segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Um Eléctrico Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire) 1951

 Adaptado da peça de Tennessee Williams do mesmo nome, que ganhou o prémio Pulitzer e gozou de um enorme sucesso na Broadway. Elia Kazan usou grande parte do elenco da peça no filme, e fez apenas algumas mudanças no argumento, para satisfazer o chefe do PCA, Joseph Breen. "A Streetcar Named Desire", passado no bairro françês de New Orleans nos anos imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, conta a história de Blanche Dubois, uma frágil e neurótica ex-professora de inglês, que chega ao apartamento da sua irmã grávida Stella, e do cunhado Stanley, da sua cidade natal Laurel, no Mississipi. Ela clama que tirou um tempo de folga por causa de uma exaustão nervosa, mas na verdade perdeu o emprego porque seduziu um jovem de 17 anos, que o seu pai denunciou. 
A versão cinematográfica foi a fonte de um amargo conflito entre os censores, o realizador Elia Kazan, e o dramaturgo Tennessee Williams. Antes mesmo das filmagens começarem Joseph Breen disse ao produtor que o filme não seria feito sem grandes cortes em algumas cenas e diálogos. Depois de ler o argumento Breen escreveu u memorando para a Warner Bros relatando que eles teriam de remover todas as interferências de sexo e perversão em referência a Blanche e o seu jovem amante, assim como algumas referências a que Blanche fosse uma ninfomaníaca.  Além disso Breen também previu problemas com uma cena de violação e sugeriu várias alternativas, incluindo Blanche inventar a violação e Stanley provar que não a violou. Nas negociações que sucederam entre os censores e a produtora, esta última acabou por levar a melhor, porque Kazan e Williams mantiveram-se firmes, e a produtora não quis perder já todo o dinheiro investido, mas Breen acabou por levar a melhor na parte da violação.
Depois do filme terminado, a Warner deparou-se com outro problema, a LOD (Catholic Legion of Decency), que planeou avaliar o filme com a categoria C (de condemned) que deixaria muitos católicos afastados do filme, mas a Warner pediu para Kazan se reunir com um representante da LOD, o padre Patrick Masterson, que disse ao realizador que não faria nada, porque não era um censor. Só que a produtora não precisava de autorização do realizador ou argumentista para fazer cortes no filme, e a mando da LOD cortou mesmo algumas cenas na versão final. 
Quando o filme estreou criou uma tempestade de controvérsia, foi considerado imoral, decadente, vulgar e pecaminoso, mesmo depois dos cortes substanciais a que já tinha sido sujeito. Kazan lutou contra os cortes mas perdeu, e durante anos faltaram aqueles cinco minutos, que apesar de não serem muito tempo eram cruciais para o filme. A restauração de 1993 devolveu os minutos em falta, e agora já se pode ver o filme em toda a sua extensão e beleza.

Imdb    

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