As sombras são inerentemente assustadoras. Ao tomar a forma de quem elas assustam, não têm presença ou substância, então são reais e irreais. De certa forma elas são a ausência encarnada do que existe ignorando a presença da luz, então elas são mais definidas pelo que não são, do que pelo que são. Não há vida para elas, mas frequentemente sinalizam a presença de algo vivo, e é por isso que uma sombra que se move independentemente da sua fonte é talvez o objecto mais estranho imaginável. Esta ideia parece ser a base de "Vampyr", de Carl Theodor Dreyer, um filme de terror magistralmente evocativo e inquietante, que não conseguiu encontrar o público que merecia no início dos anos 30, pelo seu tom desafiador e a sua estrutura heterodoxa que era ameaçada pela abordagem mais convencional ao género de Tod Browning, em "Drácula" (1931).
A ironia é que Dreyer tinha em mente um "filme comercial", mas a sua sensibilidade artística e tendências espirituais asseguravam que o filme seria tudo menos isso. Na altura em que este filme foi feito o "filme de terror" ainda estava no seu estado inicial, uma categoria mal definida que incluía apenas alguns filmes, mas isso mudaria com a série de filmes de terror da Universal que estavam a ser produzidos. Na verdade, o filme de vampiros como o conhecemos, antes do filme de Dreyer, tinha aparecido apenas uma vez na tela, no expressionista "Nosferatu"(1922), de Murnau. A versão de Browning superaria a de Dreyer nas salas, e portanto o antecederia na imaginação popular.
Embora os créditos afirmem que "Vampyr" seja baseado em "In a Glass Darkly", uma colecção de cinco contos do escritor irlandês Sheridan Le Fanu, ele é influenciado apenas por duas destas histórias, a mais notável “Carmilla,” um conto sobre uma vampira que se alimenta de belas vítimas femininas. Dreyer e o seu argumentista Christen Jul parecem também ter ido buscar muito à fonte do livro de Bram Stoker de 1897, "Drácula", bem como de todo o tipo de contos populares e histórias ocultas, que dão ao filme um ambiente autêntico e orgânico, que nos faz sentir em tempos antigos, apesar de ser feito no mundo moderno da altura.
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