quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Uma Segunda Vida (Seconds) 1966



"Seconds" é um filme estranho, perturbador, que se preocupa com um desejo primordial: a fantasia de começar de novo, receber uma segunda chance para fazer o que se quer na vida, assumindo uma nova identidade. No entanto, o filme apenas lentamente vai revelando qual é o seu verdadeiro objectivo.
O filme começa com o veterano John Randolph (que tinha sido colocado na lista negra do MaCarthismo na década anterior), como Arthur Hamilton, um banqueiro de sucesso que foi vivendo afastado tanto da sua esposa ((Frances Reid), como do mundo que ele criou para si próprio, que é feito com confortos materiais (uma casa grande, um carro grande), que ele sempre quis. Aborrecido e frustrado com a sua vida, e impotente para fazer alguma coisa contra isso, aceita um convite de um estranho grupo, chamado "The Company”, para ser literalmente renascido: a sua morte vai ser simulada, a sua cara vai ser reconstruída com uma radical operação plástica, e ele vai ser colocado num novo local, com uma nova identidade, e terá uma nova hipótese de viver.
Uma nova vida começa: o rosto de Arthur é reconstruido cirurgicamente (a personagem agora é interpretada por Rock Hudson), o seu nome alterado para Antiochus “Tony” Wilson, e assume a rica posição social de um artista a viver em Malibu. Conhece uma bela mulher, e tenta viver uma vida selvagem e despreocupada, mas começa a sentir saudades da sua anterior esposa...
O que parece mais perturbador sobre "Seconds", é a completa negação da felicidade potencial para o protagonista: independentemente de onde ele esteja, nada combina consigo, o que faz dele um problema para a sua própria existência. O filme nunca nos dá uma razão para a infelicidade deste homem, mas também nos encoraja a assumir que ele é apenas um personagem trágico, e está condenado a ser um homem infeliz.
"Seconds" foi visto como uma mudança significativa na carreira de Rock Hudson, que na década de 60 estava em trajetória descendente, depois de em meados dos anos 50 ter participado, com sucesso, em melodramas de Douglas Sirk ("All That Heaven Allows" e "Written on the Wind"), e um número de comédias românticas com Doris Day, entre o final dos anos 50 e inicio dos anos 60 (a mais famosa "Pillow Talk"). Tal como a personagem interpretada por si, este era um renascimento para o actor Rock Hudson.
No entanto, o que realmente nos agarra em "Seconds" é o estilo visual, único, criado por Frankenheimer e o director de fotografia, James Wong Howe, cuja carreira cinematográfica já vinha desde os anos 20. Filmado em tons gritantes de preto e cinza, é um filme altamente subjectivo, utilizando truques muito bem elaborados, para nos mostrar a subjectividade de Arthur/Tony, e questionar tudo o que possa parecer objectivo. A natureza visual do filme, está presente desde os creditos de abertura, com uma sequência preparada por Saul Bass, que fez muitos dos famosos créditos iniciais de Hitchcock, incluindo "Vertigo" e "Psycho".

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