domingo, 1 de março de 2020

Negro Pecado (Schwarze Sünde) 1990

Como vimos no texto anterior, A Morte de Empédocles teve quatro versões filmadas por Jean-Marie Straub e Danièle Huillet. A partir da terceira versão do texto de Hölderlin, os realizadores refizeram um excerto e, a partir dele, elaboraram uma curta metragem com cerca de 40 minutos. Esta foi estreada na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes de 1989. 
O excerto é um dos mais significativos de A Morte de Empédocles: corresponde ao período em que Empédocles já depois de ter sido banido da cidade decide que se deve suicidar. Embora não existam referências explícitas ao acto, as alusões ao fogo do Etna com um efeito purificador parecem bastante claras. Do mesmo se terá apercebido Pausânias, o jovem discípulo que se lhe mantém fiel e que o quer acompanhar e evitar o desfecho fatal. A troca de argumentos entre ambos é um exercício dialéctico notável onde conceitos filosóficos com a relação com a divindade e a natureza, o significado da vida e da morte e os aspectos morais da conduta humana estão necessariamente presentes. Enquanto filme puramente conceptual, Negro Pecado não precisa de a Morte de Empédocles para existir funcionando de forma autónoma, embora beneficie com um visionamento prévio. O aparecimento na fase final de um misterioso viajante que desenvolve um diálogo com Empédocles, confirma de forma definitiva que estamos perante um filme de palavras: sempre as de Hölderlin. 
A principal diferença relativamente ao filme anterior reside naquilo que poderíamos chamar de envolvimento paisagístico aquilo que o texto da Cinemateca dedicado a este filme chama de «uma radicalização do trabalho de mise-en-scène sobre Hölderlin, que é ainda mais agudo. Há mudanças de ponto de vista, como explica o realizador: “Em DER TOD DES EMPEDOKLES, não há um vale entre o ponto de vista e a montanha; em SCHWARZE SUNDE, há um vale imenso, é possível vê-lo, senti-lo. No primeiro, há uma ideia cénica, uma cena teatral, aqui é outra coisa” Este vale do Etna aparece já não como um pano de fundo, mas como um elemento central. Em certas passagens a voz de Empédocles surge apenas em fundo ao mesmo tempo que vemos a bela paisagem do vale que circunda o vulcão onde, segundo a lenda, Empédocles pôs termo à sua vida.
Legendas em inglês.
Texto de Jorge Saraiva.

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