Um irlandês chamado Finian (Fred Astaire), e a sua filha Sharon (Petula Clark) chegam ao estado americano de “Miltucky” com um pote cheio de ouro, que Finian roubou de leprechaun (Tommy Steele), com a intenção de o enterrar no chão e acelerar o seu crescimento. Enquanto isso, um sonhador (Don Francks) colabora com um botânico (Al Freeman, Jr.) para criar tabaco mentolado, e um senador ganancioso (Keenan Wynn) tenta comprar o terreno onde Finian enterrara o seu pote de ouro.
Em 1968, Coppola dirige esta adaptação de um popular musical da Broadway (produzido pela primeira vez em 1947 e revivido em 2009), com uma mistura invulgar de fantasia e justiça social, que incluía intolerância racial, pobreza e corrupção política. Na verdade, esses tópicos "quentes" impediram o musical de ser transformado num filme durante muitos anos, até que o clima social dos anos sessenta finalmente permitiu que tais preocupações fossem satirizadas. O resultado final é um musical esporadicamente divertido, mas em última análise desigual, tentando incorporar muitos fios narrativos sem nunca se conseguir concentrar no seu foco.
Nas interpretações, o destaque vai para Fred Astaire, com 69 anos, participa aqui num dos seus últimos musicais. O restante elenco reúne alguns actores conhecidos, embora grande parte das interpretações não sejam bem conseguidas. Coppola, então com 29 anos, transformava-se num dos mais novos realizadores a trabalhar no "studio system", e conseguia um orçamento minúsculo para produzir o filme, pela Warner Bros, que tentava aproveitar o ressurgimento dos musicais, depois de obras como "My Fair Lady" (1964) e "The Sound of Music" (1965). Trabalhar debaixo das mãos de um estúdio grande foi um desastre para Coppola, tendo filme sido considerado um flop a nível crítico. Mesmo assim o filme conseguiu duas nomeações para os Óscares, nas categorias técnicas.
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sexta-feira, 29 de abril de 2016
quinta-feira, 28 de abril de 2016
A Noite É Perversa (You're a Big Boy Now) 1966
O pai de Bernard Chanticleer deu-lhe um conselho muito simples: "Cresce". Bernard sabe que o primeiro passo a dar é encontrar uma rapariga que valha a pena, mas ele trocou uma rapariga "certa", Amy Partlett, por um objectivo mais evasivo. Ela é Barbara Darling (Elizabeth Hartman), uma dançarina. Há vários obstáculos que o mantêm longe do seu mundo de sonho: a mãe (que continua a pensar que ele ainda não é crescido), um playboy malicioso que ataca todas as mulheres bonitas, e a própria Barbara, que parece odiar todos os homens.
O enredo básico de "You’re a Big Boy Now" pode parecer mais um filme vulgar sobre a entrada na idade adulta, sobre um jovem inocente a aprender sobre a vida e o amor na cidade de Nova Iorque, mas Coppola transforma a história numa "screwball comedy" contemporânea, com toques de romance e de uma audaciosa pirotecnia visual. Isto inclui o longo plano de abertura filmado na sala de leitura da Biblioteca Pública de Nova Iorque, uma perseguição louca por entre lojas, ou uma sequência nocturna à volta da decadente "42nd Street".
O projecto foi primeiramente sugerido a Coppola pelo actor Tonny Bill, grande fã do livro original escrito por David Benedictus. Coppola comprou os direitos e começou a escrever uma adaptação cinematográfica, enquanto estava em filmagens na Europa para a Seven Arts, colaborando com Gore Vidal e vários outros escritores no argumento do grande épico de guerra "Is Paris Burning?". Phil Feldman, um ex-agente de negócios da Seven Arts, agora a trabalhar para a Warner, reconheceu talento em Coppola, e negociou um acordo com o jovem cineasta para o seu segundo filme.
E assim nascia o filme, lançado cerca de um ano antes de "A Primeira Noite" (The Graduate), de Mike Nichols, aborda uma temática muito parecida com a deste filme, levando os dois a serem sucessivamente comparados ao longo do tempo. Claro que o filme de Lumet é bastante melhor, acabando por ser considerado o filme mais simbólico sobre este tema. Mas o de Coppola também merece ser visto.
Legendas em espanhol, mas é um espanhol bastante acessível.
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O enredo básico de "You’re a Big Boy Now" pode parecer mais um filme vulgar sobre a entrada na idade adulta, sobre um jovem inocente a aprender sobre a vida e o amor na cidade de Nova Iorque, mas Coppola transforma a história numa "screwball comedy" contemporânea, com toques de romance e de uma audaciosa pirotecnia visual. Isto inclui o longo plano de abertura filmado na sala de leitura da Biblioteca Pública de Nova Iorque, uma perseguição louca por entre lojas, ou uma sequência nocturna à volta da decadente "42nd Street".
O projecto foi primeiramente sugerido a Coppola pelo actor Tonny Bill, grande fã do livro original escrito por David Benedictus. Coppola comprou os direitos e começou a escrever uma adaptação cinematográfica, enquanto estava em filmagens na Europa para a Seven Arts, colaborando com Gore Vidal e vários outros escritores no argumento do grande épico de guerra "Is Paris Burning?". Phil Feldman, um ex-agente de negócios da Seven Arts, agora a trabalhar para a Warner, reconheceu talento em Coppola, e negociou um acordo com o jovem cineasta para o seu segundo filme.
E assim nascia o filme, lançado cerca de um ano antes de "A Primeira Noite" (The Graduate), de Mike Nichols, aborda uma temática muito parecida com a deste filme, levando os dois a serem sucessivamente comparados ao longo do tempo. Claro que o filme de Lumet é bastante melhor, acabando por ser considerado o filme mais simbólico sobre este tema. Mas o de Coppola também merece ser visto.
Legendas em espanhol, mas é um espanhol bastante acessível.
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quarta-feira, 27 de abril de 2016
Demência 13 (Dementia 13) 1963
Quando o seu marido John tem um ataque de coração enquanto navegava num pequeno bote, Louise Haloran atira o seu corpo borda fora, e mais tarde diz à família que ele partiu numa viagem de negócios urgente. A sua maior preocupação é que ela só pode herdar uma parte da grande fortuna da família se o marido estiver vivo. Os Halorans são uma estranha família, ainda de luto pela morte da filha mais nova Kathleen, que morreu afogada numa lagoa enquanto ainda era criança. A família vai reunir-se, como faz todos os anos, mas desta vez anda um assassino à solta.
Coppola foi um dos muitos realizadores graduados na universidade de Roger Corman, fazendo parte de uma lista com nomes tão consagrados como John Sayles, Ron Howard, Jonathan Demme, Peter Bogdanovich, ou Jack Hill. Corman propôs "Dementia 13" a Coppola quando terminava outro filme realizado na irlanda: "The Young Racers", no qual Coppola era técnico de som. Corman tinha aproximadamente 22 mil dólares que tinham sobrado do filme anterior, e ofereceu-os a Coppola para fazer um filme que homenageasse "Psycho" de Alfred Hitchcock, lançado três anos antes.
As exigências de Corman eram as do costume, as mesmas que ele fazia a qualquer outro seu protegido. Coppola teve de ficar com parte dos actores, e da equipa de produção de "The Young Racers" (alguns deles eram seus colegas de curso): o filme teve de ser filmado em 3 dias, e de acordo com a agenda apertada de Corman, e teve de incluir um cenário gótico (um castelo), e violência extrema. Para economizar ainda mais dinheiro, Coppola teve de filmar de noite, e a preto e branco.
Durante a pós-produção Coppola e Corman discordaram fortemente: Corman queria mais violência e mais voiceovers, e também queria que o filme fosse mais longo. Para isso chamou Monte Hellman para filmar um prólogo que só saíu na versão para cinema. A acompanhar a versão cinematográfica, uns truques seguindo o espírito de William Castle. Um psicanalista, antes das sessões, fazia um teste chamado "D-13”, para averiguar se as pessoas estavam aptas psicologicamente pata ver o filme, ou não.
O "mood" do filme é perturbador, com um ambiente sinistro e gótico e uma narrativa densa. Mas em termos de qualidade é o melhor que se podia fazer perante tantos contratempos e obrigações. Normalmente é catalogado como a primeira longa-metragem de Coppola, apesar dele ter uns pequenos filmes escolares realizados antes.
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Coppola foi um dos muitos realizadores graduados na universidade de Roger Corman, fazendo parte de uma lista com nomes tão consagrados como John Sayles, Ron Howard, Jonathan Demme, Peter Bogdanovich, ou Jack Hill. Corman propôs "Dementia 13" a Coppola quando terminava outro filme realizado na irlanda: "The Young Racers", no qual Coppola era técnico de som. Corman tinha aproximadamente 22 mil dólares que tinham sobrado do filme anterior, e ofereceu-os a Coppola para fazer um filme que homenageasse "Psycho" de Alfred Hitchcock, lançado três anos antes.
As exigências de Corman eram as do costume, as mesmas que ele fazia a qualquer outro seu protegido. Coppola teve de ficar com parte dos actores, e da equipa de produção de "The Young Racers" (alguns deles eram seus colegas de curso): o filme teve de ser filmado em 3 dias, e de acordo com a agenda apertada de Corman, e teve de incluir um cenário gótico (um castelo), e violência extrema. Para economizar ainda mais dinheiro, Coppola teve de filmar de noite, e a preto e branco.
Durante a pós-produção Coppola e Corman discordaram fortemente: Corman queria mais violência e mais voiceovers, e também queria que o filme fosse mais longo. Para isso chamou Monte Hellman para filmar um prólogo que só saíu na versão para cinema. A acompanhar a versão cinematográfica, uns truques seguindo o espírito de William Castle. Um psicanalista, antes das sessões, fazia um teste chamado "D-13”, para averiguar se as pessoas estavam aptas psicologicamente pata ver o filme, ou não.
O "mood" do filme é perturbador, com um ambiente sinistro e gótico e uma narrativa densa. Mas em termos de qualidade é o melhor que se podia fazer perante tantos contratempos e obrigações. Normalmente é catalogado como a primeira longa-metragem de Coppola, apesar dele ter uns pequenos filmes escolares realizados antes.
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segunda-feira, 25 de abril de 2016
O Terror (The Terror) 1963
Um jovem tenente francês (Jack Nicholson) perde-se do seu regimento e vai parar a uma praia aparentemente deserta. Logo vê a imagem de uma bela jovem, que o ajuda a encontrar água bebível – é certo que ela o livrou de um problema, mas está para lhe criar uma série de outros, numa trama envolvendo um estranho assassinato passional, que teria sido cometido pelo Barão Von Leppe (Karloff), um velho sinistro que vive soturnamente no seu castelo, alvo de estranhas feitiçarias. Encantado com a mulher e intrigado com os mistérios do local, o jovem tenente vai tentar desvendar o mistério.
"The Terror" foi realizado em apenas três dias. Roger Corman tinha apenas três dias para o cenário do filme que tinha acabado de fazer, "The Raven", ser retirado, e também mais três dias de contracto com Boris Karloff, uma estrela. Falou com alguns elementos da produção de "The Raven" para fazerem um trabalho rápido, e convidou o actor Leon Gordon para escrever um argumento que girasse em volta dos cenários do castelo, com as cenas exteriores a serem rodadas mais tarde. Corman também convidou alguns dos seus protegidos para realizarem algumas sequências, que acabaram por dar ao filme um ar confuso. Entre as pessoas que deram uma mãozinha encontravam-se Francis Ford Coppola, Jack Hill, Monte Hellman, ou Jack Nicholson, que também era protagonista. Dado os nomes que participaram na produção, todos eles viriam a alcançar sucesso no futuro, esta obra tornou-se num filme de culto.
Jack Nicholson estava em inicio de carreira, e este seria o seu primeiro papel de protagonista. Para contracenar com ele chamou Sandra Knight, a sua esposa da altura, também ela ligada a Roger Corman. Uma nota também para outro actor em início de carreira e ligado a Roger Corman: Dick Miller.
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"The Terror" foi realizado em apenas três dias. Roger Corman tinha apenas três dias para o cenário do filme que tinha acabado de fazer, "The Raven", ser retirado, e também mais três dias de contracto com Boris Karloff, uma estrela. Falou com alguns elementos da produção de "The Raven" para fazerem um trabalho rápido, e convidou o actor Leon Gordon para escrever um argumento que girasse em volta dos cenários do castelo, com as cenas exteriores a serem rodadas mais tarde. Corman também convidou alguns dos seus protegidos para realizarem algumas sequências, que acabaram por dar ao filme um ar confuso. Entre as pessoas que deram uma mãozinha encontravam-se Francis Ford Coppola, Jack Hill, Monte Hellman, ou Jack Nicholson, que também era protagonista. Dado os nomes que participaram na produção, todos eles viriam a alcançar sucesso no futuro, esta obra tornou-se num filme de culto.
Jack Nicholson estava em inicio de carreira, e este seria o seu primeiro papel de protagonista. Para contracenar com ele chamou Sandra Knight, a sua esposa da altura, também ela ligada a Roger Corman. Uma nota também para outro actor em início de carreira e ligado a Roger Corman: Dick Miller.
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domingo, 24 de abril de 2016
Coppola - O Inicio
Basta referir títulos como "Apocalypse Now", "Do Fundo do Coração", "Cotton Club", "Jardins de Pedra", ou "Tucker" para aquilatar a importância deste cineasta no contexto da produção cinematográfica mundial. E nem sequer vale a pena apelar à majestosa saga da família Corleone apresentada na série "O Padrinho" para sublinhar o génio, a desmesura do seu cinema.
Por agora vamos esquecer estes "clássicos" do cinema mundial, e vamos nos concentrar no inicio da carreira do realizador. Coppola nasceu no ano de 1939, e começou no cinema fabricando "nudies" (soft cores à moda do início da década de sessenta) transitando depois para a "universidade de Corman", onde aprendeu a trabalhar com orçamentos reduzidos. Para Roger Corman desempenhou diversas funções (operador de som, montagem, realizador de segunda equipa) até dar provas de estar à altura para realizar um filme. Primeiro realizou algumas cenas para "The Terror", um filme creditado a Roger Corman, mas que contava com a ajuda dos "alunos" Coppola, Monte Hellman, Jack Hill, e o próprio Jack Nicholson. Com as sobras de "Young Racers" (também de Corman) partiu para a Irlanda onde dirigiu "Dementia 13".
Desligou-se depois de Corman e partiu para a Warner, onde realizou "You're a Big Boy Now", uma obra já com um orçamento maior e um elenco bastante interessante. O seu primeiro filme de grande orçamento chegou depois na forma de um musical, o último de Fred Astaire, "O Vale do Arco-Irís", mas foi um flop:"Finian's Rainbow". Seguiu-se um pequeno road movie, "The Rain People", ainda antes do final da década de sessenta, enquanto começava a trabalhar na idéia dos estúdios Zoetrope, na comunidade criativa que "iria mudar os destinos do cinema americano".
A carreira de Coppola é mais conhecida a partir de 1972, o ano em que saíu o primeiro filme da saga "O Padrinho", mas durante esta semana vamos até ao fundo do baú, para conhecer as primeiras obras deste excelente realizador.
- "The Terror" (1963)
- "Dementia 13" (1963)
- "You're a Big Boy Now" (1966)
- "Finian's Rainbow" (1968)
- "The Rain People" (1969)
Boa semana!
Living (Zhit) 2012
O filme traz três histórias distintas mas que se encontram em um só sentimento: o de perda. Uma mãe que juntar-se às suas duas filhas gémeas. Um jovem casal casa-se na igreja, mas logo após a cerimónia, Deus - ou talvez o Diabo, ou o Destino, testa o seu amor na forma mais brutal. Um jovem quer ver o seu pai distante, apesar dos protestos da mãe. Cada uma destas personagens vive o seu próprio calvário.
"Zhit" é o segundo filme do realizador Vasily Sigarev, de quem já tínhamos visto "Wolfy" neste ciclo, um filme de estreia bastante aclamado. Esta segunda obra trás uma visão existencial e profundamente filosófica sobre os danos psicológicos que as várias manifestações sobre a morte pode ter sobre a mente. "Zhit" (Vida), é uma perspectiva fascinante e única sobre o processo do luto.
As personagens das diferentes histórias nunca se cruzam, mas estão todas ligadas pela dura realidade da mortalidade, com cada uma a experienciar o trauma da morte, e a lidar com as suas implicações assombrosas de formas notavelmente diferentes. Sigarev centra-se sobre a mortalidade sem qualquer sentimento artificial, em vez de abordar o assunto com honestidade. Imagens poderosas, e uma grande banda sonora estão alinhadas para mostrar o sofrimento destas almas traumatizadas.
Foi exibido em vários festivais europeus com algum sucesso, e Sigarev, actualmente com 39 anos, é uma das boas promessas do cinema Russo.
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"Zhit" é o segundo filme do realizador Vasily Sigarev, de quem já tínhamos visto "Wolfy" neste ciclo, um filme de estreia bastante aclamado. Esta segunda obra trás uma visão existencial e profundamente filosófica sobre os danos psicológicos que as várias manifestações sobre a morte pode ter sobre a mente. "Zhit" (Vida), é uma perspectiva fascinante e única sobre o processo do luto.
As personagens das diferentes histórias nunca se cruzam, mas estão todas ligadas pela dura realidade da mortalidade, com cada uma a experienciar o trauma da morte, e a lidar com as suas implicações assombrosas de formas notavelmente diferentes. Sigarev centra-se sobre a mortalidade sem qualquer sentimento artificial, em vez de abordar o assunto com honestidade. Imagens poderosas, e uma grande banda sonora estão alinhadas para mostrar o sofrimento destas almas traumatizadas.
Foi exibido em vários festivais europeus com algum sucesso, e Sigarev, actualmente com 39 anos, é uma das boas promessas do cinema Russo.
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sexta-feira, 22 de abril de 2016
Elena (Elena) 2011
Há pouco menos de uma década que Andrei Zvyagintsev espantou toda a gente com Vozvrashchenie (O Regresso, 2003). O filme, sobre filhos que não estavam habituados a ser filhos e um pai que não estava habituado a ser pai, venceu o Leão de Ouro em Veneza, servindo para considerar instantaneamente o seu autor como uma espécie de filho pródigo do novo cinema russo. Com um absoluto controlo formal – a música original de Andrei Dergachyov entrava a pique a “moer-nos” o juízo e as entranhas – mas sobretudo pela construção de uma atmosfera toda ela de granito, que o mais russo dos escritores russos se poderia orgulhar, Zvyagintsev contava essa fatalidade de dois jovens a entrar na adolescência que tiveram de crescer às custas da morte do pai.
Em Elena (Elena, 2011), que entretanto também já fez os seus estragos e ganhou Un Certain Regard prémio do júri em Cannes, as crianças também ainda não cresceram. O mais novo porque é um bebé, limitando-se, no mais belo plano de filme (o picado sobre a cama, perto do final; logo verão, é fácil dar com ele) a mudar de espaço; e sobre o mais velho, já adolescente, Sasha, paira a ameaça de um futuro nada risonho entre a indigência nas ruas que o levará certamente à prisão e essa ameaça ainda maior que é a chamada ao exército. Mas o mais curioso é que se em O Regresso os filhos não crescem pela ausência do pai, aqui não o fazem pela sua presença. Isto é claro na forma como a câmara de Zvyagintsev se situa no atravancado pequeno apartamento, sem “linha de fuga”, onde estes vivem e na forma como apanha a presença opressora do pai de Sasha, desempregado, sempre lá, sentado no sofá, a abrir o frigorífico ou a comer batatas fritas até à eternidade.
Se temos vindo a falar do desemprego, da guerra, do futuro, este funciona como uma espécie de substrato omnipresente do filme de Zvyagintsev que começou por ser uma proposta de um produtor inglês para trabalhar sobre o tema do Apocalipse. O caminho ínvio que tomou posteriormente fez com que abandonasse a língua inglesa, e com ela o seu produtor, e fizesse o filme com dinheiros russos e aproveitando uma situação da vida do seu argumentista. E eis que chegamos finalmente à protagonista que dá nome ao filme, avó de Sasha, enfermeira reformada, viúva que casou novamente com Vladimir um homem bem mais rico. Cada um vive instalado num ritmo quotidiano metálico, do abrir e fechar dos cortinados, do dormir em quartos separados, do barulho de fundo das televisões, que só a idade permite compreender e que a montagem sonora ajuda a marcar. A gravitas contida de Elena (Nadezhda Markina), a fazer lembrar um pouco Imelda Staunton em Vera Drake (2004) ou a Alexandra de Sokurov (2007), transforma a relação com Vladimir numa espécie de duelo em surdina: ela a querer assegurar o futuro do neto através do dinheiro do marido e ele a defender a sua filha distante, mimada e irónica de nome. E Zvyagintsev prolonga esse duelo: entre os interiores silenciosos e marcados pelos sons dos ecrãs e os afazeres das personagens e os exteriores, onde a câmara, e a música de Philip Glass permitem entender essa vida de cada um deles a sós como um recarregar baterias para o próximo confronto amoroso mas também social. É que em último caso o que está frente a frente são duas concepções de vida: uma onde “the last should be the first”, como diz Elena, dos pobres que tudo podem fazer para sobreviver; e outra, de Vladimir e da filha Katerina, uma visão maquinal, calculista, que se perpetua indiferente nos seus maus genes e posses materiais.
Deste confronto que acaba por ter um desfecho “territorial” claro, sabemos quem leva a melhor. Assim como o sabem os corvos que abrem e fecham o filme. Este bird’s eye metafórico é o local a partir de onde o cineasta russo expõe a dimensão do conflito social da Rússia contemporânea. A partir deste ponto de vista qualquer triunfo soará a improdutivo, as classes jovens (os filhos e os netos) parecem incapazes de sair moralmente de onde estão e a vida parece ser um castigo suficientemente claro. É nesse atoleiro que o cinema reina sem pudor.
Texto de Carlos Natálio, daqui.
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Em Elena (Elena, 2011), que entretanto também já fez os seus estragos e ganhou Un Certain Regard prémio do júri em Cannes, as crianças também ainda não cresceram. O mais novo porque é um bebé, limitando-se, no mais belo plano de filme (o picado sobre a cama, perto do final; logo verão, é fácil dar com ele) a mudar de espaço; e sobre o mais velho, já adolescente, Sasha, paira a ameaça de um futuro nada risonho entre a indigência nas ruas que o levará certamente à prisão e essa ameaça ainda maior que é a chamada ao exército. Mas o mais curioso é que se em O Regresso os filhos não crescem pela ausência do pai, aqui não o fazem pela sua presença. Isto é claro na forma como a câmara de Zvyagintsev se situa no atravancado pequeno apartamento, sem “linha de fuga”, onde estes vivem e na forma como apanha a presença opressora do pai de Sasha, desempregado, sempre lá, sentado no sofá, a abrir o frigorífico ou a comer batatas fritas até à eternidade.
Se temos vindo a falar do desemprego, da guerra, do futuro, este funciona como uma espécie de substrato omnipresente do filme de Zvyagintsev que começou por ser uma proposta de um produtor inglês para trabalhar sobre o tema do Apocalipse. O caminho ínvio que tomou posteriormente fez com que abandonasse a língua inglesa, e com ela o seu produtor, e fizesse o filme com dinheiros russos e aproveitando uma situação da vida do seu argumentista. E eis que chegamos finalmente à protagonista que dá nome ao filme, avó de Sasha, enfermeira reformada, viúva que casou novamente com Vladimir um homem bem mais rico. Cada um vive instalado num ritmo quotidiano metálico, do abrir e fechar dos cortinados, do dormir em quartos separados, do barulho de fundo das televisões, que só a idade permite compreender e que a montagem sonora ajuda a marcar. A gravitas contida de Elena (Nadezhda Markina), a fazer lembrar um pouco Imelda Staunton em Vera Drake (2004) ou a Alexandra de Sokurov (2007), transforma a relação com Vladimir numa espécie de duelo em surdina: ela a querer assegurar o futuro do neto através do dinheiro do marido e ele a defender a sua filha distante, mimada e irónica de nome. E Zvyagintsev prolonga esse duelo: entre os interiores silenciosos e marcados pelos sons dos ecrãs e os afazeres das personagens e os exteriores, onde a câmara, e a música de Philip Glass permitem entender essa vida de cada um deles a sós como um recarregar baterias para o próximo confronto amoroso mas também social. É que em último caso o que está frente a frente são duas concepções de vida: uma onde “the last should be the first”, como diz Elena, dos pobres que tudo podem fazer para sobreviver; e outra, de Vladimir e da filha Katerina, uma visão maquinal, calculista, que se perpetua indiferente nos seus maus genes e posses materiais.
Deste confronto que acaba por ter um desfecho “territorial” claro, sabemos quem leva a melhor. Assim como o sabem os corvos que abrem e fecham o filme. Este bird’s eye metafórico é o local a partir de onde o cineasta russo expõe a dimensão do conflito social da Rússia contemporânea. A partir deste ponto de vista qualquer triunfo soará a improdutivo, as classes jovens (os filhos e os netos) parecem incapazes de sair moralmente de onde estão e a vida parece ser um castigo suficientemente claro. É nesse atoleiro que o cinema reina sem pudor.
Texto de Carlos Natálio, daqui.
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quinta-feira, 21 de abril de 2016
How I Ended this Summer (Kak ya Provel Etim Letom) 2010
Uma estação polar numa ilha deserta, no Oceano Ártico. Sergei, um meteorologista experiente, e Pavel, um recém-formado, passam meses em completo isolamento na base de pesquisa. Pavel recebe uma mensagem importante pela rádio, e tenta encontrar o momento certo para dizer a Sergei, quando o medo, as mentiras e suspeitas começam a envenenar a atmosfera...
A incapacidade de Pavel para transmitir a má notícia parece, ao mesmo tempo, desconcertante e completamente compreensível. Vivendo o momento, ouvindo o sujo rock russo com headphones, jogando jogos de vídeo, Pavel é claramente originário de um mundo onde se pode fugir dos problemas até que eles rebentem, e não se dá conta de onde está e o que isso significa. A paisagem, os ursos polares, a temperatura são uma ameaça maior do que Sergei, que parece adaptado ao território em que se encontram, e parece estar perfeitamente ajustado aos padrões da ilha. A ilha é, definitivamente, o terceiro personagem neste drama. Aleksey Popogrebskiy, de "Koktebel", usou todas as possibilidades de câmeras digitais para filmar takes longos de mudanças atmosféricas e da luz em tempo real, capturando um lugar inóspito e misterioso, de bancos sólidos de nevoeiro, mares congelados, e, por todo o lado, restos de tentativas de habitações humanas.
"How i Ended this Summer" tem todos os ingredientes de um thriller convencional de "gato e o rato", mas pode decepcionar quem espere este tipo de filme, porque é uma pela mais surpreendente e mais subtil do que isso. É um filme sobre personagens, onde o diálogo foi espremido até ao osso, onde a linguagem corporal e os gestos falam por si, e o relacionamento turbulento de desconfiança se torna verdadeiro. É um filme sobre o temperamento, o tempo e território, gravado em condições árduas numa paisagem desolada e de tirar o fôlego.
Filme premiado em vários festivais, no Festival de Berlin de 2010 levou o prémio de melhor actor, conquistado pelos dois actores principais, em conjunto.
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A incapacidade de Pavel para transmitir a má notícia parece, ao mesmo tempo, desconcertante e completamente compreensível. Vivendo o momento, ouvindo o sujo rock russo com headphones, jogando jogos de vídeo, Pavel é claramente originário de um mundo onde se pode fugir dos problemas até que eles rebentem, e não se dá conta de onde está e o que isso significa. A paisagem, os ursos polares, a temperatura são uma ameaça maior do que Sergei, que parece adaptado ao território em que se encontram, e parece estar perfeitamente ajustado aos padrões da ilha. A ilha é, definitivamente, o terceiro personagem neste drama. Aleksey Popogrebskiy, de "Koktebel", usou todas as possibilidades de câmeras digitais para filmar takes longos de mudanças atmosféricas e da luz em tempo real, capturando um lugar inóspito e misterioso, de bancos sólidos de nevoeiro, mares congelados, e, por todo o lado, restos de tentativas de habitações humanas.
"How i Ended this Summer" tem todos os ingredientes de um thriller convencional de "gato e o rato", mas pode decepcionar quem espere este tipo de filme, porque é uma pela mais surpreendente e mais subtil do que isso. É um filme sobre personagens, onde o diálogo foi espremido até ao osso, onde a linguagem corporal e os gestos falam por si, e o relacionamento turbulento de desconfiança se torna verdadeiro. É um filme sobre o temperamento, o tempo e território, gravado em condições árduas numa paisagem desolada e de tirar o fôlego.
Filme premiado em vários festivais, no Festival de Berlin de 2010 levou o prémio de melhor actor, conquistado pelos dois actores principais, em conjunto.
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terça-feira, 19 de abril de 2016
Almas Silenciosas (Ovsyanki) 2010
Quando a sua mulher morre, Miron pede ao seu melhor amigo Aist que o ajude a despedir-se dela de acordo com os rituais da cultura Merja, uma antiga tribo do centro-oeste russo. Os dois homens partem numa viagem pelas terras sem fim, levando com eles dois pequenos pássaros numa gaiola.
"A Ovsyanki atribua-se-lhe toda a melancolia do mundo, mais que qualquer dor de perda o que reina ali é a melancolia aliada à frieza própria dos russos. Mitos e ritos a misturarem-se com o presente e com as memórias do passado, saudade e lamentos dos que foram e um estado inexorável de melancolia que atravessa o filme inteiro naquela viagem ambígua em direcção ao ritual de incineração do cadáver. Mas a frieza que existe, coisa que sempre me pareceu inerente aos russos (e aos nórdicos), talvez pela neve que quase sempre está lá e que os molda, aqui é qualquer coisa também ambígua. Porque Ovsyanki não é um filme frio por mais neve que tenha, por mais metódicos que aquele homem que acabou de perder a mulher e o narrador que o acompanha (a voz-off é dele) sejam nas suas acções. Não, Ovsyanki é um filme cinzento (e não há melhor cor para a melancolia), singelo, lírico, repleto de movimentos de câmara estrondosos a fazer lembrar Tarr, enquadramentos e planos-sequência monumentais, alguns momentos na procura dos olhares e das expressões na impressão da dor, uma fotografia lindíssima, contemplativo muito contemplativo, naturalista, sempre no caminho de Tarkovsky e Dreyer. No final percebemos que é uma fábula, que é acima de qualquer coisa um filme sobre o amor ou sobre a resistência do amor à morte. Melodrama e romantismo sem lamechices, sem choradeiras e as merdas do costume. Um filme belo."
Texto do Álvaro Martins, daqui.
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"A Ovsyanki atribua-se-lhe toda a melancolia do mundo, mais que qualquer dor de perda o que reina ali é a melancolia aliada à frieza própria dos russos. Mitos e ritos a misturarem-se com o presente e com as memórias do passado, saudade e lamentos dos que foram e um estado inexorável de melancolia que atravessa o filme inteiro naquela viagem ambígua em direcção ao ritual de incineração do cadáver. Mas a frieza que existe, coisa que sempre me pareceu inerente aos russos (e aos nórdicos), talvez pela neve que quase sempre está lá e que os molda, aqui é qualquer coisa também ambígua. Porque Ovsyanki não é um filme frio por mais neve que tenha, por mais metódicos que aquele homem que acabou de perder a mulher e o narrador que o acompanha (a voz-off é dele) sejam nas suas acções. Não, Ovsyanki é um filme cinzento (e não há melhor cor para a melancolia), singelo, lírico, repleto de movimentos de câmara estrondosos a fazer lembrar Tarr, enquadramentos e planos-sequência monumentais, alguns momentos na procura dos olhares e das expressões na impressão da dor, uma fotografia lindíssima, contemplativo muito contemplativo, naturalista, sempre no caminho de Tarkovsky e Dreyer. No final percebemos que é uma fábula, que é acima de qualquer coisa um filme sobre o amor ou sobre a resistência do amor à morte. Melodrama e romantismo sem lamechices, sem choradeiras e as merdas do costume. Um filme belo."
Texto do Álvaro Martins, daqui.
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domingo, 17 de abril de 2016
Tale in the Darkness (Skazka pro Temnotu) 2009
Angelina vive numa grande cidade na costa, onde homens e mulheres bonitas caminham pelas ruas com um único propósito: divertir-se. Mas Angelina, sendo uma mulher bonita, inteligente e agradável, sente-se uma mulher solitária. Ela é polícia, e o seu trabalho é ajudar crianças abandonadas, órfãos e jovens problemáticos. Um dia um desses jovens explica a Angelina o quanto solitária, aborrecida e inútil ela é, palavras que a deixam incomodada e a fazem mudar. Começa aqui a sua grande travessia ao reino da escuridão.
Segundo filme de Nikolai Khomeriki, depois da sua primeira obra, chamada "977", ter sido mostrada no Festival de Cannes, na secção "Certain Regard". Graduado na Universidade Estatal de Moscovo, Khomeriki estudou depois na "La Femis", em França, tendo depois trabalhado como assistente de Philippe Garrel, em "Les Amants Réguliers", e Leos Carax em "Scars". Talvez tenha sido esta ligação a França que o tenha levado, de novo, a ser selecionado para a secção "Certain Regard", com o seu segundo filme.
"Tale in the Darkness" inova tanto no campo teórico como visualmente. Não é todos os dias que podemos conhecer o dia a dia de uma mulher policia russa, e raros são os filmes passados na cidade isolada de Vladivostok. Nikolai Khomeriki chama-se a si próprio de neformatnye (inconsistente com o formato de género tradicional), e este filme é um bom exemplo disso. Como o próprio título sugere, baseia-se em elementos e características de contos de fadas, ainda que na forma desolada e pós-soviética. O segundo filme de Khomeriki era uma resposta optimista à tradição de chernukha, com a qual é muitas vezes comparado. Apesar da desolação visual do filme, a acção gira em torno dos eixos do amor, esperança e linguagem. Estes elementos aparecem em forma distorcida ou disfarçada, contudo, complicando uma busca de outra forma simples, do amor e da família.
A escolha dos exteriores criam uma impressão paradoxal de aprisionamento, revelando muito sobre a interioridade de Angelina. Vladivostok ocupa um limite geográfico e imaginário: delimitado por um mar que é, ao mesmo tempo, porta de entrada da Rússia para o Pacífico, e a margem que o habitantes não podem alcançar. A fotografia de Alisher Khamidkhodzhaev captura esse limiar.
Legendado em Inglês.
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Segundo filme de Nikolai Khomeriki, depois da sua primeira obra, chamada "977", ter sido mostrada no Festival de Cannes, na secção "Certain Regard". Graduado na Universidade Estatal de Moscovo, Khomeriki estudou depois na "La Femis", em França, tendo depois trabalhado como assistente de Philippe Garrel, em "Les Amants Réguliers", e Leos Carax em "Scars". Talvez tenha sido esta ligação a França que o tenha levado, de novo, a ser selecionado para a secção "Certain Regard", com o seu segundo filme.
"Tale in the Darkness" inova tanto no campo teórico como visualmente. Não é todos os dias que podemos conhecer o dia a dia de uma mulher policia russa, e raros são os filmes passados na cidade isolada de Vladivostok. Nikolai Khomeriki chama-se a si próprio de neformatnye (inconsistente com o formato de género tradicional), e este filme é um bom exemplo disso. Como o próprio título sugere, baseia-se em elementos e características de contos de fadas, ainda que na forma desolada e pós-soviética. O segundo filme de Khomeriki era uma resposta optimista à tradição de chernukha, com a qual é muitas vezes comparado. Apesar da desolação visual do filme, a acção gira em torno dos eixos do amor, esperança e linguagem. Estes elementos aparecem em forma distorcida ou disfarçada, contudo, complicando uma busca de outra forma simples, do amor e da família.
A escolha dos exteriores criam uma impressão paradoxal de aprisionamento, revelando muito sobre a interioridade de Angelina. Vladivostok ocupa um limite geográfico e imaginário: delimitado por um mar que é, ao mesmo tempo, porta de entrada da Rússia para o Pacífico, e a margem que o habitantes não podem alcançar. A fotografia de Alisher Khamidkhodzhaev captura esse limiar.
Legendado em Inglês.
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Wolfy (Volchok) 2009
Elas são duas: uma mãe e uma filha. Não têm nomes, e andam em constante fuga. A mãe tenta fugir da filha, numa tentativa de começar uma nova vida. A filha corre atrás da mãe porque não sabe viver sem ela. Uma corrida sem fim, que está cheia de erros repetidos. "Volchok" é o primeiro brinquedo na vida da filha, e o único laço que a amarra à mãe. Mas um dia esta corrida tem um fim.
Uma representação realista de uma história implacavelmente deprimente, abençoada com grandes interpretações e um excelente argumento. Pode ser um duro soco na cara do espectador, mas uma reflexão irá revelar que o filme está visualmente muito bem orquestrado. Um mundo muito duro é visto pelos olhos de uma criança de sete anos de idade. Pode ser a Rússia, pode ser outro lugar, mas a história pode levar alguns pais a reconsiderarem a sua relação com os seus filhos.
Feito com um equilíbrio agradável de garra e intensidade, "Volchok" foi uma estreia impressionante, não apenas para o realizador/argumentista Vasiliy Sigarev (uma estrela em ascensão no cinema russo), mas também para a protagonista Yana Troyanova, no papel da psicologicamente abusiva mãe. Antes de se dedicar ao cinema Sigarev tinha estudado teatro, e em 2002 a sua peça "Plasticine" tinha ganho o Evening Standard Most Promising Playwright Award, no Reino Unido. O realizador e a protagonista são casados na vida real, e têm um filho.
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Uma representação realista de uma história implacavelmente deprimente, abençoada com grandes interpretações e um excelente argumento. Pode ser um duro soco na cara do espectador, mas uma reflexão irá revelar que o filme está visualmente muito bem orquestrado. Um mundo muito duro é visto pelos olhos de uma criança de sete anos de idade. Pode ser a Rússia, pode ser outro lugar, mas a história pode levar alguns pais a reconsiderarem a sua relação com os seus filhos.
Feito com um equilíbrio agradável de garra e intensidade, "Volchok" foi uma estreia impressionante, não apenas para o realizador/argumentista Vasiliy Sigarev (uma estrela em ascensão no cinema russo), mas também para a protagonista Yana Troyanova, no papel da psicologicamente abusiva mãe. Antes de se dedicar ao cinema Sigarev tinha estudado teatro, e em 2002 a sua peça "Plasticine" tinha ganho o Evening Standard Most Promising Playwright Award, no Reino Unido. O realizador e a protagonista são casados na vida real, e têm um filho.
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sábado, 16 de abril de 2016
Everybody Dies But Me (Vse Umrut a ya Ostanus) 2008
A vida nunca é fácil. Principalmente quando se tem 14 anos. Alguns adolescentes têm de lidar com a turbulência interna e a ansiedade própria da idade, mas outros têm de enfrentar a crueldade insuportável dos seus arredores. Numa segunda feira, Katya (Polina Filonenko), Vika (Olga Shuvalova) e Zhanna (Agniya Kuznetsova), três estudantes normais da zona suburbana de Moscovo, descobrem que vai haver uma discoteca na escola no Sábado à noite, e começam a preparar-se para o evento mais importante das suas vidas. Mas Katya ofende um professor, e a festa poderá ser cancelada. Durante toda a semana as jovens rebelam-se, e tentam encontrar um território comum com os seus professores, pais, colegas de classe, e, finalmente, entre si. Até que na noite esperada, as coisas saem para fora de controle...
Filmes sobre adolescentes geralmente reduzem-se a duas categorias: aqueles que buscam o apelo à adolescência (ou adultos regredindo para a sua idade imatura), e aqueles que colocam a turbulência da adolescência sob o microscópio da vida adulta. "Vse umrut a ya ostanus", parece pertencer a esta segunda categoria, que o coloca na companhia de filmes tão memoráveis como "Os 400 Golpes", de Truffaut.
O filme é um retrato tão convincente sobre o comportamento e as emoções das suas protagonistas adolescentes femininas, que é dificil imaginar que o argumento foi escrito por dois homens, Yuri Klavdiyev e Alexei Rodionov. É principalmente forte na forma como capta a natureza transitória da adolescência, numa altura em que as raparigas são adolescentes a tentarem passar para a idade adulta.
É a primeira obra de Valeriya Gay Germanika, uma jovem então com 24 anos, que fez sensação em Cannes com este filme, em 2008. Ganhou três prémios, incluindo a menção especial da Câmera de Ouro, num ano em que a Palma de Ouro ía para outro filme de adolescentes, "Entre les Murs". Só não venceu a Câmera de Ouro porque o principal concorrente era "Hunger", de Steve McQueen.
Legendas em inglês.
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Filmes sobre adolescentes geralmente reduzem-se a duas categorias: aqueles que buscam o apelo à adolescência (ou adultos regredindo para a sua idade imatura), e aqueles que colocam a turbulência da adolescência sob o microscópio da vida adulta. "Vse umrut a ya ostanus", parece pertencer a esta segunda categoria, que o coloca na companhia de filmes tão memoráveis como "Os 400 Golpes", de Truffaut.
O filme é um retrato tão convincente sobre o comportamento e as emoções das suas protagonistas adolescentes femininas, que é dificil imaginar que o argumento foi escrito por dois homens, Yuri Klavdiyev e Alexei Rodionov. É principalmente forte na forma como capta a natureza transitória da adolescência, numa altura em que as raparigas são adolescentes a tentarem passar para a idade adulta.
É a primeira obra de Valeriya Gay Germanika, uma jovem então com 24 anos, que fez sensação em Cannes com este filme, em 2008. Ganhou três prémios, incluindo a menção especial da Câmera de Ouro, num ano em que a Palma de Ouro ía para outro filme de adolescentes, "Entre les Murs". Só não venceu a Câmera de Ouro porque o principal concorrente era "Hunger", de Steve McQueen.
Legendas em inglês.
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quinta-feira, 14 de abril de 2016
Morfina (Morfiy) 2008
Adaptado da colecção de histórias ficcionais de Mikhail Bulgakov, "A Country Doctor's Notebook", "Morphia" de Aleksey Balabanov é um retrato da Russia rural no auge da Revolução Bolchevique. Contada a partir da perspectiva de um jovem médico idealista, Polyakov (Leonid Bichevin), o filme mantém o humor e a perspectiva da histórias original de Bulgakov.para sublinhar a difícil adaptação de Bulgakov ao isolamento da vida no interior do país, para onde ele se mudou para servir como o único médico na região. Ainda incerto sobre as suas habilidades médicas e lutando para lidar com o atraso da comunidade, que muitas vezes põe em perigo os seus pacientes, Polyakov encontra um consolo inesperado numa injecção de morfina que lhe é administrada pela enfermeira chefe, Anna Nicolaevna (Ingeborga Dapkunaite), para tratar uma reação de alergia.
Poderoso e bizarro conto sobre um jovem médico à beira do abismo do vício nas drogas, enquanto o mundo à sua volta vive os horrores da guerra civil. Mesmo com a guerra e a revolução a serem pouco mostradas no filme, pode sentir-se a sua presença negra em cada cena, e cada diálogo. Surpreendentemente bem captado o espírito dos livros de Mikhail Bulgakov, um dos maiores e mais controversos escritores da Rússia do Século XX. Muito recomendado para quem gosta de Bulgakov, Dostoevsky ou da literatura clássica russa em geral. O argumento foi escrito por Sergey Bodrov Jr., o jovem protagonista de "Brat", que havia falecido em 2002, vítima de uma avalanche nas montanhas caucasianas, quando se preparava para rodar o seu segundo filme. Era uma espécie de homenagem de Balabanov a Sergey Bodrov Jr., mas ele próprio também viria a falecer poucos anos depois, em 2013.
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Poderoso e bizarro conto sobre um jovem médico à beira do abismo do vício nas drogas, enquanto o mundo à sua volta vive os horrores da guerra civil. Mesmo com a guerra e a revolução a serem pouco mostradas no filme, pode sentir-se a sua presença negra em cada cena, e cada diálogo. Surpreendentemente bem captado o espírito dos livros de Mikhail Bulgakov, um dos maiores e mais controversos escritores da Rússia do Século XX. Muito recomendado para quem gosta de Bulgakov, Dostoevsky ou da literatura clássica russa em geral. O argumento foi escrito por Sergey Bodrov Jr., o jovem protagonista de "Brat", que havia falecido em 2002, vítima de uma avalanche nas montanhas caucasianas, quando se preparava para rodar o seu segundo filme. Era uma espécie de homenagem de Balabanov a Sergey Bodrov Jr., mas ele próprio também viria a falecer poucos anos depois, em 2013.
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terça-feira, 12 de abril de 2016
The Banishment ( Izgnanie) 2007
Alex, Vera, e os seus dois filhos Kir e Eva parecem ser a perfeita família feliz. Sabemos que Alex se envolveu em negócios obscuros na cidade, e que o seu irmão Mark tem ligações criminosas, mas o próprio Mark sente que é melhor ficar longe da família, e Alex leva os seus para o campo, para a casa que antes pertencera ao seu pai, para viver uma vida mais simples. Mas as coisas complicam-se, e, no seu isolamento, Alex e Vera vivem uma experiência frustrante, levando-o a fazer uma confissão. Confuso, furioso, sem saber para onde se virar, Alex é impelido por uma série de acções que vão mudar a sua vida.
Segundo filme de Andrey Zviagintsev, realizador de "O Regresso", é vagamente baseado no livro de William Saroyan, "The Laughing Matter" publicado em 1954. "The Banishment" parece ser feito a partir de "O Regresso", não apenas em termos de estilo e casting, mas também em relação ao seu desenvolvimento temático, o que sugere que Zviagintsev contou com dispositivos já testados, em vez de continuar a desenvolver a sua própria linguagem cinematográfica. Mais uma vez vamos encontrar o actor Konstantin Lavronenko na pele de um pai, que desta vez é pai de um rapaz e uma rapariga. Uma vez mais o tema é focado na paternidade e o amor paternal, embora também se debruce sobre a relação de Alex com a sua esposa Vera, interpretada pela actriz sueca Maria Bonnevie, com um olhar muito mais frio que a sua predecessora, Nataliya Vdovina, a mãe em "O Regresso".
Vera é uma figura enigmática que parece ser tanto uma santa como uma sofredora, por vezes parece tão aberta e outras tão fechada, características que são explicadas apenas no flashback final do filme, deixando o espectador com uma certa ambiguidade em relação a esta personagem. Somos obrigados a seguir cuidadosamente o labirinto construido por Zviagintsev, rico em sugestões e pistas para resolver o enigma do filme. Konstantin Lavronenko ganhou o prémio de Melhor Actor no Festival de Cannes de 2007.
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Segundo filme de Andrey Zviagintsev, realizador de "O Regresso", é vagamente baseado no livro de William Saroyan, "The Laughing Matter" publicado em 1954. "The Banishment" parece ser feito a partir de "O Regresso", não apenas em termos de estilo e casting, mas também em relação ao seu desenvolvimento temático, o que sugere que Zviagintsev contou com dispositivos já testados, em vez de continuar a desenvolver a sua própria linguagem cinematográfica. Mais uma vez vamos encontrar o actor Konstantin Lavronenko na pele de um pai, que desta vez é pai de um rapaz e uma rapariga. Uma vez mais o tema é focado na paternidade e o amor paternal, embora também se debruce sobre a relação de Alex com a sua esposa Vera, interpretada pela actriz sueca Maria Bonnevie, com um olhar muito mais frio que a sua predecessora, Nataliya Vdovina, a mãe em "O Regresso".
Vera é uma figura enigmática que parece ser tanto uma santa como uma sofredora, por vezes parece tão aberta e outras tão fechada, características que são explicadas apenas no flashback final do filme, deixando o espectador com uma certa ambiguidade em relação a esta personagem. Somos obrigados a seguir cuidadosamente o labirinto construido por Zviagintsev, rico em sugestões e pistas para resolver o enigma do filme. Konstantin Lavronenko ganhou o prémio de Melhor Actor no Festival de Cannes de 2007.
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segunda-feira, 11 de abril de 2016
Cargo 200 (Gruz 200) 2007
O filme começa com o diálogo entre dois irmãos, um coronel e um professor universitário, que discutem as suas vidas - uma conversa discreta sobre família, trabalho e política (é típico nos filmes de Aleksey Balabanov começar desta maneira). Os dois irmãos têm uma ligação aos eventos que irão acontecer nesta noite. Valera, o namorado da filha do coronel desaparece nesta noite, e vai a um clube buscar Angelika (Agniya Kuznetsova), amiga da namorada. Vão até uma quinta buscar alcool, mas Valera abandona.
Angelika, que fica entregue nas mãos de estranhos. O dono da quinta está interessado nela, mas a sua esposa ajuda-a, escondendo-a no celeiro. O Capitão Zhurov, um policia com transtornos mentais, encontra-a e leva-a com ele.
Enquanto a primeira parte evolui com uma ofegante tensão, a segunda transforma-se numa viagem lenta e nervosa, quando o polícia leva a sua vítima para o apartamento, e o público é obrigado a assistir a uma série de humilhações para a jovem.
"Cargo 200" tem lugar em 1984, durante a guerra entre a União Soviética e o Afeganistão, no decurso de nove anos, mas esta guerra é apenas uma sub-trama secundária. Tal como em "M" de Fritz Lang, devemos primeiro entender o microcosmos como o reflexo de um sistema, antes de podermos olhar para uma ligação entre a história e o seu cenário. Em "Cargo 200" o culpado é ele próprio uma vítima, mas há mais culpados a encontrar neste filme. Até mesmo Antonina, que no início parece ser a única pessoa capaz de ajudar
Angelika, não obstrui completamente o crime, e é, portanto, compreensível que Balabanov não quisesse contar a história na actual Rússia. E há vários outros culpados, mas, sobretudo, o Estado, porque deixa
Zhurov trabalhar nestas condições mentais.
"Cargo 200" é um filme mais maduro do que "Brother", o primeiro sucesso do realizador, na medida em que sacrifica o tom mais popular deste, e dos outros filmes de Balabanov. O realizador procura uma crítica social, justifica-se perguntando ao público se vai aceitar "Cargo 200" como uma crítica do tempo corrente, ou se esta está totalmente obscurecida pela cortina do tempo.
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Enquanto a primeira parte evolui com uma ofegante tensão, a segunda transforma-se numa viagem lenta e nervosa, quando o polícia leva a sua vítima para o apartamento, e o público é obrigado a assistir a uma série de humilhações para a jovem.
"Cargo 200" tem lugar em 1984, durante a guerra entre a União Soviética e o Afeganistão, no decurso de nove anos, mas esta guerra é apenas uma sub-trama secundária. Tal como em "M" de Fritz Lang, devemos primeiro entender o microcosmos como o reflexo de um sistema, antes de podermos olhar para uma ligação entre a história e o seu cenário. Em "Cargo 200" o culpado é ele próprio uma vítima, mas há mais culpados a encontrar neste filme. Até mesmo Antonina, que no início parece ser a única pessoa capaz de ajudar
Angelika, não obstrui completamente o crime, e é, portanto, compreensível que Balabanov não quisesse contar a história na actual Rússia. E há vários outros culpados, mas, sobretudo, o Estado, porque deixa
Zhurov trabalhar nestas condições mentais.
"Cargo 200" é um filme mais maduro do que "Brother", o primeiro sucesso do realizador, na medida em que sacrifica o tom mais popular deste, e dos outros filmes de Balabanov. O realizador procura uma crítica social, justifica-se perguntando ao público se vai aceitar "Cargo 200" como uma crítica do tempo corrente, ou se esta está totalmente obscurecida pela cortina do tempo.
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domingo, 10 de abril de 2016
O Regresso (Vozvrashchenie) 2003
Filme de estreia do russo Andrey Zvyagintsev, ganhou uma mão cheia de prémios no festival de Veneza (entre os quais o Grande Prémio), e bastam cinco minutos de filme para começarmos a perceber porquê. Dois irmãos, um adolescente, Andrey (Garin), e outro mais jovem Ivan (Dobronravov), sobem ao topo de uma espécie de torre abandonada. O céu acima está nublado - tudo no filme está nublado - e os rapazes, junto com alguns amigos, desafiam-se uns aos outros para se atirarem da torre, e mergulharem no mar. Todos o fazem, excepto Ivan, ficando a chorar sozinho no topo da torre até que chega a sua mãe chega para levá-lo para baixo. Mais tarde ele prova o seu valor ao atacar o líder dos jovens, que o chama de cobarde.
A atmosfera é toda cinzenta: as paisagens (o filme é passado algures fora de Moscovo, onde tudo parece decadente), o povo, o pai dos rapazes, que regressa a casa espontaneamente depois de estar inexplicavelmente 12 longos anos fora de casa. O silêncio tem uma voz bem chocante neste filme, e o pai rebelde parece tudo menos uma figura parental (o primeiro jantar com a família vemo-lo a rasgar um frango cozido em pedaços completamente em silêncio). Depois anuncia que vai levar os jovens numa pescaria no dia seguinte, com Ivan a tentar conhecer quem é a sua figura parental, e Andrey a tentar evitar qualquer caminho para a reconciliação. Claro que a pescaria vai correr mal...
As interpretações, principalmente dos dois jovens inexperientes a participarem no seu primeiro filme, são perfeitas, assim como a figura do pai, sem nome, é divina. Zvyagintsev esforça-se para não nos dar respostas fáceis, e o filme acaba numa assombrosa meditação sobre o homem no seu meio natural e selvagem. A idéia não é da história de uma família feliz, mas a representação arrepiante do colapso familiar na era pós-estalinista.
"O Regresso" marcava a chegada de um novo realizador de classe mundial, Andrey Zvyagintsev. É dificil acreditar que este é um filme de estreia, mas este sucesso não apareceu por acaso. Zvyagintsev, nascido na Sibéria, tinha chegado a Moscovo no início dos anos 90, quando a era soviética tinha terminado. Ele tinha o sonho de fazer filmes, mas durante uma década nunca teve dinheiro. Trabalhou como figurante na TV, e foi conhecendo pessoas, e arranjando contactos, até que o argumento deste filme, dos também jovens Aleksandr Novototskiy e Vladimir Moiseenko lhe foram parar ás mãos. Com um pequeníssimo orçamento de 500 mil dólares, o filme correria o mundo em inúmeros festivais, acabando por ganhar vários prémios importantes, como os 5 que venceu em Veneza.
Um trágico acontecimento marcou este filme, quando o jovem Vladimir Garin morreu logo após a produção ter terminado. Estava a brincar na torre vista no início do filme, quando foi encorajado pelos outros a mergulhar. Ele mergulhou, mas não veio ao de cima. O afogamento de Garin acabaria por criar uma aura de culto sobre a produção do filme, e sobre os outros jovens amigos de Garin, que estariam com o realizador no festival de Veneza.
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A atmosfera é toda cinzenta: as paisagens (o filme é passado algures fora de Moscovo, onde tudo parece decadente), o povo, o pai dos rapazes, que regressa a casa espontaneamente depois de estar inexplicavelmente 12 longos anos fora de casa. O silêncio tem uma voz bem chocante neste filme, e o pai rebelde parece tudo menos uma figura parental (o primeiro jantar com a família vemo-lo a rasgar um frango cozido em pedaços completamente em silêncio). Depois anuncia que vai levar os jovens numa pescaria no dia seguinte, com Ivan a tentar conhecer quem é a sua figura parental, e Andrey a tentar evitar qualquer caminho para a reconciliação. Claro que a pescaria vai correr mal...
As interpretações, principalmente dos dois jovens inexperientes a participarem no seu primeiro filme, são perfeitas, assim como a figura do pai, sem nome, é divina. Zvyagintsev esforça-se para não nos dar respostas fáceis, e o filme acaba numa assombrosa meditação sobre o homem no seu meio natural e selvagem. A idéia não é da história de uma família feliz, mas a representação arrepiante do colapso familiar na era pós-estalinista.
"O Regresso" marcava a chegada de um novo realizador de classe mundial, Andrey Zvyagintsev. É dificil acreditar que este é um filme de estreia, mas este sucesso não apareceu por acaso. Zvyagintsev, nascido na Sibéria, tinha chegado a Moscovo no início dos anos 90, quando a era soviética tinha terminado. Ele tinha o sonho de fazer filmes, mas durante uma década nunca teve dinheiro. Trabalhou como figurante na TV, e foi conhecendo pessoas, e arranjando contactos, até que o argumento deste filme, dos também jovens Aleksandr Novototskiy e Vladimir Moiseenko lhe foram parar ás mãos. Com um pequeníssimo orçamento de 500 mil dólares, o filme correria o mundo em inúmeros festivais, acabando por ganhar vários prémios importantes, como os 5 que venceu em Veneza.
Um trágico acontecimento marcou este filme, quando o jovem Vladimir Garin morreu logo após a produção ter terminado. Estava a brincar na torre vista no início do filme, quando foi encorajado pelos outros a mergulhar. Ele mergulhou, mas não veio ao de cima. O afogamento de Garin acabaria por criar uma aura de culto sobre a produção do filme, e sobre os outros jovens amigos de Garin, que estariam com o realizador no festival de Veneza.
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quinta-feira, 7 de abril de 2016
Roads to Koktebel (Koktebel) 2003
A falta de afecto na relação entre pai e filho intensifica-se quando os dois tem uma longa jornada pela frente. Deixam Moscovo quando a mãe do jovem morre. O pai, recém-curado do alcoolismo, resolve mudar-se com o rapaz para a cidade de Koktebel, onde a sua irmã prometeu ajudar na criação do jovem. Mas até Kotebel eles enfrentarão muitas dificuldades, motivadas também pela pouca intimidade entre pai e filho.
Um "road movie" que se desenvolve dramaticamente contido, misterioso e profundamente observador. Explora a frágil relação entre um pai e um filho, e está cheio de longos silêncios e takes longos da triste e impressionante paisagem russa. É o auspicioso filme de estreia de dois realizadores, Boris Khlebnikov e Alexei Popogrebsky.
Os dois realizadores e argumentistas criam o filme com muito cuidado, reduzindo o diálogo ao mínimo, e enquadram cada sequência como se de um quadro se tratasse, mesmo que a paisagem seja sombria. Os flashes de calor entre pai e filho são um sério contraste paisagem que ambos estão a atravessar. Num estado de desespero preocupamo-nos com o pai, que algo pode acontecer a qualquer momento. Cada etapa nesta viagem está carregada de significado e poesia, que provavelmente ficam perdidas quando se trata de um público ocidental.
Além de ser um clássico "road movie", é também um "buddie movie", focando-se nos laços entre os companheiros de viagem, e esquecendo diferenças insignificantes, como a idade e a experiência, assim como as suas vidas juntos têm obscurecido a distinção entre adulto e criança.
Khlebnikov e Popogrebsky, seguiram carreiras diferentes, com Popogrebsky a conseguir maior sucesso. Ainda veremos outro filme seu neste ciclo.
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Um "road movie" que se desenvolve dramaticamente contido, misterioso e profundamente observador. Explora a frágil relação entre um pai e um filho, e está cheio de longos silêncios e takes longos da triste e impressionante paisagem russa. É o auspicioso filme de estreia de dois realizadores, Boris Khlebnikov e Alexei Popogrebsky.
Os dois realizadores e argumentistas criam o filme com muito cuidado, reduzindo o diálogo ao mínimo, e enquadram cada sequência como se de um quadro se tratasse, mesmo que a paisagem seja sombria. Os flashes de calor entre pai e filho são um sério contraste paisagem que ambos estão a atravessar. Num estado de desespero preocupamo-nos com o pai, que algo pode acontecer a qualquer momento. Cada etapa nesta viagem está carregada de significado e poesia, que provavelmente ficam perdidas quando se trata de um público ocidental.
Além de ser um clássico "road movie", é também um "buddie movie", focando-se nos laços entre os companheiros de viagem, e esquecendo diferenças insignificantes, como a idade e a experiência, assim como as suas vidas juntos têm obscurecido a distinção entre adulto e criança.
Khlebnikov e Popogrebsky, seguiram carreiras diferentes, com Popogrebsky a conseguir maior sucesso. Ainda veremos outro filme seu neste ciclo.
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quarta-feira, 6 de abril de 2016
Irmão (Brat) 1997
Danila muda-se para a casa do irmão em São Petersburgo, para começar uma nova vida. E isso realmente acontece quando descobre que o irmão é um gangster e lhe pede para matar uma pessoa. Com o passar do tempo, Danila percebe como ser um assassino se tornou parte da sua vida e descobre que está seguindo o caminho errado.
O realizador Aleksey Balabanov (1959-2013) tornou-se num dos melhores cronistas da caótica Rússia dos anos 90. Logo na cena de abertura deste filme, que o revelaria, um jovem, acabado de saír do exército, interrompe umas filmagens ao ar livre. Não são as lindas costas de uma actriz que lhe chamam a atenção, mas sim a música ambiente que é tocada no local. Fora do cenário ele é, obviamente, atacado e preso e vamos vê-lo mais tarde, com o rosto ensanguentado, a ser interrogado pela polícia. Ficamos logo a saber que Danila Bagrov não é um rapaz inocente, e que um dos seus atacantes acabou em pior estado.
Danila representa tantos outros jovens da Rússia dos anos noventa, hipnotizado por um novo mundo musical que explodiu nesta década. Não era a música ocidental mas sim o rock russo (por vezes até folk rock), com os músicos artistas a dirigirem as suas letras para os tempos caóticos que se viviam naquele país. E será a música que irá determinar muitos dos pontos da história (voltas e reviravoltas) ao lado da violência.
Danila diz ter trabalhado num escritório durante o serviço militar, mas o seu manuseamento e experiência a lidar com armas de fogo e explosivos parecem mostrar outra coisa. O desenrolar do filme irá sugerir que ele tenha saído diretamente das acções militares contra os chechenos, já que ambos os lados do conflito foram igualmente sanguinários e cruéis.
De certa forma Balabanov faz o seu personagem principal um herói cativante (tal e qual Tarantino). Os seus primeiros actos violentos ou ameaçadores são um exemplo de um jovem a defender-se contra actos brutais. Não existe outra razão para ajudar o imigrante alemão Hoffman ou o um comprador de bilhetes do que corrigir um erro naquele instante,e esta parece ser a sua natureza, e não algo que ele aprendeu no exército. Os crimes que ele vai cometendo são de certa forma motivados, senão perdoáveis.
Foi o maior êxito do cinema soviético em 1997, um sucesso mesmo com a sua aparência fria e calculista, e iniciou esta espécie de movimento. Os restantes filmes que veremos neste ciclo são bastante diferentes.
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O realizador Aleksey Balabanov (1959-2013) tornou-se num dos melhores cronistas da caótica Rússia dos anos 90. Logo na cena de abertura deste filme, que o revelaria, um jovem, acabado de saír do exército, interrompe umas filmagens ao ar livre. Não são as lindas costas de uma actriz que lhe chamam a atenção, mas sim a música ambiente que é tocada no local. Fora do cenário ele é, obviamente, atacado e preso e vamos vê-lo mais tarde, com o rosto ensanguentado, a ser interrogado pela polícia. Ficamos logo a saber que Danila Bagrov não é um rapaz inocente, e que um dos seus atacantes acabou em pior estado.
Danila representa tantos outros jovens da Rússia dos anos noventa, hipnotizado por um novo mundo musical que explodiu nesta década. Não era a música ocidental mas sim o rock russo (por vezes até folk rock), com os músicos artistas a dirigirem as suas letras para os tempos caóticos que se viviam naquele país. E será a música que irá determinar muitos dos pontos da história (voltas e reviravoltas) ao lado da violência.
Danila diz ter trabalhado num escritório durante o serviço militar, mas o seu manuseamento e experiência a lidar com armas de fogo e explosivos parecem mostrar outra coisa. O desenrolar do filme irá sugerir que ele tenha saído diretamente das acções militares contra os chechenos, já que ambos os lados do conflito foram igualmente sanguinários e cruéis.
De certa forma Balabanov faz o seu personagem principal um herói cativante (tal e qual Tarantino). Os seus primeiros actos violentos ou ameaçadores são um exemplo de um jovem a defender-se contra actos brutais. Não existe outra razão para ajudar o imigrante alemão Hoffman ou o um comprador de bilhetes do que corrigir um erro naquele instante,e esta parece ser a sua natureza, e não algo que ele aprendeu no exército. Os crimes que ele vai cometendo são de certa forma motivados, senão perdoáveis.
Foi o maior êxito do cinema soviético em 1997, um sucesso mesmo com a sua aparência fria e calculista, e iniciou esta espécie de movimento. Os restantes filmes que veremos neste ciclo são bastante diferentes.
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terça-feira, 5 de abril de 2016
New Wave Russa
Enquanto que o "Ocidente" rejubilou com a queda do sistema sócio-político Comunista da União Soviética, em 1991, para o cidadão russo da classe média da década de 90, era um período bastante traumático. Para alguns era a época da caça ás fortunas. Indústrias do estado eram privatizadas, e compradas por comparsas do presidente Boris Yeltsin, ao desbarato. Nasciam fortunas da noite para o dia, criando uma série de milionários de uma riqueza inimaginável. Para estes a "terra da oportunidade" parecia ter-se mudado dos Estados Unidos para o paraíso ex-soviético.
A Rússia tornou-se no sitio onde as pessoas podiam deixar para trás o idealismo marxista e subir na vida com o apoio das massas. Para os mais jovens abria-se uma porta para a cultura. Cresciam as bandas de rock russas, o consumo de drogas e a moda. Deixava de haver longas filas só para aqueles que tinham dinheiro, e as prateleiras das lojas passavam a estar cheias, em vez de vazias. No entanto, os idosos já não tinham a almofada de segurança da habitação da era soviética, e dos cuidados de saúde e das pensões, e as infraestruturas desmoronavam com a chegada do McDonald’s à Praça Vermelha.
As mentes criminosas viram uma grande oportunidade neste caos. Nascia internamente a Máfia Russa, para depois se espalhar para os outros continentes, e a mentalidade russa, tantos anos fixa nas mentalidades de Stalin e Brezhnev, tornou-se subitamente flexível, e isso foi maravilhoso para alguns e terrível para outros.
Todo este ambiente quase deu cabo da indústria cinematográfica russa, mas passados cinco anos do colapso inicial novos cinemas abriram, e uma nova geração de realizadores surgiram, para mostrar os seus filmes, não só internamente, como também pelo mundo fora, nas dezenas de festivais realizados por esse mundo fora.
Neste ciclo iremos acompanhar o "boom" deste cinema, desde o falado colapso até bem perto dos dias de hoje. A "teoria" da nova vaga é uma coisa bastante recente, e não é muito falada nos circuitos académicos, mas a partir de uma lista que um amigo meu me mostrou sobre esta "nova vaga", resolvi criar um ciclo. Serão 13 filmes, alguns deles nem tiveram estreia em Portugal e no Brasil, mas espero que apreciem as minhas escolhas, e que, pelo menos, fiquem a conhecer um pouco mais do cinema russo. Até amanhã.
- "Brat" (1997), de Aleksey Balabanov
- "Koktebel" (2003), de Boris Khlebnikov e Aleksey Popogrebskiy
- "Vozvrashchenie - The Return" (2003), de Andrey Zvyagintsev
- "Cargo 200" (2007), de Aleksey Balabanov
- "Izgnanie" (2007), de Andrey Zvyagintsev
- "Morfiy" (2008), de Aleksey Balabanov
- "Everybody Dies But Me" (2008), de Valeriya Gay Germanika
- "Volchok" (2009), de Vasiliy Sigarev
- "Skazka Pro Temnotu" (2009), de Nikolay Khomeriki
- "Ovsyanki" (2010), de Aleksey Fedorchenko
- "How i Ended This Summer" (2010), de Aleksey Popogrebskiy
- "Elena" (2011), de Andrey Zvyagintsev
- "Zhit" (2012), de Vasiliy Sigarev
A Rússia tornou-se no sitio onde as pessoas podiam deixar para trás o idealismo marxista e subir na vida com o apoio das massas. Para os mais jovens abria-se uma porta para a cultura. Cresciam as bandas de rock russas, o consumo de drogas e a moda. Deixava de haver longas filas só para aqueles que tinham dinheiro, e as prateleiras das lojas passavam a estar cheias, em vez de vazias. No entanto, os idosos já não tinham a almofada de segurança da habitação da era soviética, e dos cuidados de saúde e das pensões, e as infraestruturas desmoronavam com a chegada do McDonald’s à Praça Vermelha.
As mentes criminosas viram uma grande oportunidade neste caos. Nascia internamente a Máfia Russa, para depois se espalhar para os outros continentes, e a mentalidade russa, tantos anos fixa nas mentalidades de Stalin e Brezhnev, tornou-se subitamente flexível, e isso foi maravilhoso para alguns e terrível para outros.
Todo este ambiente quase deu cabo da indústria cinematográfica russa, mas passados cinco anos do colapso inicial novos cinemas abriram, e uma nova geração de realizadores surgiram, para mostrar os seus filmes, não só internamente, como também pelo mundo fora, nas dezenas de festivais realizados por esse mundo fora.
Neste ciclo iremos acompanhar o "boom" deste cinema, desde o falado colapso até bem perto dos dias de hoje. A "teoria" da nova vaga é uma coisa bastante recente, e não é muito falada nos circuitos académicos, mas a partir de uma lista que um amigo meu me mostrou sobre esta "nova vaga", resolvi criar um ciclo. Serão 13 filmes, alguns deles nem tiveram estreia em Portugal e no Brasil, mas espero que apreciem as minhas escolhas, e que, pelo menos, fiquem a conhecer um pouco mais do cinema russo. Até amanhã.
- "Brat" (1997), de Aleksey Balabanov
- "Koktebel" (2003), de Boris Khlebnikov e Aleksey Popogrebskiy
- "Vozvrashchenie - The Return" (2003), de Andrey Zvyagintsev
- "Cargo 200" (2007), de Aleksey Balabanov
- "Izgnanie" (2007), de Andrey Zvyagintsev
- "Morfiy" (2008), de Aleksey Balabanov
- "Everybody Dies But Me" (2008), de Valeriya Gay Germanika
- "Volchok" (2009), de Vasiliy Sigarev
- "Skazka Pro Temnotu" (2009), de Nikolay Khomeriki
- "Ovsyanki" (2010), de Aleksey Fedorchenko
- "How i Ended This Summer" (2010), de Aleksey Popogrebskiy
- "Elena" (2011), de Andrey Zvyagintsev
- "Zhit" (2012), de Vasiliy Sigarev
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Crime e Castigo (Prestuplenie i M0akazanie) 1970
Raskólnikov, um pobre ex-estudante de direito, assassina uma velha senhora e a sua irmã, talvez por dinheiro, talvez para provar uma teoria sobre estar acima da lei. Ele chama a atenção da polícia através de procedimentos normais (era cliente da vítima), mas as suas perturbações fazem dele o principal suspeito do inteligente Porfiri. Enquanto isso, redemoinhos de vida giram em volta de Raskólnikov: a mãe e a irmã também vêm à cidade seguidas por dois homens mais velhos que estão em busca da mão da sua irmã, ele encontra um funcionário bêbado que é, então, morto num acidente de trânsito, e apaixona-se pela filha desse homem, Sónia, uma jovem prostituta.
Qualquer pessoas que goste do livro clássico "Crime de Castigo", de Dostoiévski, não consegue deixar de ficar arrebatado por este clássico do cinema soviético. Captura o coração e a alma, mais pormenorizadamente do que qualquer outra obra cinematográfica. Talvez isso aconteça por o realizador, Lev Kulidzhanov, ser russo, porque a todos aqueles que não são russos requer um pouco de imaginação para perceber o livro.
O filme é visualmente deslumbrante, e do elenco Kulidzhanov consegue retirar algumas interpretações de tirar o folego. Georgi Taratorkin é totalmente convincente como o assombroso e conflituoso Raskolnikov, com as profundezas das suas emoções a jogarem com os seus olhos escuros e expressivos. Maya Bulgakova brilha como Katerina Ivanovna, enquanto Innokenti Smoktunovsky destaca-se como o detective Porfiri. Também Tatyana Bedova é simplesmente sublime no papel de Sonia. Smoktunovsky já tinha sido visto no Ocidente no papel do "Hamlet" russo, realizado por Grigori Kozintsev, alguns anos antes. Com este papel arrecadava um prémio de melhor actor em Veneza.
É um filme frio e claustrofóbico, tal como seria de esperar do cinema russo em geral, e é provavelmente a melhor adaptação para cinema de qualquer obra de Dostoiévski.
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Qualquer pessoas que goste do livro clássico "Crime de Castigo", de Dostoiévski, não consegue deixar de ficar arrebatado por este clássico do cinema soviético. Captura o coração e a alma, mais pormenorizadamente do que qualquer outra obra cinematográfica. Talvez isso aconteça por o realizador, Lev Kulidzhanov, ser russo, porque a todos aqueles que não são russos requer um pouco de imaginação para perceber o livro.
O filme é visualmente deslumbrante, e do elenco Kulidzhanov consegue retirar algumas interpretações de tirar o folego. Georgi Taratorkin é totalmente convincente como o assombroso e conflituoso Raskolnikov, com as profundezas das suas emoções a jogarem com os seus olhos escuros e expressivos. Maya Bulgakova brilha como Katerina Ivanovna, enquanto Innokenti Smoktunovsky destaca-se como o detective Porfiri. Também Tatyana Bedova é simplesmente sublime no papel de Sonia. Smoktunovsky já tinha sido visto no Ocidente no papel do "Hamlet" russo, realizado por Grigori Kozintsev, alguns anos antes. Com este papel arrecadava um prémio de melhor actor em Veneza.
É um filme frio e claustrofóbico, tal como seria de esperar do cinema russo em geral, e é provavelmente a melhor adaptação para cinema de qualquer obra de Dostoiévski.
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domingo, 3 de abril de 2016
Os Irmãos Karamazov (The Brothers Karamazov) 1958
1870, Rússia. Numa pequena cidade, Fiódor Karamazov, um viúvo mulherengo, vive em conflito com os filhos: o idealista Dimitri, o intelectual ateu Ivan, o cristão fervoroso Alexei e o bastardo Smerdjakov, que sofre de crises de epilepsia. A situação piora quando Dimitri se apaixona pela amante do pai.
Poucos desafios serão tão difíceis como este, transportar para o cinema uma das mais complexas e aclamadas obras da literatura mundial, para um filme com duas horas e meia. Richard Brooks já tinha uma carreira muito interessante em Hollywood, e aceitou o desafio. Brooks optou por dirigir o seu focus para a relação entre Dmitri e Grushenka, e para o crime que se sucedeu na esteira da sua relação, deixando os dilemas morais de Ivan e Alexei como elementos periféricos. Também tentou captar o romance de Dostoiévski de uma forma visual, bem evidenciado no trabalho do director de fotografia John Alton, que procurava evocar o estado de espírito que não podia ser transmitido através do diálogo.
O maior sucesso deste filme veio das interpretações que Brools conseguiu retirar do seu elenco. Lee J. Cobb em primeiro lugar, como o patriarca da família, que lhe valeu uma (a única do filme) nomeação para o Óscar. Salmi está muito bem como o calculista Smerdjakov, assim como William Shatner (primeiro papel relevante no cinema). Maria Schell fez a sua parte, de sorriso luminoso, no papel de Grushenka, enquanto Yul Brynner tinha o seu trabalho de interpretação mais relevante até então, como Dimitri. O luxo do elenco contava ainda com outras estrelas, como Claire Bloom, Richard Basehart e Judith Evelyn.
Brynner estava ciente da importância do filme, e do seu papel nele. Obrigou o estúdio a contratar um historiador pessoal para o acompanhar ao longo da rodagem. O escolhido foi o conde Andrei Tolstoy, sobrinho do famoso escritor russo.Enquanto o degrau de sucesso sobre a adaptação desta obra de Dostoiévski tem sido debatida vigorosamente, dividindo bastante as opiniões, é, no mínimo, um bom serviço como entretenimento.
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Poucos desafios serão tão difíceis como este, transportar para o cinema uma das mais complexas e aclamadas obras da literatura mundial, para um filme com duas horas e meia. Richard Brooks já tinha uma carreira muito interessante em Hollywood, e aceitou o desafio. Brooks optou por dirigir o seu focus para a relação entre Dmitri e Grushenka, e para o crime que se sucedeu na esteira da sua relação, deixando os dilemas morais de Ivan e Alexei como elementos periféricos. Também tentou captar o romance de Dostoiévski de uma forma visual, bem evidenciado no trabalho do director de fotografia John Alton, que procurava evocar o estado de espírito que não podia ser transmitido através do diálogo.
O maior sucesso deste filme veio das interpretações que Brools conseguiu retirar do seu elenco. Lee J. Cobb em primeiro lugar, como o patriarca da família, que lhe valeu uma (a única do filme) nomeação para o Óscar. Salmi está muito bem como o calculista Smerdjakov, assim como William Shatner (primeiro papel relevante no cinema). Maria Schell fez a sua parte, de sorriso luminoso, no papel de Grushenka, enquanto Yul Brynner tinha o seu trabalho de interpretação mais relevante até então, como Dimitri. O luxo do elenco contava ainda com outras estrelas, como Claire Bloom, Richard Basehart e Judith Evelyn.
Brynner estava ciente da importância do filme, e do seu papel nele. Obrigou o estúdio a contratar um historiador pessoal para o acompanhar ao longo da rodagem. O escolhido foi o conde Andrei Tolstoy, sobrinho do famoso escritor russo.Enquanto o degrau de sucesso sobre a adaptação desta obra de Dostoiévski tem sido debatida vigorosamente, dividindo bastante as opiniões, é, no mínimo, um bom serviço como entretenimento.
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