terça-feira, 21 de outubro de 2014
Fogo de Artifício (Hana-Bi) 1997
Hana-bi, de Takeshi Kitano, é um filme muito peculiar, ocupado por inúmeros silêncios, olhares vazios, e mudanças de velocidade entre a reflexão e a ultra violência. Kitano (que também escreveu o argumento e fez a montagem) interpreta Nishi, um polícia conhecido pela sua natureza impulsiva e violenta, mas que normalmente cumpre o seu trabalho, mesmo que por cima de algum sangue derramado. No entanto, Nishi já teve melhores dias. A sua esposa está a morrer lentamente de leucemia, e o seu parceiro de confiança, Horibe (Ren Osugi) é abatido e paralisado em serviço. Nishi, sentido-se culpado pela lesão do companheiro e subsequente degradação do estado mental deste, e querendo passar mais tempo com a esposa, é obrigado a retirar-se da policia, e ao fazê-lo é obrigado a recorrer a alguns meios um pouco sujos para financiar o seu tempo de inatividade e desespero. Mas as coisas ficam um pouco complicadas...
Kitano quase nunca fala, mas a sua presença em frente à câmera é extremamente eficaz. No seu silêncio, a personagem de Nishi torna-se um paradoxo completo, mas também se torna na segunda metade da sua esposa (que também quase nunca fala), e ambos fazem um grande contraste com os outros personagens do filme, que exibem abertamente os seus sentimentos em cada momento do filme.
Horibe, por causa da sua lesão, e da consequente partida da sua esposa e filha, tornou-se suicida, preso a uma cadeira de rodas e aborrecido com a vida em geral. Passa a vida a pintar (os quadros na verdade foram pintados por Kitano, depois de uma tentativa de suicídio em 1994), e está a ser monitorado pelos ex-parceiros que temem pela sua sanidade. De certa forma, a situação de Horibe não é tão dramática como a de Nishi. Enquanto os outros personagens são movidos pela necessidade de estar sempre a fazer alguma coisa, Nishi e a esposa são caracterizados por raramente mostrarem as suas emoções ou movimentos, e expressões apenas quando são necessárias. Parece que num mundo com falta de sinceridade, a sua esparsa interacção não é um sinal de uma ligação quebrada, mas uma necessidade de dar espaço ao outro, quer juntos ou separados.
O tom minimalista do filme é o que faz a violência trabalhar de forma tão eficaz, para transmitir a loucura de Nishi. A estática do filme serve para trabalhar com o ritmo lento, enquanto assistimos à descida de Nishi rumo ao desespero. Kitano infecta a beleza lírica e meditativa do cinema clássico japonês, e o que emerge é uma declaração profunda e original sobre a mortalidade, o quanto rica a vida humana pode ser, e quanto rápida ela pode ser tirada...
Ganhou vários prémios por esse mundo fora, incluindo o Leão de Ouro em Veneza.
Filme escolhido pelo Rui Alves de Sousa.
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Imdb
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