terça-feira, 3 de abril de 2018

Manuel Guimarães

Manuel Guimarães é "um dos mais incompreendidos e mais injustamente desconhecidos realizadores portugueses, cuja obra é urgente rever e redescobrir"

Manuel Guimarães é "um dos mais incompreendidos e mais injustamente desconhecidos realizadores portugueses, cuja obra é urgente rever e redescobrir", lembra ainda a Cinemateca sobre o realizador que surge nos anos de 1950, antes da emergência do Cinema Novo da década de 1960.
Nascido na região de Albergaria-a-Velha, em 1915, Manuel Guimarães iniciou a carreira no cinema, integrado nas equipas de Manoel de Oliveira (de quem foi assistente de realização, em Aniki-Bóbó, em 1942), Brum do Canto ou Arthur Duarte, depois do curso de Pintura da Escola de Belas Artes do Porto.
Realizou o primeiro filme em 1949, a curta-metragem O Desterrado, sobre o escultor Soares dos Reis. Seguir-se-ia Saltimbancos, de 1951, que adaptava o romance de Leão Penedo. Acentuou a crítica social em Nazaré, sobre o dia-a-dia dos pescadores, e em Vidas Sem Rumo, centrado nas comunidades mais pobres de Lisboa, obras que o transformaram em alvo da censura e da ditadura do Estado Novo.
Para sobreviver, passou a dirigir filmes comerciais e reportagens de acontecimentos desportivos. Foi nesse contexto que surgiu A Costureirinha da Sé (1958), exemplar tardio da comédia "à portuguesa", já em registo de filme-opereta, filmado na zona histórica do Porto e marcado por um apurado trabalho da cor.
Na década de 1960, dirigiu O Crime da Aldeia Velha (1964), sobre a peça homónima de Bernardo Santareno, e "O Trigo e o Joio (1965), a partir do romance de Fernando Namora.
O documentário, porém, dominava a sua actividade regular: produções de arte para a RTP e filmes sobre temas como os tapetes de Viana do Castelo, o ensino das Belas Artes, o escritor Fernando Namora, o escultor António Duarte, os pintores Dórdio Gomes e Júlio Resende, ou Areia Mar – Mar Areia, já da década de 1970.
Tráfego e Estiva (1968), curta-metragem sobre Lisboa ribeirinha, com música de Carlos Paredes e narração de Luís Filipe Costa, foi o primeiro filme português rodado em 70 milímetros.
Em 1972, Manuel Guimarães ensaiaria a comédia em Lotação esgotada". Mas foi com Cântico Final (1975), a partir do romance de Vergílio Ferreira, que fez ressoar, no protagonista, os seus últimos anos de vida, como destaca a Cinemateca, na apresentação da obra. "Tocante reflexão biográfica", escreve a instituição, Cântico Final é a súmula perfeita de uma vida norteada por um sentido ético inflexível e uma obra desalinhada dos padrões críticos da sua época, mutilada pela censura e menosprezada pela história do cinema, mas sempre caracterizada por uma grande dignidade artística".
Manuel Guimarães morreu em Janeiro de 1975, aos 59 anos. A montagem de Cântico Final foi concluída por seu filho, Dórdio Guimarães."



Este texto do jornal Público dá origem a este ciclo sobre o realizador português Manuel Guimarães, uma das grandes jóias do cinema português, que só teve o azar de ter nascido na altura errada, apesar dos seus filmes estarem ligados ao neorealismo, que era então preponderante. Veremos aqui grande parte das suas longas, e também um número considerável de curtas. A partir de quinta-feira. 

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