domingo, 1 de janeiro de 2017

Malvadez (Malvadez) 1991

Vindo do Fundão para Lisboa, onde não estava desde o serviço militar, Matias descobre que a realidade da cidade não é exactamente a que se lembrava.
""Malvadez" começa a mostrar um tanto o que é isso de um telefilme primeira obra de um realizador. Isto é, uma ficção sangrenta e ingénua, uma história algo esfiapada mas uma nítida vontade de cinema (veja-se como os planos são todos plasticamente pensados - mais os planos que a cena, é curioso), indecisões, acertos, desvios, fixações (ah, "Os Verdes Anos"). Ainda não um argumento talhado a preceito (quantas irrespondidas ou personagens sem precisa utilidade dramática: porque é que aquele tipo está no Fundão, quem é e para que serve a personagem de Maria Amélia Matta, quem utilidade tem o personagem de Isabel Ruth?..). Ainda não tem um espaço social definido com rigor. Mas já credibilidade. Mas já actores a fazer de gente possível (Pedro Hestnes, Miguel Guilherme, Vitor Norte e Sónia Guimarães a cumprir bem e com acuidade). Mas já uma atenção sonora (muito boa a música de Bochmann, embora Luis Alvarães a use, com destreza, para colmatar problemas de montagem, fazendo um "continuum" musical para que as coisas colem com mais maleabilidade - e quem lhe atira a primeira pedra?). Mas já cinema a acontecer. A começar a balbuciar-se com jeito. A mostrar vontade e vocação. O que é o essencial, porque estamos a falar de começo, de prova de aptidão profissional, de primeiros sinais.
Tudo adicionado e ponderado, estamos de parabéns. Vimos nascer um cineasta. Se grande, se minorca, se audaz ou se rotineiro, isto só veremos ao longo do futuro, se o futuro não for avaro para Luis Alvarães. A primeira barra foi transporta, sem lugar para entusiasmos desmedidos, nem imprecações sumárias. É isso apenas o que sabemos, e isso é bom."
Texto publicado no Expresso, em 13-71991.

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