segunda-feira, 11 de maio de 2015
Há Festa na Aldeia (Jour de Fête) 1949
Numa pequena aldeia do centro de França é dia de festa: os feirantes chegam à praça com as suas roulotes, carroças, carros, cestas, carrocéis, lotarias, fanfarras. Instala-se um cinema ambulante. É ocasião para os aldeões descobrirem um documentário sobre as proezas dos correios na América. Ridicularizado por toda a aldeia, François, o carteiro, decide aprender a executar o seu trabalho “à americana”.
Sabemos agora no gigante que Jacques Tati se tornou, e é particularmente divertido ler as críticas que a imprensa americana fez na altura, em particular a Variety: "A história, que é do mais simples, mostra uma aldeia francesa num dia de férias. Não há praticamente nenhum argumento. O elenco de apoio é de muito pouca importância em comparação com Tati, que faz de carteiro da aldeia. A música de Jean Yatove é adequada, e a realização, a técnica e o tempo estão todos bem. Mas a única coisa que conta no filme são as palhaçadas de Tati, praticamente sem diálogos".
É claro que o crítico que escreveu esta revisão tinha poucos pontos de referência, para lidar com o tipo de cinema único de Tati, que reviveu a era de ouro das comédia do cinema mudo, ligando-as a um sentido de narrativa que viria a definir o emergente cinema de arte europeu, particularmente a Nouvelle Vague, que ainda estava a uma distância enorme de 10 anos, mas que aqui começava a encontrar raízes.
Como a crítica da Variety sugere, ali em cima, Tati é a estrela do filme, e as suas palhaçadas com o ar desajeitado, produzem algumas das melhores gargalhadas em muito tempo. Com o seu típico bigode, e o uniforme mal ajustado, principalmente as calças, que são largas e dobradas nas suas grandes botas. É divertido apenas olhar para ele, e tal como faria com outra personagem Monsieur Hulot, magicamente combina inépcia com dignidade, criando uma uma personagem que não podemos deixar de amar, mesmo quando ele cria caos onde quer que vá. "Caos" até é uma palavra um pouco forte, já que a sua falta de jeito constante normalmente resulta em pouco mais do que alguns inconvenientes, e acidentes menores, tal como quando ele resolve ajudar a levantar a bandeira no centro na cidade. O humor é principalmente físico, e a graça de Tati combina o timing de Keaton, a ousadia de Harold Lloyd, e o sentimentalismo de Chaplin. Embora esta fosse a sua primeira longa-metragem (aos 40 anos), já vinha a praticar números musicais desde o inicio dos anos 30, altura em que apareceu pela primeira vez numa curta: "Oscar, Champion de Tennis" (1932).
Tati, sempre um perfeccionista, passaria anos a mexer no filme, acrescentando novas cenas, lançando uma versão a cores. Muitas das suas adições foram em grande parte desnecessárias, já que a versão original, a preto e branco, continua a ser uma alegria de ser assistida. Esta aqui presente no post é a cores, a partir de um restauro feito em 1995. Actualmente é a versão mais conhecida.
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