segunda-feira, 6 de julho de 2020

Os Delinquentes (Los Golfos) 1960

Julián, Ramón, Juan, el Chato, Paco e Manolo são jovens espanhóis delinquentes a quem ninguém prestava atenção a não ser nos postos da polícia. Jovens da classe social baixa, miseráveis e desconhecidos, são um grupo de amigos que sobrevivem como podem nos subúrbios de Madrid. Juan quer ser toureiro, e os seus amigos dão pequenos golpes para ajudar na sua estreia.
Em relação aos estudantes do EOC que eu falei no post anterior, e que deram origem ao chamado Novo Cinema Espanhol, é difícil classificá-los como um grupo, já que os seus interesses variavam muito, desde as tendências introspectivas e obras altamente personalizadas de Basilio Martín Patino, até ao uso da alegoria de Carlos Saura. Não obstante, esta geração foi incomodada pela influência da ditadura política e frustrada pelos limites impostos à liberdade de expressão politica e criativa. 
O primeiro filme de Carlos Saura, "Los Golfos", produzido pela Filmes 59, de Pere Portabella, é por vezes considerado precursor do movimento, feito ainda em pleno periodo neorrealista, e com muitas características deste cinema, mas pode ser visto, estética e politicamente, como ponto de partida para o Novo Cinema Espanhol.
O filme teve um início difícil. Feito em 1959, estreado no Festival de Cannes de 1960, disputando a Palma de Ouro com filmes como "La Dolce Vitta", "A Balada do Soldado", ou "A Fonte da Virgem", de Bergman, não foi lançado em Espanha até 1962, depois de uma longa batalha com os censores e mais de 10 minutos de filme cortados. Uma tentativa consciente de romper com os filmes de estúdio da época, "Los Golfos" leva-nos até às ruas de Madrid, com algumas cenas que enfatizam o cenário urbano, enquanto que outras decorrem em locais que mostram a degradação e a pobreza. Este cenário sombrio transforma-se numa crítica social implícita, com os jovens protagonistas plenamente conscientes de que o seu ambiente social limita as suas perspecticas e contribui para a falta de objectivos das suas vidas diárias. Tornar-se alguém naquele ambiente parece um sonho impossível.
O destino deste filme, e do seu próximo trabalho ("Llanto por un Bandido", que veremos em breve neste ciclo) pelas mãos dos censores espanhóis, levaram Saura a um estilo de cinema mais opaco, ou matafórico, com o qual ele fez um nome de respeito no panorama internacional nos anos sessenta e setenta. 
Legendas em inglês.

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