Aconteceu-me uma pequena desgraça com um dos meus discos rígidos. Desapareceram-me uma série de ficheiros, não todo, entre os quais os filmes que estavam programados para este ciclo. O espaço dos ficheiros está ocupado no disco, mas eles não aparecem lá. Ando a tentar resolver isto, mas se alguém tiver alguma pista, mande um mail para myonethousandmovies@gmail.com.
Entretanto, vou ter que fazer uma pausa até ao inicio do ano que vem. Um Feliz Natal e um Bom Ano de 2018 para todos.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Fantasporto 1982
Em 2018 vamos prestar uma série de homenagens ao Fantasporto, e provavelmente também a outros festivais, mas, numa série de ciclos, iremos aqui recordar várias edições deste festival, cada ciclo respeitante a um ano, com os filmes dessa edição a passarem aqui no blog. Ao fim de 37 anos este festival continua a ser um dos festivais de cinema fantástico mais importantes da Europa.
O Fantasporto - Festival Internacional de Cinema do Porto teve início em 1981, com uma edição experimental, mas foi em 1982 teve uma edição mais séria, com uma secção competitiva. Neste primeiro ano fizeram parte da selecção oficial 19 filmes, originários de países como Checoslováquia, Jugoslávia, Espanha, França, RFA, Estados Unidos, Polónia, entre outros. Destes 19 filmes, 14 irão passar neste ciclo do My Two Thousand Movies, ficando de fora apenas 5 por serem muito raros e serem impossíveis de se encontrar na internet.
Para tornar este "festival online" ainda mais realista, teremos um Júri que irá avaliar os filmes 37 anos depois. Será que o vencedor sería o mesmo? Vocês próprios podem ser júris, entrando no Grupo do Facebook do M2TM.
Mais para a frente, em 2018, irão ser recordadas outras edições do festival, em cada ciclo respectivo. Por agora, preparem-se para a primeira edição do Fantasporto Online. Até já.
domingo, 17 de dezembro de 2017
Criadores de Stop-Motion: Jirí Barta
Jirí Barta é um realizador de stop-motion checo. Os seus filmes, muitos dos quais usaram madeira para fazer animação, obtiveram aclamação da crítica e ganharam muitos prémios, mas depois da queda do governo comunismo na Checoslováquia ele não conseguiu completar nenhum filme no espaço de 15 anos (uma situação parecida com o que viveu na Rússia Yuriy Norshteyn). Ao longo dos anos 90 tentou arranjar fundos para um filme chamado the Golem (que pode ser visto online), mas até agora só conseguiu completar um curto piloto em 1993.
Hoje vamos conhecer alguns dos seus trabalhos mais famosos.
O Flautista (Krysar) 1986
O realizador Jiri Barta criou dezesseis bonecos com cascas de nozes e cento e setenta cenários em estilo gótico para recontar essa lenda do norte da Alemanha: a história de um flautista que consegue livrar uma rica cidade de seus indesejáveis ratos. Mas, quando os Conselheiros se recusam a pagar a quantia combinada, ele toca a sua flauta e atrai todos os cidadãos para fora da cidade. "Krisar" ganhou, em 1987, os prêmios dos festivais de Chicago, Espinho e Bilba, e concorreu no Fantasporto de 1987.
É uma média metragem, e não tem diálogos.
The Last Theft (Poslední Lup) 1987
Uma história sarcástica sobre um ladrão que se torna vítima das suas próprias vítimas. As suas vítimas veem do outro mundo, e levam-lhe o seu bem mais precioso, o sangue. A atmosfera fantasmagórica do filme é conseguida é conseguida através de animação artificial de colorização no filme. O estilo de Barta permanece sempre vanguardista, sem diálogo, sem qualquer localização geográfica, e uma história que testa a nossa capacidade de atenção.
Curta metragem que ganhou dois prémios importantes, nos festivais de Krakow e Valladolid.
The Club of the Laid Off (Klub Odlozenych) 1989
Velhos manequins passam o resto das suas vidas quebrados e rachados num armazém velho e abandonado. Novos manequins são trazidos para o armazém. Também estão velhos, mas são de uma geração mais nova. Os dois grupos têm de conviver um com o outro, o que não será fácil.
Uma grande curta, reminiscente de Svankmajer, com grande animação e uma óptima atmosfera decrepitada muito requintada. Um choque entre o passado e o presente, e a inevitável permutação dos dois.
Toys in the Attic (Na pude aneb Kdo má dneska narozeniny?) 2009
Num sótão cheio de lixo uma bonita boneca chamada Buttercup, vive num velho baú com os seus amigos: uma marioneta chamada Sir Handsome, o adorável Teddy Bear, um rato mecânico, e uma criatura de plasticina chamada Laurent. Quando Buttercup é raptada e levada para a "Terra do Mal" os seus amigos começam uma aventura para a resgatar.
Quando vemos esta obra-prima em stop-motion de Jirí Barta percebemos que não há uma quantidade de dinheiro que possa substituir o talento de um visionário com uma história inteligente, uma equipa dedicada, e um sótão cheiro de poeira e lixo.
É uma longa-metragem e tem legendas em inglês.sábado, 16 de dezembro de 2017
Um dia de Verão Soalheiro (Gu ling jie shao nian sha ren shi jian) 1991
"Épico em extensão mas não tanto em dimensão, este retrato subtil e rico de Taiwan assinado por Yang encaixa tantos pormenores na sua aparentemente breve duração de quatro horas que admira que o filme tenha saído tão curto. Passado em Taipei no princípio da década de sessenta, durante um único ano lectivo, "Um dia de Verão Soalheiro" mostra um país que ainda estava de ressaca por causa do influxo de nacionalistas chineses (liderados pelo repressivo Chiang Kai-shek). A Taiwan de Yang está dividida entre comunismo e democracia, nacionalismo e liberdade, com confusão, alienação e incerteza, conduzindo a uma desorganização por vezes debilitante.
Por mais rigoroso que seja este filme, Yang infunde-o com toques de humor e humanismo que compensam a atmosfera angustiante de tragédia iminente. A realização é paciente e serena; o filme é como uma grande sinfonia de dezenas de personagens cujo tom e ritmo são habilmente orquestrados por Yang. Preferindo planos longos, estáticos ou lentos a grandes planos, Yang dá ao elenco grande liberdade para explorar as suas emoções (ou aparente ausência delas), representando para a história e para os outros, não apenas para a câmara; ainda assim, é óbvio que Yang quer que o filme seja tanto sobre lugares e coisas específicos como sobre pessoas. Não admira pois, que o filme revele factos e situações com o cuidado, planeamento e deliberação de um grande romance.
Tampouco surpreende o peso emocional da conclusão trágica do filme, o resultado do rigoroso design narrativo de Yang (por sua vez o resultado de quatro anos de preparação) que consegue entrelaçar a história das gangues de rua de Taipei, amor adolescente, rock and roll, valores culturais perdidos e a busca de uma identidade nacional. Embora frequentemente comparado com o clássico melancólico Fúria de Viver, de Nicholas Ray, "Um dia de Verão Soalheiro" é muito mais do que isso. Uma obra-prima da Nova Vaga de Taiwan, e um ponto alto do cinema do final do século XX, este é um filme cuja percepção de tempo e lugar é magistral, ultrapassando quase o domínio da mera narração. É como um álbum de fotografias multifacetado, composto por fotos verdadeiramente comoventes, que convidam à reflexão."
Texto de Joshua Klein
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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
A Cidade da Tristeza (Beiqíng chéngshì) 1989
"Há duas histórias diferentes para relatar. Uma é a maravilhosa história que acontece por vezes, algures, na maior parte dos casos de forma imprevisível: a ascensão de uma Nova Vaga, de um movimento artístico num país, e a emergência de um ou dois (raramente mais) cineastas excepcionalmente talentosos. Acontece isso com o movimento do Novo Cinema, nos anos 80, em Taiwan, e um dos realizadores mais dotados que apareceram na altura foi Hsiao-Hsien Hou. Começou por fazer filmes pessoais, autobiográficos, que revelaram o seu sentido de ritmo, a intensidade física dos seus planos, a força sugestiva, à primeira vista indiferente, como filmava até as mais simples situações.
Há também uma segunda história, que diz respeito ao momento inevitável em que uma nação precisa do seu cinema para contar a si própria e ao mundo o seu percurso - revelar, por assim dizer, a sua autobiografia colectiva. Em 1989, o desaparecimento da ditadura militar que governou a ilha durante 40 anos, deu aos cineastas uma oportunidade para contar a história recente de Taiwan. E é isto que Hou, o "autor vanguardista subjectivo", decidiu fazer (e aquilo que continuaria a fazer com o "Hsimeng Jensheng" e "Haonan Haonu"). "Beiqing Chengshi", que foi claramente reconhecido no seu país como um grande passo em frente na capacidade do cinema para olhar, finalmente, para o passado recente de Taiwan, constitui um momento de viragem - um facto que também permitiu que o filme se tornasse num grande sucesso junto do público.
Uma mistura de fresco histórico e filme moderno, a complexa estrutura narrativa de Beiqing Chengshi (baseada nas vidas intrincadas de quatro irmãos) e a enorme quantidade de informação histórica que inclui transmitem uma sensação emocional e estética do período, os sentimentos individuais e colectivos, as reivindicações das diversas comunidades a que cada irmão pertence, queira ou não queira. Beiqing Chengshi não é só uma obra-prima. É um exemplo para todos os filmes que pretendem mostrar os principais acontecimentos de um país, e acabam, em vez disso, por se tornar quase sempre monumentos enfadonhos."
Texto de Jean-Michael Frodon
Parte 1
Parte 2
Parte 3
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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
Os Terroristas (Kong bu fen zi) 1986
Uma jovem escapa de um cerco da polícia. Sentindo-se oprimida e com a sua vida destruída, começa a irradiar as suas perturbações através de telefonemas anónimos. A partir daí, três histórias paralelas começam a se encaixar. O quebra-cabeças envolve, além da jovem terrorista, uma testemunha que fotografa os acontecimentos e um casal em crise.
Um filme profundo e onírico de histórias paralelas, sombrio, confuso e enigmático, onde tudo é magistralmente combinado. Edward Yang co-escreve o argumento com Hsiao Yehand, e cria uma atmosfera intensa, raramente vista num filme americano, que tem algo desagradável a dizer sobre a vida na grande cidade de Taipei, sobre aprender lições da vida da forma mais difícil, através da amarga experiência, que é possível ser terroristas sem realmente o perceber, e muitas vezes a nossa vida não corre tão bem como na ficção. Tudo termina como uma nota de ambiguidade, deixando-nos a nós descobrir se tudo o que realmente aconteceu era um sonho ou uma ficção. Para Yang pouco importa, para ele os personagens envolvidos perderam o equilíbrio e o seu lugar no mundo.
O ambiente e a estrutura do filme, na forma como estuda a vida na sociedade, é bastante semelhante a um filme de Antonioni. Mostra um país que perdeu o seu equilíbrio espiritual, e está a sofrer de um enorme crescimento económico.Yang usa a movimentada paisagem urbana de Taipei como o terror eminente que confronta os cidadãos. É um olhar moderno sobre a forma como os habitantes da cidade, de todos os sectores da vida, se enganam em acreditar que o seu crescente conforto material tornou a sua vida muito melhor.
"The Terrorizer" é talvez a descrição de Yang mais desenvolvida sobre a modernidade urbana. Recebeu um prémio no Festival de Cinema de Locarno de 1986, e foi considerado o "filme mais original do ano" no festival London Film Festival, em 1987. Dos filmes deste ciclo é talvez o mais modernista, e o mais parecido com os filmes de arte europeus, que sem dúvida o influenciaram. Antonioni, por exemplo, é uma influencia óbvia e admitida pelo realizador.
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domingo, 10 de dezembro de 2017
Poeira no Vento (Liàn Liàn Fengchén) 1986
Ah-Yuan e A-Yun são ambos da pequena cidade mineira de Jio-fen. Durante o dia Ah-Yuan é um estagiário e de noite vai para a escola, enquanto que A-Yun trabalha como ajudante de um alfaiate. Todos acham que eles foram feitos um para o outro, inclusive eles próprios. Contudo, o que não percebem é que não se pode controlar nem o tempo, nem o destino.
Um trabalho um pouco esquecido na filmografia de Hou Hsiao-Hsien, "Dust in the Wind" é o seu terceiro filme na trilogia sobre a adolescência, da qual fazem também parte "Um Verão com o Avô", e "Tempo Para Viver, Tempo Para Morrer", e é baseado nas memórias de infância do argumentista Wu Nien-Jen. É um filme que se apresenta como um tratado de um sociólogo, e uma meditação sombria da sociedade urbana de Taiwan, incluindo críticas severas ao sistema militar do país.
O filme deixa mensagens visuais profundamente impressionáveis que ficam na nossa cabeça até bastante tempo depois do visionamento. Há imagens cintilantes de um pedaço de poeira, a soprar no túnel do comboio que eventualmente revela uma luz no final do túnel vindo de um comboio de passageiros que se aproxima, um ritual budista em frente a um oceano, e silhuetas de soldados contra um céu escurecido.
Um solo de guitarra acompanha ocasionalmente o silêncio, infletindo no filme uma sensação de melancolia, ao mesmo tempo que preserva esses preciosos momentos no tempo.
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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
História de Taipei (Qing mei zhu ma) 1985
Lung, um ex-membro da famosa equipa de basebal Little League, trabalha agora como operário numa velha fábrica de tecidos. Apesar do tempo que já passou, ele é incapaz de deixar para trás as memórias das glórias do passado. Um dia, ao reencontrar Ah-chin, um antigo parceiro de equipa que agora é taxista, vai acabar por revirar factos do passado ao falarem sobre a actual mulher de Lung, ex-namorada de infância do amigo.
No seu segundo filme, Edward Yang escolheu o título em inglês "Taipei Story" para fazer eco na famosa obra prima de Ozu, mas os dois filmes não podiam ser mais diferentes. Enquanto Ozu puxa pelo espectador, convidando-o a simpatizar com os seus personagens, Yang mantém a audiência longe emocionalmente. Tsai Chin e Hou Hsiao-Hsien (o famoso realizador, numa das suas poucas aparições como actor) interpretam Lung e Ah-chin com uma tal reserva num cenário tão austero, que parece que Yang está literalmente a sufocar todo o oxigénio do filme.
Em "Taipei Story" Yang retrata um mundo muito distante da imagem habitual de Taiwan, caracterizada por um crescimento económico ininterrupto, com harmonia e progresso para qualquer sector da população. As décadas do pós-guerra, particularmente a partir da década de setenta em Taiwan, certamente foram de rápida industrialização, mas tudo isto foi acompanhado por um enorme conflito de classes, e crise.
Yang, um contemporâneo de Hou, fez apenas sete longas-metragens antes da sua morte por cancro. O trabalho dos dois realizadores foi moldado pelos duros anos da ditadura anticomunista em Taiwan, e de um ponto de vista geralmente oposicionista e dissidente. Alguns criticos sugeriram que "Taipei Story" era uma exposição da classe média taiwanesa, mas Yang responde atribuindo tragédias pessoais às próprias mudanças.
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terça-feira, 5 de dezembro de 2017
Tempo Para Viver, Tempo Para Morrer (Tóngnián wangshì) 1985
"Taiwan nos anos 50: a vida de Ah Xiao, uma criança, é uma sequência, aparentemente interminável, de jogar aos berlindes, correr atrás dos colegas, e ouvir os planos da avó que planeia voltar para a China Continental. Depois de um primeiro e traumatizante contacto com a morte, porém, a vida torna-se mais sombria, e o rapaz transforma-se num adolescente violento, apanhado entre sentimentos de dever filial e a necessidade de afirmar o seu valor entre os bandos de rua.
Em muitos aspectos, o filme autobiográfico de Hou Hsiao-Hsien acerca da entrada na idade madura marca um claro avanço sobre a sua obra anterior, "Um Verão com o Avô" (1984). A película abriu caminho para "Beiqing Chengshi" (1989) e a sua estrutura narrativa mais complexa, com o seu uso de análise de uma personagem individual para explorar as dinâmicas da sociedade taiwanesa num determidado momento. Aquilo que dá forma à infância e adolescência de Ah Xiao é uma comunidade insegura acerca da sua identidade e futuro, desde a sua separação do continente comunista, despoletando emoções contraditórias, que podem potencialmente conduzir à delinquência e crime, ou, como no caso de Hou, a uma idade adulta mais realizada. A direcção de "Tempo Para Viver, Tempo Para Morrer" é não-enfática, mesurada, reflectiva, ao estilo de Ozu, tomando mais poderosos os paroxismos de uma emoção excruciante quando eventualmente se lhes é permitido incendiar o grande ecrã. O filme é um trabalho de assinalável maturidade, desenvoltura e clareza". GA
Entre os vários festivais que participou, conta-se o Festival de Berlim, onde venceu o Forum of New Cinema.
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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
Um Verão com o Avô (Dong dong de jiàqi) 1984
Quando dois jovens irmãos, rapaz e rapariga, passam um verão crucial longe de casa, mudam para sempre. Ting-Ting e Tung-Tung são filhos da cidade, mas quando a mãe fica doente, são obrigados a deixar Taipé para trás para passar o verão com os avôs, no interior. À medida que os dias passam, o mais velho, Tung-Tung, começa a perceber o que é ter responsabilidades, e que está a crescer lentamente para se tornar num adulto.
Uma espécie de sequela para o seu "The Boys from Fengkuei" (1983), o filme que trouxe Hou Hsiao-Hsien para a ribalta, é uma deliciosa captura da inocência infantil, por um rapaz e a sua irmã mais nova, enquanto visitam os avôs nas férias do Verão. É o primeiro filme de Hou sobre a trilogia da "coming-of-age", que mais tarde incluiria mais dois filmes, "A Time to Live, a Time to Die" (1985) e "Dust in the Wind" (1986). Para estes dois jovens que sempre viveram na cidade, esta viagem permite que conheçam as crianças da aldeia, que se banham à luz do Sol, escalam árvores e nadam no rio, actividades que não são habituais nos jovens da cidade.
Ao manter um diário, Tung-Tung revela os seus pensamentos internos sobre as férias do Verão, o drama que desenvolve com os seus familiares, e as preocupações com a sua mãe doente no Hospital. Todos estes acontecimentos passam de vez em quando pelo filme, numa posição reflexiva que nos diz da posição da criança amadurecida as alegrias e os perigos de crescer, embora nem todas as coisas façam sentido para ele.
"A Summer at Grandpa's" mostra Hou na sua forma mais gentil, mas também sentimos isso nos dois filmes seguintes, onde ele cria uma narrativa maior, com lívidas lembranças e experiências de infância, que proporcionariam um contraponto para os seus filmes seguintes.
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domingo, 3 de dezembro de 2017
The Sandwich Man (Er zi de da wan ou) 1983
As primeiras evidências de que a nova vaga de Taiwan compreendia um movimento coerente chegou com duas antologias sobre a sociedade taiwanesa contemporânea. "In Our Time (1982), que já vimos neste ciclo, apresentava quatro curtas metragens por quatro realizadores diferentes, que mais tarde se distinguirão, incluindo Edward Yang. No ano seguinte, chegava-nos outra antologia, chamada "The Sandwich Man", que vai muito mais além na forma como aborda a vida taiwanesa, e constitui um avanço na utilização de técnicas cinematográficas inovadoras para explorar problemas contemporâneos.
Baseado em histórias de Chun-ming Huang, "The Sandwich Man" uma antologia em três partes que revela a influência do movimento da literatura rural cada vez mais influente de Taiwan, procurando preservar histórias do passado agrário do país, e traçando o modo como a urbanização tem impacto sobre a sociedade taiwanesa. Hou Hsiao-Hsien, e outros realizadores da nova vaga de Taiwan estão profundamente atraídos por histórias e ambientes rurais, que eles usam para capturar a singularidade e a especificidade da experiência de Taiwan, bem com o os aspectos das suas próprias histórias de vida.
Nesta antologia, as três histórias exploram a sociedade taiwanesa dos anos 60 para retratar alegoricamente o desenvolvimento económico da ilha, e os custos humanos que o desenvolvimento da ilha implica. Os filmes combinam realismo critico com as técnicas estéticas modernas, tentando usar o cinema para explorar os problemas actuais, e desenvolvendo um novo estilo cinematográfico para fazê-lo.
Legendas em inglês.
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sábado, 2 de dezembro de 2017
Os Rapazes de Fengkuei (Feng Gui Lai de Ren) 1983
Ah-Ching e os seus amigos acabaram de terminar a escola no sitio onde vivem, uma ilha de pescadores, e passam a maior parte do tempo a beber e a brigar. Decidem partir para a cidade grande em busca de
trabalho, mudam-se para um apartamento e todos têm que encarar as
dificuldades de se viver numa realidade diferente da que cresceram.
Para introduzir-mos Hou Hsiao-Hsien neste ciclo, nada melhor do que o filme que o introduziu como "auteur". "The Boys from Fengkuei", também conhecido em várias partes do mundo como "All the Youthful Days", é um filme notável, um raro clássico que também era uma declaração de intenção artística por um cineasta que até então só fazia filmes de género, de estúdio. Sendo a fonte principal desta Nova Vaga do cinema tailandês, Hou chama a atenção por um estilo e estética que estão associados ao realismo natural, com shots longos e amplos, uso de filmagens em exteriores e a utilização de actores não profissionais, além de algumas referencias a Ozu para interpretar o modo de vida em Taiwan.
Há uma vibração juvenil que atravessa o filme, uma sensação de despreocupação que no entanto está afectada pela realidade de Taiwan, que se moderniza gradualmente. A realidade de que a vida está cheia de incertezas, e de que é preciso trabalhar para sobreviver, tanto no sentido físico como psicológico, que é tratado com bastante positividade por Hou, que nos envolve com histórias humanas que não são diferentes de grandes obras neorelistas de obras de realizadores como Roberto Rosellini ou Vittorio de Sica.
A acção desenrola-se entre dois cenários, a aldeia portuária de Fengkuei, de onde os jovens são originários, e a urbanização de Kaohsiung, para onde eles vão viver. É uma experiência nova para eles, e através dos seus olhos testemunhamos não só a beleza (e feiura) de viver na Taiwan dos anos oitenta, mas também nos trás a evocação de tempos que nunca mais voltarão atrás.
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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
That Day on the Beach (Hai tan de yi tian) 1983
Duas amigas que não se veem há mais de trinta anos, encontram-se. Uma é uma pianista de concertos de sucesso, que regressou de uma tournée na Europa, e a outra acaba de começar um novo negócio.
Um drama sério sobre uma família perturbada é o filme de estreia do realizador taiwanês Edward Yang, que o co-escreveu com Nien-Jen Wu. Yang está creditado por ter iniciado a Nova Vaga do cinema de Taiwan com esta sua primeira obra, mas se for bem analisado é um filme demasiado longo, e inclui basicamente material de uma soap opera. Através do uso de constantes flashbacks com revelações sobre a vida familiar, amantes secretos, e mudanças constantes na forma como os personagens principais se comportam ao longo dos anos, parece ser um filme mais profundo do que realmente é.
Ainda assim, é uma primeira obra impressionante sob qualquer padrão. A história é simples, mas a forma como é contada é complexa, e isso é o que permite transcender o género do melodrama. Yang constroi uma narrativa fraturada sobre a dissolução de um casal burguês, que vive na cidade de Taipei. O acto da comunicação e revelação libertam as suas personagens femininas de ficarem aprisionadas pelos seus respectivos passados e atormentadores masculinos.
Edward Yang faleceu com uma curta idade de 59 anos, deixando o mundo com os seus filmes que retratam a realidade do seu país de uma forma honesta, e com humanismo.
Legendas em inglês.
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quarta-feira, 29 de novembro de 2017
In Our Time (Guang yin de gu shi) 1982
Um conjunto de quatro curtas-metragens de quatro realizadores taiwaneses (Tao Te-chen, Edward Yang, Ko I-Chen e Yi Chang), que anunciam o início da chamada "new wave" de Taiwan, e também nos introduz ao cinema de Edward Yang, através do segundo segmento. Colocadas juntas, cada uma destas curtas representa uma década dos anos 50 aos anos 80, e naturalmente nos apresenta uma visão instantânea da vida deste povo ao longo destes quarenta anos.
Na primeira história temos o universo inocente das crianças, o jovem incompreendido pelos pais, vagueando de canto em canto, sempre acompanhado do seu dinosauro de plástico. A segunda é sobre uma jovem a passar pela idade da puberdade, a olhar curiosa para o peito nú do seu novo inquilino. A terceira história segue pelo caminho da comédia, com a história de um rapaz que não é levado a sério pelos amigos. A quarta história é a mais livre, e conta-nos a história de um homem recém casado que fica fechado do lado de fora do apartamento, com apenas uma toalha a cobrir o corpo, mas tem de enfrentar o cão do vizinho, e um mundo de estranhos das ruas movimentadas de Taipé.
Os quatro realizadores eram todos estreantes e tinham estudado em escolas de cinema no exterior, onde adquiriram novas ideias e formas de fazer cinema, bem diferentes daquelas dos seus anciões taiwaneses. Cada história passada numa década diferente, avança cronologicamente, com as idades dos seus protagonistas a a evoluir também (passamos de um jovem de 8 anos, para uma adolescente, depois para um universitário, e por último um homem casado de fresco). As histórias são todas curtas, e a caracterização dos personagens principais é muito bem conseguida, todos eles não-actores a quem foi pedido que fossem eles próprios e não encarnassem outra pessoa.
Além disso, é impossível de ignorar o contexto social. Junto com os problemas habituais de crescer, há também a pobreza e a alienação. De repente os filmes em Taiwan tornaram-se arte e comentário social, e não apenas entretenimento. Essas são as grandes vantagens deste filme, o triunfo da juventude sobre a experiência.
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terça-feira, 28 de novembro de 2017
Flowers of Taipei: Taiwan New Cinema (Flowers of Taipei: Taiwan New Cinema) 2014
Para aqueles que não sabem muito sobre o tema deste ciclo, "Flowers of Taipei: Taiwan New Cinema" é um excelente guia para explicar porque a década de oitenta foi tão importante. Durante grande parte da década Taiwan ainda estava sob lei marcial, e politicamente a ilha estava isolada. E foi nestas circunstâncias que os cineastas exploraram a identidade tailandesa.
Primeira obra de Hsieh Chin-lin, que cresceu a ver filmes de realizadores como Hou Hsiao-hsien ou Edward Yang, este documentário apresenta um olhar nostálgico sobre a razão porque estes realizadores foram tão importantes ao redor do mundo. Ao contrário do cinema de Hong Kong da altura, que era esmagadoramente comercial, os filmes taiwaneses costumavam ser lentos, orientados por personagens e cuidadosamente enquadrados. Os assuntos retratados nos filmes deram aos espectadores uma visão dos problemas porque os taiwaneses estavam a passar, particularmente depois da ocupação japonesa.
Este documentário inclui entrevistas com realizadores como Olivier Assayas, Kiyoshi Kurosawa, Jia Zhangke ou Tian Zhuangzhuang, que contam como estes filmes afectaram os seus próprios estilos e a sua percepção de Taiwan. Também apresenta alguns shots longos de passeios em comboios, caminhadas em parques, e composições que tentam ser uma homenagem ao Novo Cinema de Taiwan.
Vamos começar pelo documentário, e depois partiremos para uma viagem pelos filmes.
Legendas em inglês.
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domingo, 26 de novembro de 2017
O Novo Cinema de Taiwan
Desde o início da década de oitenta até ao presente, realizadores de Taiwan produziram uma excelente série de filmes explorando as tensões e os problemas sociais de uma forma bastante atraente, e de um forma bastante original, muitas vezes combinando o realismo social com a inovação modernista. Dentro deste movimento saíram alguns realizadores de classe mundial, como os casos de Hou Hsiao-Hsien, Edward Yang, e Ang Lee, e a série de filmes que fizeram hoje em dia merece a atenção mundial. Mas este movimento merece a atenção antes dos anos oitenta, o cinema taiwanês sofreu uma forte repressão, e antes era constituído como um cinema altamente propagandista, e/ou comercial, com muito poucos filmes ou realizadores de destaque.
Este cinema de Taiwan é "novo" porque traz consigo uma rebelião contra o anterior cinema de género, e tenta produzir um grupo de filmes socialmente críticos e esteticamente inovador, apropriado para explorar a sociedade contemporânea de Taiwan.
Neste ciclo veremos como o cinema de Taiwan é um conjunto de momentos da história, sociedade e identidade taiwanesa, que exploram os conflictos entre tradição e modernidade e que lidam com as preocupações do momento presente - uma conjuntura cheia de problemas e perigos, mas também algumas possibilidades.
Por agora não vou falar dos filmes, iremos conhecê-los um a um nas próximas 3 semanas, mas este ciclo assenta sobretudo nos primeiros filmes de dois realizadores, Hou Hsiao-Hsien e Edward Yang. Serão 13 filmes e um documentário, mas para vos abrir o apetite, aqui fica uma série de livros sobre o cinema de Taiwan, onde poderão tirar algumas notas:
Por hoje é tudo. Iremos começar o ciclo com o documentário "Flowers of Taipei - Taiwan New Cinema", e depois veremos os filmes. A maioria terá legendas em português, em alguns casos foi mesmo impossível de conseguir. Espero que apreciem este ciclo. Até breve.
A Loja dos Horrores (The Little Shop of Horrors) 1960
A história é contada pelo detective sargento Joe Fink (Wally Campo), que conta um caso policial envolvendo uma pequena floricultura localizada no bairro pobre de “Skid Row”, onde trabalham o proprietário Gravis Mushnik (Mel Welles), a sua jovem filha Audrey Fulquard (Jackie Joseph) e o empregado nerd Seymour Krelboin (Jonathan Haze). O sonho de Seymour é ser um botânico bem sucedido e casar-se com Audrey, mas é tão incompetente que para continuar no emprego teve que mostrar uma planta carnívora que criou em casa, na tentativa de atrair as pessoas para a loja ao expor o vegetal exótico e melhorar as vendas de flores em geral. Entre os estranhos clientes da floricultura estão um comedor inveterado de flores, Burson Fouch (Dick Miller), e uma mulher fanática por funerais, Sra. Siddie Shiva (Leola Wendorff), tia do detetive Frank Stoolie (Jack Warford), parceiro de Fink, e cujos parentes morrem a todo o momento, justificando a sua obstinação por flores para os enterros.
Uma divertida comédia de humor negro. Muito curta (com apenas 72 minutos), sem grandes efeitos especiais, e uma série de piadas muito subtis, principalmente as envolvendo a criatura carnívora ("feed me!) são absolutamente hilariantes, transformando esta obra numa espécie de filme de culto dos anos 60, e também da contra cultura cinematográfica americana. Vinte seis anos mais tarde foi alvo de uma remake da autoria de Frank Oz, bastante razoável até, e com Rick Moranis no principal papel. Jack Nicholson tem aqui uma das suas primeiras aparições no cinema, embora num papel secundário.
Tal como foi dito anteriormente, este filme foi gravado ao mesmo tempo que "A Bucket of Blood", com um orçamento de apenas 50 mil dólares para os dois filmes em conjunto, gerando quase um milhão e meio de dólares, e sendo hoje considerado um dos melhores filmes do realizador.
Legendas em espanhol.
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sexta-feira, 24 de novembro de 2017
A Mulher Vespa (The Wasp Woman) 1959
A acenar ao sucesso comercial do ano anterior, "The Fly", de um grande estúdio, Corman realizou e produziu mais um filme de baixo orçamento, desta vez dedicado ao sub-género do insecto mutante. A história começa com as estranhas actividades do cientista Dr. Eric Zinthrop, despedido da Honey Fresh Bee Farm por conduzir experiências pessoais com vespas, na propriedade da empresa. Ele aproxima-se de Janice Starlin da Starlin Enterprises, uma das maiores empresas de cosméticos, por causa das suas recentes descobertas cientificas sobre as propriedades rejuvenescedoras das enzimas das vespas, para desenvolver novos produtos. A Starlin está a sofrer um declínio nas vendas, que os membros da administração culpam ao envelhecimento de Janice, já na casa dos 40 anos. Janice fica ansiosa que o Dr. Zinthrop teste nela um soro juvenil para a juventude, mas as coisas podem não correr bem...
Filmado em apenas duas semanas com um orçamento de 50 mil dólares, "The Wasp Woman" reflecte as tácticas de cortes de custos e a estética de baixo orçamento que o realizador vinha seguindo. Com um período de filmagens tão reduzido, raramente ele fazia mais do que um take para cada cena, a não ser que houvesse algum erro drástico ou algum mau funcionamento. E claro que isso depois acaba por se reflectir na montagem final do filme, com o enquadramento das personagens nem sempre a estar bem alinhado.
No entanto, apesar do baixo orçamento, os efeitos especiais foram bastante aplaudidos por críticos contemporâneos pela sua mulher moderna, cujas desventuras muitas vezes reflectem problema ou preocupações feministas.
O filme é muito raro, não tem legendas em qualquer língua.
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quinta-feira, 23 de novembro de 2017
O Balde de Sangue (A Bucket of Blood) 1959
Walter Paisley (Dick Miller) é um empregado num café boémio, que vive com ciúmes do talento (e popularidade) dos seus vários regulares artistas. Mas, depois de matar acidentalmente um gato, e cobrir o seu corpo com gesso para esconder as evidências, é aclamado como um escultor brilhante, mas os seus novos amigos querem ver mais do seu trabalho... Sem qualquer talento artístico, Walter deve recorrer a métodos semelhantes para produzir novos trabalhos, e entretanto, várias pessoas começam a desaparecer misteriosamente...
Roger Corman insistiu que esta era a primeira comédia negra em muitos anos, mas decerto que eles não estava a contar com "Monsieur Verdoux" de Chaplin, ou "The Trouble with Harry" de Hitchcock. De qualquer forma, "A Bucket of Blood" tem uma vibração muito própria, passada nos cafés "beatnick" da moda, com o saxofone "free jazz", e poesia "groovy". Foi talvez o primeiro filme de Corman a desenvolver uma atmosfera realmente rica, que só se tornou mais rica nos filmes subsequentes de Poe. E o mais notável ainda é que ele realizou o filme em apenas cinco dias (record pessoal na altura), e não esquecer que ele fez este filme e "The Little Shop of Horrors" (1960) ao mesmo tempo, com apenas 50 mil dólares.
Dick Miller quase em estreia, tornou-se conhecido por interpretar uma série de filmes de série b, e não só, em papéis secundários, mas nunca mais na sua carreira estaria tão bem como aqui. Este filme marcaria-o tanto que continuaria a interpretar personagens com o mesmo nome numa série de filmes, um dos quais "The Howling" de Joe Dante.
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segunda-feira, 20 de novembro de 2017
Teenage Caveman (Teenage Caveman) 1958
Robert Vaughn é um jovem teenager das cavernas, com cabelo estiloso, que procura descobrir o que existe nas selvas inexploradas para além do acampamento da sua tribo. Dizem-lhe que é proibido lá ir, mas ele quebra as regras, e descobre um monstro que mata com o seu toque.
Facilmente nos divertimos com o filme, também por causa do óbvio baixo orçamento, e da descontração do argumento, mas considerá-lo como um épico das cavernas é muito ambicioso, de facto. Na verdade, o filme pretende fazer uma ligeira crítica às leis da natureza e a tradição, e não podemos deixar de admirar a intenção sobre isto. Se o argumento não fosse tão detalhado neste aspecto, talvez tivesse funcionado melhor.
"Teenage Caveman" conta com uma futura estrela de Hollywood em ascenção, Robert Vaughn, aqui a interpretar um jovem primitivo intelectual que resolve desafiar as restrições da sua pequena comunidade de homens das cavernas. Vaughn que estava tão em ascenção que apenas dois anos mais tarde seria nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário em "The Young Philadelphians", que vimos aqui ainda recentemente no ciclo de Paul Newman. Um destaque também para o actor Beach Dickerson, que interpreta vários papéis.
Foram usadas imagens de vários filmes, tais como: "The Day the World Ended", "The She-Creature", e alguns fatos de "Night of the Blood Beast". A inspiração de Corman foi claramente "One Million B.C.", um êxito do ficção científica dos anos 50.
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domingo, 19 de novembro de 2017
The Saga of the Viking Women and Their Voyage to the Waters of the Great Sea Serpent (The Saga of the Viking Women and Their Voyage to the Waters of the Great Sea Serpent) 1957
Um grupo de mulheres vikings de Stanjold decide partir em busca dos seus homens que não regressaram depois de uma expedição de caça. Constroem um navio viking e partem para o mar. Ao longo do caminho as tensões crescem entre Desir, a líder feminina, e Enger, a religiosa e rival de Desir. As mulheres entram dentro de uma grande tempestade onde encontram o Monstro do Vórtice, uma grande serpente marinha. Entretanto um raio atinge o mastro e destroi o navio.
Filmado em 10 dias com o o título de "Viking Women", um título curto e atraente como era habitual na AIP, mas na verdade, segundo o próprio realizador, não havia título que conseguisse sumarizar o complicado argumento deste filme, acabando por ir parar a "Viking Women and Their Voyage to the Waters of the Great Sea Serpent", idéia do próprio Corman.
Houve muitos problemas durante a pré-produção e rodagem. A primeira protagonista feminina foi despedida depois de se descobrir que era mais alta do que o protagonista masculino. Foi substituída por Kipp Hamilton que também foi despedida quando pediu mais dinheiro. Finalmente o papel de protagonista foi parar a Abby Dalton, que já estava no elenco, subindo assim todo o elenco feminino para um ponto acima.
Os efeitos especiais também foram um problema, quando Corman percebeu que não tinha orçamento para executar o filme segundo a visão de Irving Block, o escritor original, por isso foi preciso arranjar alternativas para ocultar as limitações dos efeitos especiais, tais como utilizar uma iluminação discreta.
É um filme muito raro, e não tem legendas. Apesar disso não quís deixa-lo fora deste ciclo.
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sexta-feira, 17 de novembro de 2017
The Undead (The Undead) 1957
Um hipnotizador (Val Dufour) de ética questionável envia uma jovem prostituta (Pamela Duncan) para trás no tempo, onde ela reencarna numa mulher que foi erradamente condenada a morrer como uma bruxa, mas logo descobre que pode estar a alterar o rumo da história, e como consequência, a sua própria existência.
Um filme com um orçamento ultra-reduzido, supostamente filmado em menos de uma semana, e que goza de uma reputação muito duvidável, completamente imerecida, em parte por ter sido incluído na famosa série "Mystery Science Theatre 3000", destinada a filmes muito maus. Mas, na verdade, é um óptimo exemplo do que se pode fazer com argumentos muito reduzidos, principalmente quando se tem uma equipa de produção muito boa, e um argumento ambicioso e imaginativo, como este de Charles B. Griffith e Mark Hanna.
Parte do divertimento de "The Undead" é a sua imprevisilidade. O filme anda para trás e para a frente no tempo, entre a idade média e a sessão de hipnose, com vários eventos a acontecerem ao longo do caminho que poderão mudar o rumo da história. Quando as coisas começam a ficar fora de mão, a vida de Diana pode estar em risco. O argumento pode parecer um pouco confuso, mas a história flui de uma forma bastante suave.
O orçamento de 75 mil dólares não dava para muito, por isso grande parte dos cenários foram construídos dentro de um supermercado fechado. Foi usada uma máquina de fazer nevoeiro, e nunca são vistas mais de uma dúzia de pessoas no ecrã ao mesmo tempo, o que não dava grandes hipóteses para fazer recriar um ambiente medieval. Também foram reutilizados os morcegos que já tínhamos visto em "It Conquered the World" (1956). Gostar deste filme convém perceber estes pequenos pormenores orçamentais, que acabam por valorizar mais o resultado final.
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quarta-feira, 15 de novembro de 2017
O Ataque dos Caranguejos Gigantes (Attack of the Crab Monsters) 1957
Um grupo de cientistas viaja para uma ilha isolada para estudar os testes do uso de armas nucleares. Na chegada, o avião explode e os cientistas ficam presos no local. Depressa descobrem que a ilha é habitada por caranguejos gigantes. Além dos monstros inteligentes os seus problemas só aumentam quando percebem que a ilha está a afundar-se lentamente.
Roger Corman tinha apenas 31 anos em 1957, o ano mais prolífico da sua carreira, ao realizar um total de nove filmes. Foram explorados neste ano vários sub-géneros da exploitation, como o terror ("The Undead"), o Rock N´Roll ("Carnival Rock and Rock All Night"), o drama Havaiano ("Naked Paradise"), a "bad girl" adolescente ("Sorority Girl" e "Teenage Doll") e um filme inclassificável chamado "The Saga of the Viking Women and Their Voyage to the Waters of the Great Sea Serpent". Os filmes mais importantes de Corman neste ano foram o filme que vimos anteriormente, "Not of this Earth", e este "Attack of the Crab Monsters".
"Attack of the Crab Monsters" também foi escrito por Charles B. Griffith, e estava carregado de boas ideias. Provavelmente tinha ideias para cinco filmes. O cenários é incerto, com a ilha constantemente a desmoronar-se, criando uma sensação de isolamento e medo, bem ajudada por uma partitura musical de Ronald Stein, e uns visuais bizarros e inquietantes, com alguns toques de "gore", como uma mão a ser decepada, mas nada prepara o espectador para o que está por vir.
Custou apenas 70 mil dólares a ser produzido mas rendeu mais de um milhão nas bilheteiras, tornando-se no filme de Corman mais rentável desta fase da sua carreira. Há quem diga que parte do sucesso se deveu à selvajaria do título: "Attack of the Crab Monsters".
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terça-feira, 14 de novembro de 2017
Not of This Earth (Not of This Earth) 1957
Um agente extraterrestre chega à Terra do distante planeta Davana, através de um transportador de matéria bastante evoluído. Começa então a aterrorizar o sul da Califórnia, numa tentativa de adquirir sangue para a sua raça moribunda, com o resultado a ser uma devastante guerra nuclear.
"Not of this Earth" embora não seja considerado dos melhores filmes de Roger Corman, é, sem dúvida um dos melhores dos anos cinquenta do realizador, e também um dos melhores de ficção científica para este início de carreira, e o motivo talvez seja porque o filme percorreu vários géneros sem nunca descarrilar. Mais importante, é um "shocker" de baixo orçamento que resulta bastante bem, graças, principalmente, aos argumentistas, onde estava incluído Charles B. Griffith, que já começava a ser uma habitual colaboração de Corman, e ao fantástico elenco, apesar do actor principal, Paul Birch, não se dar bem com o realizador. Talvez isso até tenha sido um factor decisivo para melhorar o seu desempenho, já que o seu desempenho é bastante hostil, e a sua personagem um dos aliens mais assustadores dos anos cinquenta.
Paul Johnson (Birch), sempre no seu fato preto, que o faz parecer o empresário mais sinistro do mundo, e com um discurso que também não aquece nada. Talvez Birch não tenha gostado da personagem, mas não conseguimos imaginar outro actor a ficar com o papel.
Com apenas 67 minutos de duração, diz-se que foi umas das principais inspirações para "They Live" (1988), de John Carpenter.
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terça-feira, 7 de novembro de 2017
It Conquered the Earth (It Conquered the Earth) 1956
Um dos vários membros restantes de uma raça de extraterrestres, habitantes de Vénus, é guiado para a Terra por Tom Anderson, um cientista descontente, que lhe diz em que humanos ele deve meter dispositivos de controle mental. Entre eles está o seu antigo amigo e companheiro Paul Nelson. Nelson finalmente persuade o paranóico Anderson que errou ao se aliar a um alienígena determinado a dominar o mundo.
Este filme de série B de Roger Corman é talvez mais conhecido pelo extraterrestre ridículo com aparecia de vegetal criado por Paul Blaisdell, que já tinha criado o mutante do filme anterior de Corman, mas na realidade até é uma entrada bastante decente no sub-género dos filmes de histeria comunista do meio do século, como "Invaders from Mars" (1953), ou "Invasion of the Body Snatchers" (1956). Lee Van Cleef é estranhamente eficaz (e bem fundamentado) no papel central, de cientista tão desiludido com a humanidade que recorre a um ser extraterrestre para "salvar o mundo de si próprio". Destaque também para o outro protagonista, Peter Graves, ainda bem longe do seu papel na série "Missão Impossível", e Beverly Garland, bem convincente no papel da esposa de Van Cleef.
O argumento de Charles B. Griffith faz maravilhas com cenários que de outra forma seriam risíveis (como morcegos de borracha a atacarem pescoços de pessoas para lhes removerem todas as emoções), além de outras cenas notáveis. A grande força do filme vem de facto do argumento, com uma profundidade que não é muito habitual encontrar em filmes de baixo orçamento deste período, com discussões filosóficas sobre o poder das emoções humanas. Aliás, o argumento tem a sofisticação de outros filme de Corman deste período, como veremos em breve.
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segunda-feira, 6 de novembro de 2017
O Dia do Fim do Mundo (Day the World Ended) 1955
Depois de uma guerra nuclear, um grupo improvável de pessoas, incluindo um rancheiro, um geólogo, um criminoso e a sua namorada encontram-se presos no meio do nada enquanto lutam contra um mutante criado por Paul Blaisdell. O geólogo e o criminoso também vão lutar pela atenção da filha do rancheiro.
Lançado nos anos cinquenta, em plena era atómica, "Day The World Ended" conta a história do que aconteceu quando o homem finalmente se destrói num holocausto nuclear. Apenas sete pessoas sobrevivem à explosão, e o destino da humanidade está nas mãos deste pequeno grupo, que luta pelo seu destino neste novo mundo mutante.
"Day The World Ended" foi o terceiro filme de Corman como realizador, e o primeiro no domínio da ficção científica. Corman tornou-se num herói de culto, o messias do cinema de baixo orçamento, mas sem dúvida que a sua maior contribuição foi como produtor.
Uma casa no sopé das montanhas de Hollywood serve de refúgio para este grupo, assim como uma grande lagoa em Sportsman's Lodge. O resto do filme é filmado nas Bronson Caverns em Griffith Park. O filme faz um óptimo trabalho ao mostrar as pressões enfrentadas pelos sobreviventes, principalmente o cientista e o seu irmão radioactivo. A capacidade dos dois em fazer a situação parecer real, ajuda o monstro a parecer menos falso. Enquanto Corman é conhecido por trabalhar rápido e barato, os seus actores não parecem apressados na tela. O gangster é interpretado por Mike "Touch" Connors, antes de se tornar no herói da série "Mannix".
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domingo, 5 de novembro de 2017
Roger Corman - Parte 1
Roger Corman é considerado o Papa do cinema Pop, o indiscutível rei da série B, e um dos mais prolíficos realizadores de todos os tempos. Se não fosse ele, provavelmente nunca conheceríamos realizadores e actores como Martin Scorsese, Francis F. Coppola, James Cameron, Joe Dante, Jonathan Demme, Peter Bogdanovich, Curtis Hanson, Robert de Niro, Jack Nicholson, Dennis Hopper, Peter Fonda, Bruce Dern, entre outros. Como distribuidor trouxe pela primeira vez para a américa os trabalhos de Ingmar Bergman, François Truffaut, Federico Fellini, Akira Kurosawa, expondo a jovens realizadores americanos um tipo de cinema que iria mudar Hollywood para sempre.
Apesar destas importantes colaborações para o cinema, ele provavelmente será mais conhecido pelos filmes de exploitation que fez. A sua filosofia para fazer filmes era de minimizar os riscos principalmente a fazer filmes de género destinados a um público específico, piorizando a quantidade sobre a qualidade, tentando espremer cada moeda do orçamento para maximizar o lucro. Por vezes isto significava tirar o dinheiro restante de um filme, e usá-lo para fazer outro completamente diferente, e fazê-lo bem depressa. Ele também reutilizaria cenários e actores ao longo de uma série de filmes, para economizar custos. Por vezes era contratado um argumentista para escrever o argumento no local.
Corman tirou o diploma no curso de engenharia industrial de Stanford, conseguindo um emprego na U.S. Electrical Motors. Demitiu-se ao fim de quatro dias, dizendo ao chefe que "cometeu um terrível erro". Acabou por prosseguir uma carreira no cinema, depois de um breve período na Fox, a ler argumentos. Mas rapidamente descobriu que queria seguir a sua carreira sozinho.
Acabou por ir parar à recém formada American International Pictures (AIP), que se dedicava a fazer filmes independentes de baixo orçamento, destinados a adolescentes. Aqui produziu e co-produziu 19 filmes nos seus primeiros três anos com a companhia. Também teve um grande impacto como realizador, onde dirigiu inúmeros filmes.
Um ciclo de Corman, que se queira o mais completo possível, demoraria muito tempo. Então, decidimos cortá-lo em várias partes, com a primeira a ir para o ar nos próximos dias, e que irá focar-se nos filmes realizados por sim no início de carreira, entre 1955 e 1959, com especial enfoque nos filmes de monstros.
Dada a raridade de alguns dos filmes que serão apresentados, não terão legendas, mas a maioria terá legendas em português.
terça-feira, 31 de outubro de 2017
Noite de Halloween
A noite de 31 de Outubro é internacionalmente conhecida como a Noite de Halloween. Apesar de ser um feriado americano, cada vez tem maior repercussão em Portugal. Aqui, no My Two Thousand Movies, é um habitual período para filmes de terror. Por isso, para esta noite, fizemos uma seleção especial com 20 filmes de terror, escolhidos meio ao acaso, mas todos eles bastante recomendados. É servirem-se, e bom Halloween.
- Amer (2009), de Hélène Cattet e Bruno Forzani. Link Imdb
- Bug (1975), de Jeannot Szwarc Link Imdb
- Dead Snow (2009), de Tommy Wirkola Link Imdb
- Eden Lake (2008), de James Watkins Link Imdb
- El Vampiro (1957), de Fernando Méndez Link Imdb
- Fragile (2005), de Jaume Balagueró Link Imdb
- Kitchen Sink (1989), de Alison MacLean Link Imdb
- La Horde (2009), de Yannick Dahan, Benjamin Rocher Link Imdb
- Nomads (1986), de John McTiernan Link Imdb
- Schramm (1993), de Jorg Buttgereit Link Imdb
- Session 9 (2001), de Brad Anderson Link Imdb
- Skjult (2009), de Pal Oie Link Imdb
- The Oblong Box (1969), de Gordon Hessler Link Imdb
- The Beyond (1981), de Lucio Fulci Link Imdb
- The Abandoned (2006), de Nacho Cerdà Link Imdb
- Tony (2009), de Gerard Johnson Link Imdb
- Tras el Cristal (1986), de Agustin Villaronga Link Imdb
- Veneno Para las Hadas (1984), de Carlos Enrique Taboada Link Imdb
- Visitor Q (2001), de Takashi Miike Link Imdb
- Wolfen (1981), de Michael Wadleigh Link Imdb
O próximo ciclo começa no fim de semana. Até lá, divirtam-se.
- Amer (2009), de Hélène Cattet e Bruno Forzani. Link Imdb
- Bug (1975), de Jeannot Szwarc Link Imdb
- Dead Snow (2009), de Tommy Wirkola Link Imdb
- Eden Lake (2008), de James Watkins Link Imdb
- El Vampiro (1957), de Fernando Méndez Link Imdb
- Fragile (2005), de Jaume Balagueró Link Imdb
- Kitchen Sink (1989), de Alison MacLean Link Imdb
- La Horde (2009), de Yannick Dahan, Benjamin Rocher Link Imdb
- Nomads (1986), de John McTiernan Link Imdb
- Schramm (1993), de Jorg Buttgereit Link Imdb
- Session 9 (2001), de Brad Anderson Link Imdb
- Skjult (2009), de Pal Oie Link Imdb
- The Oblong Box (1969), de Gordon Hessler Link Imdb
- The Beyond (1981), de Lucio Fulci Link Imdb
- The Abandoned (2006), de Nacho Cerdà Link Imdb
- Tony (2009), de Gerard Johnson Link Imdb
- Tras el Cristal (1986), de Agustin Villaronga Link Imdb
- Veneno Para las Hadas (1984), de Carlos Enrique Taboada Link Imdb
- Visitor Q (2001), de Takashi Miike Link Imdb
- Wolfen (1981), de Michael Wadleigh Link Imdb
O próximo ciclo começa no fim de semana. Até lá, divirtam-se.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Dois Homens e Um Destino (Butch Cassidy and the Sundance Kid) 1969
Butch (Paul Newman) e Sundance (Robert Redford) são os dois líderes do gang Hole-in-the-Wall . Butch é o homem das idéias, Sundance o homem da acção e habilidade. O Oeste está a ficar civilizado, e como eles assaltam um comboio com muita frequência acabam a ser perseguidos, vão eles para onde quer que vão. Por cima das rochas, por dentro das cidades, através dos rios, um grupo segue sempre no seu encalço. Quando finalmente escapam por pura sorte, Butch tem uma nova idéia: "Vamos para a Bolívia".
Quando "Butch Cassidy and the Sundance Kid " estreou, em 1969, o western como género cinematográfico dominante estava a entrar em eclipse, e não iria ressurgir durante muitos anos, embora ninguém soubesse disso na altura. Apenas John Wayne, com o sentimental "True Grit" (1969) tornou-se no favorito para ganhar o Óscar de Melhor Actor nesse ano, continuaria a entrar em westerns regularmente. Mas mesmo estes filmes que restavam eram tocados por uma consciência da doença que o perseguia, e que lhe levaria a vida em 1979. Os tempos tinham mudado, a percepção da história foi-se alterando, e as antigas mitologias do western já não resultavam mais. Numa época de rebeldião contra-cultural e protesto anti-governamental, filmes como "Bonnie & Clyde" (1967), de Arthur Penn, transformaram o criminoso no herói fora da lei, o rebelde simpático que tentava fugir da tirania da sociedade e da autoridade opressiva. Neste ambiente, surgiram dois westerns com abordagens decididamente diferentes de tudo o que havia sido feito antes.
O primeiro foi "The Wild Bunch" (1969), de Sam Peckinpah, um banho de sangue nos últimos dias do Velho Oeste, que juntamente com as transmissões da guerra do Vietname, mudaram para sempre a nossa consciência sobre violência no ecrã. O outro foi, "Butch Cassidy and the Sundance Kid", feito num momento em que a sociedade se estava a aproximar dos heróis, selando o seu inevitável destino. Também eram uma lufada de ar fresco no western convencional, que de certa forma reafirmavam a nossa identificação com o género, com personagens que pareciam mais do nosso tempo do que foram do passado. Onde Peckinpah e Penn mostraram os seus personagens a morrerem de horríveis mortes sangrentas, em câmara lenta, chocante, mas estranhamente românticas, George Roy Hill, neste "Butch Cassidy and the Sundance Kid ", congelou o quadro final, antes da morte da dupla de bandidos, interrompendo a tempo a sua amizade afectuosa e divertida, bem como a lenda. Nostálgia e sátira, detalhes históricos e sensibilidades modernas, uma lamentação por tempos perdidos e uma sentido cómico contemporâneo. "Butch Cassidy and the Sundance Kid" tinha tudo isto, e a audiência adorou.
Com críticas medíocres na estreia, "Butch Cassidy and the Sundance Kid" tornou-se num fenómeno no boca a boca, impulsionando a carreira de todos os envolvidos. Paul Newman já era uma estrela, mas encontrou aqui uma nova geração de fãs, conseguindo ainda o seu primeiro grande sucesso num papel cómico. Robert Redford, que até aqui era apenas mais um protagonista conseguiu alcançar o estrelato graças ao seu talento. William Goldman estabeleceu-se como um argumentista de sucesso com o seu primeiro argumento importante, vencendo um Óscar com este filme, e George Roy Hill, ganhou mais controle sobre os seus trabalhos. Quatro anos mais tarde, este trio formado por Hill - Redford - Newman voltariam a reunir-se para mais um filme de sucesso, chamado "The Sting". Hill também voltaria a trabalhar com os dois actores em separado.
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domingo, 29 de outubro de 2017
A Guerra Secreta de Harry Frigg (The Secret War of Harry Frigg) 1968
Quando cinco generais aliados são capturados pelos alemães, são levados para a mansão da Condessa Francesca De Montefiore (Sylva Koscina), onde serão mantidos prisioneiros no estilo de vida que merecem. Infelizmente, como são todos generais de uma estrela, não conseguem concordar com os outros num plano para fuga. A solução é enviar para lá o rebelde soldado Harry Frigg (Paul Newman), especialista em fugas, para ajudar os generais a fugir. O problema é que ele quando chega à mansão, conhece a condessa Francesca De Montefiore, e já não quer saír de lá.
Os primeiros vinte minutos de "The Secret War of Harry Frigg" são um pouco difíceis, porque mostram Paul Newman no seu pior. Simplificando, Paul Newman dá o seu melhor, mas ele não consegue fazer de burro, e embora consiga fazer da comédia charme não é num papel destes cheio de maneirismos. As boas noticias são que depois destes vinte minutos as coisas melhoram. Primeiro pelas discussões divertidas entre estes cinco generais, depois pela chegada de Frigg, que em vez de tentar escapar vai tentar atrasar a fuga, para chegar mais perto da Condessa.
Uma comédia de guerra realizada por Jack Smight, que já tinha trabalhado com Paul Newman em "Harper", e aqui volta a trabalhar num filme que não é mais do que um veículo para o actor. Foi dos poucos flops de Newman nos anos sessenta, mas mesmo assim alcançou um sucesso razoável nas bilheteiras norte americanas.
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O Presidiário (Cool Hand Luke) 1967
"Há estrelas e há actores como Paul Newman, cuja presença icónica e penetrantes olhos azuis transcendem regularmente até o melhor trabalho em que trabalham. A postura galharda de "O Presidiário" pode oscilar de vez em quando, mas a magnética personalidade de Newman empresta ao filme o peso que a sua história relativamente simples luta nobremente por suportar. Filmado num impressionante ecrã largo (o melhor a captar o brilho do sol e os prisioneiros, ligados por correntes, luzidios de suor e sem camisa), o filme de Stuart Rosenborg vacila ambiciosamente entre uma história francamente anti-autoritária e uma grande lenda "macho" para acabar numa curiosa e incompleta alegoria de Cristo.
O facto de a película se afundar desajeitadamente a meio caminho não deve surpreender ninguém, mas "O Presidiário" continua mesmo assim a prender a atenção. Newman interpreta um homem comum enigmaticamente recalcitrante, Lucas "Cool Hand" Jackson (Luke) atirado para o presídio por cortar, em rebeldia, os topos dos paquímetros. Uma vez encarcerado ele colide, sem surpresa, com um sistema de regras ainda mais teimoso e, à medida que o seu estoicismo perturbador se torna mais disruptivo, as punições que lhe são infligidas tornam-se mais severas. Cheio de diálogos citáveis e sequências memoráveis, "O Presidiário" existe como uma obra icónica em si mesma, decepcionamtemente ligeira em significado, mas cheia, de modo definitivo, de significação cultural (contracultural).
Efectivamente, várias frases do filme entraram no léxico do cinema (a ameaçadora declaração discreta: "o que temos aqui é um problema de comunicação", por exemplo) enquanto cenas como a aposta de comer ovos e uma batalha a murro no átrio da prisão são a essência da lenda do cinema. Uma grande parte do charme considerável de "O Presidiário" deriva de um colorido elenco de actores secundários, um contingente de faces jovens que um jovem Dennis Hopper, Harry Dean Stanton, e George Kennedy como o rival de Newman, depois o seu braço-direito.
Kennedy levou para casa o Óscar de Melhor Actor Secundário pelo seu retrato de Dragline, o definitivo duro ingénuo. Mas no coração do filme está o desempenho tranquilamente carismático de Newman, que mostrou o actor no topo do seu jogo e propulsionou para o topo a sua popularidade. Comparado com o desempenho super-activo de Jack Nicholson no estranhamente similar "Voando Sobre um Ninho de Cucos", Newman em "O Presidiário" é todo subtileza, sorrisos sabedores e confiança" Texto de Josha Klein.
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sábado, 28 de outubro de 2017
Um Homem (Hombre) 1967
"Paul Newman é um homem branco raptado em criança pelos Apaches e criado com os da sua raça.Tendo herdado a pobreza e regressado aos brancos, descobre-se numa diligência no Novo México com um grupo variado que incluí Diane Cilento como uma viúva divertida, Fredric March como um corrupto agente dos assuntos indios, e Martim Balsam como o cocheiro mexicano da diligência. A meio da jornada são assaltados por um bando ligado a outro passageiro, Richard Boone. Newman, demonstrando o seu treinamento Apache, mata dois dos bandoleiros mas não vê razão para dar mais assistência aos viajantes, já que alguns deles deixaram claro o seu ódio pelos índios.
"Um Homem", de Martin Ritt, exibe muito do sentimento liberal que se tornou um lugar-comum nos westerns dos anos sessenta e depois, mas a retórica fica em segundo plano relativamente ao agravar das tensões entre as personagens, à medida que o jogo do gato e do rato entre o bando e os seus prisioneiros se desenvolve. Newman é excelente como um John Russell gelidamente autocontrolado, cuja dualidade ética lhe dá uma visão muito especial do preconceito racial, e Richard Boone, como o seu adversário, afasta-se jovialmente da hipocrisia dos cidadões mais respeitáveis." Texto de Edward Buscombe
O elenco de luxo contém ainda nomes como Cameron Mitchell, Barbara Rush e Frank Silvera.
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sexta-feira, 27 de outubro de 2017
Cortina Rasgada (Torn Curtain) 1966
O professor Michael Armstrong dirige-se para Copenhaga, para acompanhar uma conferência de física com a sua assistente / noiva Sarah Sherman. Quando lá chegam Michael diz-lhe para ela regressar e ele deve ficar mais algum tempo. Ela segue-o, e descobre que ele está a ir para a Alemanha oriental, para trás da cortina de ferro, e fica chocada quando descobre que ele está a desertar para o oriente depois do governo ter cancelado o seu processo de pesquisa. Mas ele não está a fugir mas sim à procura de um famoso cientista da alemanha oriental.
Quando Alfred Hitchcock começou o seu 50º filme, "Torn Curtain" (1966), deveria estar no auge da sua carreira. Depois de quatro décadas como realizador, os seus filmes ainda eram populares, os críticos franceses proclamavam-no como um grande artista, e alguns críticos americanos começavam a concordar com a sua brilhante gestão da carreira. No entanto, ao começar a juntar as idéias para "Torn Curtain", sentiu-se inseguro. "The Birds" (1963), apesar de popular, tinha ficado longe do êxito de "Psycho" (1960), e o seu próximo filme "Marnie" (1964) tinha sido um desastre a nível de público e crítica. Temendo que estivesse a perder o toque, Hitchcock permitiu que a Universal fizesse mais e mais exigências para que o filme fosse um sucesso.
A idéia para este filme era interessante. Depois do casal de espiões Burgess e MacLean terem sido capturados, em 1951, estava na altura de passar a história para a grande tela, quando se estava no auge dos filmes de espionagem, e James Bond era um êxito garantido, o que fazia desta altura a ideal. Mas Hitchcock estava longe de querer fazer uma réplica das aventuras de 007. Ele queria revelar o lado sombrio da espionagem, queria fazer o "homem médio" americano fazer-se sentir um espião, e o quanto sujo este trabalho era.
Hitchcock não ficou contente com as escolhas de casting, mas acabou por acatar as ordens da Universal: Paul Newman e Julie Andrews, duas estrelas maiores na década de sessenta. Newman aborreceu Hitchcock, pela forma como se comportou num jantar em sua casa. Enviou-lhe um memorando detalhando em três páginas problemas do argumento. Como o peso das duas estrelas principais levava logo grande parte do orçamento do filme, houve dificuldade em encontrar um resto do elenco decente.
Os críticos não mantiveram "Torn Curtain" em grande estima, mas, ainda assim, seria o maior êxito do realizador desde "Psycho". Mas ficava o aviso que provavelmente não era boa idéia vergar-se às ordens dos grandes estúdios.
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