sábado, 19 de outubro de 2019

Pépé le Moko (Pépé le Moko) 1937

A Casbah de Argel nos anos 30: uma rede inextricável de ruelas, casas de jogos clandestinas e traficantes. Pépe le Moko (Jean Gabin), um gangster de origem metropolitana reina nessa área, gozando com os policias. Para capturá-lo, seria preciso que ele saísse do seu reduto, inacessível às autoridades. É o que tenta fazer o astuto inspector Slimane.
"Pépé le Moko" é o filme que fez do actor francês Jean Gabin uma estrela. Longe de ser o seu primeiro papel, ele já tinha entrado em cerca de duas dezenas de filmes anteriormente, e não era um actor convencionalmente bonito que se colocasse como protagonista de um filme, mas era um actor que transmitia confiança e autoridade, mesmo quando o víamos preso numa trama fatalista condenado a morrer. André Bazin definiu-o como o "herói trágico do cinema contemporâneo", e foi de facto este filme que ajudou a definir a sua persona.
Na altura o filme foi descrito como "realismo poético", um termo usado para filmes de realizadores como Jean Renoir ou Marcel Carné, que usavam cenários realistas que foram evocativamente estilizados para melhorar o clima e a atmosfera. Nesse sentido, o realizador Julien Duvivier usou o próprio Casbah para filmar as fatalidades do filme. O Casbah era um bairro construído numa colina e composto por ruas estreitas e sinuosas, becos sem saída e uma variedade multiétnica super lotada por pessoas de todo o mundo, um labirinto misterioso onde poucos de fora podiam penetrar, e por isso era um esconderijo perfeito para o nosso esquivo protagonista.
Curiosamente, Duvivier era muitas vezes descrito como um realizador pouco talentoso, um realizador que se apropriava de qualquer estilo que se adaptasse às suas necessidades, sem uma voz autoral verdadeira. No entanto, quem vê "Pépé le Moko" reconhecerá imediatamente a amplitude das suas habilidades, sendo ele capaz de coreografar momentos de intenso desejo emocional, bem como momentos de flagrante violência. 
Apesar de grande aclamação mundial o público americano ficou largos anos sem o ver, porque o realizador John Cromwell o refez um ano depois como "Algiers", que apesar de um bom elenco (Charles Boyer foi nomeado para o Óscar como protagonista), ficou muito aquém do filme de Duvivier, nem mesmo com algumas cenas a serem copiadas integralmente. 

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