sábado, 7 de setembro de 2013

Meantime (Meantime) 1984



"Meantime", de Mike Leigh é um filme brutal, desagradável sobre pessoas brutais e desagradáveis​​, um cinema completamente desagradável de abjeção que toca profundamente nos desagrados das ​​vidas sem rumo dos seus protagonistas, como um verme cavando seu caminho em carne podre. O filme é centrado numa família que vive uma existência totalmente apoiada pelo governo: terminantemente desempregados, aceitando a dole semana após semana, vivendo na miséria, sem fazer nada o dia todo, a não ser ver televisão e passear pelas ruas como arruaceiros. Eles embebedam-se quando têm dinheiro, e caso contrário, tentam qualquer coisa para encontrar algo para fazer, qualquer coisa para passar as brandas horas intermináveis ​​que enfrentam. Para o pai Frank (Jeff Robert), esta existência é a prova da sua incompetência e fracasso, uma vida inteira passada neste lugar sombrio. Para piorar a situação, os seus dois filhos prometem ser apenas uma continuação do seu próprio fracasso: Mark (Phil Daniels) é um falso, vândalo desagradável, um delinquente juvenil e com o envelhecimento não parece superar esta fase, enquanto Colin (Tim Roth) é "lento", sem esperança de encontrar o caminho para fora deste lugar miserável. Leigh documenta, com uma honestidade inflexível, o trabalho penoso e a feiúra da vida. O filme expressa a desesperança e a inutilidade que estas pessoas sentem, descartadas e deixadas a apodrecer, sem esperança de encontrar qualquer trabalho.
O filme começa com um ambiente muito diferente, com Frank e a sua esposa Mavis (Pam Ferris), juntamente com os rapazes, a visitararem a irmã de Mavis, Barbara (Marion Bailey) e o marido John (Alfred Molina). John e Barbara são mais bem sucedidos, vivem numa casa suburbana agradável sonhando com redecorações de várias maneiras. A cena ferve com uma hostilidade mal contida, com Frank e Mavis a não conseguirem esconder o desprezo e inveja. Mavis tenta servir o chá para a irmã, e é lhe dita porcamente que está a usar a bandeja errada - provavelmente porque ela não tem o luxo de ser tão exigente sobre como se serve a comida em casa. Leigh manipula a cena com uma intensidade claustrofobica que transporta para o resto do filme. Close-ups são frequentes, destacando os olhares esquivos dos protagonistas. Todos estes personagens parecem estar constantemente a tentar ferir os outros. Leigh enfatiza os espaços apertados em que estas pessoas vivem, mesmo na supostamente luxuosa casa suburbana. A câmera raramente puxa para cenas de longa distância, excepto em alguns exteriores. Numa cena, a tensão acumula-se sobre o uso de uma casa de banho da família, e Leigh simplesmente espia pelo corredor com um shot estático como os membros da família esperam fora da porta da casa de banho, como abutres, esperando para atacar sempre que a porta for aberta. 
Incidentes mundanos como este guiam o filme, tudo isto captado com o estilo do confronto direto de Leigh. O filme é tão sombrio como a sua obra-prima posterior "Naked", com um traço de humor parecido, mas não tem a mesma poesia fatalista. "Meantime" é mais ligado à terra, menos propenso a violentos apocalípticos e pronunciamentos filosóficos grandiosos. O resultado é que o filme não é tão engenhoso como o seu homólogo posterior. Se "Naked" é uma declaração artística plenamente realizada sobre a pobreza, falta de habitação, e depressão, então Meantime é a realidade não mediada por trás da arte. O filme faz uma pausa para conversar com os outros habitantes desta comunidade, habitante dos blocos de apartamentos, inclusive em numa cena angustiante de um confronto entre o skinhead Coxy (Gary Oldman) e o tímido Hayley (Tilly Vosburgh). Tim Roth tem um desempenho fenomenal como um rapaz quieto, retraído, que mal percebe o que está a acontecer ao seu redor. O seu Colin é apenas um pouco menos consciente do que as outras pessoas no filme, apenas alguns passos à frente no caminho da abjeção e da ignorância generalizada que o cerca por todos os lados.

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