"Cria Corvos e eles te arrancarão os olho", diz o provérbio espanhol em que Carlos Saura se baseou para realizar este filme. Seguimos a perspectiva de uma criança para retratar os últimos dias da ditadura de Franco. A filha do meio de três irmãos, Ana de oito anos (um papel feito de propósito para Ana Torrent, igualmente a jovem protagonista de "O Espírito da Colmeia") que acreditava ter nas suas mãos um misterioso poder sobre a vida e a morte dos seus familiares. Assim, teria causado a morte do pai, um militar franquista depois do doloroso martírio da sua mãe.
Carlos Saura não faz distinção entre passado presente e futuro (Geraldine Chaplin também interpreta Ana vinte anos depois, falando directamente para a câmara sobre toda a tristeza da sua infância), e, portanto, vivemos a narrativa com o próprio fluxo de consciência de Ana, com o presente a ser moldado para nossa compreensão da memória do passado.
"Cria Corvos", a obra-prima política e psicológica de Carlos Saura foi filmada no Verão de 1975, quando o ditador Francisco Franco estava a morrer, e estreou a 26 de Janeiro de 1976, quarenta anos depois do inicio da Guerra Civil. Saura dificilmente poderia ter escolhido um momento mais importante para a sua meditação sobre história e memória.
Nascido no seio de uma família burguesa, mas uma do lado perdedor da guerra, Saura estudou na escola do regime, e fez dez longas metragens alcançando uma posição única na altura da libertação com "Cria Corvos". Aclamado pela critica espanhola como o único cineasta no seu país a alcançar uma carreira plena neste período do franquismo, e por isso foi o realizador mais em destaque, do qual vimos todos os seus filmes até esta altura, e terminamos aqui este longo e fantástico ciclo, com um filme muito especial. Espero que tenham gostado, já que foi um ciclo muito especial.
Sempre imaginei que este ciclo se iria concluir com o "Cria Cuervos", e acertei... Também não era muito diícil...
ResponderEliminarMais uma vez obrigado pela criteriosa seleção, pelos comentários a cada filme e pela bibliografia de apoio, muito útil porque eu ainda sou dos tempos em que as referências para o Cinema Espanhol eram o Francisco Aranda e o César Santos Fontenla...
Um abraço!
Ora essa, um prazer, caro Luis. :)
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