quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Ficção Científica Soviética: O Futuro que Nunca Chegou

Em 1898 o britânico H. G. Wells escreveu "The War of the Worlds", um livro de ficção científica em que os marcianos invadem a Terra, e quase dizimam a humanidade.
Uma década depois, naquele que era na altura chamado de Império Russo, o escritor e revolucionário Marxista Alexander Bogdanov, escreveu "Red Star", um livro igualmente sobre os marcianos a chegarem à Terra. No livro de Bogdanov os marcianos não são violentos ou monstruosos, em vez disso convidam o personagem principal, um jovem estudante russo chamado Leonid, a visitar o planeta vermelho, para ver de perto a civilização marciana: uma utopia próspera, pacífica e comunista.
Tomáš Pospiszyl, um escritor e estudioso de arte checo, disse na conferência "Futures of Eastern Europe", realizada em 2014, que o optimismo de "Red Star" era uma característica fundamental da ciência soviética. Pospiszyl disse também que no inicio do século 20, quando os dois livros foram escritos, muitas pessoas acreditavam que havia uma civilização avançada em Marte. Mas, enquanto H. G. Wells interpretava o "avançada"como militante e conquistadora, Bogdanov interpretava o "avançada" como comunista, e, portanto, pacífica e próspera.
No entanto, não muito depois da União Soviética se ter estabelecido em 1922, a ficção científica, e muitos outros tipos de literatura, foram banidos nos estados. Era visto como um género ocidental decadente. Tanto a ficção científica como a ideologia comunista estavam muito preocupadas com o futuro. A ideologia comunista baseava-se no futurismo, ou numa clara perspectiva histórica, que conduzia do capitalismo no passado, ao comunismo no futuro.
Na década de 50, depois da morte de Joseph Stalin, a ficção científica foi mais uma vez permitida na União Soviética. No entanto, isso não queria dizer que os escritores pudessem escrever aquilo que lhes apetecia. Esta limitação foi abandonada em 1956, mas, mesmo sem ela, o estado ainda impôs restrições, tanto explicitas como implícitas, à ficção científica soviética.
Os cineastas soviéticos foram pioneiros na ficção científica, lançando filmes inovadores como "Aelita", em 1924, numa altura em que o desenvolvimento das histórias ainda era uma coisa nova para as imagens em movimento. Ao longo de décadas a União Soviética continuou a produzir cinema inovador com efeitos especiais impressionantes, apesar da estrita supervisão do governo, produzindo histórias de planetas distantes, super armas futuristas, e experiências científicas aterrorizantes.

A ideia deste ciclo foi-me dada por uma amiga minha, a Ágata, já há alguns meses atrás, tendo depois desenvolvido o conceito neste artigo do A. V. Club. Pretende ser uma viagem pelo mundo da ficção científica soviética, no cinema, um mundo muito pouco desbravado pelas populações ocidentais, mas que merece, sem dúvida, uma divulgação, mesmo que seja rápida. Será um ciclo simples, com 10 filmes, e especial enfoque no período da Guerra Fria. De fora ficarão alguns filmes que já se encontram no blog, como os de Tarkovsky ("Stalker" ou "Solaris"), e também "Kin-Dza-Dza", de Georgiy Daneliya. Mas, posso garantir que será uma viagem agradável.

Deixo-vos com imagens de um dos filmes que poderemos ver neste ciclo:


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