sábado, 16 de dezembro de 2017

Um dia de Verão Soalheiro (Gu ling jie shao nian sha ren shi jian) 1991

"Épico em extensão mas não tanto em dimensão, este retrato subtil e rico de Taiwan assinado por Yang encaixa tantos pormenores na sua aparentemente breve duração de quatro horas que admira que o filme tenha saído tão curto. Passado em Taipei no princípio da década de sessenta, durante um único ano lectivo, "Um dia de Verão Soalheiro" mostra um país que ainda estava de ressaca por causa do influxo de nacionalistas chineses (liderados pelo repressivo Chiang Kai-shek). A Taiwan de Yang está dividida entre comunismo e democracia, nacionalismo e liberdade, com confusão, alienação e incerteza, conduzindo a uma desorganização por vezes debilitante. 
Por mais rigoroso que seja este filme, Yang infunde-o com toques de humor e humanismo que compensam a atmosfera angustiante de tragédia iminente. A realização é paciente e serena; o filme é como uma grande sinfonia de dezenas de personagens cujo tom e ritmo são habilmente orquestrados por Yang. Preferindo planos longos, estáticos ou lentos a grandes planos, Yang dá ao elenco grande liberdade para explorar as suas emoções (ou aparente ausência delas), representando para a história e para os outros, não apenas para a câmara; ainda assim, é óbvio que Yang quer que o filme seja tanto sobre lugares e coisas específicos como sobre pessoas. Não admira pois, que o filme revele factos e situações com o cuidado, planeamento e deliberação de um grande romance.
Tampouco surpreende o peso emocional da conclusão trágica do filme, o resultado do rigoroso design narrativo de Yang (por sua vez o resultado de quatro anos de preparação) que consegue entrelaçar a história das gangues de rua de Taipei, amor adolescente, rock and roll, valores culturais perdidos e a busca de uma identidade nacional. Embora frequentemente comparado com o clássico melancólico Fúria de Viver, de Nicholas Ray, "Um dia de Verão Soalheiro" é muito mais do que isso. Uma obra-prima da Nova Vaga de Taiwan, e um ponto alto do cinema do final do século XX, este é um filme cuja percepção de tempo e lugar é magistral, ultrapassando quase o domínio da mera narração. É como um álbum de fotografias multifacetado, composto por fotos verdadeiramente comoventes, que convidam à reflexão."
 Texto de Joshua Klein

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