente assombroso, com a utilização magistral do widescreen e de efeitos sonoros inovadores (para além dos temas musicais desconcertantes, o som do esquartejar da espada e do vento empoeirado são elementos fulcrais nas cenas de acção) e exemplar na escrita, pejada de reviravoltas, jogos mentais e algumas deliciosas bizarrias (exemplo da buñueliana "mão de boas-vindas" que Sanjuro vê na boca de um cão vadio, mal entra na conturbada vila).
Para mais, "Yojimbo" vai beber ao carisma imenso do seu actor principal, o braço direito de Kurosawa: Toshirô Mifune. Ele reinventa o género do cowboy solitário, lacónico (falando, sem falar), cerebral e, acima de tudo, cool. Em certa medida, esta composição de Mifune esteve na origem da carreira de Clint Eastwood, já que "Per un pugno di dollari" de Sergio Leone, o seu primeiro grande sucesso, é um remake de "Yojimbo".
O círculo completou-se em 2006, quando Eastwood homenageou o legado Kurosawa-Mifune com uma obra colossal: "Letters From Iwo Jima".
Por Luís Mendonça, daqui.
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segunda-feira, 20 de julho de 2015
A Fortaleza Escondida (Kakushi-Toride no San-Akunin) 1958
A princesa Yukihime sobreviveu à destruição da sua família na sequência das grandes guerras civis que assolavam o Japão feudal e esconde-se nas montanhas, fazendo-se passar por uma simples camponesa. Sob a protecção do general Rokurota, a princesa - que conseguiu esconder parte do ouro que pertencia ao fabuloso tesouro da sua família - parte em busca de um território seguro e de um foraleza secreta. Dois marginais errantes, Tahei e Matashiki, juntam-se à princesa e ao general nesta incrível odisseia recheada de perigos e aventuras.
Há sempre um ligeiro choque estético ao assistir a um filme de Akira Kurosawa. As suas obras, mesmo que sejam de entretimento, como este "A Fortaleza Escondida", são tão sensualmente vivas, e hoje em dia parecem muito mais modernas do que os filmes de Hollywood daquela época. "A Fortaleza Escondida" é um épico de comédia de acção, produzido pelos Toho Studios, e mesmo por resvalar para a comédia, era um dos filmes menos esperados do realizador Kurosawa, sobretudo por ter sido feito no ano a seguir a "Trono de Sangue". Mas trata de uma maneira divertida temas que o próprio Kurosawa poderia transformar na mais cruel anatomizações da natureza humana.
"A Fortaleza Escondida" foi citado por George Lucas como base para o seu primeiro "Star Wars", principalmente na forma como a história de desenvolve, através dos olhos de dois personagens cómicos. Toda a narrativa de "Star Wars" mostra a forte influência do realizador japonês. Rokoruta (Toshiro Mifune) faz lembrar tanto Han Solo como Luke Skywalker, na sua relação protetora e obediente, de amor e ódio com a princesa. Também há o vilão preferido do público, quando Rokoruta encontra um velho amigo Hyoe Tadokoro (Susumu Fujita), que comanda as tropas para Yanama. Tadokoro é derrotado num duelo mas Rokoruta não o mata, e o villão vai aparecer mais tarde cheio de cicatrizes no rosto. Tudo isto é comum a este filme, e a "Star Wars".
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Há sempre um ligeiro choque estético ao assistir a um filme de Akira Kurosawa. As suas obras, mesmo que sejam de entretimento, como este "A Fortaleza Escondida", são tão sensualmente vivas, e hoje em dia parecem muito mais modernas do que os filmes de Hollywood daquela época. "A Fortaleza Escondida" é um épico de comédia de acção, produzido pelos Toho Studios, e mesmo por resvalar para a comédia, era um dos filmes menos esperados do realizador Kurosawa, sobretudo por ter sido feito no ano a seguir a "Trono de Sangue". Mas trata de uma maneira divertida temas que o próprio Kurosawa poderia transformar na mais cruel anatomizações da natureza humana.
"A Fortaleza Escondida" foi citado por George Lucas como base para o seu primeiro "Star Wars", principalmente na forma como a história de desenvolve, através dos olhos de dois personagens cómicos. Toda a narrativa de "Star Wars" mostra a forte influência do realizador japonês. Rokoruta (Toshiro Mifune) faz lembrar tanto Han Solo como Luke Skywalker, na sua relação protetora e obediente, de amor e ódio com a princesa. Também há o vilão preferido do público, quando Rokoruta encontra um velho amigo Hyoe Tadokoro (Susumu Fujita), que comanda as tropas para Yanama. Tadokoro é derrotado num duelo mas Rokoruta não o mata, e o villão vai aparecer mais tarde cheio de cicatrizes no rosto. Tudo isto é comum a este filme, e a "Star Wars".
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domingo, 19 de julho de 2015
Trono de Sangue (Kumonosu-jô) 1957
No Japão do século XVI, os samurais Washizu e Miki encontram uma feiticeira de regresso para casa, depois de vencerem uma batalha. Ela prevê que Washizu venha a ser o Senhor do Castelo do Norte. Este é o início de uma sangrenta luta pelo poder.
"Trono de Sangue" é uma revisão de "Macbeth", de William Shakespeare, por Akira Kurosawa, através da lente histórica do Japão feudal, e as convenções estéticas do Teatro Noh. É uma obra-prima de imagens expressivas. Violento e intensamente melodramático, filtra os temas da ganância, do poder, e da luxúria, através dos elementos visuais que são tão ricos e texturizados que assumem uma vida própria. Os elementos naturais do nevoeiro, chuva, e os emaranhados impenetráveis de uma floresta infestada por espíritos, tornam-se personagens que medeiam a história de um guerreiro que perde a sua humanidade em busca pelo poder.
A ganância e o egoísmo já tinham sido elementos importantes no filme da descoberta de Kurosawa, "Rashomon" (1950), mas aqui elas assumem um tom ainda mais escuro, à beira do Niilismo. Um destino pesado paira sobre tudo o que acontece em "Trono de Sangue", e os personagens no fim parecem fantoches, e as suas débeis tentativas para orientar a sua vida foram passageiras, como a névoa perpétua que assombra a paisagem vulcânica desolada.
Os actores de Kurosawa trabalham num estilo grandioso, que tem a tendência a chocar algumas pessoas, como involuntariamente cómico (as contorções faciais de Mifune são uma reminiscência de máscaras bizarras), mas dado o design visual luxuoso as interpretações não podiam ser mais adequadas. Mifune, em particular, canaliza toda a luxúria e a agressividade de Washizu, com o seu comportamento a ficar cada vez mais estranho à medida que o filme avança.
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"Trono de Sangue" é uma revisão de "Macbeth", de William Shakespeare, por Akira Kurosawa, através da lente histórica do Japão feudal, e as convenções estéticas do Teatro Noh. É uma obra-prima de imagens expressivas. Violento e intensamente melodramático, filtra os temas da ganância, do poder, e da luxúria, através dos elementos visuais que são tão ricos e texturizados que assumem uma vida própria. Os elementos naturais do nevoeiro, chuva, e os emaranhados impenetráveis de uma floresta infestada por espíritos, tornam-se personagens que medeiam a história de um guerreiro que perde a sua humanidade em busca pelo poder.
A ganância e o egoísmo já tinham sido elementos importantes no filme da descoberta de Kurosawa, "Rashomon" (1950), mas aqui elas assumem um tom ainda mais escuro, à beira do Niilismo. Um destino pesado paira sobre tudo o que acontece em "Trono de Sangue", e os personagens no fim parecem fantoches, e as suas débeis tentativas para orientar a sua vida foram passageiras, como a névoa perpétua que assombra a paisagem vulcânica desolada.
Os actores de Kurosawa trabalham num estilo grandioso, que tem a tendência a chocar algumas pessoas, como involuntariamente cómico (as contorções faciais de Mifune são uma reminiscência de máscaras bizarras), mas dado o design visual luxuoso as interpretações não podiam ser mais adequadas. Mifune, em particular, canaliza toda a luxúria e a agressividade de Washizu, com o seu comportamento a ficar cada vez mais estranho à medida que o filme avança.
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sexta-feira, 17 de julho de 2015
Os Sete Samurais (Shichinin no Samurai) 1954
No século XVI, durante a era Sengoku, quando os poderosos samurais estavam com os dias contados pois eram agora desprezados pelos seus aristocráticos senhores. Kambei, um guerreiro veterano sem dinheiro, chega em uma aldeia indefesa que foi saqueada repetidamente por ladrões assassinos. Os moradores do vilarejo pedem a sua ajuda, fazendo com que Kambei recrute seis outros ronins, que concordam em ensinar os habitantes como se defender em troca de comida.
No seu ponto central, a sua história é tão simples que podia ser sumarizada a uma única frase: Uma pequena vila agrícola japonesa é ameaçada por bandidos, e contrata 7 ronin (samurais sem mestre) para os proteger. O mesmo podia ser dito das maiores peças de Shakespeare, ou de algumas das melhores histórias de Hemingway, ou de alguns dos maiores filmes de Chaplin, porque todos estes são factos que nos lembram que o que é épico sobre uma história, nem sempre é a complexidade da narrativa em si, mas sim a convicção com que ela é contada. Este é um filme que poderia ter sido mais um filme de época japonês, mas a atenção cuidada de Kurosawa, personagem a personagem, e as suas questões sociais, elevam "Os Sete Samurais" acima das suas raízes, garantido ao filme um lugar no panteão, não só dos grandes filmes japoneses, como também dos grandes filmes mundiais. De todos os tempos.
Akira Kurosawa tinha já realizado, ou co-realizado, 14 filmes, quando fez esta obra em 1954, incluindo "Rashomon" que o grande crítico francês André Bazin escreveu: "pode ser dito verdadeiramente que abriu as portas do Ocidente para o cinema japonês. Se "Rashomon" abriu as portas, "Os Sete Samurais" arrancou-lhe as dobradiças, não só pela sua popularidade e aclamação em todo mundo, como pela sua profunda afinidade e ligação temática e visual, com o western americano. Muito facilmente esta pequena aldeia do Japão, podia ser transportada para uma cidade ou fronteira do Oeste americano.
A cada um dos sete samurais é dada uma personalidade única, e um conjunto de dons, o que os torna intrigantes como indivíduos, e nas suas interacções com os outros. Os dois nomes que mais facilmente nos lembramos, são interpretados pelos dois actores preferidos de Kurosawa, Takashi Shimura e Toshirô Mifune, que apareceram juntos em 15 dos 30 filmes do realizador. Shimura interpreta Kambei Shimada, o primeiro samurai contratado pelos camponeses, e o líder do grupo. Shimada é um nobre ronin de grande habilidade, mas lutou todas as suas batalhas do lado perdedor. Shimura impregna o seu personagem com um sentido profundo de honra e nobreza, inspirando os outros ao seu redor. Acreditamos que qualquer outro samurai lutaria ao seu lado, sem promessas de ganhos monetário ou fama.
O personagem de Mifune é quase o oposto. O seu Kikuchiyo é um intriguista, impostor, que no entanto inspira os outros com o seu entusiasmo (como um caponês que se eleva ele próprio à classe Samurai, refletindo as crenças de Kurosawa na democracia e na mobilidade social). No início do filme, ele é pouco mais do que uma piada, um cão vadio que late muito mas não consegue ser respeitado, mas no final, ele alcança uma espécie de redenção, pela sua tenacidade e espírito. Ao longo do filme, Mifune é a principal fonte cómica, a saltar, gritar e berrar com os camponeses pela sua falta de habilidade a lutar. Kurosawa foi claramente influenciado por John Ford, não apenas no âmbito e grandiosidade temática dos seus filmes, mas também no uso do humor obsceno, para distrair entre batalhas.
Goi nomeado para dois Óscares, e ganhou o Leão de Prata em Veneza.
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No seu ponto central, a sua história é tão simples que podia ser sumarizada a uma única frase: Uma pequena vila agrícola japonesa é ameaçada por bandidos, e contrata 7 ronin (samurais sem mestre) para os proteger. O mesmo podia ser dito das maiores peças de Shakespeare, ou de algumas das melhores histórias de Hemingway, ou de alguns dos maiores filmes de Chaplin, porque todos estes são factos que nos lembram que o que é épico sobre uma história, nem sempre é a complexidade da narrativa em si, mas sim a convicção com que ela é contada. Este é um filme que poderia ter sido mais um filme de época japonês, mas a atenção cuidada de Kurosawa, personagem a personagem, e as suas questões sociais, elevam "Os Sete Samurais" acima das suas raízes, garantido ao filme um lugar no panteão, não só dos grandes filmes japoneses, como também dos grandes filmes mundiais. De todos os tempos.
Akira Kurosawa tinha já realizado, ou co-realizado, 14 filmes, quando fez esta obra em 1954, incluindo "Rashomon" que o grande crítico francês André Bazin escreveu: "pode ser dito verdadeiramente que abriu as portas do Ocidente para o cinema japonês. Se "Rashomon" abriu as portas, "Os Sete Samurais" arrancou-lhe as dobradiças, não só pela sua popularidade e aclamação em todo mundo, como pela sua profunda afinidade e ligação temática e visual, com o western americano. Muito facilmente esta pequena aldeia do Japão, podia ser transportada para uma cidade ou fronteira do Oeste americano.
A cada um dos sete samurais é dada uma personalidade única, e um conjunto de dons, o que os torna intrigantes como indivíduos, e nas suas interacções com os outros. Os dois nomes que mais facilmente nos lembramos, são interpretados pelos dois actores preferidos de Kurosawa, Takashi Shimura e Toshirô Mifune, que apareceram juntos em 15 dos 30 filmes do realizador. Shimura interpreta Kambei Shimada, o primeiro samurai contratado pelos camponeses, e o líder do grupo. Shimada é um nobre ronin de grande habilidade, mas lutou todas as suas batalhas do lado perdedor. Shimura impregna o seu personagem com um sentido profundo de honra e nobreza, inspirando os outros ao seu redor. Acreditamos que qualquer outro samurai lutaria ao seu lado, sem promessas de ganhos monetário ou fama.
O personagem de Mifune é quase o oposto. O seu Kikuchiyo é um intriguista, impostor, que no entanto inspira os outros com o seu entusiasmo (como um caponês que se eleva ele próprio à classe Samurai, refletindo as crenças de Kurosawa na democracia e na mobilidade social). No início do filme, ele é pouco mais do que uma piada, um cão vadio que late muito mas não consegue ser respeitado, mas no final, ele alcança uma espécie de redenção, pela sua tenacidade e espírito. Ao longo do filme, Mifune é a principal fonte cómica, a saltar, gritar e berrar com os camponeses pela sua falta de habilidade a lutar. Kurosawa foi claramente influenciado por John Ford, não apenas no âmbito e grandiosidade temática dos seus filmes, mas também no uso do humor obsceno, para distrair entre batalhas.
Goi nomeado para dois Óscares, e ganhou o Leão de Prata em Veneza.
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quarta-feira, 15 de julho de 2015
A Idade de Ouro dos Filmes de Samurais
Os anos 50 marcaram o pico da indústria japonesa de cinema. Seis produtoras, as Shochiku, Toho, Shintoho, Daiei, Toei (a partir de 1951) e a Nikkatsu (a partir de 1954), lançavam 2 filmes por semana, 100 filmes por ano. A produção anual excedia os 500 filmes, e todas as produtoras prosperavam no ramo do cinema.
Com a televisão ainda por penetrar no mercado de diversão, o cinema era o principal entretimento para o público geral. Assim, quase cada filme que era lançado era um sucesso garantido.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial que a ocupação aliada restringia os filmes que promoviam os valores feudais, colocando o kibosh entre os mais vistos do género de acção. Os ocupantes partiram em 1952, e ficou claro que estava a chegar uma era dourada para os filmes de Samurais, ao mesmo tempo da década dourada do cinema japonês. Durante os anos seguintes, estes filmes representavam mais de um terço da indústria de então, que já se fixava em mais de 500 filmes por ano.
Tão popular como era o Western na América, encontrávamos filmes baseados em figuras lendárias, como Musashi Miyamoto ou o fora da lei Chuji Kunisada. Contos históricos permitiam aos cineastas japoneses reinterpretarem a tradição para um assunto mais moderno, no pós-guerra.
Entretanto, os festivais internacionais divulgavam alguns dos realizadores mais importantes daquele país, como Akira Kurosawa, Masaki Kobayashi ou Hiroshi Inagaki, e introduziam este período de ouro para cinéfilos de todo o mundo.
Akira Kurosawa tornava-se no mais famoso realizador deste género, que acabaria por prosperar, pelo menos, até final da década de sessenta, embora continuasse a resistir até aos dias de hoje.
Este pequeno ciclo, tem o objectivo de dar uma breve passagem sobre este período de ouro dos filmes de Samurais, onde veremos um total de 10 dos seus filmes mais interessantes.
Aqui está o alinhamento para os próximos dias:
- Os Sete Samurais (1954, de Akira Kurosawa)
- Trono de Sangue (1957, de Akira Kurosawa)
- A Fortaleza Escondida (1958, de Akira Korosawa)
- Yojimbo (1961, de Akira Kurosawa)
- Sanjuro (1962, de Akira Kurosawa)
- Harakiri (1962, de Masaki Kobayashi)
- Samurai Rebellion (1967, de Masaki Kobayashi)
- Kiru (1968, de Kihachi Okamoto)
- Goyokin (1969, de Hideo Gosha)
- Lady Snowblood (1973, de Toshia Fujita)
Espero que o ciclo seja do vosso agrado. Até breve.
terça-feira, 14 de julho de 2015
Perseguidos (Northern Pursuit) 1943
Steve Wagner (Errol Flynn), um integrante da Polícia Montada Canadiana, de origem alemã, descobre a existencia de uma organização que trabalha para os nazis. Graças às suas orígens, infiltra-se na organização, mas a sua noiva é feita prisoneira e usada como refém.
Raoul Walsh está bem dentro dos seus elementos, ao dirigir este thriller de guerra passado na zona frígida de Manitoba, no Canadá, em 1941. É baseado numa história original de Leslie T. White, e escrita por A. I. Bezzerides. Seria o primeiro de uma série de três filmes, de uma rápida sucessão que Errol Flynn fez com Raoul Walsh, todos eles ambientados na Segunda Guerra Mundial. Os seus dias de swashbuckling estavam definitivamente para trás, mas eles ainda não mostrava efeitos nocivos do seu estilo de vida degradante, álcool e um estilo de vida cheio de vícios. Flynn é, na realidade, a melhor parte do filme, mesmo que não seja dos seus melhores papeis.
Errol Flynn estava envolvido num julgamento de uma violação na vida real, o que originou muita publicidade gratuita, e deu a este épico de aventuras um grande impulso nas bilheteiras. A perseguição aos Nazis foi muito bem encenada sobre os campos cobertos de neve do norte do Canadá. Com excepção do excesso de heroísmo de Flynn, o resto da história é um muito bem suportável Bem contra o Mal.
Julie Bishop, que já tinha entrado em "Action in North Atlantic", também de Walsh, é o contraponto romântico, ao passo que Helmut Dantine é um vilão nazi algo atrapalhado. Destaque para o papel de Gene Lockhart.
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Raoul Walsh está bem dentro dos seus elementos, ao dirigir este thriller de guerra passado na zona frígida de Manitoba, no Canadá, em 1941. É baseado numa história original de Leslie T. White, e escrita por A. I. Bezzerides. Seria o primeiro de uma série de três filmes, de uma rápida sucessão que Errol Flynn fez com Raoul Walsh, todos eles ambientados na Segunda Guerra Mundial. Os seus dias de swashbuckling estavam definitivamente para trás, mas eles ainda não mostrava efeitos nocivos do seu estilo de vida degradante, álcool e um estilo de vida cheio de vícios. Flynn é, na realidade, a melhor parte do filme, mesmo que não seja dos seus melhores papeis.
Errol Flynn estava envolvido num julgamento de uma violação na vida real, o que originou muita publicidade gratuita, e deu a este épico de aventuras um grande impulso nas bilheteiras. A perseguição aos Nazis foi muito bem encenada sobre os campos cobertos de neve do norte do Canadá. Com excepção do excesso de heroísmo de Flynn, o resto da história é um muito bem suportável Bem contra o Mal.
Julie Bishop, que já tinha entrado em "Action in North Atlantic", também de Walsh, é o contraponto romântico, ao passo que Helmut Dantine é um vilão nazi algo atrapalhado. Destaque para o papel de Gene Lockhart.
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O Expresso Bagdad-Istambul (Background to Danger) 1943
Ankara na Turquia neutra, Segunda Guerra Mundial. Uma cidade de intrgas e provocações. Os alemães planeiam roubar os planos que mostram que os russos irão invadir o país. O americano Joe Barton (George Raft) sabe disso, e junto com Zaloshoff (Peter Lorre) e a sua irmã (Brenda Marshall) são acusados de serem espiões.
A história de "Background to Danger" era baseada num romance de Eric Ambler chamado "Uncommon Danger". Considerado um dos pioneiros do thriller político moderno, Ambler publicou 19 trabalhos a solo na sua carreira, e trabalhou em mais quatro livros sob o pseudónimo de Eliot Reed. "Background to Danger" foi a segunda adaptação de Ambler para a tela, e apesar de algumas alterações nos locais de filmagens, o filme manteve-se bastante fiel ao romance de Ambler. Como o livro foi escrito em 1937, antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o vilão do filme foi alterado. Na história de Amber, o espião americano Joe Barton combate a Pan Eurasian Petroleum Co. Em 1943, tal vilão parecia inofensivo, e assim o espião passava a combater Hitler e os Nazis.
Como filme, "Background to Danger" era uma obra bastante interessante. A Warner Bros tinha grandes expectativas para ele, visto como uma espécie de sequela para "Casablanca". O estúdio pretendia que o filme recriasse a mesma atmosfera que a obra anterior, e o sucesso da dupla Bogart/Bergman. Era também uma oportunidade para George Raft recriar uma personagem como o Rick de "Casablanca", papel que lhe tinha sido oferecido e ele tinha recusado. Desde o início do filme que é aparente a influência de "Casablanca". Temos o mesmo tipo de abertura, o close-up de um mapa, para estabelecer o cenário e a história. Tem o mesmo tipo de história, e também muitos momentos patrióticos. Mas em comparação com a imensidão de "Casablanca", o filme fica-se por aqui.
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A história de "Background to Danger" era baseada num romance de Eric Ambler chamado "Uncommon Danger". Considerado um dos pioneiros do thriller político moderno, Ambler publicou 19 trabalhos a solo na sua carreira, e trabalhou em mais quatro livros sob o pseudónimo de Eliot Reed. "Background to Danger" foi a segunda adaptação de Ambler para a tela, e apesar de algumas alterações nos locais de filmagens, o filme manteve-se bastante fiel ao romance de Ambler. Como o livro foi escrito em 1937, antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o vilão do filme foi alterado. Na história de Amber, o espião americano Joe Barton combate a Pan Eurasian Petroleum Co. Em 1943, tal vilão parecia inofensivo, e assim o espião passava a combater Hitler e os Nazis.
Como filme, "Background to Danger" era uma obra bastante interessante. A Warner Bros tinha grandes expectativas para ele, visto como uma espécie de sequela para "Casablanca". O estúdio pretendia que o filme recriasse a mesma atmosfera que a obra anterior, e o sucesso da dupla Bogart/Bergman. Era também uma oportunidade para George Raft recriar uma personagem como o Rick de "Casablanca", papel que lhe tinha sido oferecido e ele tinha recusado. Desde o início do filme que é aparente a influência de "Casablanca". Temos o mesmo tipo de abertura, o close-up de um mapa, para estabelecer o cenário e a história. Tem o mesmo tipo de história, e também muitos momentos patrióticos. Mas em comparação com a imensidão de "Casablanca", o filme fica-se por aqui.
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domingo, 12 de julho de 2015
Comboio para Leste (Action in the North Atlantic) 1943
Em plena II Guerra Mundial, um petroleiro americano é afundado nas Caraíbas pelos alemães, e ali toda a tripulação jura vingar-se. O seu capitão e a tripulação voltam a embarcar num navio integrado num comboio que se dirige para a Rússia, numa missão que irá ter muitos obstáculos.
Action in the North Atlantic (1943) foi pensado como uma homenagem à Marinha Mercante, em forma de curta metragem, mas rapidamente foi transformado numa longa. Por causa do mediatismo das muitas perdas causadas aos navios da Marinha Mercante americana nos primeiros tempos da II Guerra Mundial, o produtor Jerry Wald conseguiu colocar o filme em produção apenas 5 semanas depois de lhe terem atribuído o trabalho. Dois dos navios foram construídos nos estúdios da Warner, mesmo antes do argumentista John Howard Lawson ter acabado o argumento. Nesta altura o filme era para se chamar "Torpedoed.".
O veterano da Warner Bros Lloyd Bacon foi designado como realizador, e todo o filme foi rodado nos estúdios de som da Warner. Era exigida uma grande quantidade de efeitos especiais, que precisavam de ser produzidos num ambiente controlado, que só um estúdio de som podia proporcionar. O velho cargueiro que é destruído no filme, queimado durante vários dias antes de afundar, foi recriado num tanque no "Stage Nine".
A produção durou mais 45 dias do que o previsto, e Jerry Wald completava o seu último filme antes de entrar em serviço na guerra, e acabou por apanhar úlceras durante as filmagens. Há quem diga que as úlceras foram causadas ou pelo medo do serviço militar ou pelas pelas longas e conturbadas filmagens desta obra.
Apesar do inegável fervor patriótico que rodeava a exibição de "Action in the North Atlantic", também havia um lado politicamente correcto neste filme. O filme surgia em 1943, quando os Estados Unidos e a União Soviética ainda eram aliados, e ocasionalmente foca-se nos laços entre os dois países. Mas alguns anos depois, na era do Pós-Guerra, algumas partes do filme viriam a ser um embaraço para os estúdios da Warner.
O elenco, bastante interessante, contava com Bogart, Raymond Massey, Alan Hale, Ruth Gordon, entre outros. Dos três realizadores que participaram na realização deste filme, apenas aparece o nome de Lloyd Bacon. Raoul Walsh e Byron Haskin ficaram de fora.
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Action in the North Atlantic (1943) foi pensado como uma homenagem à Marinha Mercante, em forma de curta metragem, mas rapidamente foi transformado numa longa. Por causa do mediatismo das muitas perdas causadas aos navios da Marinha Mercante americana nos primeiros tempos da II Guerra Mundial, o produtor Jerry Wald conseguiu colocar o filme em produção apenas 5 semanas depois de lhe terem atribuído o trabalho. Dois dos navios foram construídos nos estúdios da Warner, mesmo antes do argumentista John Howard Lawson ter acabado o argumento. Nesta altura o filme era para se chamar "Torpedoed.".
O veterano da Warner Bros Lloyd Bacon foi designado como realizador, e todo o filme foi rodado nos estúdios de som da Warner. Era exigida uma grande quantidade de efeitos especiais, que precisavam de ser produzidos num ambiente controlado, que só um estúdio de som podia proporcionar. O velho cargueiro que é destruído no filme, queimado durante vários dias antes de afundar, foi recriado num tanque no "Stage Nine".
A produção durou mais 45 dias do que o previsto, e Jerry Wald completava o seu último filme antes de entrar em serviço na guerra, e acabou por apanhar úlceras durante as filmagens. Há quem diga que as úlceras foram causadas ou pelo medo do serviço militar ou pelas pelas longas e conturbadas filmagens desta obra.
Apesar do inegável fervor patriótico que rodeava a exibição de "Action in the North Atlantic", também havia um lado politicamente correcto neste filme. O filme surgia em 1943, quando os Estados Unidos e a União Soviética ainda eram aliados, e ocasionalmente foca-se nos laços entre os dois países. Mas alguns anos depois, na era do Pós-Guerra, algumas partes do filme viriam a ser um embaraço para os estúdios da Warner.
O elenco, bastante interessante, contava com Bogart, Raymond Massey, Alan Hale, Ruth Gordon, entre outros. Dos três realizadores que participaram na realização deste filme, apenas aparece o nome de Lloyd Bacon. Raoul Walsh e Byron Haskin ficaram de fora.
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sábado, 11 de julho de 2015
Jornada Trágica (Desperate Journey) 1942
Quando o Tenente Forbes (Errol Flynn), e a sua tripulação são abatidos depois de bombardearem o alvo, descobrem informações valiosas sobre uma fábrica de aviões escondida, e por isso têm de voltar a Inglaterra. Pelo caminho de regresso, ao atravessar a Alemanha, tentam causar o maior dano possível. Depois, com os perseguidores alemães prestes a atacar, eles conseguem engredar um plano engenhoso para escapar.
"Desperate Journey" estava entre uma série de filmes de guerra anti-nazis, produzidos pela Warner Bros, que tentavam envergonhar o regime de Hitler, ao mostrar actos de heroísmo, honra, tolerância, ingenuidade democrática e anti-fascismo, e o filme parece estranhamente de entretimento nos dias de hoje.
É pura propaganda - cooperação democrática, bons; fascismo e nazismo, maus. Mas este filme em particular parece familiar, porque o conceito de deixar caír os arquetipos da actualidade, num conflito periódico é totalmente contemporâneo.
A tripulação multi.nacionalista de um bombardeiro inglês inclui o australiano Terry Forbes (Errol Flynn), o americano Johnny Hammond (Ronald Regan), outro americano chamado Kirk Edwards (Alan Hale), o canadiano Jed Forrest (um muito jovem Arthur Kennedy), e o jovem Lloyd Hollis (Ronald Sinclair), querendo desesperadamente seguir a alta taxa de matar alemães como o seu pai, e manter a honra militar da familia.
Raymond Massey devora o cenário como o Major Otto Baumeister, um oficial nazi anti-americano cuja frustração em ser constantemente enganado pelos insurgentes democráticos se ergue como um crescendo. No entanto, Massey é muito cuidado para não fazer da sua personagem caricatural.
A política pró-democrática/anti-totalitária é datada, mas é tratada com tal irreverência que o filme se parece como uma pulp novel, cujo foco principal está na aventura, em vez de estar na política anti-fascista. A realização de Walsh é incrivelmente sofisticada e cheia de energia, por isso não há tempo das personagens pararem e darem o seu discurso para o público.
Foi nomeado para o Óscar de Melhores Efeitos Especiais, da autoria de Nathan Levinson, e Byron Haskin, que se tornaria num mestre da ficção científica durante a década de 50.
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"Desperate Journey" estava entre uma série de filmes de guerra anti-nazis, produzidos pela Warner Bros, que tentavam envergonhar o regime de Hitler, ao mostrar actos de heroísmo, honra, tolerância, ingenuidade democrática e anti-fascismo, e o filme parece estranhamente de entretimento nos dias de hoje.
É pura propaganda - cooperação democrática, bons; fascismo e nazismo, maus. Mas este filme em particular parece familiar, porque o conceito de deixar caír os arquetipos da actualidade, num conflito periódico é totalmente contemporâneo.
A tripulação multi.nacionalista de um bombardeiro inglês inclui o australiano Terry Forbes (Errol Flynn), o americano Johnny Hammond (Ronald Regan), outro americano chamado Kirk Edwards (Alan Hale), o canadiano Jed Forrest (um muito jovem Arthur Kennedy), e o jovem Lloyd Hollis (Ronald Sinclair), querendo desesperadamente seguir a alta taxa de matar alemães como o seu pai, e manter a honra militar da familia.
Raymond Massey devora o cenário como o Major Otto Baumeister, um oficial nazi anti-americano cuja frustração em ser constantemente enganado pelos insurgentes democráticos se ergue como um crescendo. No entanto, Massey é muito cuidado para não fazer da sua personagem caricatural.
A política pró-democrática/anti-totalitária é datada, mas é tratada com tal irreverência que o filme se parece como uma pulp novel, cujo foco principal está na aventura, em vez de estar na política anti-fascista. A realização de Walsh é incrivelmente sofisticada e cheia de energia, por isso não há tempo das personagens pararem e darem o seu discurso para o público.
Foi nomeado para o Óscar de Melhores Efeitos Especiais, da autoria de Nathan Levinson, e Byron Haskin, que se tornaria num mestre da ficção científica durante a década de 50.
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quinta-feira, 9 de julho de 2015
O Ídolo do Público (Gentleman Jim) 1942
Em um dos seus veículos mais populares, no auge da década de quarenta, na Warner Brothers, Errol Flynn deu um salto até ao melodrama, com "Gentleman Jim", o retrato fantasioso do campeão de boxe de pesos pesados, do século XIX, chamado James J. Corbett (1866-1933). Não é segredo que o argumento levou com um excesso de dramatismo em relação aos detalhes da vida de Corbett, e Flynn esforçou-se extraordinariamente para replicar o estilo do lutador revolucionário, para que as suas perfomances no ringue proporcionassem um ambiente envolvente.
Corbett foi o primeiro campeão a ganhar o título sob as regras de Queensbury, e foi pela sua maneira de ser respeitável e tranquila, incaracterística do mundo do boxe, que ele ganhou a fama. O argumento, muito livremente adaptado da biografia do pugilista, "The Roar of the Crowd", começa em São Francisco, em 1867, onde o jovem Corbett tem um emprego respeitável como caixa de um banco. Depois de ajudar na fuga de um juiz proeminente da assitência de um combate ilegal, Corbett ganha um convite para o prestigiante Olympic Club. É neste clube que a sua carreira vai iniciar.
Grande parte da substância do filme foi bastante alterada em relação ao livro. O casamento de Corbett de 1886 foi convenientemente substituído pelo romance com uma bonita cliente do Banco (Alexis Smith). A vida pessoal de Corbertt é amplamente retratada na casa do patriarca irlandês, interpretado por Alan Hale, evitando o assassinato/suícidio dos pais de Corbett na vida real. Para ser aceite no mundo de Hollywood o filme também conta com um elenco interessante tanto nos papéis principais, como secundários, contando ainda com nomes como Jack Carson, Ward Bond, entre outros.
Atrás das câmeras estava Raoul Walsh, que contava na sua autobiografia que teve oportunidade, em jovem, de conhecer o verdadeiro Corbett. O pai de Walsh levara-o para assistir a um treino para um combate contra o campeão da altura, Jim Jeffries, e apresentou-o a ele, de quem era conhecido.
Flynn raramente foi dobrado nas sequências de luta, frequentemente assistido por outro campeão chamado Mushy Callahan, e uma outra autoridade do mundo do boxe, Ed Cochrane, e a sua determinação para replicar ao máximo o campeão era enorme. Flynn era famoso pelas suas noitadas em Hollywood, mas em 1942 foi sacudido com alguns problemas de saúde, que culminaram com o colapso durante as gravações de "Gentleman Jim". O estúdio tinha-o levado até à fadiga, e os médicos diagnosticaram um pequeno ataque de coração.
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Corbett foi o primeiro campeão a ganhar o título sob as regras de Queensbury, e foi pela sua maneira de ser respeitável e tranquila, incaracterística do mundo do boxe, que ele ganhou a fama. O argumento, muito livremente adaptado da biografia do pugilista, "The Roar of the Crowd", começa em São Francisco, em 1867, onde o jovem Corbett tem um emprego respeitável como caixa de um banco. Depois de ajudar na fuga de um juiz proeminente da assitência de um combate ilegal, Corbett ganha um convite para o prestigiante Olympic Club. É neste clube que a sua carreira vai iniciar.
Grande parte da substância do filme foi bastante alterada em relação ao livro. O casamento de Corbett de 1886 foi convenientemente substituído pelo romance com uma bonita cliente do Banco (Alexis Smith). A vida pessoal de Corbertt é amplamente retratada na casa do patriarca irlandês, interpretado por Alan Hale, evitando o assassinato/suícidio dos pais de Corbett na vida real. Para ser aceite no mundo de Hollywood o filme também conta com um elenco interessante tanto nos papéis principais, como secundários, contando ainda com nomes como Jack Carson, Ward Bond, entre outros.
Atrás das câmeras estava Raoul Walsh, que contava na sua autobiografia que teve oportunidade, em jovem, de conhecer o verdadeiro Corbett. O pai de Walsh levara-o para assistir a um treino para um combate contra o campeão da altura, Jim Jeffries, e apresentou-o a ele, de quem era conhecido.
Flynn raramente foi dobrado nas sequências de luta, frequentemente assistido por outro campeão chamado Mushy Callahan, e uma outra autoridade do mundo do boxe, Ed Cochrane, e a sua determinação para replicar ao máximo o campeão era enorme. Flynn era famoso pelas suas noitadas em Hollywood, mas em 1942 foi sacudido com alguns problemas de saúde, que culminaram com o colapso durante as gravações de "Gentleman Jim". O estúdio tinha-o levado até à fadiga, e os médicos diagnosticaram um pequeno ataque de coração.
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quarta-feira, 8 de julho de 2015
O Último Refúgio (High Sierra) 1941
"O último refúgio, de Raoul Walsh, é um marco do gênero gângster, uma virada na carreira de Humphrey Bogart e um exemplo de filme de ação existencialista. Como Herois esquecidos (1939), a obra anterior de Walsh, O último refúgio é um filme de gangster em forma de elegia, atípico dentro desse período dominado pelo Código de Produção por conta do seu retrato compassivo do gângster como um proscrito fora de época. O veterano Roy Earle (Bogart) mostra estar acima dos marginais e hipócritas que encontra em ambos os lados da lei ao liderar um roubo malfadado a um hotel, cometer a tolice de perseguir uma garota respeitável (Joan Leslie) e encontrar brevemente na personagem também proscrita de Ida Lupino uma melhor companheira.
Em contraste com seus contemporâneos John Ford, Howard Hawks, Frank Capra e Michael Curtiz, que frisavam o valor de uma comunidade ou grupo, Walsh deu mais peso ao egoísmo , inconformismo e qualidades anti-sociais dos seus heróis. A visão de O último refúgio de uma sociedade moralmente rígida é de uma mordacidade extraordinária, alcançando seu auge na sequência em que Roy é rejeitado de forma humilhante por sua princesinha insossa de classe média em favor de seu namorado arrogante e conformista. Depois de uma década interpretando quadrados e marginais, Bogart conseguiu seu papel mais substancioso até então em O último refúgio. Em O falcão maltês, seu outro filme importante de 1941, Bogart é expansivo, presunçoso, dominador. Aqui, no universo de Walsh, sua atuação mais sutil cria uma persona claramente diferente: soturno, reservado e tenso, com os ombros encurvados e gestos econômicos, enfatizando a natureza retraída do personagem.
Mesmo nas cenas mais íntimas com sua alma-gêmea Marie (Lupino), Walsh coloca objetos e barreiras entre os amantes para frisar seu isolamento fundamental. O último refúgio começa e termina no elevado pico do monte Whitney, que surge em todo o filme, sua presença hipnotizadora conduzindo o herói a o seu destino solitário. Um outro personagem do submundo diz a Roy: "Você se lembra do que Johnny Dillinger falou sobre sujeitos como você e ele? Ele disse que vocês estavam apenas correndo em direção à morte. É, isso mesmo: apenas correndo em direção à morte!" A ótima cena de perseguição de carros na qual os policiais seguem Roy pela montanha fatal acima – um espetacular desfecho para o estilo tenso e movimentado do filme - traduz essas palavras para a linguagem visual dinâmica do cinema de ação em seu auge."Daqui.
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Em contraste com seus contemporâneos John Ford, Howard Hawks, Frank Capra e Michael Curtiz, que frisavam o valor de uma comunidade ou grupo, Walsh deu mais peso ao egoísmo , inconformismo e qualidades anti-sociais dos seus heróis. A visão de O último refúgio de uma sociedade moralmente rígida é de uma mordacidade extraordinária, alcançando seu auge na sequência em que Roy é rejeitado de forma humilhante por sua princesinha insossa de classe média em favor de seu namorado arrogante e conformista. Depois de uma década interpretando quadrados e marginais, Bogart conseguiu seu papel mais substancioso até então em O último refúgio. Em O falcão maltês, seu outro filme importante de 1941, Bogart é expansivo, presunçoso, dominador. Aqui, no universo de Walsh, sua atuação mais sutil cria uma persona claramente diferente: soturno, reservado e tenso, com os ombros encurvados e gestos econômicos, enfatizando a natureza retraída do personagem.
Mesmo nas cenas mais íntimas com sua alma-gêmea Marie (Lupino), Walsh coloca objetos e barreiras entre os amantes para frisar seu isolamento fundamental. O último refúgio começa e termina no elevado pico do monte Whitney, que surge em todo o filme, sua presença hipnotizadora conduzindo o herói a o seu destino solitário. Um outro personagem do submundo diz a Roy: "Você se lembra do que Johnny Dillinger falou sobre sujeitos como você e ele? Ele disse que vocês estavam apenas correndo em direção à morte. É, isso mesmo: apenas correndo em direção à morte!" A ótima cena de perseguição de carros na qual os policiais seguem Roy pela montanha fatal acima – um espetacular desfecho para o estilo tenso e movimentado do filme - traduz essas palavras para a linguagem visual dinâmica do cinema de ação em seu auge."Daqui.
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segunda-feira, 6 de julho de 2015
Todos Morreram Calçados (They Died with Their Boots On) 1941
Acompanhamos a vida do General Custer (Errol Flynn) desde a sua época de estudante rebelde em West Point até ao massacre histórico em Little Big Horn. George Armstrong Custer, do Regimento da Sétima Cavalaria, sai da Academia de West Point para a Guerra Civil e dali para a fronteira, onde em Black Hills enfrentará os índios Sioux, resultando no massacre dos 264 membros da sua companhia. Esta é a história do General Custer na Guerra Civil Americana, e finalmente a sua morte, em Little Big Horn. A batalha contra chefe Crazy Horse, é retratada como um negócio tortuoso entre políticos, e uma sociedade que quer tomar as terras dos índios.
Um biopic ficcionalizado realizado por Raoul Walsh, como se de um western se tratasse. É um filme mais interessado em entretimento do que sendo historicamente correcto, porque mistura factos e ficção. Não tem grandes problemas em admitir que a história é um factor secundário, chegando mesmo a admitir que o General era um simpatizante dos índios, e que ele cavalheirescamente conduziu os seus homens numa missão suicida para salvar as tropas do seu colega do exército, e que foram algumas pessoas e não a política gananciosa do governo que causou a guerra. O argumento de Wally Klein é Aeneas MacKenzie é propício para o modo de filmar de Walsh, um realizador de acção.
Errol Flynn atinge o máximo das suas capacidades e contracena com actores secundários fabulosos (Olivia de Havilland, Arthur Kennedy, Gene Lockhart, Anthony Quinn, Sydney Greenstreet ou Hattie McDaniel). Se por um lado é um comédia romântica, é simultaneamente o retrato de um homem cuja política relativa aos índios veio mais tarde (e particularmente na nossa época) a granjear fortes críticas.
Foi a primeira colaboração de Errol Flynn com Raoul Walsh.
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Um biopic ficcionalizado realizado por Raoul Walsh, como se de um western se tratasse. É um filme mais interessado em entretimento do que sendo historicamente correcto, porque mistura factos e ficção. Não tem grandes problemas em admitir que a história é um factor secundário, chegando mesmo a admitir que o General era um simpatizante dos índios, e que ele cavalheirescamente conduziu os seus homens numa missão suicida para salvar as tropas do seu colega do exército, e que foram algumas pessoas e não a política gananciosa do governo que causou a guerra. O argumento de Wally Klein é Aeneas MacKenzie é propício para o modo de filmar de Walsh, um realizador de acção.
Errol Flynn atinge o máximo das suas capacidades e contracena com actores secundários fabulosos (Olivia de Havilland, Arthur Kennedy, Gene Lockhart, Anthony Quinn, Sydney Greenstreet ou Hattie McDaniel). Se por um lado é um comédia romântica, é simultaneamente o retrato de um homem cuja política relativa aos índios veio mais tarde (e particularmente na nossa época) a granjear fortes críticas.
Foi a primeira colaboração de Errol Flynn com Raoul Walsh.
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sábado, 4 de julho de 2015
Vidas Nocturnas (They Drive by Night) 1940
Os irmãos Paul e Joe Fabrini (George Raft e Humphrey Bogart) dirigem um negócio de camionagem na Califórnia, principalmente dirigido para o mercado da fruta, transportando produtos das explorações agrícolas para os mercados de Los Angeles. Lutam para sobreviver contra os empresários corruptos e a intensa competição. São forçados a conduzir muitas horas e uma noite dão boleia à jovem Cassie Hartley (Ann Sheridan), que acabara de se despedir do seu emprego num terminal de camionagem. Os três testemunham a morte de um conhecido mútuo, que adormece ao volante. Isto causa um profundo efeito em Paulo e Joe, que ficam determinados a encontrar um modo de conseguir um bom dinheiro, para desistir deste trabalho.
Um dos filmes mais populares da Warner no início dos anos 40, "They Drive by Night" é uma obra intensa e emocionante, que apresentava um quarteto de quatro estrelas (Raft, Bogard, Sheridan e Ida Lupino), e era baseado no livro "Long Haul", de A. I. Bezzerides, com argumento de Jerry Wald e Richard Macauley. A segunda parte do filme, é uma vaga adaptação de um outro filme chamado "Bordertown", um "bad girl" melodrama interpretado por Bette Davis e Paul Muni. Como as duas histórias se complementam, e são adaptadas de um modo convincente, acaba por ser uma refrescante mudança de ritmo, pouco normal nas produções de Hollywood.
Já era a segunda colaboração entre Raoul Walsh e Humphrey Bogart, que por esta altura ainda não era uma estrela grande de Hollywood, mas sim um actor mais habituado a papéis de vilão. Os dois voltariam a encontrar-se no ano seguinte em "High Sierra", outra das mais interessantes obras da década de 40. A direcção de Walsh era sólida, e a interpretação de Boogie consegue manter o filme tenso o suficiente para que nunca consigamos adivinhar o que vai acontecer a seguir.
Destaque ainda para Alan Hale, num papel secundário que é um dos melhores do filme.
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Um dos filmes mais populares da Warner no início dos anos 40, "They Drive by Night" é uma obra intensa e emocionante, que apresentava um quarteto de quatro estrelas (Raft, Bogard, Sheridan e Ida Lupino), e era baseado no livro "Long Haul", de A. I. Bezzerides, com argumento de Jerry Wald e Richard Macauley. A segunda parte do filme, é uma vaga adaptação de um outro filme chamado "Bordertown", um "bad girl" melodrama interpretado por Bette Davis e Paul Muni. Como as duas histórias se complementam, e são adaptadas de um modo convincente, acaba por ser uma refrescante mudança de ritmo, pouco normal nas produções de Hollywood.
Já era a segunda colaboração entre Raoul Walsh e Humphrey Bogart, que por esta altura ainda não era uma estrela grande de Hollywood, mas sim um actor mais habituado a papéis de vilão. Os dois voltariam a encontrar-se no ano seguinte em "High Sierra", outra das mais interessantes obras da década de 40. A direcção de Walsh era sólida, e a interpretação de Boogie consegue manter o filme tenso o suficiente para que nunca consigamos adivinhar o que vai acontecer a seguir.
Destaque ainda para Alan Hale, num papel secundário que é um dos melhores do filme.
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sexta-feira, 3 de julho de 2015
Heróis Esquecidos (The Roaring Twenties) 1939
Como "Little Caesar" e "The Public Enemy", "The Roaring Twenties" é passado na década de 20, na era da Lei Seca, quando a lei activa abriu novas oportunidades para o crime organizado, mas esta produção está, na verdade, dividida em duas partes: uma viagem nostálgica para a história original de Mark Hellinger, e um compêndio com os melhores momentos de James Cagney, que depois se afastaria deste tipo de papéis durante quase 10 anos, até "White Heat". Cagney estava claramente cansado dos papéis de gangster e precisava de uma saída, mas o conceito de Hellinger oferecia uma colecção intrigante de personagens que valia a pena dizer sim.
O dilema do actor era simples: ele era demasiado bom para interpretar constamente vilões. Os argumentistas transformaram o papel de Eddie Bartlett num decente veterano da Primeira Guerra Mundial, que chega a casa e descobre que o seu patrão não se preocupou em aguentar o seu trabalho, numa altura em que opções de trabalho eram inexistentes, e como um veterano da guerra, ninguém parecia se preocupar com o que era feito da sua vida, excepto os seus colegas veteranos, o aspirante a advogado Lloyd Hart (Jeffrey Lynn) e o psycho Killer George Hally (Humphrey Bogart). Há personagens que vêm para casa da Grande Guerra, e encontram a desilusão e a falta de oportunidades e apoio, um cocktail tóxico que irá empurrar Eddie para uma carreira desesperada.
O Eddie de Cagney é, na verdade, a sombra do meio do que são as três facetas de um personagem: ele é um homem duro, mas de bom coração, que tentou manter alguma justiça e confiança durante a sua carreira do crime subconsequente, mas tornou-se uma força letal, porque é assim que ele consegue sobreviver.
Raoul Walsh mostrou que tinha um dom especial para a acção e a comédia irónica, e foi por isso que os estúdios da Warner o puxaram para a lista A, dos seus principais realizadores, e entregaram-lhe em mãos "High Sierra"(1941), novamente com Bogart, e vários filmes com Errol Flynn, incluindo obras de propaganda da segunda guerra mundial como "Objective, Burma" (1945), "Uncertain Glory" (1944) ou "Northen Pursuit (1943).
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O dilema do actor era simples: ele era demasiado bom para interpretar constamente vilões. Os argumentistas transformaram o papel de Eddie Bartlett num decente veterano da Primeira Guerra Mundial, que chega a casa e descobre que o seu patrão não se preocupou em aguentar o seu trabalho, numa altura em que opções de trabalho eram inexistentes, e como um veterano da guerra, ninguém parecia se preocupar com o que era feito da sua vida, excepto os seus colegas veteranos, o aspirante a advogado Lloyd Hart (Jeffrey Lynn) e o psycho Killer George Hally (Humphrey Bogart). Há personagens que vêm para casa da Grande Guerra, e encontram a desilusão e a falta de oportunidades e apoio, um cocktail tóxico que irá empurrar Eddie para uma carreira desesperada.
O Eddie de Cagney é, na verdade, a sombra do meio do que são as três facetas de um personagem: ele é um homem duro, mas de bom coração, que tentou manter alguma justiça e confiança durante a sua carreira do crime subconsequente, mas tornou-se uma força letal, porque é assim que ele consegue sobreviver.
Raoul Walsh mostrou que tinha um dom especial para a acção e a comédia irónica, e foi por isso que os estúdios da Warner o puxaram para a lista A, dos seus principais realizadores, e entregaram-lhe em mãos "High Sierra"(1941), novamente com Bogart, e vários filmes com Errol Flynn, incluindo obras de propaganda da segunda guerra mundial como "Objective, Burma" (1945), "Uncertain Glory" (1944) ou "Northen Pursuit (1943).
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quinta-feira, 2 de julho de 2015
Sérgio Sollima (1921-2015)
Faleceu hoje uma lenda do cinema italiano de género, que várias vezes passou aqui pelos Thousand Movies, quer através dos Spaghetti Westerns, quer através dos Poliziotteschi.
Para o recordar, fica aqui um dos seus filmes menos conhecidos, com legendas em inglês.
Il Diavolo Nel Cervello (1972) - Link Imdb